Nesta publicação já me havia referido a esta colónia. Em 18 de fevereiro, na lavagem de 300 abelhas adultas caíram 71 varroas ( infestação de 23,7%). Os sintomas dos vírus, veiculados pelas varroas e potenciados pela debilitação do sistema imunológico das abelhas, eram muito visíveis.
Nesta circunstância, em condições normais, a colónia estava condenada ao colapso; o seu destino estava traçado. Na altura teria abelhas para cobrir pouco mais de um quadro e meio. Decidi aceitar o desafio que a natureza me colocou à frente: esta colónia deu-me a oportunidade de fazer dela um estudo de caso dos efeitos de um protocolo de tratamento inovador que já tinha testado com sucesso em colónias muito infestadas, mas muito menos infestadas (com mais de 8% de infestação e abaixo de 15%).

No dia 5 de março decidi experimentar nesta colónia uma ferramenta inovadora que trago na minha caixa para utilizar nestes casos de infestação elevada. Neste caso em concreto os meus receios eram sobretudo dois: (i) apesar da eficácia e consistência revelada por esta ferramenta noutros casos exigentes, nenhum se igualava à exigência deste; (ii) numa colónia tão infestada, tão debilitada, tão despovoada, temia que o “remédio” pudesse acelerar o seu colapso. Contudo, colapsada já ela estava, ainda que teimosamente se agarrasse à vida cada vez mais periclitante.
Há dois dias, a 6 de maio, passados cerca de 2 meses sobre a utilização deste protocolo, abri esta colónia e inspeccionei-a atentamente, quadro a quadro. E fiquei muito feliz, por constatar que a colónia estava viva e estava a crecer e prosperar. Este caso limite, revelou uma vez mais vários aspectos comuns com os outros casos por mim analisados até à data:
- a mortalidade de criação decorrente da aplicação deste protocolo a acontecer é ínfima e não observável;
- a mortalidade de rainhas é inexistente, até à data;
- mesmo em casos de elevada infestação, a eficácia e persistência dos efeitos deste protocolo são evidentes e mensuráveis.
Em baixo deixo algumas fotos, do passado dia 6 de maio, ilustrativas do estado de saúde e desenvolvimento desta colónia.



Obviamente que o princípio que partilho, ensino e recomendo é planear, definir, projectar e monitorizar uma estratégia anual de controlo à varroose com medidas culturais e medicinais que mantenham a infestação não acima do intervalo 1-2%. Contudo, por vezes, há casos que nos fogem da mão. E nestes casos as medidas convencionais derrapam e são frequentemente ineficientes, como todos sabemos. Só consigo descortinar duas opções para estes casos: (i) baixar os braços porque não temos ferramentas à altura de casos tão exigentes; (ii) utilizar esta ou outra ferramenta inovadora, com princípios activos orgânicos ou técnicas culturais, que podem dar-nos esperanças realistas de conseguir recuperar colónias com mais de 8% de infestação.
Porque não me conformo com a tremenda mortalidade anual de colónias de abelhas melíferas em Portugal (150-200 mil/ano), tão necessárias à prestação de serviços ecossistémicos que sustentam e melhoram o ambiente natural que todos apreciam e necessitam, tão necessárias à fruição de cerca de 10 mil apicultores não profissionais e ao sustento dos cerca de 1000 apicultores profissionais, continuo a informar e ensinar o melhor que sei e posso, sempre que solicitado a fazê-lo por apicultores.
Dada a solicitação de informação e formação de um número apreciável de apicultores sobre este e outros aspectos de uma estratégia bem fundamentada, testada e com os resultados acima descritos em apiários do território português, abri uma nova data para iniciar o percurso formativo “Controlo efectivo da Varroose ao longo do ano”, no próximo dia 16 de maio, com a sessão on-line, via Zoom, a ser iniciada às 21h30.
Os interessados podem contactar-me para o e-mail: jejgomes@gmail.com