Hoje, com o Nuno Capela, prosseguimos e demos seguimento às tarefas realizadas na anterior visita de campo (ver aqui).
À chegada ao apiário a manhã já ía relativamente quente, a rondar os 12ºC, e o Nuno agarrou na motoroçadora que levou para abrir uma passagem entre silvas e que muito nos irá facilitar o acesso ao apiário.
Enquanto o Nuno se entretinha a com a motoroçadora, fui fazendo o que tinha ficado agendado da visita anterior: colocar medicamentos de actuação lenta e prolongada (neste caso o Apitraz) numa altura em que as colónias apresentam, na sua maioria, taxas de infestação abaixo dos 2%.
Como a próxima semana promete chuva do início ao fim, renovámos o fondant em algumas colmeias.
Deixámos 4 colmeias por tratar, com vista a abertura e teste de novos caminhos no controlo da varroa. Outros caminhos se estão a abrir, é um imperativo.
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
Ian Steppler, apicultor canadiano e meu amigo virtual, publicou recentemente um vídeo focado na “informação incompleta” que os testes de infestação realizados em abelhas adultas podem dar relativamente à população global de varroas em cada colónia e sua evolução. E de facto dão! Tive a oportunidade para alertar para esse aspecto quer os clientes dos meus serviços de acompanhamento técnico, quer os formandos dos workshops realizados por mim, em conjunto com o Nuno Capela e o Marcelo Murta, o ano passado.
(Um pequeno parêntesis para referir que duas outras técnicas de monitorização, a avaliação através da criação e a queda natural de varroa também apresentam limitações, tema para uma publicação posterior).
A principal limitação da monitorização por lavagem de abelhas adultas resulta do facto de, nos períodos de extensa criação nos ninhos, 75%-90% das varroas estarem na fase de reprodução e apenas 10%-25% estarem na fase de dispersão (antes designada fase forética). Este fenómeno conduz a eventuais e prováveis subestimações da população total de varroas, quando a interpretação dos resultados das lavagens é feita desconsiderando o estatuto da colónia, em particular se está numa fase de intensa criação de novas abelhas.
Atentemos na simulação que apresento em baixo parametrizada para colónias na zona de Coimbra, realizada no simulador de Randy Oliver.
Como vemos nesta simulação, iniciando o ano com 50 varroas, surge uma varroa caída na lavagem na segunda quinzena de fevereiro. Nesse momento, de acordo com a simulação, a população de varroas é de 165 indivíduos, dos quais 75% estão na fase de reprodução (no interior dos alvéolos e tapadas por opérculos) e apenas 25% na fase de dispersão (no corpo das abelhas). Um mês adiante, na segunda quinzena de março, a queda de varroas na testagem continua a ser de uma, mas… a população de varroas é agora de 461 indivíduos, dos quais 73% estão na fase de reprodução, inatingíveis pela lavagem de abelhas adultas (e também pela quase totalidade dos acaricidas que utilizamos). Este é um exemplo claro de como a monitorização das taxas de infestação por lavagens de abelhas adultas tende a subestimar o crescimento da população de varroas em períodos de intensa criação de novas abelhas. A população total multiplicou-se por 2,80, mas… no copo continua a surgir apenas uma varroa.
Pelo contrário, em períodos de forte diminuição de criação de novas abelhas esta técnica de testagem tende a sobrestimar a população de varroas. Utilizando a mesma simulação reparem que na testagem na primeira quinzena de setembro irão cair 4 varroas, quando a população total é de apenas 355 indivíduos. Voltando atrás, relembro que na segunda quinzena de março a queda de varroas na testagem é de uma, mas… a população de varroas é de 461 indivíduos. A explicação para estes dados, aparentemente absurdos, tem que levar em linha de conta o seguinte: enquanto em março 73% das varroas estavam no interior dos alvéolos, protegidas pelos opérculos, inalcançáveis pela técnica usada, em setembro apenas 53% estão nessa condição (ver linha % mites in brood, no simulador). Assim, enquanto em março o potencial de captura de varroas pela técnica incide sobre 25% da população total de varroas, em setembro incide sobre 47% da população total de varroas.
Para levar para casa: em períodos de intensa criação de abelhas novas, a minha sugestão, para evitar os dissabores que o Ian Steppler refere no seu vídeo, passa por complementar a testagem de abelhas adultas no campo com a utilização do simulador do Randy Oliver; sempre que a contagem de varroas nos testes de lavagem atinja os 2% ou sempre que os resultados da testagem introduzidos no simulador indiquem uma população total a rondar as 1000 varroas (mais ou menos 200), o que se atingir primeiro, iniciem os tratamentos. Neste período podem também, caso não utilizem o simulador, multiplicar por 3 ou 4 o número de varroas caídas na lavagem para terem uma ideia aproximada da taxa de infestação que irão ter passados cerca de 25 dias. No caso de avaliarem preferencialmente a infestação na criação de zângãos iniciem os tratamentos se a taxa estiver entre os 5%-10%. Se utilizarem a queda natural de varroas como técnica de monitorização multipliquem a média diária obtida por 30 para calcular a população total de varroas; uma queda média de 30-35 varroas/dia em períodos de criação intensa de novas abelhas deve fazer acender as luzes vermelhas.
Nota final: Já em 2017, Randy Oliver, nos alertava para esta limitação da avaliação da taxa de infestação por lavagem de abelhas adultas em períodos de intensa criação de abelhas novas:
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
Hoje, acompanhei o Nuno Capela, investigador no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, a dois dos apiários experimentais que estabeleceu nas proximidades de Coimbra.
Os objectivos desta saída para o campo eram fundamentalmente três:
avaliar a taxa de infestação por varroa em amostras de 300 abelhas adultas;
“abrir os ninhos” que estivessem bloqueados por mel, néctar ou pão de abelha;
colocar sobreninhos sobre as colmeias mais desenvolvidas.
Relativamente ao primeiro ponto, passados dois meses e meio sobre a conclusão do último tratamento (com Apitraz, aplicado do início de setembro e concluído em finais de outubro) as taxas de infestação encontradas situavam-se entre 1,3% (4 varroas) e 3% (9 varroas).
Quanto ao segundo ponto, “abrimos” aproximadamente 70% dos ninhos.
No que respeita ao terceiro ponto colocámos 13 sobreninhos em colónias muito fortes, num universo de 46.
Como é habitual, nesta visita de campo fui brindado com uma surpresa relativa: uma colónia com uma rainha nova, não marcada, com postura recente, o que me faz levantar a hipótese de ter sido fecundada em Dezembro.
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
É possível definir, de forma universal, para todas as colónias do nosso país, quantos tratamentos por ano devemos efectuar para manter a varroa controlada ao longo do ano?
Não, é a resposta mais correcta que conheço.
Cada colónia é um planeta próprio e particular; cada apiário é uma galáxia diferente e única.
Num mesmo apiário podemos ter colónias com taxas de infestação muito baixas, abaixo de 0,5%, e outras com taxas de infestação superiores a 5%. Entre colónias e apiários podemos ter medicamentos com taxas de eficácia acima de 90% e, o mesmo medicamento, ter eficácias abaixo de 70%, aplicados com os mesmos procedimentos e na mesma altura.
A diversidade das taxas de infestação e a imprevisibilidade da eficácia dos medicamentos, homologados e não homologados, convoca-nos a melhorarmos os nossos conceitos e práticas; exige da nossa parte conhecimentos realistas e fundamentados e a monitorização frequente das taxas de infestação.
E são estas, as taxas de infestação, que determinarão quantos tratamentos devemos efectuar ao longo do ano, para, ao longo do ano, termos a varroa bem controlada.
E, se me permitem uma sugestão amiga, varroa bem controlada significa o mais possível nunca acima de 2% numa amostra de 300 abelhas adultas, devidamente lavadas em álcool a 96%.
Na publicação anterior, fiz o upload do vídeo de Bernhard Heuvel, presidente da associação de apicultores profissionais europeus, e apresentei as implicações que se fazem sentir na apicultura profissional europeia em consequência da inundação do mercado europeu por méis falsificados.
É um vídeo muito recente (25/09/2024) e cujo conteúdo exorto a ser visionado por todos: consumidores, apicultores, responsáveis pelas associações e federações apícolas, decisores e políticos, investigadores, ASAE, DGAV, … .
Nesta publicação apresento uma primeira parte dos conteúdos chave para aqueles que tenham dificuldades no inglês.
(Uma nota à parte: conheci o Bernhard em 2014, através do Beesource, onde trocámos opiniões e lhe coloquei algumas dúvidas. Rapidamente fiquei cativado pelo seu enorme conhecimento do maneio de colónias de abelhas, o que me permitiu avançar mais rapidamente e de forma confiante no maneio das minhas colónias.)
A Associação Alemã de Apicultores Profissionais (DBIB) e a Associação Europeia de Apicultores Profissionais (EPBA) recolheram anonimamente e independentemente amostras de mel em supermercados. A coleta de amostras foi acompanhada por uma TV, e o documentário será exibido em breve.
Os testes de RMN, IRMS e LC/MS analisaram os perfis de açúcar do mel e não mostraram irregularidades. No entanto, o sequenciamento de DNA revelou que 80% das amostras estavam adulteradas.
Uma explicação mais detalhada pode ser encontrada neste vídeo:
A situação, descrita por Bernhard Heuvel, presidente da associação de apicultores profissionais europeus, tem as seguintes implicações na apicultura profissional europeia:
nos últimos dois anos são muitas as dificuldades encontradas pelos apicultores profissionais na comercialização de mel a granel;
a consequência é de um baixo retorno financeiro da actividade para os apicultores e suas famílias;
os apicultores estão a desistir da actividade; em alguns países da Europa 75% dos apicultores profissionais encerraram a sua actividade;
os apicultores estão a reduzir de forma drástica o seu efectivo;
a polinização está em risco — as consequências para a natureza são tão severas como as alterações climáticas.
Como escrevi há cerca de 6 anos, a maior ameaça com que a apicultura moderna e profissional europeia se depara é de natureza ECONÓMICA.
É já no próximo dia 5 de outubro que a JGS Beekeeping vai abrir as portas aos apicultores interessados em aprofundar conhecimentos e compartilhar boas práticas apícolas. Fica o convite para estarem presentes.
Ontem, numa manhã nublada, na companhia do Nuno Capela, prossegui o trabalho de observação sistemática, recolha de dados, registo, análise, reflexão e aprendizagem a partir das 5 colónias do apiário pedagógico de Coimbra e que tenho vindo a efectuar desde a primeira semana de abril.
Ficam algumas fotos que documentam as etapas deste processo.
Histórico da Colónia C1.
Avaliação da taxa de infestação em 300 abelhas adultas da colónia C2.
Colónia C4 e quadro de criação intensiva de zângãos.
Observação da infestação por varroa em criação de zângão na colónia C4.
Colónia C5 onde, no passado dia 15 de junho e no âmbito da 4ª edição do workshop Controlo da Varroose, encontrámos várias rainhas virgens e a rainha mãe, esta ainda em postura. Ontem, 28, encontrei uma rainha nova em postura.
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)
Território no fluxo de castanheiro e se espera a melada de carvalho:
Território onde o mel de rosmaninho está armazenado e se espera a melada de azinheira:
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