vespa velutina: uma breve revisão do que tenho escrito e publicado

Foi em 2011, um pouco antes dos primeiros avistamentos em Portugal, que soube que uma vespa exótica estava a preocupar e muito os apicultores franceses. Quando recebi a notícia que tinha sido avistada em Viana do Castelo fiquei também bastante preocupado. Esta preocupação acabou por reflectir-se nas inúmeras publicações que tenho vindo a fazer desde 2016, data que fundei este blogue, até ao presente sobre este insecto predador.

Esta publicação tem como objectivo apresentar uma breve e parcelar revisão do que tenho publicado sobre a Vespa velutina nigrithorax.

Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)

a velutina mais perigosa que a varroa?

Numas jornadas de apicultores, em que tive o gosto de participar recentemente, foi afirmado por uma das intervenientes que achava que a velutina era mais perigosa que a varroa para as colónias de abelhas. Este achismo pode ser fruto tanto de uma boa reflexão como de uma reflexão muito incompleta e imperfeita.

Vejamos com algum detalhe:

(i) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa faz sentido num quadro de pensamento em que se assume que podemos ter um grande controlo sobre a varroose e, portanto, tendo um controlo mais fraco sobre a pressão e danos que a velutina exerce a partir dos meses de agosto e seguintes, os danos sobre as colónias não advêm de uma varroose que até está muito controlada, mas sim de uma pressão das velutinas de difícil controlo.

(ii) achar que a velutina é mais perigosa que a varroa, só porque vemos muitas colónias a colapsar em julho, agosto, setembro e outubro, e responsabilizar as velutinas pelo colapso porque andam por ali a pressionar e comer abelhas, isto sem termos indicadores fiáveis das taxas de infestação por varroa nessa altura e ao longo do ano, é inúmeras vezes uma conclusão errada e que em nada contribui para a correcção necessária das intervenções dos apicultores no sentido de melhorarem o controlo do que devem prioritariamente controlar, a varroose.

Lembro-me bem do Bruno Moreira, presidente da Associação dos Apicultores do Norte de Portugal, um profundo conhecedor das abelhas e das velutinas, afirmar que a principal causa de morte das colónias no norte, onde a velutina já faz muita pressão há anos, continua a ser a varroa. Os apicultores mais veteranos têm presente que muito antes da famigerada velutina ter arrombado as nossas fronteiras, já morriam dezenas de milhar de colónias todos os anos. Muitos, como hoje, não chegavam a reconhecer que era a varroa a causa.

O mais difícil de engolir neste contexto é que, em boa medida, continua a ser assim, apesar da informação e técnicas actualmente disponíveis e de existirem bons exemplos por parte daqueles que controlam ano após ano o flagelo deste ácaro.

As coincidência turvam o olhar e a interpretação. Sem um efectivo controlo da varroose as colónias vão levar o golpe de misericórdia pelas velutinas, mas já estavam a colapsar por acção da varroa. Esta coincidência confunde o observador mais desatento.

As duas simulações que apresento em baixo são esclarecedoras do efeito do fraco controlo da varroa e da coincidência dos “timings”: a morte destas colónias por varroose coincide com o início da pressão das velutinas.

Colónia no interior de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa bem controlada (1%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de agosto. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.

Colónia no litoral de Portugal, que tendo entrado no ano com a varroa muito bem controlada (0,3%) e, sem mais qualquer controlo, vai colapsar à entrada de julho. O apicultor a quem isto acontece vai associar a morte da colónia à pressão das vespas que tinha começado a sentir-se umas duas semanas antes. Na verdade a colónia já tinha o destino traçado pela elevada infestação do ácaro, com ou sem velutina presente.

acompanhamento e serviço técnico em apiário: 2ª sessão

Cerca de duas semanas depois da primeira intervenção no apiário de um companheiro, situado nas proximidades de Coimbra, combinámos para hoje uma nova sessão de trabalho (ver aqui o resumo da intervenção anterior).

No final das 7 horas de trabalho, o apicultor contava com mais 16 novas colónias, resultantes dos desdobramentos efectuados, uns motivados por razões de controlo da enxameação e outros por necessidade de substituir rainhas semi-esgotadas, com um padrão de postura medíocre.

Para além dos desdobramentos procedi também a:

  • avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas;
  • inspecção de todos os 32 ninhos das colónias estabelecidas ali instaladas;
  • organização dos ninhos;
  • transporte e instalação de 8 desdobramentos para/num segundo apiário.

De referir que num ano de intensa enxameação, a este companheiro só um enxame lhe fugiu para as árvores. As técnicas de prevenção e também as técnicas de controlo da enxameação que tenho levado a cabo têm sido oportunas e suficientes neste caso, com estas duas visitas intervaladas em cerca de 15 dias.

Em baixo um pequeno foto-filme de alguns momentos do trabalho hoje efectuado.

Colmeia que se preparava para enxamear nos próximos dias. Foi submetida ao controlo de enxameação e não enxameará.
Um dos quadros com uma rainha de colónia em situação de breve enxameação, colocado em caixa nova. Esta continuará a trabalhar em caixa do meu amigo. Confidenciou-me que não gosta de andar a apanhar enxames nos galhos das árvores. Partilhamos esse gosto de não gostar do mesmo!
Medição da taxa de infestação. Bastante baixa hoje, depois de ter estado bastante alta, em resultado de várias medidas correctivas que sugeri ao longo dos últimos 3 meses que acompanho mais regularmente as colónias.
Mias uma carga com 8 desdobramentos, que a juntar aos 24 efectuados nestas duas visitas técnicas permitiu ao companheiro duplicar o seu efectivo.

Para conversar e agendar acompanhamento técnico em apiário podem contactar-me para jejgomes@gmail.com

questionário “levantamento de problemáticas na notificação de doenças apícolas”

O investigador João Santos solicitou-me a divulgação do questionário em baixo junto da comunidade dos leitores deste blog. Apelo aos companheiros apicultores para que participem, respondendo ao mesmo. Desde já o meu agradecimento para com a V. disponibilidade e deixo o texto que o João Santos me enviou para acompanhar esta publicação, assim como a hiperligação (a azul sublinhado) para acederem ao questionário.

Um dos projetos principais do Laboratório de Genómica Microbiana e Simbiose do Instituto Gulbenkian de Ciência foca-se  nas bactérias do intestino da abelha do mel. Sabemos que as pragas e doenças interferem significativamente no estado destas bactérias benéficas, e estamos interessados em conhecer em maior detalhe quais as principais dificuldades por que passam os apicultores em Portugal, quais os conhecimentos base que possuem na identificação de doenças apícolas e como lidam com as doenças/pragas que surgem nos seus apiários.
Este é um pequeno questionário (cerca de 5 minutos), construído com o auxílio de outros colegas apicultores, para que os participantes o possam preencher de forma completamente anónima. Pretende-se com este questionário organizar os dados e compreender como tem evoluído o conhecimento nesta área e quais os maiores desafios à apicultura atualmente. Por favor, não deixe de colaborar e de enviar a outros colegas apicultores, no sentido de obtermos uma maior participação.

Obrigado pela sua colaboração.

João Santos,
Microbial Genomics and Symbiosis Lab

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdP7ueTC7mWOW5Me-62tXg8ugjoC1ZgZt1ayYm1vjRETVjr3g/viewform

vespa velutina: um quarto das receitas do mel não chegam para pagar o dano

Economic Costs of the Invasive Asian Hornet on Honey Bees é um artigo que vai ser publicado no próximo novembro, na revista Science of The Total Environment. É um artigo muito elucidativo e enfático sobre o impacto económico que a Vespa velutina tem sobre a apicultura francesa nos dias de hoje.

O estudo procurou dar uma resposta precisa, com base em dados de grande escala e técnicas de modelagem, aos custos económicos da predação da V. velutina sobre as abelhas melíferas em França, através de estimativas relativas a estes três pontos: (i) o risco de mortalidade das colónias de abelhas relacionado com as vespas, (ii) o custo económico da perda de colónias para os apicultores e (iii) o impacto económico da substituição de colónias em comparação com as receitas do mel às escalas regional e nacional.

As conclusões são: “Estimamos uma densidade global de 1,07 ninhos de vespas asiáticas/km2 na França, com base no registro de campo de 1.260 ninhos em uma área pesquisada de 28.348 km2. No entanto, esta densidade de predadores estava espalhada de forma heterogénea por todo o país, bem como a distribuição das colónias de abelhas geridas. No geral, este risco de mortalidade de colónias de abelhas relacionado com vespas pode atingir até 29,2% das colónias dos apicultores à escala nacional todos os anos num cenário de elevada predação. Este custo nacional poderá atingir 30,8 milhões de euros por ano devido à perda de colónias, o que representa para os apicultores um impacto económico da substituição de colónias de 26,6% das receitas do mel.

Esta publicação visa colocar o “problema velutina” na exacta magnitude do mesmo: é um problema enorme para a apicultura dos países onde já está instalada e sê-lo-á naqueles onde se vier a instalar num futuro próximo — segundo alguns estudos a V. velutina será capaz de colonizar uma grande diversidade de habitats na Europa e regiões de fronteira, dos países nórdicos até às zonas costeiras do norte de África.

vespa velutina: os cavalos de troia são ineficazes?

Nos três primeiros vídeos um apicultor galego apresenta-nos a sua experiência e conclusões dos efeitos alcançados com a utilização de cavalos de troia num ninho localizado no interior de uma habitação nos últimos dias de agosto.

Aspectos que considero relevantes: 1) o apicultor verificou que tendo colocado fipronil no abdómen de uma velutina, esta estava morta passada 1h30m mas as restantes que ocupavam o mesmo espaço limitado de uma jaula não estavam; 2) o apicultor enviou no total 175 troianos ao longo de 5 dias, 50 dos quais ao pé do ninho; 3) verificou que dos 50 troianos libertados junto ao ninho nenhum voo directamente para o mesmo; 4) no final destes 5 dias, o ninho localizado continua activo; 5) foram detectados outros 5 ninhos activos nas proximidades, entre 437m e 1100m de distância;

O apicultor conclui que os troianos com fipronil não têm capacidade de eliminar os ninhos. No final confessa que esperava que os troianos com fipronil seria o suficiente para eliminar os ninhos. Neste ponto pergunto se as expectativas deste apicultor são realistas, isto é, podemos esperar realisticamente que libertar 175 troianos num ambiente com 6 ninhos activos os elimine por completo?

Na sequência do vídeo anterior o apicultor colocou este onde nos mostra como eliminou o ninho no dia 29 de agosto, com recurso a várias mechas tóxicas (cipermetrina?) colocadas no mesmo. Aspectos que considero relevantes: 1) o ninho estava instalado quase na totalidade no interior da habitação, ao abrigo das agruras ambientais, em princípio teve condições óptimas para se desenvolver; 2) o ninho tem cerca de 60 cm de altura.
Na sequência dos dois vídeos anteriores o apicultor apresenta este terceiro, onde apresenta o resultado da dissecação que fez do ninho. Tiro o chapéu a este apicultor pelo trabalho que fez e documentação do mesmo. Aspectos que considero relevantes: 1) o ninho apresentava 8 discos com muito poucas larvas, cerca de 150; 2) estima que a população total de indíviduos adultos sejam 1500; 3) mostra um frasco com uma ou duas dezenas do que acha que são futuras fundadoras; 4) refere que no dia 1 de setembro na Galícia as velutinas já baixaram do pico de criação e que isso explica a diminuição de predação das velutinas porque não há necessidade de proteína; 5) conclui que os troianos porque não se dirigem ao ninho não são efectivos; 6) conclui que a diminuição dos ataques às colmeias não se deve aos troianos mas à diminuição de necessidade de proteínas no ninho.
Neste último vídeo temos uma posição oposta acerca da efectividade dos cavalos de troia por parte de um outro apicultor asturiano.

Nesta publicação, com dois anos, observou-se que cada velutina distribui o alimento por oito 8-10 irmãs. Sustentando e informado por estes dados escrevi: “Proposta quantitativa para a preparação de Cavalos de Tróia: Operando com esta média de distribuição de alimento por cada operária V. velutina, e sabendo que no pico de desenvolvimento dos ninhos existem cerca de 2000 a 4000 indivíduos adultos presentes, teremos que preparar entre 50 e 100 vespas se pretendemos eliminar 25% da população do ninho, entre 100 e 200 se o objectivo é eliminar 5o% da população do ninho, entre 200 e 400 se o objectivo é eliminar 100% da população do ninho.

A terminar pergunto se as expectativas deste apicultor são realistas, isto é, podemos esperar realisticamente que libertar 175 troianos num ambiente com 6 ninhos activos os elimine por completo? Será que num ninho com 60 cm de altura, em excelentes condições de abrigo e em finais de agosto, não seria de esperar encontrar mais do que 1500 adultos e 150 larvas e uma a duas dezenas de futuras fundadoras? É de descartar um efeito letal dos troianos em parte da população adulta e larvas que explique estes números baixos? Será possível que todas as diminuições de predação que se relatam após a libertação dos troianos se devam à coincidência de acontecerem precisamente na altura de diminuição de criação?

Na minha opinião não encontro nos três primeiros vídeos evidências que os cavalos de troia não produzam efeito nenhum sobre os ninhos; encontro contudo aspectos que me fortalecem a convicção de que é necessário enviar uma grande quantidade de troianos para eliminar por completo um ninho, como já era minha convicção há dois anos atrás. Na minha opinião, a questão que cada um terá que responder para si, caso acredite nos efeitos desta técnica, é se o procedimento de besuntar o abdómen ou o tórax das velutinas será o mais prático para enviar o número suficiente de velutinas para que causem um grande dano no ninho ou ninhos envolventes aos nossos apiários.

vespa velutina: o que procura nas flores?

A V. velutina, assim como as suas primas, a V. crabro e a V. orientalis, são vistas frequentemente sobre as flores.

O que procuram? Prioritariamente o néctar, para darem resposta à elevada quantidade de energia que os seus voos exigem. Como caçadores oportunistas que são não dizem que não à possibilidade de caçar um insecto ou outro mais distraído que tenha o azar de estar no local errado e à hora errada.

Vespa velutina a colectar néctar numa flor.
Vespa crabro a colectar néctar numa flor.
Vespa orientalis a colectar néctar numa flor.

Contudo, se a procura dos néctares responde a essa necessidade primária ela é também essencial para responder a necessidades sociais destas espécies. Neste artigo, Continuous exchange of nectar nutrients in an Oriental hornet colony, (2022), podemos apreender alguns detalhes do processo de troca contínua, em loop, dos nutrientes açucarados num ninho de V. orientalis — a probabilidade de se passar o mesmo com a V. velutina é grande.

“A troca de nutrientes entre indivíduos adultos em insetos sociais é bidirecional, ou seja, podem ser doadores e receptores do mesmo tipo de alimento ou nutriente. […] Nas vespas sociais, as secreções larvais constituem um dos principais recursos alimentares dos adultos. As larvas de vespas são alimentadas com presas (artrópodes ou carne) coletadas pelos adultos e, em troca, as larvas devolvem aos adultos os produtos da degradação proteica na forma de uma secreção contendo carboidratos simples e aminoácidos livres (resultantes da gliconeogénese e da quebra de proteínas, respectivamente). […] Sugere-se que esta troca recíproca e unilateral de nutrientes (isto é, proteínas versus carboidratos e aminoácidos livres) e a consequente co-dependência nutricional entre adultos e larvas seja a chave para o estabelecimento da sociabilidade em Vespidae.

Apesar das vespas sociais serem ferozes caçadoras de insetos, os adultos também são frequentemente observados alimentando-se de néctar floral de uma variedade de espécies de plantas diferentes. A vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), por exemplo, foi observada alimentando-se de néctar floral de 27 espécies de plantas. Este consumo de néctar, no entanto, tem sido frequentemente caracterizado simplesmente como um comportamento oportunista, uma vez que a visita às flores também pode estar associada à caça de presas. As operárias adultas são voadoras fortes com uma taxa metabólica extremamente alta e alimentam seu metabolismo com uma dieta rica em carboidratos e aminoácidos livres encontrados no néctar e nas secreções larvais. Estas dietas ricas em carboidratos também podem proteger os músculos de vôo do stresse oxidativo derivado do alto desempenho aeróbico. A composição de macronutrientes das secreções larvais é análoga ao néctar das plantas visitadas pelas vespidae, embora geralmente seja mais rico em concentração e diversidade de aminoácidos. Ao contrário das operárias, as larvas necessitam de alimentos ricos em aminoácidos para sintetizar as proteínas necessárias ao seu desenvolvimento e são sustentadas por uma dieta altamente proteica. Como as larvas são alimentadas com presas e as secreções larvais são mais nutritivas para os adultos do que o néctar, por que razão as vespas também se alimentam de néctar floral?

[…] Também investigamos a importância do néctar para a sobrevivência da colónia. Nossos resultados revelam um papel importante do néctar na nutrição das vespas. Mostramos que os nutrientes do néctar são trocados num ciclo contínuo entre todas as diferentes fases da vida dos membros da colónia, desafiando o conhecimento predominante neste campo até o momento.”

Notas para levar para casa:

  • mesmo na designada fase proteica, os vespões adultos continuam a procurar fontes açucaradas;
  • a presença destes vespões nas flores explica-se pela procura de néctares e não exclusivamente por ali poder emboscar e caçar insectos;
  • se as larvas são alimentadas predominantemente com proteínas, os vespões adultos também lhes entregam nutrientes açucarados;
  • uma parte destes nutrientes açucarados, enriquecidos com aminoácidos, retornam aos indivíduos adultos através do consumo que fazem das secreções que as larvas produzem.

a conta anual da apicultura: que rentabilidade?

Desde 2009, quando iniciei a minha actividade apícola, até 2023, quando a interrompi, sempre me acompanharam as folhas de Excel, que ía preenchendo sempre que fazia uma compra ou sempre que fazia uma venda. No final do ano apícola, último dia de setembro para mim, fazia o encontro de contas para avaliar o maior ou menor sucesso financeiro alcançado no ano. Como apicultor profissional esta era uma ferramenta indispensável de registo — mais vale um lápis pequeno do que uma grande memória, P. Drucker —, de memória, de análise, de comparação, de previsão, de planeamento e de reflexão.

Vista parcial da minha folha de Excel com as despesas do ano apícola 2015-2016.

Esta publicação vem a propósito do artigo The Economics of Honey Bee (Hymenoptera: Apidae) Management and Overwintering Strategies for Colonies Used to Pollinate Almonds (2019), onde Gloria Degrandi-Hofman, reputada investigadora, e colegas concluem que contas bem feitas a rentabilidade que os apicultores profissionais retiram com o aluguer de colmeias para a polinização das amendoeiras na Califórnia é pouca ou nenhuma. Nas suas palavras “A key finding from our study is that there is little or no profit in renting colonies for almond pollination once summer management and overwintering costs are considered.

Para mim esta conclusão é surpreendente por duas razões: 1) ou os apicultores profissionais norte-americanos não estão a considerar alguns custos (custos esquecidos, ocultos ou difíceis de quantificar) e andam a trocar dinheiro; 2) ou Gloria Degrandi-Hofman e colegas, apesar de terem feito os cálculos com colmeias reais (a amostra foi de 190 colmeias) e no terreno ao longo de 10 meses, tiveram despesas acima da média, em especial no maneio de verão e inverno.

Esta publicação reflecte a complexidade em fazer a “conta” anual na apicultura.

Nota: estou consciente que para alguns apicultores a rentabilidade que tiram da sua apicultura é pouco ou nada importante, para outros é medianamente importante e muito importante e determinante para outros ainda.

tenho 500 colmeias, quanto posso esperar receber? ou um incentivo à pequenez

Surgiu num dos grupos de apicultores do FB o lacónico quadro em baixo. Como tudo o que é lacónico, demasiado sintético, abre muito o campo a interpretações. Vou apresentar a minha para o cenário de quem tem 5oo colmeias ou mais registadas na DGAV.

No escalão das primeiras 50 colmeias recebe 8,50€ por cada, isto é, 425€ (50×8,50). No segundo escalão, entre as 51 e as 150 colmeias, recebe 7,50€ por cada, isto é 750€ (100×7,50). No terceiro escalão, entre as 151 e as 250 colmeias, recebe 6€ por cada, isto é 600€ (100×6). No quarto escalão entre as 251 e as 500 colmeias, recebe 3€ por cada, isto é 750€ (250×3). No total pelas 500 colmeias irá receber 2525€ (425+750+600+750). Em média receberá 5,05 € por colmeia. Se tiver 1000 colmeias registadas receberá os mesmos 2525€, o que representa uma média de 2,53€ por colmeia. Se tiver 2000 colmeias receberá os mesmo 2525€, o que representa uma média de 1,26€ por colmeia.

Se a minha interpretação está correcta, a forma como esta medida está desenhada é um elogio e um incentivo à pequenez!

apoios directos aos apicultores: proposta rejeitada. Contrária ao espírito associativo do programa

No documento em baixo, publicado pelo GPP, ficamos a saber que propostas feitas em 2021 no sentido de se preverem apoios directos aos apicultores foram rejeitadas por serem contrárias ao espirito associativo.

Fonte: https://www.gpp.pt/images/PEPAC/ConsultaAlargadaNov21/Relatorio_2_fase_consulta_alargada_PEPAC.pdf
Como se pode ver duas propostas de apoios directos aos apicultores são rejeitadas por serem contrárias ao espírito associativo do programa.

Como já publiquei anteriormente, em França, entre outros países, os apoios directos aos apicultores convivem bem com os apoios de natureza colectiva ou associativa. Por cá a fenomenal capacidade de ler nos astros e nas vísceras de animais do mui nobre GPP, intuiu que os apoios directos aos apicultores degradam o espírito associativo. Eh pá, quero o GPP em França, já, antes que a apicultura francesa se desmorone!