das lâminas de cera aos quadros de plástico

Apesar de alguns alimentarem de forma ignorante e/ou de forma maliciosa o discurso do medo e o papão dos resíduos de acaricidas transferidos da cera para o mel, importa assegurar que quem de facto percebe disto, o Comité Europeu dos Medicamentos para Uso Veterinário, não acompanha esta conversa quimiofóbica. A este respeito em concreto vejamos o que diz o Comité Europeu:

“No entanto sublinhamos que para um determinado número de substâncias…não representam uma preocupação de segurança alimentar do consumidor, porque ou a sua toxicidade é baixa … ou a sua concentração no mel será sempre baixa (por exemplo, porque eles são não-lipofílico e não se acumulam). A transferência de resíduos de substâncias deste tipo da cera de abelhas para o mel, concluiu-se não representar uma preocupação de segurança alimentar para o consumidor. Deve também ser notado que existem dados que mostram que os valores destes resíduos no mel proveniente dos favos de mel contaminados são cerca de 1700 vezes menores do que as concentrações de resíduos existentes nos favo de mel. … Por conseguinte, considera-se que o potencial para a transferência de resíduos da cera para o mel é limitada e não representa uma preocupação de segurança alimentar do consumidor.”

Como as normas Bio não permitem a utilização de cera laminada com resíduos de acaricidas sintéticos e o sector da apicultura Bio não consegue ser auto-suficiente na produção desta cera, a alternativa é, para alguns,… o plástico; utilizarem quadros de plástico!!?

Para fugirem das mais que inócuas quantidades de resíduos de acaricidas presentes na cera, preferem a utilização de produtos derivados do petróleo e com potencial de aumentarem mais ainda os microplásticos presentes no mel.

equipamentos apícolas: algumas soluções engenhosas

O meu amigo Luís Pereira, apicultor profissional no norte de Portugal, teve a generosidade de me mostrar, há uns dias atrás, 4 peças do seu equipamento concebidas por ele para levar a cabo um maneio mais eficiente, rápido e menos esforçado. Permitiu-me fotográ-las e divulgá-las neste blog para que possam inspirar outros. Bem-hajas Luís e muitos anos de saúde e boas crestas!

Começando pelo carrinho de transporte de meias-alças, que carrega com até 5 meias-alças Langstroth cheias de mel.

De notar 3 detalhes: os garfos desenhados para se ajustarem ao tabuleiro onde vão ser colocadas as meias-alças; o reforço exterior às rodas e a utilização de dois pneus em cada roda.
Nestes tabuleiros, com duas ripas inferiores que dão a altura necessária para os garfos do carrinho poderem entrar, vão ser colocadas pilhas de 5 meias alças cheias de mel, que depois transportará até ao seu veículo, estacionado a uns metros de distância no apiário, subindo-as com este carrinho por uma rampa.

Antes de fazer o transporte destas meias alças, coloca-as sobre o tabuleiro durante algumas horas para desabelharem com recurso a um escapa abelhas com uma concepção genial.

Escapa-abelhas colocado no topo da pilha com a respectiva saia. O Luís Pereira faz várias pilhas com 5 meias alças no apiário, durante as horas frescas da manhã. Terminado esta tarefa deixa as pilhas algumas horas a desabelhar, antes de as levar para a sua sala de extracção.
Estes escapa-abelhas são muito eficazes porque são de topo e aproveitam uma característica comportamental das abelhas: a procura da luz. Desde que não haja criação nos quadros de meia-alça, as abelhas saem sem dificuldade pelos cones e não voltam a entrar. Para evitar a criação nas meias-alças o Luís Pereira utiliza as grelhas excluidoras de rainha em todas as suas colónias em produção. Um cuidado crítico a ter com a utilização deste procedimento é garantir que as abelhas não entram por lado nenhum nesta pilha de meias-alças durante as horas que ficam a desabelhar no apiário.

Com o recurso a estes três equipamentos o Luís consegue crestar dezenas de colmeias por dia sozinho e transportar as respectivas meia-alças para a sua sala de extracção com muito poucas abelhas.

Um outro equipamento que começou a ser modificado e desenvolvido desde 2012 pelo Luís é a prancheta assimétrica.

Numa das faces é uma prancheta convencional.
Na outra face é uma prancheta profunda que permita a colocação de alimento sobre esta face quando está voltada para o topo. Com esta face profunda virada para baixo permite a colocação dos sacos de alimento logo por cima dos quadros. Nas transumâncias, que o Luís Pereira faz frequentemente, coloca esta face profunda virada para baixo, para dar espaço para as abelhas ali se aglomerarem e diminuir o perigo de esmagamento durante o transporte.

caldeira para derreter cera

Nestes dois dias anteriores, com chuva frequente e frio, optei por ficar por casa e iniciar uma tarefa que me provoca sentimentos mistos: derreter cera.

Foi altura de estrear a minha nova caldeira para derreter cera, adquirida o ano passado, que substitui uma outra com mais de 25 anos e por onde passaram alguns milhares de quilogramas de cera.

Uma caldeira para derreter cera é um investimento que, na minha opinião, tem um retorno rápido tendo alguma cera para derreter. Por exemplo, nestes dois dias derreti cerca de 60 kgs de opérculos. Com esta cera pronta a entregar na troca por cera laminada a poupança na aquisição da mesma quantidade de cera laminada é superior ao custo da caldeira.

Deixo em baixo algumas fotos que fui tirando.

Pronta a estrear.
Carregada… um pouco demais como me apercebi mais adiante (ainda estou a aprender os segredos desta máquina).
A gás… caro mas muito cómodo.
Fluindo…
… este oiro precioso.
Limpeza do bagaço da cera. Devia tê-lo feito mais amiúde ((ainda estou a aprender os segredos desta máquina).
Uma das placas/broas de cera obtidas.
A velhinha, com mais de 25 anos ao serviço cá em casa.

alguns limites a considerar para trabalhar em segurança no apiário

No Bee-L o apicultor JF fez esta publicação que traduzo em baixo. É sobre os limiares de humidade e calor que se devem considerar para evitarmos passar um muito mau bocado quando trabalhamos no apiário debaixo de um sol inclemente.

“É tudo diversão e paixão até começarmos a sofrer com os riscos corridos no apiário. O que fazemos é um trabalho físico árduo com calor e humidade muitas vezes brutais. Devemos reconsiderar o quão quente é muito quente, e quão abafado é muito abafado.

A PSU* fez alguns testes com jovens alunos de licenciatura e encontrou alguns limiares de calor e humidade que jovens saudáveis conseguem suportar sem perder a capacidade de regular a temperatura corporal. Ultrapassados estes limiares ocorrem fenómenos que apresentam riscos vários, incluindo o risco de insolação.

Anteriormente os limites humanos estabelecidos foram 35ºC de temperatura “Wet-Bulb” [Tw] a 100% de humidade (ou 46ºC a 50% de humidade). Este limiar era aceite como máximo que um ser humano poderia suportar. Um pouco mais elevado e não se consegue regular a temperatura do corpo, o que potencialmente pode causar insolação ou morte se a a exposição for prolongada.

Contudo medições recentes, mais precisas, mostraram que a temperatura é menor – cerca de 31ºC para 100% de humidade – mesmo para indivíduos jovens e saudáveis ​​fazendo trabalhos leves. As condições para as indivíduos mais velhos, mais vulneráveis ​​ao calor, e para as pessoas que levantam alças de mel num fato de apicultor completo é provavelmente até mais baixo.”

[Sobre o Wet-Bulb: “A temperatura de bulbo húmido (Tw) é a temperatura lida por um termómetro coberto com um pano embebido em água (um termómetro de bulbo húmido) sobre o qual o ar passa.
Mesmo as pessoas adaptadas ao calor não podem realizar atividades normais ao ar livre com uma temperatura de bulbo húmido superior a 32 °C , equivalente a um índice de calor de 55 °C. O limite teórico para a sobrevivência humana por mais do que algumas horas à sombra, mesmo com água ilimitada, é uma temperatura de bulbo húmido de 35°C — teoricamente equivalente a um índice de calor de 70°C.]

Ainda JF, o apicultor: “Eu fiz um gráficos aplicável ​​à apicultura. No gráfico anexo, a Humidade Relativa (RH) está no eixo vertical esquerdo, e a “Temperatura do bulbo húmido” (Tw) à direita. A temperatura está no eixo inferior.

Então, entre 30ºC e 40ºC, temperaturas a que costumamos trabalhar, devemos ficar abaixo e à esquerda da linha vermelha. É nessa área onde queremos ficar, e quanto mais velhos somos, tão mais longe dessa linha vermelha queremos estar.”

São palavras do apicultor JF no Bee-L, dirigidas a outros apicultores. Sou apicultor e sei muito bem do que fala. Quantas vezes se trabalha no apiário com temperaturas acima dos 30ºC, com a roupa do corpo completamente molhada pela transpiração para terminar esta ou aquela tarefa que temos pela frente? Entre outras coisas para minimizar/controlar este risco de insolação procuro escolher o melhor possível os dias e as horas em que devo estar nos apiários, considerando a temperatura antes de tudo. Procuro trabalhar o mais possível nos horários mais matinais, os mais frescos. Mais, levo sempre muita água para me hidratar e, muito importante, trabalho com um fato ventilado de grande qualidade que me permite trabalhar em calções e com apenas uma t-shirt de algodão ou mesmo em tronco nú, ao qual associo umas botas leves e frescas.

* PSU: https://journals.physiology.org/doi/abs/10.1152/japplphysiol.00736.2021

varrox eddy: um sublimador inovador

No seguimento da publicação anterior, o Varrox Eddy, um sublimado/vaporizador inovador, poderá ser a minha escolha para colocar em prática uma nova estratégia de tratamento das minhas colónias: interrupção artificial da postura+sublimação de ácido oxálico. Antes vou ensaiar o método por gotejamento, infinitamente mais económico do ponto de vista do custo de equipamentos, com o objectivo de avaliar os efeitos sub-letais do ácido oxálico em solução açucarada nas minhas colónias.

O primeiro e único vaporizador de ácido oxálico que funciona com uma bateria incluída! Não há necessidade de andar com equipamentos pesados como geradores de energia ou baterias de carros. Varrox Eddy é leve, prático e pesa cerca de 0,5 kg, incluindo a bateria. Uma única tecla pressionada no dispositivo é suficiente para iniciar o processo de vaporização/sublimação. As baterias permitem tratar cerca de 10-15 colmeias de cada vez. O processo de tratamento de cada colónia ronda os 2-3 minutos.

enxameação e pilhagem: um dispositivo tecnológico de alerta

Na publicação anterior fiz alusão a um dispositivo tecnológico. Embora não fosse minha intenção inicial escrever em profundidade sobre este dispositivo, dado o elevado número de mensagens e e-mails que recebi a questionarem-me sobre a função deste equipamento, decidi complementar a publicação anterior com informações mais detalhadas acerca das funcionalidades deste equipamento.

Sensor de radar e vibração instalado na colmeia.

Existem dois eventos num apiário que requerem intervenção imediata do apicultor: enxameação e roubo.

A enxameação é um evento natural durante o qual cerca de metade da população de abelhas deixa a colmeia para estabelecer uma nova colónia. Na medida do possível, os apicultores gostam de evitar a enxameação e a perda associada da produção de mel, utilizando técnicas de maneio adequadas. Quando a enxameação acontece inesperadamente, no entanto, o apicultor gostaria de ser alertado o mais rápido possível. A enxameação pode ocorrer em questão de minutos. Geralmente começa com um grande alvoroço vindo da colmeia, seguido por um rápido voo de milhares de abelhas numa nuvem para o exterior. O enxame pousa inicialmente e forma um aglomerado próximo à colmeia original antes de voar para seu destino final. Este acampamento [bivouac] pode durar uma hora, ou dependendo do clima, pode durar dias. A ação rápida durante a fase de acampamento é a melhor chance do apicultor de capturar um enxame e, assim, aumentar seu efectivo.

Em épocas de fluxo insuficiente de néctar, as abelhas de uma colmeia mais forte podem atacar uma colmeia mais fraca e roubar o seu mel. Se forem bem-sucedidos, os ladrões podem limpar todo o mel da colmeia em poucos dias. Roubar tende a ser um evento persistente durante todo o dia, geralmente acompanhado por um alto nível de ruído e atividade frenética de voo contínuo na frente da colmeia. Uma maneira de lidar com essa situação é reduzir temporariamente o tamanho da entrada da colmeia ou fechá-la totalmente.

Uma atividade comum e inofensiva é o “voo de orientação em massa”, uma atividade das abelhas que até agora escapou a uma explicação biológica concisa. Neste cenário, uma nuvem substancial de abelhas voa para frente e para trás na frente da entrada da colmeia. Voos de orientação em massa costumam ser confundidos com enxameação, excepto que as abelhas não voam para longe da colmeia e retornam à colmeia após alguns minutos. O nível de atividade de voo, de voos de orientação e enxameação, pode ser muito semelhante; no entanto, o nível de ruído acústico associado aos voos de orientação é consideravelmente mais baixo. Embora os voos de orientação também sejam detectados pelo nosso sensor, eles geralmente não requerem intervenção do apicultor.

Observando cuidadosamente a atividade de voo perto da entrada da colmeia e o ruído acústico da colmeia, um apicultor experiente pode dizer rapidamente se as abelhas estão felizes, tristes ou enraivecidas. No entanto, muitas vezes não é prático para o apicultor verificar diariamente as colmeias num apiário remoto. Um sistema de monitorização de colmeias de baixo custo é de interesse para avisar o apicultor que a enxameação está para acontecer, ou acabou de ocorrer, ou que um roubo/pilhagem está em andamento.

Dispositivo Janus.

Um sensor externo, conforme ilustrado, pode atender ao requisito acima mencionado. Mostraremos que as observações de eventos de enxameação, feitas tanto com um radar Doppler quanto com um sensor de vibração, estão altamente correlacionadas, embora estejam baseadas em fenómenos totalmente diferentes. Quando ocorre uma grande perturbação da colmeia e os níveis de Doppler e de vibração estão altos, é provável que seja uma enxameação. Quando os níveis diferem significativamente, então o evento é mais provavelmente devido a um roubo ou a um “voo de orientação”.

Diagrama do bloco do sensor de radar e vibração.

Conclusão
Tanto o radar quanto o sensor de vibração, quando montados na parede externa de uma colmeia, são capazes de detectar a atividade de enxameação e roubo/pilhagem. Embora o sensor de vibração por si só seja consideravelmente mais barato, o desempenho de detecção pode ser melhorado (isto é, falsos alarmes reduzidos) combinando medições de ambos os sensores e submetendo-os a um PCA (principal component analysis)*.

* “Numa experiência, numa colmeia (8B), o espaço disponível para a expansão da população de abelhas foi limitado propositadamente para induzir a enxameação. Na verdade, a colmeia enxameou cinco vezes. A análise de PCA identificou de forma clara e inequívoca esses eventos, permitindo que os enxames fossem capturados. Notámos um nível reduzido de atividade cerca de dez dias antes do enxame primário. Este nível de atividade reduzido foi relatado num outro artigo**, mas é difícil de detectar automaticamente ou com antecedência.”

fonte: https://ieeexplore.ieee.org/document/9346064

** S. Ferrari, M. Silva, M. Guarino and D. Berckmans, “Monitoring of swarming sounds in bee hives for early detection of the swarming period”, Comput. Electron. Agriculture, vol. 64, pp. 72-77, 2008.

Notas:

  1. tenho ideia que as colmeias nos EUA são fabricadas com tábuas com 2cm de espessura. Em Portugal, como sabemos, as tábuas das nossas colmeias têm 2,5 cm de espessura. Se esta diferença de espessura deve ser ou não tida em consideração, na eventualidade de desejarmos colocar este dispositivo nas nossas colmeias, não ficou claro para mim da leitura que fiz do artigo original.
  2. em apiários não cobertos por rede de telemóvel, temo que a transferência de dados para os nossos telemóveis ou computadores seja impossível. Não o garanto, é um aspecto que também não está absolutamente claro para mim.

novas tecnologias na apicultura: uma opinião e uma reflexão

Deixo em baixo uma opinião do apicultor J.F. sobre um dispositivo tecnológico que apareceu recentemente no mercado e sua visão sobre a introdução de tecnologias em determinados sectores agrícolas e sua comparação com o sector apícola. A terminar apresento a minha reflexão.

Uma patente comercial foi recentemente emitida com base na “intenção de uso” para a “JANUS HIVESENTRY” para a Maine Biosensors LLC, portanto, mais uma esperança que entra no mercado, baterias não incluídas.

O sensor Janus.

Não há vida útil mais curta do que os muitos flashes das empresas de “tecnologia para colmeias”. A verdade básica é que os apicultores estão entre os clientes mais forretas de toda a agricultura e gastarão US $ 10 na tentativa de economizar US $ 5.
Os produtores de leite têm espalhadores de estrume que dispensam quantidades precisas de fertilizante para cada metro quadrado de terra localizado no GPS, calibrados para dados de humidade e vegetação coletados por satélites apenas para melhorar a produção de feno para alimentar suas vacas, enquanto a maioria dos apicultores ainda lutam com a mudança de “gerir pelo calendário” para “gerir pelas mudanças sazonais” (mais quente, mais cedo), e a maioria nem sequer consegue manter um simples caderno com anotações do que observa e faz.

A apicultura permanece essencialmente inalterada desde a época de Langstroth, excepto pelo impacto de doenças exóticas invasivas e pragas perpetradas na agricultura pelo “Comércio Mundial”. Eu vejo isso como uma coisa boa, semelhante ao tiro ao alvo com meu Fausti, uma espingarda quase idêntica à Benelli que meu avô usava. Coisas que são um prazer nem sempre se tornam mais prazerosas com o acréscimo de tecnologia, e tenho sido privilegiado com a apicultura que continua sendo um prazer.” J.F. (Bee-L, 07-12-2021)

Nota: este ponto de vista, não coincide totalmente com o meu ponto de vista. Contudo entendo-o, na medida que uma parte do prazer que retiro da minha apicultura está associado ao desafio, e sua superação, que encontro na avaliação regular que faço das minhas colónias. Mais, associado a esta vontade de avaliar está o prazer em obter a resposta para o “suspense” que cada colmeia por abrir representa. Se um conjunto de sensores deste e daquele tipo, instalados fora e dentro da colmeia, fizerem esta avaliação por mim, temo que a minha apicultura perda a componente cognitiva mais complexa e estimulante, a de avaliar. Perderia também um aspecto lúdico muito intenso e prazeroso, o do “suspense antes de abrir”. Temo que a minha apicultura passasse a ser predominantemente uma actividade psico-motora, isto é, tirar e colocar coisas na colmeia. Contudo, dispositivos que meçam com rigor os acontecimentos da colónia, por ex. a taxa de infestação por varroa a cada semana/quinzena, ou outros aspectos, dispositivos que me forneçam dados inteligíveis, que me permitam calibrar/ajustar as minhas intervenções poupar-me-ia dinheiro, tempo e esforço. Não estou certo se os adoptaria e não estou certo que lhes viraria as costas. Muito provavelmente compraria alguns e faria os meus ensaios-piloto. E avaliaria.

cera de opérculos: a minha solução para o seu processamento

Durante aqueles anos em que o meu efectivo ultrapassou as 400 colmeias e foi crescendo, ano após ano, até às 700, o processamento da cera dos opérculos foi o ponto de estrangulamento no processo de extracção. Na altura pensei e reflecti muitas vezes sobre a compra de uma máquina processadora dos mesmos. O investimento e as palavras que ouvi a um dos maiores apicultores que Portugal conheceu — “Eduardo actualmente passo mais tempo na melaria a resolver problemas mecânicos das máquinas do que nos apiários!” — nunca me deixaram confortável o suficiente para tomar a decisão de adquirir este tipo de equipamento. Nos anos de maior produção externalizei parte da extracção, recorrendo a uma melaria em Mangualde, e assim fui dando solução à necessidade de uma grande capacidade de extracção e processamento da cera.

Actualmente, com pouco mais de 160 colónias, voltei a utilizar em exclusividade o meu processo artesanal para limpar a cera dos opérculos.

Em baixo deixo o foto-filme de como o faço, nas condições que tenho.

Cera dos opérculos já bastante escorrida depois de ter passado vários dias na tina de desoperculação.
Cera dos opérculos colocada em caixas muito largas e pouco profundas, tranportada para uma casa rústica a 50-70 m de um dos meus apiários.
No interior da casa, onde dispus as caixas como a foto ilustra.
As abelhitas não tardam a chegar…
… e a cobrirem estas manjedouras!
Passado uns dias remexo a cera nas caixas para lhes facilitar o acesso à cera com algum mel ainda.
Cera dos opérculos quase limpa, sem mel, nas condições ideais para ser fundida na caldeira a vapor.

Nota: esta publicação foi incluída na categoria “equipamentos” por razões óbvias: é de equipamentos que trata, uns rudimentares, facilmente reparáveis, outros autónomos, as abelhas, que me libertam para o que mais gosto, estar nos apiários.

orientação cardeal das colmeias: uma experiência pouco ortodoxa

Na publicação do passado dia 4, o José Cardoso reparou que nesta foto surgem colmeias — as três colocadas no primeiro assento do lado direito da foto — com a orientação do alvado para o lado oposto das outras e perguntou-me se havia alguma razão para tal.

Esta disposição dos assentos teve como principal objectivo permitir-me colocar as colmeias com os alvados virados a nascente.

Antes de ir à resposta em concreto, devo dizer que, em todos os treze apiários que já construí, aquando da sua construção/preparação acompanhavam-me sempre dois objectos: uma bússola e um nível. A bússola para me auxiliar a determinar com exactidão a orientação cardeal do local relativamente a nascente. Os assentos eram depois posicionados no terreno relativamente a este ponto cardeal. Por ex., neste apiário da foto em cima a disposição dos assentos é a que se pode ver pela razão de que foi a que me permitiu colocar as colmeias com o alvado voltado o mais possível a nascente. Relativamente ao nível, este foi um utensílio inestimável para construir os assentos com um muito ligeiro desnível descendente no sentido nascente, para garantir que as colmeias ficariam com o lado frontal ligeiramente mais baixo relativamente ao lado posterior. Desta forma alguma água que entrasse escorria facilmente para o exterior da colmeia.

Abordando agora a razão de algumas colmeias estarem com os alvados orientados para um ponto cardeal tão pouco ortodoxo, entre poente e norte. Como em várias outras coisas, as minhas opções de maneio têm consequências inicialmente não previstas. Neste caso em concreto, a rotação das colónias durante o processo de desdobramento vertical, leva a que as colónias no final do processo fiquem com o alvado para o lado oposto ao original. Destas, as que não são transumadas, acabam por passar o outono-inverno com o alvado virado a poente-norte. Esta orientação tão pouco ortodoxa dos alvados não foi uma decisão planeada e intencional. Surgiu como um “sub-produto” do maneio de desdobramentos por divisão vertical.

Imagino que neste momento a questão que paira na cabeça da maior parte dos leitores desta publicação seja: e que tal, como se portam as colónias com o alvado de costas para nascente? O que posso dizer, e do que consigo observar até agora, é que se desenvolvem como as outras, nem mais nem menos. Umas mais fortes, outras mais fracas, tal e qual como observo nas que estão orientadas a nascente-sul.

Neste assento a colmeia com ninho e sobreninho está direccionada para nascente-sul. O núcleo e a colmeia sem telhado estão orientadas a poente-norte (foto de ontem, 05-03).
Imagem aproximada da colmeia. Pela posição das tiras de apivar, ajustadas ontem, tem criação do quadro na posição 3 ao quadro na posição 8.
Mancha de criação do quadro na posição 3. Os restantes 5 quadros com criação estão melhores que este, como não podia deixar de ser sendo este o quadro de uma das extremidades da zona de criação.

Dito tudo isto, vou continuar a orientar a entrada das colónias para o nascente-sul por duas razões: a ligeira inclinação dos assentos que referi em cima; ter o mais possível todas as colónias orientadas para o mesmo lado por simplicidade de maneio. Contudo soubesse na altura que fiz os assentos o que sei hoje e em alguns teria colocado os assentos com outra disposição para interagir melhor e mais facilmente com o perfil do terreno.

interrupção artificial da postura da rainha para aumentar a eficácia do tratamento da varroose: apêndice

Dado o interesse, problematização e dúvidas que suscitou esta publicação justifica-se a meu ver este apêndice, que visa detalhar um pouco mais os equipamentos utilizados assim como reflectir sobre a avaliação do impacto da técnica ao nível da colónia.

Quadro confinador de rainha (modelo construído por Randy Oliver).

A técnica preconiza o confinamento da rainha a um quadro normal (ou mesmo dois), designado quadro armadilha para o varroa, através de um dispositivo/equipamento que permite o trânsito das abelhas obreiras para o exterior-interior da zona confinada mas impede o trânsito da abelha rainha para o exterior da zona confinada. Utilizam-se, para conseguir este objectivo, dispositivos subsidiários das grelhas excluidoras de rainhas Para tal podemos construir quadros falsos, designados por mim quadros confinadores de rainha, à imagem do que propõe Randy Oliver.

Estas imagens ilustram outros modelos:

Este tipo de equipamento é também utilizado por alguns criadores de rainhas que pretendem diminuir o ritmo de oviposição e desgaste das rainhas matriarcas.
Equipamento disponibilizado para um ou dois quadros pelos nossos vizinhos de La tienda del Apicultor, com a designação Cesto Excluidor.

A rainha é transferida para esta zona confinada no mesmo quadro onde anda em postura, ou transferida para um quadro com cera puxada com muitos alvéolos livres para iniciar a oviposiçao.

Cesto excluidor de dois quadros colocado no ninho de uma colónia (La tienda del Apicultor).

Por comparação com a técnica de enjaulamento de rainhas em jaulas dedicadas, como a utilizada por diversos apicultores, em particular os da península itálica, não conheço testemunhos que indiquem a morte e substituição da rainha confinada com recurso a esta técnica.

Sobre o impacto ao nível da colónia, decorrente desta interrupção parcial da postura, é um aspecto de avaliação complexa. O impacto negativo mais imediatamente evidente materializa-se na redução significativa de novas abelhas a nascerem nos 14 dias após o desconfinamento das rainhas. O impacto positivo mais relevante, dado o incremento assinalável da efectividade da desparasitação, verifica-se ao nível da colónia na sanidade e esperança de vida nas novas abelhas a serem criadas. A somar a este efeito positivo soma-se este outro: as abelhas, nascidas durante os 14 dias de confinamento de sua mãe, não estarão sujeitas a um envelhecimento tão rápido como o que ocorreria caso tivessem de nutrir larvas e aquecer as pupas surgidas da postura de uma rainha não confinada durante estes 14 dias.