cura radical da enxameação: primeira observação dos resultados

Do conhecimento da técnica, ao ensaio da mesma e, hoje, à primeira observação dos resultados. A minha liberdade passa também por isto, adquirir o conhecimento que acredito necessitar, testá-lo e avaliar os seus impactos.

Nas duas colónias submetidas à cura radical da enxameação neste apiário num contexto com um forte fluxo das urgueiras roxas (Erica australis) as meias -alças colocadas há 19 dias atrás estão praticamente cheias. Nas restantes colónias não submetidas à técnica o cenário é semelhante. Do ponto de vista da produção a utilização desta técnica não teve um impacto negativo, a julgar pelo que consegui observar.

Estas duas colónias não enxamearam neste período de 19 dias, isto apesar de estarem claramente debaixo do impulso de enxameação desde há mais de 19 dias. A técnica aparentementente inibiu estas duas colónias de concretizarem o seu impulso de reprodução. Hoje marquei a rainha de uma destas duas colónias para melhor a controlar e seguir nas próximas inspecções.

Observei que entre quadros repletos de criação e sem qualquer mestreiro de enxameação…

… encontrei alguns quadros com mestreiros de enxameação.

Nestas duas colónias a intervenção realizada há 19 dias não foi suficiente para lhes eliminar a pulsão para enxamearem. Como o proponente da técnica refere a eventual necessidade de se aplicar a técnica uma segunda vez, para debelar de vez o impulso de enxameação, assim o fiz nestas duas colónias. Numa próxima inspecção irei estar atento a dois aspectos: (i) quantidade de armazenamento de mel nestas duas colónias quando comparado com colónias não submetidas à técnica; (ii) situação relativa ao impulso de enxameação: mantém-se ou evanesceu-se finalmente?

Entretanto, voltei a testar a eficácia do primeiro tratamento anual da varroose. Os resultados estão ilustrados na foto em baixo.

uma cura radical do impulso de enxameação de abelhas?

Nunca satisfeito com o pouco que sei, vou lendo… vou lendo literatura recente mas também alguma literatura apícola com um século ou mais. Em toda ela aprendo. Desta vez trago um excerto de um pequeno livro, publicado em 1909, com uma técnica que o autor, Henry Jones, advoga funcionar sempre e em qualquer lugar para fazer a prevenção e o controlo da enxameação. Nunca a experimentei, mas parece-me uma técnica credível e merecedora de um ensaio-piloto em algumas colónias. Correndo tudo normalmente, conto utilizá-la ainda este ano e fazer a avaliação dos resultados atingidos. Para já deixo a tradução em baixo.

O que os apicultores de todo o mundo estão à espera é de um plano melhor, um método simples, seguro e confiável que evitará a enxameação em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Existe, ou pode existir, alguma gestão, algum processo ou tratamento, que venha a preencher esses requisitos? A resposta esperada seria “Não”. Os bons e velhos métodos ortodoxos atraem fortemente a grande maioria dos apicultores, e parece difícil para eles se desvencilhar dos velhos métodos que têm a sanção da antiguidade. Os mitos, fábulas e superstições sobre as abelhas – herança de nossos ancestrais – ainda nos prendem com uma estranha persistência, e quase todos os avanços na apicultura tiveram que defrontar os caprichos, preconceitos e conservadorismo das massas. Nestes dias de progresso e descoberta é seguro negar alguma coisa? Muitos dos enigmas não resolvidos do passado estão sendo resolvidos hoje, e por que o enigma da enxameação deveria permanecer sem solução. Agora, irmãos apicultores, isso pode causar alguma surpresa e pode despertar em vocês algum cepticismo quando eu fizer a afirmação ampla e ousada de que posso esboçar um método de tratamento que irá curar a enxameação toda vez e todo o tempo. Ele funcionará onde as abelhas existirem, pois é baseado em um instinto da abelha que é infalível. O tratamento curará o “impulso de enxameação” se já adquirido, ou, se dado antes que as abelhas pensem em enxamear, impedirá a preparação do enxame. Ou é uma medida preventiva ou uma medida curativa, dependendo do momento do tratamento. Impedirá e impede absolutamente todos os enxames em todos os momentos e em todas as circunstâncias, apesar da velha lenda de que “as abelhas não fazem nada invariavelmente”.
Não querendo sobrecarregar sua credulidade até o ponto de ruptura, nem desejando que você pense que essas linhas foram escritas com espírito de egoísmo, desistirei de quaisquer outras declarações preliminares e delinearei o plano que tenho seguido nos últimos quatro anos.

Capa do pequeno livro do qual obtive uma cópia on-line.

Use todos os métodos bem conhecidos no início da primavera para fortalecer as colónias de abelhas antes que o fluxo de mel comece. Então, quando as colmeias estiverem cheias de abelhas e você tiver toda a força que quiser – todas as abelhas necessárias para fazer a colheita – vá a essas colónias poderosas, abra as colmeias e com a faca desoperculadora ou algum outro instrumento afiado desopercule toda a cria selada que você encontrar, exceto dois quadros da cria selada em cada colmeia que você vai deixar intacta. Os dois quadros de cria eclodindo manterão a força da colónia durante o fluxo de néctar. A qualquer momento após quinze dias faça um segundo tratamento, o mesmo que o primeiro, se você encontrar alguma colónia fazendo preparativos para enxamear. Este tratamento evitará toda enxameação e permitirá ao apicultor manter toda a sua força de operários reunida durante a colheita do mel. As abelhas imediatamente começam a retirar a cria decepada e a espalhá-la por toda parte, e em doze a vinte e quatro horas todo vestígio de cria sem cabeça será removido da colmeia. As abelhas irão polir os alvéolos das quais removeram a criação morta e a rainha começará a colocar ovos neles imediatamente, em vez de as abelhas os encherem com néctar, como seria de esperar. As abelhas começam a trabalhar imediatamente com todo o vigor e energia de um enxame primário, sem mais nenhuma tentativa de enxamear. É simplesmente maravilhoso como rapidamente uma colmeia cheia de abelhas prestes a fugir pode ser transformada numa equipa trabalhadora e enérgica.

fonte: https://victoriancollections.net.au/media/collectors/51d110e42162ef12e06aa06b/items/533cabaf2162ef16dc9301bc/item-media/533cac132162ef16dc9302cb/original.pdf

Nota: esta técnica apresenta simultaneamente potencial para contribuir para um melhor controlo da taxa de infestação pelo ácaro Varroa.

o controlo da enxameação: os grandes marcos

Se a prevenção da enxameação, como a concebo, tem como objectivo levar a colónia a sentir-se inacabada e desarrumada, e assim não produzir mestreiros de enxameação, o controlo da enxameação reúne o conjunto de procedimentos que impede a enxameação depois de iniciada a produção de mestreiros.

Deixo em baixo os grandes marcos do percurso da minha aprendizagem que me têm permitido perder muito poucos enxames quando estes, e apesar das medidas de prevenção da enxameação, evoluem na sua intenção de efectivamente enxamearem.

Quando vejo cálices reais com cera nova/clara nas suas paredes em geral faço a sua inspecção. Encontrando ovos parto do princípio que aquela colónia vai enxamear. Sabendo que os sinais inequívocos de enxameação são os mestreiros, isto é alvéolos reais com larvas assentes em quantidades generosas de geleia real, prefiro agir logo que presencie ovos em cálices reais.

1º marco) Distinguir enxameação reprodutiva de enxameação por congestionamento (ver aqui) e seus timings (ver aqui). Estou muito grato a dois enormes apicultores norte-americanos Walter Wright e Randy Oliver, Mestres virtuais com os quais tenho aprendido e evoluído.

2º marco) Definir e estar atento durante as inspecções regulares a um conjunto de bio-sensores habituais nas colónias que se preparam para enxamear (ver aqui, aqui e aqui).

3º marco) Conhecer, escolher e aplicar eficientemente as técnicas para fazer o controlo da enxameação. Neste momento tenho duas que utilizo preferencialmente. A opção por uma ou outra depende se pretendo fazer uma ou mais novas colónias (solução tipo 1, aqui e aqui) ou, pelo contrário, não pretendo aumentar o número de colónias (solução tipo 2, aqui e aqui).

4º marco) Reconhecer que a enxameação é muito mais determinada pelos factores abióticos e pelo maneio que pela genética (ver aqui e aqui) e percepcionar este fenómeno natural e necessário para a perpetuação da espécie de um outro ângulo (ver aqui).

a prevenção da enxameação: os grandes marcos

A minha abordagem à prevenção da enxameação tem-se mostrado custo-efectiva. O que me mostram estes resultados? Coisas muito simples: que sou um apicultor realizado com o que alcancei nestes 13 anos, que não tendo inventado a roda soube compreendê-la e, com a mente aberta, observei os ciclos que os enxames cumprem ano após ano, ciclos estes que aprendi a interpretar, analisar e a aproveitar, sempre com muito trabalho e dedicação quer no campo quer na biblioteca. Com estes alicerces fui capaz de montar uma estratégia que me permite optimizar e rentabilizar os meus enxames.

Deixo a visão sintética e integrada dos principais marcos da minha abordagem e que foram sendo semeados por este blog. Estes marcos foram apropriados e aplicados por vários amigos, conhecidos e desconhecidos, que me vão testemunhando como lhes têm sido muito úteis.

1º marco) ritmo de crescimento de um enxame: com boas condições uma colónia cresce 1 a 2 quadros de abelhas por semana (modelo Langstroth e Lusitana) (ver mais aqui).

2º marco) quando a colónia atinge os 8 quadros com criação (ocupa 90% do ninho da colmeia/cavidade) inicia, por norma, a fase final do processo de enxameação, isto é, inicia a construção de mestreiros de enxameação (ver aqui, aqui e aqui).

3º marco) a preparação das colmeias armazém para onde vou drenando os quadros que resultam da conformação das colónias à regra “não mais de 6” (ver aqui e aqui).

4º marco) multiplicar enxames de forma simples e aproveitando harmoniosa e sincronamente os passos dados neste fluxo de actividades da prevenção da enxameação (ver aqui).

o controlo da enxameação ou apaixonado como um adolescente

Tenho utilizado pontualmente a técnica Demaree. Este ano, e até à data, utilizei-a em três colónias. Por mero acaso, neste conjunto de três casos acompanho neste blog o caso onde se revelou mais complicado e difícil fazer o controlo do impulso reprodutivo. Enquanto nos outros dois casos não observei a produção de mestreiros no ninho após a aplicação da técnica, este caso não seguiu exactamente esse curso como aqui descrevi.

A colónia. A descrição do caso começou aqui.

Ontem foi dia de voltar ao apiário realizar diversas tarefas, como a verificação de postura em núcleos onde introduzi virgens a 12 de abril. Em mais de 50% dos casos só ontem vi os primeiros ovos (tema para uma futura publicação).

Passados quase já 30 dias sobre o início da aplicação da técnica voltei a inspeccionar a colónia do caso em análise. Primeiro ponto a realçar: não vi mestreiros de enxameação, de substituição ou de emergência nesta colónia — aparentemente a colónia entrou em modo de produção e deixou para trás o modo de enxameação.

Quadro do sobreninho, onde se observa os primeiros apontamentos do aromático néctar da Erica arborea — não da Erica lusitanica, como erradamente assumi numa publicação anterior (obrigado Filipa!). Neste território, e pela frente, ainda tenho fluxo de várias origens durante cerca de mais 6 a 8 semanas.

Segundo ponto a realçar: se no sobreninho as coisas estão a começar a acontecer, no ninho o conjunto das três fotos em baixo falam por si e dispensam-me o texto…

Quadro na posição 6.
Quadro na posição 7.
Quadro na posição 8.

Terceiro ponto a realçar: se bem me lembro no passado dia 12 de abril, transferi para o sobreninho uns 7 ou 8 quadros com criação. De lá para cá já retirei do ninho desta colónia 3 quadros com criação. No total esta colónia doou cerca de 50 mil abelhas a outras colónias — as contas são, 10 quadros cada com cerca de 5 mil abelhas para emergir. Este número de abelhas doadas enchem duas caixas Langstroth de uma ponta à outra mais uma meia-alça. Estando eu expectante que esta colónia produza até ao final da época cerca de 30-40 kgs de mel, tomara eu que todas as minhas colónias tivessem este nível de desempenho e me dessem este rendimento. Que tenho para dizer a concluir? Menos colmeias não significa necessariamente menos produção e menos rendimento. E agora é aqui que me encontro, depois de quase ter abandonado a apicultura, como um adolescente, apaixonado de novo — “Não adianta represar um rio, mais tarde ou mais cedo ele volta ao seu percurso original“.

as filhas temporãs ou as rainhas de enxameação

Nesta publicação descrevi a enxertia de mestreiros em duas colónias-núcleo no passado dia 17 de abril. Anteontem verifiquei que andava uma rainha em postura em cada uma delas.

A sequência de acontecimentos: no dia 02-04 eliminei a rainha deste núcleo; a 5 introduzi uma rainha virgem; como não deu resultado a 15 re-introduzo outra virgem; a 17 introduzo mestreiro enxertado porque verifiquei que a rainha estava morta dentro da gaiola. Basicamente procurei dar resposta aos déficites existentes com os recursos disponíveis no momento.

Ontem, um desses núcleos foi passado para uma caixa-colmeia.

O núcleo…
A rainha…
A postura e a criação aberta…
Da caixa-núcleo para a caixa-colmeia.

Em conclusão e remetendo para o conteúdo da publicação da hiper-ligação em cima, as abelhas guardaram e defenderam mestreiros com rainhas viáveis das intenções destrutivas das diversas rainhas virgens nascidas horas ou até dias antes.

Estas rainhas enxertadas provêm de mestreiros de enxameação! Óptimo, são as rainhas melhor alimentadas e melhor criadas de todas as que podemos deitar a mão — muito provavelmente têm um número de ovaríalos acima da média. Óptimo, porque este ano vão fazer crescer a sua família a um ritmo tal que provavelmente me vão dar uma ou duas meias-alça no castanheiro. Óptimo, porque no próximo ano antevejo que estas rainhas arranquem precocemente e me ajudem a equalizar outras colónias que se foram mais abaixo durante o inverno e/ou apresentem um arranque mais lento e tardio. Óptimo, serão colónias ideais para trabalhar com ninho e sobreninho logo em março, e colónias que dedicarei aos desdobramentos pela técnica Doolittle relativamente cedo, em meados de março — estes desdobramentos não multiplicarão a sua herança genética, apenas aproveitará a sua produção, abelhas e quadros com criação. Aproveito sem rebuço, e com este sentido estratégico, algumas rainhas provenientes de mestreiros de enxameação. Há quem lhe chame linhas enxameadoras, eu prefiro chamar-lhe linhas precoces.

Nota: nesta publicação não estou a falar de colónias que apresentam mestreiros de enxameação com meia-dúzia de quadros mal preenchidos de abelhas e /ou que enxameiam duas vezes no mesmo ano. Aos anos que não vejo colónias dessas nos meus apiários. Nesta publicação falo de colónias que sobreviveram saudavelmente ao inverno, saem dele mais desenvolvidas que a média, e são uma fonte temporã do recurso mais precisoso da apicultura à saída do inverno no meu território: abelhas.

a prevenção e o controlo da enxameação: o testemunho de um amigo apicultor

Quando desafio um ou outro apicultor a testemunhar a sua experiência apícola em torno desta ou daquela ideia por aqui veiculadas, é muito gratificante receber os seus testemunhos a confirmarem os ganhos que obtiveram — um pequeno aparte: uma das teorias da motivação mais interessantes que conheço, afirma que o sentido de utilidade que retiramos do que fazemos é um dos factores mais estimulantes para persistir e manter o empenho no que fazemos; como sou feito da mesma matéria que todos, importa-me saber que não estou a escrever sobre o “céu azul”, sim que estou a retratar com boa fidelidade a realidade dos meus apiários e os impactos das intervenções que realizo, que mais proximamente ou mais longinquamente há alguém que ficou a reflectir, que decidiu experimentar e, cereja no topo do bolo, obtém resultados satisfatórios. Por exemplo, recentemente o Rui Martins testemunhou como a sua estratégia de luta contra a varroose melhorou significativamente quando passou a ter em consideração o timing da aplicação dos tratamentos.

Hoje, publico o testemunho do meu amigo Miguel Pais acerca do impacto que algumas das sugestões por aqui divulgadas estão a ter nos seus apiários, em particular na prevenção da enxameação e no controlo da mesma. O texto e as fotos são suas. Obrigado Miguel por teres aceite o desafio e lhe teres dado resposta tão rapidamente. Um abraço!

Iniciei-me na Apicultura há quase 4 anos. Comecei com um enxame, e neste momento tenho cerca de 60 enxames. Tendo a varroa controlada, com poucas perdas anuais e conseguido não só manter o efectivo mas até aumentá-lo gradualmente de ano para ano, sinto cada vez mais a necessidade de prevenir e controlar a enxameação de uma forma mais prática e aumentar assim a produtividade das colmeias.

Visto que muitas vezes não quero aumentar mais o efectivo por já ter feito os desdobramentos que pretendia, começo agora a experimentar vários métodos de prevenção e controlo da enxameação. É aqui que o Eduardo tem dado uma grande ajuda com alguns métodos e experiências que tem descrito no seu blog, que têm sido importantes e têm feito a diferença no meu maneio. Muitas vezes são também os relatos dele que me fazem experimentar certo método que já conhecia mas que não estava ainda convencido da sua eficácia. 

Desses métodos que li no blog do Eduardo, há dois que me deixaram muito contente, apesar de só ter começado a usar um deles este ano, mas resultaram os dois muito bem, fiquei impressionado e arrependido por não ter começado a usá-los mais cedo! 

Em primeiro lugar passei a usar, o ano passado, aquilo a que o Eduardo chama de regra “não mais de 6”. Passei a usar essa regra, principalmente com rainhas mais velhas, não deixando assim que os enxames atinjam o pico da população antes da altura desejada, algo que considero muito importante, e esta regra parece uma forma bastante prática e simples de “segurar” os enxames. 


O segundo método comecei a experimentá-lo este ano, não é um método de prevenção mas sim de controlo de enxameação, o método Demaree, sobre o qual o Eduardo tem escrito ultimamente e que eu já conhecia, mas foi por ler o relato no blog que finalmente decidi experimentar. Em alguns enxames que começaram a aparecer com sinais de febre, comecei a meter a rainha no ninho com 2 quadros e os restantes quadros no sobreninho e uma grade excluidora entre o ninho e sobreninho, não me vou alongar muito no processo, porque podem-no ler mais detalhadamente no blog do Eduardo. 

Em conclusão, usei o método Demaree a primeira vez há cerca de 20 dias em alguns enxames e perderam a febre, bastante rápido.  Sem dúvida alguma vou passar a usar este método no meu maneio a partir de agora, vejo aqui uma solução simples e prática e que é feita sem consumir muito tempo.

Um grande obrigado Eduardo pelas coisas que escreves, desde que me iniciei que tem sido uma boa ajuda, além do mais dás também a conhecer apicultores lá de fora, como por exemplo o Randy Oliver ou o Bob Binnie, que também fazem coisas bastante interessantes.

controlando a técnica de controlo da enxameação

Descrevi e publiquei que no passado dia 12, decidi utilizar uma técnica de controlo da enxameação proposta pelo advogado e apicultor norte-americano George Demaree, publicada no American Bee Journal em 1892.

Hoje passados 12 dias, voltei ao apiário para realizar diversas tarefas. A primeira constatação é que a Erica australis está a secar e a ser substituída gradualmente pela Erica lusitanica (urgueira ou moita branca).

O território continua estimulante!

No caso da colónia alvo da técnica Demaree em 12-04, há alguns indícios que continua a procurar enxamear. Uma inspecção a 19-04 revelou que, como esperado, tinha vários mestreiros abertos no sobreninho colocado por cima da grelha excluidora. Como não precisava destes mestreiros acabei por destruí-los. Menos esperado, por ser mais raro, foi encontrar dois mestreiros no ninho, ainda muito no início e que destruí, obviamente.

Hoje o indício de enxameação, menos evidente que os encontrados a 19-04, é a forma daquele alvéolo entre as duas abelhas.
Vista geral do ninho.
A abelha-mãe… a que geralmente e injustamente leva com as culpas de uma colónia querer enxamear.
Hoje, apesar do céu ameaçar, não foi dia de trabalhar à chuva… não seria o primeiro!

Observação 1: a propósito de um ou outro comentário que pude ler no Facebook acerca da publicação do dia 12-o4, quero deixar descansados os apicultores que parecem temer que com estas técnicas de controlo da enxameação se visa eliminar o instinto da enxameação nas abelhas melíferas. Não é esse o objectivo, como é claro, nem seria seguramente esta a técnica a utilizar para esse fim. As minhas abelhas vão continuar a querer enxamear neste e nos próximos anos. Eu é que não gosto de ficar sentado, sem nada fazer, a assistir a esse incrível fenómeno natural, mas que em nada contribui para a minha felicidade enquanto apicultor. Já os enxames saídos/fugidos em pouco ou nada contribuirão para a sustentabilidade da espécie, porque 99,9% deles estarão mortos em menos de um ano!

controlo da enxameação ou a lição com 100 anos: solução tipo 2

Recentemente descrevi o maneio que utilizo mais frequentemente para fazer o controlo da enxameação. A técnica descrita é muito adequada para quem quer impedir a enxameação, quando ela já é praticamente irreversível se nada for feito e, ao mesmo tempo, deseja aumentar o número do seu efectivo apícola.

A publicação de hoje visa ilustrar um outro tipo de solução para fazer o controlo da enxameação. Utilizo-a menos frequentemente, apesar de eficaz, e é muito adequada para os apicultores que desejam evitar a enxameação mas não desejam aumentar o número de colónias de abelhas.

Em baixo deixo o foto-filme dos sinais que considerei para o diagnóstico de preparação de enxameação, procedimentos principais para o seu controlo e sua sequência.

Encosta prenhe de erica australis. O período da enxameação reprodutiva está associado ao arranque das boas condições edafoclimáticas.
Ontem nesta colónia, com ninho e sobreninho separados por uma excluidora de rainhas desde o passado dia 15 de março, encontrei alguns sinais que me levaram a crer que nos próximos 10 dias iria enxamear.

O primeiro sinal: verificar que dos dois quadros com cera laminada que coloquei na semana passada no ninho apenas um deles foi aproveitado pela rainha para fazer oviposição.

Quadro que a rainha aproveitou para encher com ovos.
Quadro que tudo indica iria ser aproveitado para armazenar néctar.

O segundo sinal: após a emergência das novas abelhas os alvéolos são utilizados para armazenar nectar e/ou pão-de-abelha (backfilling).

Área central de um quadro onde se vê claramente o backfilling.

O terceiro sinal, o mais inequívoco dos três: a presença de ovos em alguns cálices reais.

Quando vejo cálices reais com cera nova/clara nas suas paredes em geral faço a sua inspecção. Encontrando ovos parto do princípio que aquela colónia vai enxamear. Sabendo que os sinais inequívocos de enxameação são os mestreiros, isto é alvéolos reais com larvas assentes em quantidades generosas de geleia real, prefiro agir logo que presencie ovos em cálices reais.

Estes sinais concomitantes não me deixaram dúvidas que esta colónia iria enxamear em breve. Assim sendo, decidi utilizar uma das medidas de controlo da enxameação que faz parte do meu catálogo. Em baixo ilustro e descrevo as principais etapas do procedimento.

1º passo: encontrar a rainha. Como nesta colmeia a rainha estava confinada ao ninho por uma grelha excluidora encontrá-la foi… um passeio no parque!

Uma vez que não tinha levado a mola para a apanhar, o quadro foi colocado no chão. 99% das vezes as rainhas não saem dos quadros onde estão.

2º passo: retirar os restantes quadros do ninho juntamente com as abelhas aderentes, com excepção de um quadro com reservas. Feito isso coloquei o quadro onde andava a rainha ao lado do quadro com reservas.

3º passo: preencher os espaços restantes do ninho com quadros com cera laminada.

4º passo: colocar grelha excluidora de rainhas entre o ninho e o sobreninho.

5º passo: colocar os quadros com criação e abelhas aderentes no sobreninho.

Foto representativa dos quadros colocados no sobreninho.
Em resumo: a rainha está confinada ao ninho com poucas abelhas; já o sobreninho está cheio de abelhas e quadros com criação em todos os estádios de desenvolvimento e… sem rainha.

Ontem, 12-04, para controlo da enxameação não inventei nada, procurei apenas dar curso às lições com mais de 100 anos do ilustre apicultor Demaree. E assim, aos ombros de gigantes, vou fazendo o meu maneio o melhor que posso e sei!

o controlo da enxameação e os ganhos marginais: solução tipo 1

Na manhã do passado dia 3 de abril, num dos apiários que tenho a 900 m de altitude e onde se iniciou de forma frouxa o fluxo das erica australis, tinha planeado passar para caixa-colmeia uma boa parte dos núcleos que lá estão estacionados. Assim acabei por fazê-lo em 4 dos 6 núcleos que lá fui encontrar a rebentar pelas costuras — a gestão da palmerização nestas colónias é feita no fio da navalha. A retirada semanal de um quadro com criação, e sua substituição por um quadro puxado vazio ou um quadro com cera laminada dá-lhes espaço para se desenvolverem, e fazem-no rapidamente dada a forte agregação e densidade da colónia naquele espaço mais reduzido. Contudo corrro riscos, dado que apenas uma semana passada parte destas colónias vão estar mais congestionadas que muitas das ruas centrais de Tóquio em hora de ponta.

Quando a sua função como colónias doadoras de quadros, quer a colónias mais fortes quer para desdobramentos pelo método Doolittle — foi o caso —, deixa de ser necessária, ou quando a qualidade da rainha é tal que é um tiro no pé manter esta colónia nestas funções faço a transferência para uma caixa-colmeia de 10 quadros.

Neste núcleo fui encontrar postura compacta de um travessão ao outro, num quadro Langstroth colocado vazio cerca de duas semanas antes. Este quadro irá dar, só nesta face, cerca de 3500 abelhas novas. Sabendo que um núcleo Langstroth alberga em média cerca de 10 mil abelhas, e que desde o primeiro dia de operculação do alvéolo das larvas de obreiras até à emergência da novas abelhas decorrem 12 dias, facilmente se entende porque uma cidade até ali descongestionada se torna rapidamente numa urbe onde todos andam literalmente uns em cima dos outros.
Ali vai, a dobrar a esquina, a actriz principal desta peça, uma das rainhas produzidas por mim o ano passado.
E está feita a transferência, limpa e cristalina.

Mas nem todas as transferências foram assim, do tipo chegar, ver e vencer! Duas delas foram muito diferentes e exigiram-me olho atento.

Pois… estavam nestes preparos!
Como os núcleos estavam cheios de abelhas e como vi muitos ovos decidi meter-me ao trabalho e procurar as rainhas nestes dois núcleos. Num deles foi rápido. O quadro com a rainha foi para um núcleo depois de destruídos todos os mestreiros e juntei-lhe um quadro com reservas. Os restantes 3 quadros foram para outro núcleo depois de destruídos os mestreiros, para introduzir uma rainha em gaiola (coisa que fiz ontem dia 5).
Neste tive de afinar mesmo muito o olhar. Não tanto por a malta ser muita e andar toda em cima uma da outra (e neste estado de pré-enxameação as abelhas parece que tomaram uma valente dose de Xanax, não arredam dos quadros de maneira nenhuma e deslocam-se a 5 à hora!). A grande dificuldade foi a rainha estar no último quadro e estar do tamanho de uma princesa. A largura de cintura estava já no ponto ideal para levantar voo dali a umas horas. Mas não vai não senhor… por enquanto vai continuar a fazer postura numa das minhas caixa. Com receio que levantasse voo nem me arrisquei a fotografá-la… está naquele segundo quadro na caixa nova em baixo.
E de um fiz três… o da esquerda tem os mestreiros e ficou no local original, o do meio foi levado para outro apiário para lhe introduzir uma rainha virgem em gaiola, o do lado direito tem a rainha mãe, que ficou no apiário mas noutro local… correndo tudo como habitualmente este núcleo com a rainha mãe irá começar a doar quadros cheios de criação às restantes colmeias do apiário dentro de um mês a mês e meio.

Com propensão, gosto e tempo para este tipo de maneio sinto-me amiúde um gestor de ganhos marginais, especialmente nesta altura do ano, a época da enxameação, em que faço o que me é possível fazer para que todas as rainhas fiquem nas minhas caixas, mesmo aquelas que já estavam de malas aviadas.

Nota: numa publicação próxima vou descrever a solução tipo 2 que também utilizo para controlar a enxameação. O termo controlo de enxameação é aqui utilizado para designar o maneio que realizo quando uma colónia já tem mestreiros presentes. Antes destes surgirem o maneio que faço, para evitar que os mestreiros surjam e o processo de enxameação atinja esta etapa, designo, juntamente com outros, prevenção da enxameação.