vespa velutina: uma breve revisão do que tenho escrito e publicado

Foi em 2011, um pouco antes dos primeiros avistamentos em Portugal, que soube que uma vespa exótica estava a preocupar e muito os apicultores franceses. Quando recebi a notícia que tinha sido avistada em Viana do Castelo fiquei também bastante preocupado. Esta preocupação acabou por reflectir-se nas inúmeras publicações que tenho vindo a fazer desde 2016, data que fundei este blogue, até ao presente sobre este insecto predador.

Esta publicação tem como objectivo apresentar uma breve e parcelar revisão do que tenho publicado sobre a Vespa velutina nigrithorax.

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

por Oliveira do Hospital: visita técnica a apiário

Ontem, por volta das 8.30, estava a entrar no apiário que se vê na foto em baixo, situado nas proximidades de Oliveira do Hospital, onde estavam instalados 28 enxames em colmeias e alguns núcleos do modelo reversível.

Este apiário tem como função principal prestar serviços de polinização às plantações de framboesas e mirtilos do Rúben, jovem e empreendedor agricultor, que contratou os meus serviços técnicos.

O apiário.

Das 7 colónias estabelecidas que sobreviveram à varroa o ano passado e superaram o desafio do inverno, 6 tinham enxameado nas semanas anteriores e apenas uma resistia ao impulso…

Colónia com ninho e sobreninho e que até ontem não tinha enxameado.

… e foi por essa que comecei. E como não há 6 sem 7, também esta apresentava sinais inequívocos de estar a preparar-se para enxamear nos próximos dias.

Com o acordo do Ruben procedi ao controlo efectivo da enxameação nesta colónia. Encontrada rapidamente a rainha mãe empreendi os procedimentos habituais.

Núcleo com rainha mãe.

À questão muito pertinente que o Rúben me colocou sobre como agir para controlar a enxameação sem dividir e aumentar o efectivo e manter intacto o potencial produtivo de mel, descrevi uma outra técnica a aplicar quando os objectivos são esses.

Aproveitámos a oportunidade para fazer nesta colónia o teste de medição da infestação por varroa. O Rúben tinha iniciado o único tratamento deste ano em janeiro, um tratamento de longa duração, e ontem, nesta colónia, caíram 12 varroas na amostra de abelhas recolhidas. Mesmo com esta taxa de infestação (4%), nesta época do ano o enxame parecia estar super limpo ao olhometro.

Varroas caídas no fundo do copo de testes.

As 12 varroas caídas no teste indicam que a colónia está a ser parasitada por cerca de 5 mil varroas e que, nada fazendo, irá colapsar à entrada de junho, momento que provavelmente coincidirá com o início da pressão das velutinas à frente dos alvados. Naturalmente o Rúben irá proceder com urgência ao segundo tratamento do ano e conseguirá manter debaixo de um controlo apertado a varroose no seu apiário.

Procedi à inspecção de todas as restantes colónias, a maior parte enxames adquiridos recentemente. Aproveitei a oportunidade para:

  • fazer a organização dos quadros nestes enxames e orientar o Ruben nos próximos passos a executar;
  • ajudar a distinguir rainhas novas de rainhas mais velhas;
  • identificar padrões de postura e sinais de rainhas decadentes (eliminámos uma);
  • aproveitar e suprir alguns enxames com mestreiros produzidos de forma natural;
  • orientar para utilizar no próximo ano um quadro de criação intensiva de zângãos;
  • equalizar as reservas com transferência de alguns quadros entre enxames;
  • instruir para a correcta preparação e colocação dos acaricidas nas colmeias;
  • dar algumas orientações na luta contra a velutina;
  • referir alguns procedimentos de prevenção da enxameação;

No final o Ruben pediu-me para o inscrever na 3ª edição do workshop avançado “Controlo da Varroose”, a realizar em Coimbra no próximo dia 25 de maio.

E brindámos estas 4 horas de trabalho e interacção com a excelente cerveja artesanal feita a partir das framboesas produzidas nesta bem tratada e produtiva exploração de frutos vermelhos que o Rúben está a conduzir.

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

a tarde da primeira edição do workshop avançado Controlo da Varroose: 20 de abril

De manhã foi o tempo de apresentar os fundamentos e a proposta de intervenção. Esta componente técnico-teórica alicerça, consolida e justifica o “fazer” que aconteceu à tarde. A apicultura, como todas as outras artes e ofícios, não escapa a este processo. Não é possível a boa arte sem bons fundamentos técnico-teóricos!

E foi das práticas críticas e incontornáveis, integradas num processo mais vasto de controlo efectivo da população de varroas, dos detalhes de sua aplicação, das potencialidades e limitações de cada uma delas, da interpretação correcta dos resultados recolhidos, da tomada de decisão à luz desses dados, das propostas para ultrapassar dilemas, da distinção entre o que é relevante e o que não o é, do fazer com rigor e precisão, das conversas partilhadas sobre experiências diversas, que se preencheram as cerca de 3 horas de campo nesta tarde de 20 de abril.

A minha gratidão à atenção, questionamentos, empenhamento e simpatia de tod@s presentes, os participantes fundadores nesta nova etapa da minha vida profissional. Tendo sido formador e consultor a tempo inteiro em áreas não apícolas durante 15 anos, a que se seguiram 13 anos a tempo inteiro como apicultor, é muito interessante estar neste momento a fazer a síntese desses dois momentos da minha vida profissional, agora enquanto formador e consultor na área apícola.

Os próximos workshops serão em Macedo de Cavaleiros, a 28 de abril, em Coimbra a 11 de maio, este já esgotado, e 25 de maio com algumas vagas disponíveis.

Ao Marcelo Murta, Nuno Capela e Francisco Rogão, a minha gratidão pelo apoio precioso e decisivo na concretização deste e dos próximos workshops.

Em baixo fotos dos companheir@s desta tarde de 20 de abril… que lembrarei com um carinho especial.

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

últimos preparativos

Seriam 10h00 estava a entrar no apiário pedagógico de Coimbra e por ali andei até cerca das 11h45 a fazer os últimos preparativos para a primeira edição do workshop avançado “Controlo da Varroose”, que se realizará neste próximo sábado.

Ficam algumas fotos.

A edição de Macedo de Cavaleiros, a 28 de abril, está a ter boa adesão. A segunda edição em Coimbra, a 11 de maio, está esgotada. A terceira edição para Coimbra, dia 25 de maio, tem algumas vagas ainda disponíveis.

Estamos a trabalhar com ânimo e convictos que estes workshops serão fonte de aprendizagens de ruptura com os actuais paradigmas e práticas de controlo da varroose que têm condenado dezenas de milhar de colónias ao sofrimento e morte completamente evitável.

Eduardo Gomes, formador e consultor apícola (jejgomes@gmail.com)

a velutina mais perigosa que a varroa?

Numas jornadas de apicultores, em que tive o gosto de participar recentemente, foi afirmado por uma das intervenientes que achava que a velutina era mais perigosa que a varroa para as colónias de abelhas. Este achismo pode ser fruto tanto de uma boa reflexão como de uma reflexão muito incompleta e imperfeita.

Vejamos com algum detalhe:

(i) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa faz sentido num quadro de pensamento em que se assume que podemos ter um grande controlo sobre a varroose e, portanto, tendo um controlo mais fraco sobre a pressão e danos que a velutina exerce a partir dos meses de agosto e seguintes, os danos sobre as colónias não advêm de uma varroose que até está muito controlada, mas sim de uma pressão das velutinas de difícil controlo.

(ii) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa, só porque vemos muitas colónias a colapsar em julho, agosto, setembro e outubro, e responsabilizar as velutinas pelo colapso porque andam por ali a pressionar e comer abelhas, isto sem termos indicadores fiáveis das taxas de infestação por varroa nessa altura e ao longo do ano, é inúmeras vezes uma conclusão errada e que em nada contribui para a correcção necessária das intervenções dos apicultores no sentido de melhorarem o controlo do que devem prioritariamente controlar, a varroose.

Lembro-me bem do Bruno Moreira, presidente da Associação dos Apicultores do Norte de Portugal, um profundo conhecedor das abelhas e das velutinas, afirmar que a principal causa de morte das colónias no norte, onde a velutina já faz muita pressão há anos, continua a ser a varroa. Os apicultores mais veteranos têm presente que muito antes da famigerada velutina ter arrombado as nossas fronteiras, já morriam dezenas de milhar de colónias todos os anos. Muitos, como hoje, não chegavam a reconhecer que era a varroa a causa.

O mais difícil de engolir neste contexto é que, em boa medida, continua a ser assim, apesar da informação e técnicas actualmente disponíveis e de existirem bons exemplos por parte daqueles que controlam ano após ano o flagelo deste ácaro.

As coincidência turvam o olhar e a interpretação. Sem um efectivo controlo da varroose as colónias vão levar o golpe de misericórdia pelas velutinas, mas já estavam a colapsar por acção da varroa. Esta coincidência confunde o observador mais desatento.

As duas simulações que apresento em baixo são esclarecedoras do efeito do fraco controlo da varroa e da coincidência dos “timings”: a morte destas colónias por varroose coincide com o início da pressão das velutinas.

Colónia no interior de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa bem controlada (1%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de agosto. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.

Colónia no litoral de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa muito bem controlada (0,3%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de julho. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.

os requisitos fundamentais do blogue e sobre a minha qualificação

Este blogue caracterizou-se até à data por dois requisitos fundamentais:

(i) apresentar informação actualizada, frequentemente inovadora, sustentada nas melhores leituras que consigo fazer e nas melhores práticas que consigo executar enquanto apicultor. Vejo, inclusivé, que algumas dessas práticas se disseminaram pela comunidade apícola nacional, como o maneio orientado pela regra “não mais de seis”, o maneio com recurso a “colmeias armazém”, os desdobramentos pela técnica Doolittle, a conservação e preservação em armazém de quadros durante a época baixa, para mencionar as que me parecem mais populares;

(ii) apresentar esta informação de forma completamente gratuita, sem repercutir de forma alguma e em bolso nenhum, para além do meu, os custos associados aos milhares de horas de pesquisa despendidas e os custos mensais que tenho pela manutenção deste blogue no espaço virtual. Este blogue não é patrocinado, mantendo assim a sua mais completa independência, tendo mais de 10 mil visualizações por mês. É um blogue que teima em escrever em bom português, o nosso melhor património, a pensar nos falantes desta língua e nas fortes lacunas de informação apícola de qualidade e actualizada na nossa língua.

É para manter esta necessidade de estar actualizado continuamente que me inscrevi no webinar “Unveiling the Resilience of Pests and diseases in Honey Bee Hives: A Retrospective Analysis of Honey Bee Colonies between 2015-2022“, que vai acontecer dentro de algumas horas.

Vou continuar esta caminhada de qualificação avançada, que me permitirá responder e apoiar mais e melhor os companheiros que entendam necessitar do meu apoio.

Eduardo Gomes, autor e incansável perscrutador do que diz o zumbido das abelhas.

acompanhamento e serviço técnico em apiário: 2ª sessão

Cerca de duas semanas depois da primeira intervenção no apiário de um companheiro, situado nas proximidades de Coimbra, combinámos para hoje uma nova sessão de trabalho (ver aqui o resumo da intervenção anterior).

No final das 7 horas de trabalho, o apicultor contava com mais 16 novas colónias, resultantes dos desdobramentos efectuados, uns motivados por razões de controlo da enxameação e outros por necessidade de substituir rainhas semi-esgotadas, com um padrão de postura medíocre.

Para além dos desdobramentos procedi também a:

  • avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas;
  • inspecção de todos os 32 ninhos das colónias estabelecidas ali instaladas;
  • organização dos ninhos;
  • transporte e instalação de 8 desdobramentos para/num segundo apiário.

De referir que num ano de intensa enxameação, a este companheiro só um enxame lhe fugiu para as árvores. As técnicas de prevenção e também as técnicas de controlo da enxameação que tenho levado a cabo têm sido oportunas e suficientes neste caso, com estas duas visitas intervaladas em cerca de 15 dias.

Em baixo um pequeno foto-filme de alguns momentos do trabalho hoje efectuado.

Colmeia que se preparava para enxamear nos próximos dias. Foi submetida ao controlo de enxameação e não enxameará.
Um dos quadros com uma rainha de colónia em situação de breve enxameação, colocado em caixa nova. Esta continuará a trabalhar em caixa do meu amigo. Confidenciou-me que não gosta de andar a apanhar enxames nos galhos das árvores. Partilhamos esse gosto de não gostar do mesmo!
Medição da taxa de infestação. Bastante baixa hoje, depois de ter estado bastante alta, em resultado de várias medidas correctivas que sugeri ao longo dos últimos 3 meses que acompanho mais regularmente as colónias.
Mias uma carga com 8 desdobramentos, que a juntar aos 24 efectuados nestas duas visitas técnicas permitiu ao companheiro duplicar o seu efectivo.

Para conversar e agendar acompanhamento técnico em apiário podem contactar-me para jejgomes@gmail.com

na prática e no terreno: o controlo da varroose ao longo de mais de 8 meses

Hoje, numa manhã magnífica, fui ao apiário 1 do Marcelo fazer medição da taxa de varroa através dos procedimentos usuais. O primeiro objectivo era medir a taxa de infestação em 50% das colónias estabelecidas presentes nesse apiário; o segundo objectivo passou por recolher dados actuais para apresentar na 1ª edição do workshop Controlo da Varroose, a realizar no próximo dia 20 de abril em Coimbra. Dados do terreno, obtidos de acordo com as melhores práticas hoje disponíveis, que darão robustez à proposta de intervenção que iremos partilhar em Coimbra e Macedo de Cavaleiros.

Prática assente em bons conhecimentos… conduz a boas práticas. E boas práticas associadas a bons conhecimentos permitem a qualquer apicultor manter a Varroose muito controlada, e percebendo os fundamentos que conduzem ao sucesso da sua intervenção será capaz de ajustá-la e melhorá-la de forma contínua.

Voltando ao apiário 1 do meu amigo Marcelo. As boas práticas que temos vindo a utilizar nos últimos 8 meses e meio expressam-se em resultados confiáveis, são medidos frquentemente, e resultados dignos de apresentar. Dignos de apresentar porque mostram no terreno e na prática fundamentada que levamos a cabo que, em colmeias reais e iguais às de todos, é possível quebrar com poucos e bons recursos o crescimento exponencial da população de varroas.

Vejamos os resultados no apiário: desde o início de setembro até à data, com dois tratamentos “soft” efectuados no período, a taxa de infestação média no apiário não ultrapassou 0,3% (os resultados por colónia situaram-se entre 0% e 0,6%.)

Abordagem mais efectiva e prática que esta que estamos a levar a cabo não conheço. É este conhecimento fundamentado e esta prática aplicada e estes resultados que iremos partilhar.

Em baixo algumas fotos do trabalho de hoje.

Duas das colónias testadas.
Abelhas com meia-alça meia de mel/néctar.
Debaixo da excluidora reina a rainha.
Equipamento para medir. Só controlamos o que medimos.
À procura do ácaro.
Confirma-se: 1 ácaro, isto é, 0,3% de infestação. Este tem sido o limiar médio máximo desde há 8,5 meses neste apiário.

corrigir o que há a corrigir, naturalmente

Hoje, numa manhã quente, acompanhei o Marcelo numa visita ao seu apiário 2, nas redondezas de Coimbra.

Uma das tarefas era avaliar o estado de evolução de uma série de núcleos onde introduziu rainhas virgens de criador português em gaiola há cerca de 15 dias atrás.

Lembro-me que há cerca de dois meses atrás em conversa com o Marcelo sobre esta nova vertente da sua apicultura, comercialização de enxames em núcleo, me pedir opinião sobre a utilização de rainhas compradas e introdução em gaiola. Sugeri-lhe, com base na minha experiência, que por uma questão de poupança de tempo e padronização dos timings de entrega dos enxames, achava que sim, que devia comprar rainhas virgens. Em boa hora decidiu adquirir rainhas de criadores portugueses.

Como o disse várias vezes no passado, entendo que as rainhas de criadores são uma proposta comercial válida e que responde às necessidades da comunidade apícola nacional.

Dito isto, nunca me ouvirão dizer que as rainhas criadas naturalmente são por definição de qualidade inferior e a evitar a todo o custo. E não o digo por sofrer de algum bloqueio mental; não o digo porque as minhas observações não me permitem dizê-lo e porque o que a ciências diz hoje sobre o efeito materno nos ovos confirma e reforça o que vi e vejo. Se o que vi em milhares de colmeias minhas e em colmeias de amigos é que, em geral, a qualidade destas rainhas não fica atrás de outras produzidas por outros métodos, vou agora dizer que vejo o que não vejo para agradar a alguns? Felizmente nesta fase da minha vida não tenho que andar a lamber as solas das botas de ninguém e, respeitando o trabalho de todos, não me sinto inibido nem incapaz para apresentar os meus pontos de vista e fundamentá-los como poucos o fazem.

Portanto, deixem-me uma vez mais realçar que as rainhas naturais produzidas no processo de enxameação têm total cabimento numa operação apícola quer pela sua qualidade quer pela sua disponibilidade numa época particular da vida dos enxames, o momento da sua reprodução. E isto nas pequenas operações apícolas, com poucas colmeias, como nas grandes operações (ver o exemplo de Bob Binnie que com uma operação de cerca de 2 mil colónias, não vira a cara para o lado à utilização de mestreiros de enxameação, e sem preconceitos divulga que os utiliza no seu canal de YouTube).

Neste caso em concreto, como o meu amigo encontrou no seu efectivo, de cerca de 20 colónias estabelecidas, 3 em processo de enxameação e com vários mestreiros disponíveis fez o que é natural qualquer apicultor fazer: introduziu um mestreiro em cada um dos núcleos onde as rainhas compradas não tinham sido aceites. Simples, económico e oportuno.

Não vejo polémica nenhuma neste procedimento.

Um mestreiro de enxameação de onde emergiu uma virgem à frente dos nossos olhos.
A virgem, acabada de nascer, e que poderia ser colocada de imediato e directamente em qualquer núcleo orfanado e que teria uma elevadíssima probabilidade de ser aceite. Mas introduzi-la passados 2, 3 ou 4 dias… a história já é diferente.
Mais um exemplo do padrão de postura de uma rainha criada naturalmente

acompanhamento técnico em apiário de Proença-a-Nova

Num campo rodeado de estevas, ontem entre as 9h00 e as 13h00, fiz o acompanhamento técnico em apiário localizado na zona de Proença-a-Nova, do apicultor Luís Martins, acompanhado pelo seu colaborador Joaquim Fonseca.

À entrada do apiário vi uma armadilha para velutinas e aproveitei a oportunidade para dar algumas orientações no sentido de melhorar a sua efectividade.

O apiário era constituído por 10 enxames, 7 dos quais adquiridos recentemente pelo Luís em 5 quadros e colocados em caixa-colmeia. Um destes tinha um mestreiro de substituição e não tinha postura de ovos. Nos outros 6 localizamos a rainha de cada um deles.

A condição destes enxames permitiu-me abordar vários aspectos como:

  • dicas para encontrar rainhas não marcadas;
  • indicadores que permitem estimar a idade das rainhas que vieram com os enxames comprados;
  • qualidade do padrão de postura;
  • reservas presentes;
  • estado nutricional das larvas;
  • população de abelhas presentes;
  • organização dos quadros de cera laminada, dos quadros com criação e quadros com reservas nestes enxames;
  • despistagem de doenças da criação.

Nos outros 3 enxames, o Luís pediu-me para verificar se dois deles estavam orfãos, dado que nas inspecções que tinha feito até à altura não tinha visto nem rainha nem ovos. Confirmei que tinham ovos e larvas recentes e localizei e mostrei as duas rainhas presentes nestes enxames. Avaliei as reservas disponíveis e re-organizei o ninho, explicando e mostrando os critérios que devemos seguir neste maneio.

A última colónia inspeccionada era a única do apiário já estabelecida e madura, sobrevivente do ano passado, com postura no ninho e na meia-alça. A rainha estava marcada a vermelho, andava na meia-alça e constatei que tinha uma asa cortada. Estava bastante povoada e não apresentava sinais de pretender enxamear. Mesmo com rainhas com asa cortada as colónias não perdem o instinto de enxameação. Expliquei por que razão aquela colónia não apresentava sinais de enxameação, para que no futuro possam guiar-se e operar com eficácia na prevenção da enxameação e neste maneio preventivo.

O Luís Martins, a colmeia estabelecida com meia-alça depois de ter sido intervencionada.

O Luís pediu-me para dividir esta colónia e fazer mais dois enxames para chegar a 12 enxames, e assim cumprir os objectivos que delineou para este ano. Expliquei, demonstrei e fiz esses dois enxames.

Núcleo com a rainha-mãe.
Colmeia mãe depois de termos retirado a rainha-mãe e durante o processo de intervenção.

Tive a oportunidade de ensinar e exemplificar os procedimentos para avaliar a taxa de infestação por meio da lavagem de abelhas adultas. Na colónia estabelecida a lavagem de uma amostra de cerca de 300 abelhas adultas com álcool deu uma taxa pouco superior a 0,3% (uma varroa caída).

Num dos enxames comprados e que apresentava um padrão de criação bastante salpicado fizemos também um teste de infestação. A taxa estava nos 0,6%, o que permite concluir que padrão de postura desta colónia não se deve a parasitação por varroa. Apontei outras duas hipóteses, que o resto da temporada ajudará a esclarecer qual delas a mais acertada.

No final da manhã o Luís tinha mais dois enxames no apiário que, com um pouco de sorte e ajuda da metereologia, daqui a cerca de 30-35 dias terão rainhas novas em postura.

Nota: os apicultores que desejem que os acompanhe no apiário podem enviar-me mensagem privada através da caixa de comentários deste blogue ou para o e-mail jejgomes@gmail.com ou ainda através do Messenger da rede social Facebook, para vos contactar e falarmos.