multiplicando os enxames: as opções de Bob Binnie

Neste recente vídeo de Bob Binnie é muito interessante verificar que tanto ele como eu chegámos às mesmas conclusões, isto nunca tendo falado um com o outro. Estou a referir-me aos seguintes aspectos:

  • equalizar colónias 30-45 dias antes do principal fluxo de néctar qualifica-as para a produção de mel e para a produção de núcleos — estas colmeias que vemos neste vídeo foram equalizadas com cerca de 5 quadros de criação há três semanas atrás e à data de 15 de março, com o ninho e sobreninho repletos de abelhas, estão a ser preparadas para produzirem núcleos ;
  • assim como eu, Bob Binnie aplica a técnica “não mais de 6”. Na minha opinião esta convergência no maneio resulta de um olhar para o que de facto os enxames nos dizem de semelhante aos dois, quando os olhamos atentamente… com um oceano a separar-nos;
  • assim como Bob Binnie, aplico a técnica Doolittle para multiplicar os enxames. Como ele, prefiro esta técnica porque respeita a integridade do enxame no ninho onde permanecem 6 ou mais quadros com criação com as abelhas e respectiva rainha, conjugada com a simplicidade dos procedimentos na altura da produção dos núcleos.

equalizar colmeias com tempo frio

Os dois vídeos em cima, o primeiro de Bob Binnie, apicultor norte-americano que gere uma operação apícola com mais de 2000 colónias, o segundo de Ian Steppler, apicultor canadiano que gere uma operação apícola com mais de 1500 colónias, são bem elucidativos de que a equalização de colónias de abelhas é não só compatível com operações apícolas de grandes dimensões, como é uma ferramenta essencial para efectuar a prevenção da enxameação nas colónias muito fortes no período pré-fluxo de néctar e, simultaneamente, habilita as colónias mais atrasadas no seu desenvolvimento para a produção no fluxo que virá 30 a 45 dias adiante. Como vemos nestes dois exemplos a equalização não é um maneio que está apenas ao alcance dos apicultores com poucas colónias, ainda que alguns erradamente acreditem que sim. No meu caso, sempre que se justificava apliquei esta técnica mesmo em alturas que tinha 500 a 600 colónias para trabalhar.

Contudo, como já referi nesta publicação de 2016, a equalização deve ser levada a cabo com alguns cuidados: “O apicultor deve ter um grande cuidado para não distribuir quadros com criação e abelhas a partir de colónias doentes. Deve verificar sempre se as colónias não apresentam sinais de doença antes da equalização.  A concluir, deve ter cuidado para não colocar muita criação em colónias fracas, pois estas não conseguirão dispor de abelhas em número suficiente para manter a criação quente durante as noites mais frias, ainda frequentes na primeira metade da primavera no interior do nosso país.

No caso das colónias mais fracas e para ter boas garantias que as abelhas seriam suficientes para aquecer a criação prestes a emergir do quadro que recebiam (sem abelhas), passei a proceder do seguinte modo:

  • tirava um quadro com criação predominantemente aberta e ovos. Procedendo desta forma, tinha um bom grau de certeza de que a colónia receptora mais fraca teria abelhas suficientes para não deixar esfriar a cria do quadro recebido: neste caso seria aquecido, grosso modo, pelas mesmas abelhas que antes aqueciam e cuidavam do quadro com criação aberta retirado;
  • ao mesmo tempo, a colónia mais forte recebia o quadro com criação aberta. Este quadro vai aumentar a ocupação das suas abelhas-ama assim como aumentar a libertação da feromona da criação no interior do ninho, elementos que contribuem para diminuir o impulso de enxameação nestas colónias prematuramente muito fortes;
  • estas colónias muito fortes, nada sendo feito, apresentam uma grande probabilidade de enxamear à entrada do primeiro fluxo forte de néctar 30 a 45 dias adiante, e nesta condição de enxameadas pouco ou nada produzem na temporada.

nosema: uma causa maior ou uma causa menor na mortalidade de colónias de abelhas?

Respondendo de imediato à questão: é uma causa menor. A sustentação desta afirmação é dada pelos dados de um estudo levado a cabo durante 15 anos e publicado recentemente com o título “Significant, but not biologically relevant: Nosema ceranae infections and winter losses of honey bee colonies. ”

Como o título e o sumário indicam numa série longa da dados (mais de 3000 e ao longo de 11 anos ou mais) verifica-se uma correlação significativa (não devida ao acaso) entre a mortalidade invernal de colónias e a Nosema ceranae, mas com uma relevância biológica nula ou baixa.

Aceitando como um limiar normal, mesmo natural, uma percentagem de 10% de mortalidade invernal das colónias, quando tal limiar é ultrapassado o principal agente é o do costume: Varroa destructor. Os autores do estudo são cristalinos a este respeito: “Our results reconfirmed what is already known from many other studies, namely that V. destructor is the main driver of honey bee winter mortality.

Em baixo deixo a “árvore de decisão” que o artigo em questão apresenta e que me parece bastante feliz. Pela importância que este esquema assume voltarei a ele numa próxima publicação.

Para levar para casa: numa altura em que a apicultura passa por uma grande crise de sustentabilidade financeira (esta é a principal causa de abandono na actividade), decidir de forma bem informada onde gastar o dinheiro em medicamentos e suplementos com mais impacto na sobrevivência das colónias é indispensável para essa sustentabilidade. O que este estudo nos vem mostrar é que o dinheiro gasto em suplementos (não existem medicamentos para o controlo dos dois tipos de nosemose) para controlar a Nosema ceranae não será uma decisão avisada no actual contexto financeiro do sector.

Nota: Sobre o impacto da nosemose na sobrevivência de colónias de abelhas escrevi também o ano passado aqui.

Fonte: https://www.nature.com/articles/s42003-023-04587-7

a longevidade das abelhas caiu para metade nos últimos cinquenta anos?

Neste artigo de divulgação científica o título afirma que a longevidade média das abelhas caiu para metades nos últimos cinquenta anos.

As conclusões deste queda para metade na duração média de vida das abelhas são retiradas através da comparação da longevidade de vida de abelhas testada em laboratório nos anos 70 do século passado com a longevidade testada recentemente por entomólogos da Universidade de Maryland. Afirma-se que a média de vida caiu de 34,3 dias (dados dos estudos levados a cabo nos anos 70) para 17,7 dias (dados do recente estudo).

Contudo estas conclusões devem ser consideradas com uma boa dose de prudente cepticismo por diversas razões, entre as quais destaco:

  • Se as conclusões forem corretas, isto não se teria refletido tanto no tamanho das nossas colónias assim como na média de produção de mel ao longo dos últimos 50 anos, isto é, actualmente as colónias não seriam muito menos populosas e, portanto, muito menos produtivas? Randy Oliver refere: “Se as abelhas vivessem apenas metade do tempo, teríamos definitivamente notado a enorme diminuição no tamanho das colónias”;
  • as abelhas enjauladas nos testes em laboratório não vivem tanto quanto as abelhas numa colmeia no campo e em condições reais. Será prudente assumir que estas conclusões não se aplicam tal e qual a abelhas em colmeias assentes nos apiários e em condições reais;
  • a enorme diferença pode ser provocada por diferenças entre os protocolos experimentais seguidos nos anos 70 e os seguidos actualmente, em particular no que concerne ao tipo de alimentação e ingredientes utilizados, que como sabemos têm um grande impacto na longevidade das abelhas;
  • ainda sobre a importância dos protocolos experimentais utilizados quando se avalia a longevidade das abelhas enjauladas, um investigador canadiano, Jerry Bromenshenk, faz o seguinte relato: “Identificámos um problema de longevidade nos últimos anos, mas atribuo isso às gaiolas que usamos. No início, construí pequenas gaiolas de madeira com laterais em rede. Depois passei a usar copos de sorvete pequenos e usei-os durante anos. No entanto, na última vez que fizemos testes em gaiolas, notamos perda de abelhas após cerca de 10 dias. Antigamente, os copos de sorvete que utilizávamos como gaiolas eram feitas de papel encerado. Os copos de sorvete modernos, pelo menos as que encontramos localmente, ou são completamente em plástico ou possuem algum tipo de revestimento plástico. As abelhas nestes copos morreram num espaço de duas semanas. Quando voltamos a utilizar gaiolas de madeira e rede a longevidade aumentou novamente, voltando ao esperado.” Nesta experiência actual levada a cabo pelos entomólogos da Universidade de Maryland as gaiolas utilizadas são de plástico;
  • Peter Borst, apicultor e divulgador da ciência apícola, escreve: “Há uma relação positiva entre a população de abelhas nas gaiolas e a expectativa de vida média … Isso pode ser um artefacto dos dados, sabendo que as experiências na década de 1970 usavam populações maiores, logo promoviam uma vida mais longa das abelhas.”;
  • Novamente Peter Borst: “Moffett et al. (1958) nos Estados Unidos relataram que observaram aumento da longevidade em abelhas adultas engaioladas alimentadas com pequenas doses de penicelina, tetraciclina ou eritromicina… em abelhas recém-emergidas. A alimentação com antibióticos para abelhas estava omnipresente na década de 1970 e, actualmente, não é permitido alimentar abelhas saudáveis com antibióticos.”;
  • Ainda Peter Borst: “Um trabalho de investigação recente de Jay Evans (2009) afirma: realizámos várias centenas de testes com abelhas adultas apenas em água com açúcar, com uma sobrevivência média de 36 dias e um máximo de 60+ dias”.

Na minha opinião não me surpreende que as abelhas tenham a sua longevidade diminuída por via de vários factores, dos quais destaco a presença mais intensa e ubíqua dos vírus transmitidos pelo varroa nos dias de hoje. Contudo tenho muitas dúvidas que as abelhas tenham sofrido uma queda para metade da sua longevidade nos últimos 50 anos. Ao longo dos meus 13 anos de apicultura não me apercebi de um declínio notável na população das minhas colónias, que teria sido enorme e observável a olho nú caso esta redução de longevidade se tivesse vindo a concretizar.

Sobre o processo de simplificação desde o conteúdo do artigo científico até à sua “interpretação” pela comunicação/redes sociais.

outono de 2022: o estado sanitário das minhas colónias a 600 m de altitude

Hoje, por volta das 10h00, entrei no meu apiário a 600m de altitude onde estão estacionadas 29 colónias do modelo Langstroth.

Por volta das 14h00 estava de saída do apiário depois de uma análise aprofundada colónia a colónia, quadro a quadro. Terei levantado cerca de 250 quadros com a intenção de observar:

  • abelhas e suas asas;
  • criação e seu padrão;
  • reservas de mel e pólen;
  • número de quadros cobertos com abelhas;
  • número de quadros com criação;
  • localização do enxame no interior da caixa.

Antes de descrever o que consegui observar no interior das caixas, verifiquei a ausência de velutinas. Nestas 4 horas que permaneci no apiário não vi uma! O ano passado assisti a uma pressão baixa das velutinas neste apiário. Este ano não as vi sequer. Felizmente a progressão das colónias das velutinas não tem sido constante nem crescente neste local. Neste caso o problema maior da pressão das velutinas, a paralisia de voos de forrageamento, não se verifica.

Como coloquei hoje as réguas de entrada consegue ver-se melhor as cargas trazidas do campo enquanto as abelhas atinam com esta redução da entrada.

Sobre as observações no interior das colmeias, verifiquei que os enxames ocupavam em geral 6 a 7 quadros, com 4 a 5 quadros de criação, em geral centrado no lado nordeste colmeia (o lado mais fresco da colmeia).

Este outono muito primaveril, a presença de pólen no campo e a possibilidade do seu forrageamento, incentiva a postura da rainha. Este nível de criação, mais intensa que o normal para a época, permite a reprodução das varroas presentes e o crescimento da sua população. Tendo em conta estes considerandos decidi efectuar o quarto tratamento deste ano.

As reservas de pólen, pão de abelha recém ensilado estava em bons níveis, com um a dois quadros bem fornecido de pólen de cor predominantemente amarela (julgo que de tágueda). No caso do mel fiz a equalização das reservas entre colónias, tirando um ou dois quadros das que tinham mais para os dar às que tinham menos.

A criação era em geral compacta e ocupava áreas significativas de 4 a 5 quadros. Não vi larvas distorcidas e opérculos furados pelas abelhas — a este propósito dizer que as varroas não perfuram os opérculos para saírem dos alvéolos; os pequenos buracos que por vezes observamos são feitos pelas abelhas, no âmbito do seu comportamento de higienização do ninho, para sinalizarem e retirarem larvas/pupas doentes ou mortas.

Nos cerca de 250 quadros analisados não observei mais que 3 ou 4 abelhas com asas deformadas, um excelente indicador que os níveis de infestação pela varroa está abaixo do limiar em que provoca danos observáveis e importantes nas colónias.

Em alguns casos desoperculei algumas larvas para validar estas observações. O que observei nas larvas, de zângão sobretudo, confirmam as minhas impressões resultantes das observações anteriores. Estas observações são guiadas por um conhecimento aprofundado na minha prática e nas muitas leituras levadas a cabo acerca dos sintomas visíveis quando na presença de uma taxa de infestação mais ou menos elevada.

Em conclusão, o medicamento Amicel que escolhi para o tratamento deste verão foi o mais eficaz dos escolhidos nestes últimos três anos. Neste apiário eliminei apenas uma colónia, por problemas com a rainha e não observei colónias enfraquecidas por varroose ou pelo síndrome PMS. Umas colónias mais populosas do que outras, mas todas saudáveis do que me foi possível observar.

Nota: ver aqui o estado sanitário das minhas colónias a 900m de altitude.

outono de 2022: primeira inspecção, com foco na avaliação da eficácia do Amicel

Com os ouriços a balançar nos castanheiros, levei a cabo a primeira inspecção de outono no meu apiário a 900m de altitude.

O foco desta inspecção esteve na avaliação da eficácia do Amicel, o acaricida que utilizei para o tratamento de verão (ver aqui as razões desta opção; aqui os procedimentos principais para levar a cabo a sua preparação).

Neste apiário as colónias estão saudáveis, o que me diz que o Amicel cumpriu os objectivos pretendidos: diminuir a taxa de infestação de varroa abaixo do limiar em que não provoca dano à colónia ou não deixar crescer essa taxa acima do limiar em que provoca dano à colónia.

Em baixo deixo o foto-filme que ilustra as observações que fui fazendo hoje no apiário.

Criação compacta e saudável. Abelhas vivazes e que vendem saúde.
Pão de abelha recém ensilado. Alimento crítico para o bem-estar e longevidade desta coorte de abelhas que tem de viver 5 a 6 meses por estas paragens.
Larvas a nadarem em geleia real. Mais um aspecto que me importa focar nesta altura do ano.

Colónias bem povoadas. Pedaço de cartão, uma reminiscência da tira de Amicel.

Nota: Em breve conto dar conta da avaliação da eficácia do Amicel nos dois apiários que tenho instalados a 600m de altura, apiários por norma mais complicados no que concerne ao controlo da varroose no final de verão/início de outono.

eficácia de harpas elétricas na redução da pressão de predação de Vespa velutina e consequências para o desenvolvimento de colónias de abelhas

Recentemente publicado, este estudo levado a cabo na Galiza vem confirmar os resultados que diversos apicultores encontram com a utilização de harpas eléctricas em apiários fortemente pressionados pela Vespa velutina. Realça ainda a importância das medidas de protecção que diminuem a paralisia dos voos de forrageamento. Finalmente, dizer que não se conhecendo uma medida super-eficaz, é da utilização atempada, correcta e diversificada de algumas delas que se retira os melhores resultados (ver outras medidas mencionadas neste blog e nesta categoria “predadores e inimigos”).

Foco: Avaliámos a pressão de predação e comparámos o desempenho da colónia de abelhas, o peso corporal das operárias e a sobrevivência no inverno para colónias protegidas versus desprotegidas em 36 colmeias experimentais em três apiários.”

Resultados: As harpas elétricas protegeram as abelhas, reduzindo a pressão de predação e, portanto, mitigando a paralisia de forrageamento. Consequentemente, a atividade de forrageamento, colecta de pólen, produção de cria e peso corporal de operárias foram maiores em colónias protegidas que por sua vez apresentaram maior sobrevivência de inverno do que aquelas que não foram protegidas, especialmente em locais com níveis intermédios a altos de predação.”

Detalhes do estudo

“As harpas elétricas foram colocadas perpendicularmente às entradas das colmeias, entre duas colmeias contíguas (a). Estes dispositivos foram colocados nos apiários 1 mês antes das primeiras observações. Durante a primeira semana as harpas foram desligadas para permitir que as abelhas se habituassem à sua presença. A armadilha consiste numa armação com fios verticais paralelos conectados alternadamente aos pólos positivo e negativo de um circuito elétrico. O modelo aqui utilizado possui uma modificação para minimizar as capturas acessórias. As vespas voadoras recebem um choque elétrico sempre que tocam dois fios consecutivos (b), paralisando-as por alguns segundos e caindo numa gaiola em baixo com paredes de malha que permitem a fuga de insetos menores. Em seguida, as vespas rastejam dentro da gaiola até cair numa garrafa coletora.”

Sistema de proteção: seis colmeias colocadas em linha, separadas de 20 a 30 cm cada, protegidas com cinco harpas elétricas (a). Ao caçar abelhas na frente das colmeias, as vespas voam entre fios eletrificados que as paralisam (b). Depois caem numa gaiola da qual insetos menores escapam enquanto vespas caem numa garrafa de coleta.

Atividade de forrageamento: O número de forrageiras foi afetado pela pressão de caça e mês em questão. A paralisia forrageira registada nas colmeias desprotegidas no local de maior predação (Gondomar) iniciou-se em agosto e manteve-se durante todo o estudo apesar da diminuição da predação observada em setembro. A paralisia de forrageamento ocorreu principalmente em colónias de abelhas que sofreram taxas de caça superiores a 0,8 vespas/colmeia/10 min . No local com maior pressão predatória, as colónias protegidas apresentaram maiores tamanhos populacionais dentro da colmeia do que as não protegidas durante agosto e setembro, precisamente quando estas colónias apresentaram paralisia. Observámos operárias de todas as idades permanecendo dentro da colmeia em colónias paralisadas. Além do forrageamento, outros comportamentos comuns, como coleta de resinas para produção de própolis ou atividades higiénicas, como voos higiénicos, remoção de indivíduos doentes ou cadáveres, também foram interrompidos.”

Recursos armazenados: Colmeias desprotegidas apresentaram menor colecta de pólen. Os depósitos de pólen e mel não foram significativamente afetados pela predação de V. velutina.”

Desenvolvimento da colónia: A quantidade de cria e a atividade de forrageamento foram significativamente afetadas pela pressão de predação e pelo mês em questão. A quantidade de cria apresentou níveis mais baixos nas colmeias desprotegidas do que nas colmeias protegidas no apiário com maior pressão das V. veluitnas.”

Peso das abelhas: As operárias de colmeias desprotegidas eram 6,7% mais leves do que as de colmeias protegidas.”

Sobrevivência: A sobrevivência no inverno foi de 77,8% para colónias protegidas e 55,6% para colónias desprotegidas. A sobrevivência de colónias desprotegidas foi menor nos locais com pressão de caça intermédia e alta (Fig. 5). A sobrevivência das colónias de abelhas foi ligada à pressão geral de caça e à interação entre pressão de caça e peso das abelhas, mas não apenas ao peso das abelhas.”

Sobrevivência de inverno de colónias de abelhas em três apiários, com pressão elevada, média e baixa, (desprotegidas e protegidas com harpas elétricas).

Conclusões

“Os dados revelaram que, além da predação, fatores temporais também desempenharam papéis importantes na quantidade de recursos disponíveis na colmeia e na sobrevivência da colónia. A redução na colecta de pólen coincidiu com a paralisia de forrageamento em colónias desprotegidas e provavelmente está relacionada com a baixa quantidade de cria observada durante os últimos meses do estudo. Estes resultados suportam a ideia da paralisia de forrageamento como a principal razão para os processos de enfraquecimento e subsequente colapso que afetam as colónias sob ataque de vespas. Nossas evidências sugerem que em apiários com baixas taxas de predação (menos de 1 vespa/colmeia/10 min), as abelhas foram mais capazes de lidar com o predador e o uso de harpas elétricas é de menor utilidade. No entanto, em locais onde a estação de floração é mais curta e o inverno é mais longo e com temperaturas mais baixas (como em Oia, o local de maior altitude do nosso estudo), taxas intermédia de predação levam a uma menor sobrevivência de colónias em colmeias protegidas e particularmente em colónias desprotegidas (ver gráfico em cima).

O menor peso corporal das operárias em colónias desprotegidas fornece novas evidências do stresse fisiológico que as abelhas sofrem sob esta nova ameaça. O pólen é um recurso de capital relevância para as abelhas, pois é uma importante fonte de proteínas, lipídios, vitaminas e outros nutrientes, necessários para a produção de geleia real, com a qual as larvas são alimentadas. Além disso, a qualidade e a diversidade do pólen influenciam as abelhas. Sabe-se que a saúde e a longevidade e a qualidade do pólen afetam o peso das larvas e das abelhas. Assim, a escassez de nutrientes durante a criação das larvas é um mecanismo plausível que está por trás das operárias mais leves. Além disso, a menor quantidade de criação observada em colmeias desprotegidas no final do estudo sugere que o número de operárias para hibernar é menor do que em colónias protegidas. Assim, nossos resultados revelaram que, além do baixo armazenamento de recursos alimentares, dois fatores estão por trás das mortes no inverno de colónias de abelhas desprotegidas: uma deficiência nos níveis nutricionais de adultos invernantes e um número reduzido de operárias.

Além disso, fornecemos evidências de que o estado fisiológico das operárias das abelhas é afetado pela predação de vespas. Portanto, incentivamos os apicultores a facilitar o acesso das abelhas a diversos recursos florais e de água doce, contribuindo assim para diminuir seu stresse fisiológico e falhas no regresso à colmeia. Por isso, quando as colónias sofrem de paralisia de forrageamento é recomendável a suplementação de uma dieta diversificada e rica em todos os nutrientes necessários. Isso deve ser fornecido não apenas durante o inverno para evitar a fome de colónias fracas, mas também no outono, quando as operárias que vão suportar o inverno estão em fase larval.

A instalação de harpas elétricas representa um importante investimento económico inicial para os apicultores que depende do número de harpas e seu preço comercial. Isto, por sua vez, está relacionado ao número e localização das colmeias. Tem sido sugerido um racional de uma harpa a cada duas ou três colmeias, o que provavelmente é inviável para grandes apiários. Além disso, é necessário tempo para manter um sistema funcional. Os apiários precisam ser adaptados frequentemente, e sugere-se formar linhas com distância reduzida entre as colmeias para diminuir a distância das entradas das colmeias à harpa, para obter um maior efeito protetor. Contudo, observámos que em apiários colocados em locais com alta abundância de V. velutina, com uma linha compacta de colmeias (20–30 cm de separação entre elas) e uma harpa entre duas colmeias consecutivas, a redução da pressão de caça foi significativa, mas ainda não suficiente para atingir uma predação nula. Portanto, em áreas altamente invadidas, este método de controle deve ser implantado em conjunto com medidas adicionais, como detecção e destruição de ninhos de V. velutina no entorno dos apiários, a fim de reduzir o número de vespas caçadoras e suas consequências prejudiciais à colónia de abelhas, desempenho e sobrevivência.”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ps.7132

ajudas à renovação do efectivo apícola… em França

Em França, país com uma realidade apícola próxima da nossa, em particular no que respeita a médias de produção e às dificuldades decorrentes do actual contexto meteorológico, os decisores atrevem-se a cometer a “heresia” de dar ajudas forfetárias e a fundo perdido aos apicultores que desejam efectuar a renovação do efectivo apícola.

Que me desculpem alguns campeões da apicultura portuguesa, que desdenham desta tipologia de ajudas, vir aqui falar novamente do “bizarro” caso francês… A razão é simples: pretendo comparar o que é razoavelmente comparável.

Não comparo com os EUA, onde os serviços de polinização dos amendoais são pagos a +200€/colónia; não comparo com o Canadá onde são habituais médias de +100kg/colónia nos campos de canola; não comparo com a Nova Zelândia onde mercado paga o mel de manuka a +400 €/kg; não comparo com a China onde o mel é maturado em fábricas; … comparo com França, com uma realidade próxima, onde os apicultores não desdenham destas ajudas, agradecem-nas e utilizam-nas.

Programa francês de ajuda à renovação do efectivo apícola, com recursos comunitários e nacionais

Ajuda forfetária para compras realizadas entre 01/08/2021 e 31/12/2022

Colmeias novas vazias: 20€
Núcleos novos vazios: 13€
Nucléolos: 8€
Enxames: 40€
Enxames Bio certificados: € 55
Pacotes de abelhas sem rainha: 32€
Rainhas: 8€

fonte: https://www.franceagrimer.fr/Autres-filieres/Apiculture/Accompagner/Dispositifs-par-filiere/Programme-apicole-europeen-PAE-2020-2022/Repeuplement-du-Cheptel

bem-hajam e mais umas coisas

A propósito desta publicação no mural do FB, o meu bem-haja aos que, das mais diversas formas, manifestaram a sua solidariedade e conforto.

Pretendi com esta publicação:

1) chamar a atenção para que num incêndio como este da Serra da Estrela a onda de morte não se resume às florestas e matos. Muita fauna e entomofauna, doméstica e selvagem, morre num primeiro momento ou fica com a sua vida muito dificultada e em perigo nos próximos tempos;

2) ilustrar o que se terá passado em dezenas ou centenas de apiários espalhados pela Serra por via do que se passou no meu;

3) antecipar que a ajuda que o estado possa vir a dar a todos os apicultores que perdem colónias nos incêndios, se a vier a dar, deve ir além do habitual fornecimento de alimento.

Deixo algumas notas justas:

Nota 1: agradeço a todos aqueles que se prontificaram de forma franca a doar-me enxames. Na minha opinião essa ajuda será melhor direccionada a outros companheiros que terão perdido uma parcela maior do seu efectivo.

Nota 2: não sendo especialista em ordenamento florestal, pergunto se este não seria um desastre anunciado. Com tanto combustível no território, com tanta continuidade de floresta e matos, estava escrito por toda a Serra que o incêndio seria gigantesco se a intervenção inicial de combate falhasse, como veio a falhar.

Nota 3: não sendo perito em conservação de parques naturais, pergunto como pode a conservação fazer-se ao arrepio dos interesses sociais e económicos da população lá residente.

Nota 4: como pode o representante da Protecção Civil pretender defender-se com uma análise Macro do que se passou neste incêndio? A análise Macro que possa querer fazer é evidente para todos: o incêndio que começou no extremo Sul da Serra, terminou no extremo Norte da mesma. Mais Serra houvesse mais Serra arderia.

vespa velutina: anestesia de um ninho com recurso a algodão embebido em gasolina

Neste vídeo, Fred Soulat, descreve os procedimentos para levar a cabo a destruição de um ninho primário de vespas asiáticas em 01-08-2022 por introdução na entrada do ninho de algodão embebido em gasolina.


“Os vapores anestesiam as vespas, só resta colocá-las no congelador para matá-las…” diz este apicultor francês.