o armazenamento das alças e meias-alças durante o inverno: a minha opção

Agradeço a um apicultor da velha guarda um dos melhores e mais úteis ensinamentos que ouvi ao longo destes poucos anos que levo de apicultura. Foi num encontro de apicultores em Seia, em 2010 ou 2011 e, para grande pena minha, nunca cheguei a saber o seu nome. Ouvi-o defender a ideia que para armazenar os quadros das alças ou meias-alças não podíamos armazenar quadros com pólen e devíamos deixá-los pendurados, numa estrutura dedicada, para entrar o ar e a luz. Assim, nestas condições, estes quadros não seriam atacados pela traça da cera.

Para a quantidade de quadros que já tinha para armazenar a preparação dessa estrutura dedicada para os pendurar pareceu-me inexequível. No entanto em 2012, não me tendo esquecido desta lição, e num daqueles poucos momentos “eureka” que vou tendo, decidi “inventar” um pouco e armazenar os quadros nas próprias meias-alças e alças, mas procurando ir ao encontro dos princípios básicos enunciados pelo generoso apicultor que ouvi em Seia: armazenar quadros sem pólen (ou muito pouco pólen) e dispor as caixas de forma a que entrasse a luz e o ar. Nesse ano de 2012 iniciei com sucesso até aos dias de hoje o armazenamento de meias-alças e algumas poucas alças, seguindo estas orientações. Armazeno-as nesta casa rústica a 900 m de altitude, bastante fria, ventosa e com ar pouco húmido, durante o inverno.

Os quadros que armazeno seguem o mais possível este padrão: quadros com cera clara e com muito pouco pólen ou pólen nenhum.

Quadro de ninho da Lusitana com os requisitos necessários para ser armazenado.
Quadro húmido, saído da sala de extracção, pronto a ser armazenado.

As meias-alças (alças meleiras) da Lusitana são sobrepostas em x, em pilhas de 8 a 10.

As meias-alças da Langstroth são sobrepostas em +.

O armazém está sempre iluminado e arejado, de acordo com as condições meteorológicas de cada dia.

Neste caso as janelas com vidros partidos são mais e não menos!

Esta opção para o controlo e prevenção da traça da cera durante o armazenamento, que já dei conta nesta publicação de 2016 (uns anos antes, 2013 ou 2014, já tinha tornado esta opção pública no fórum As Abelhas), fica agora reforçada com as fotografias.

Nota: as meias-alças húmidas saídas da extracção vêm directamente para esta casa-armazém; não as coloco em cima das colónias para serem limpas, dado que nesta casa as abelhas não as largam sem antes as limparem de todo o mel.

Poucos minutos após a chegada com a carga de alças húmidas, e ainda na carrinha, começam a ver-se as primeiras abelhas (as abelhas têm o sentido do olfacto mais apurado que os cães).

Reflexão: aos apicultores que optam por colocar as meias-alças húmidas em cima das colónias para serem limpas, e em zonas já colonizadas pela Vespa velutina, tenham em atenção se não estarão a, inadvertidamente, colocar a marca de alvo-a-atacar, nesse momento e nessa colónia. Sabemos que a Vespa velutina é atraída sobretudo pelos odores de mel e pólen emanados por uma colónia. Que aroma mais penetrante a mel existirá que o de uma meia-alça húmida, logo após a extracção, e colocada no topo de uma colónia de abelhas?

o processamento da cera de opérculos: a minha opção

O processamento da cera de opérculos era com frequência o ponto de estrangulamento no meu processo de extracção do mel. Mesmo naqueles anos em que extraí algumas dezenas de bidões de mel nunca dei o passo para a compra de uma máquina dedicada a esta operação. Nesses anos optei por externalizar parte do processo de extracção, socorrendo-me dos serviços de uma cooperativa da zona, e de forma inerente o processamento da cera de opérculos dos quadros lá extraídos.

Este ano, assim como nos anos em que optei por extrair a totalidade ou parte do mel na minha UPP, a opção escolhida para o processamento da cera de opérculos tem procurado rentabilizar os recursos que tenho disponíveis sem me empenhar em comprar maquinaria cara e que, eventualmente, avaria.

Assim, a cera dos opérculos, ainda parcialmente besuntada de mel, que retiro da tina de desoperculação…

… é colocada numas caixas largas e com pouca profundidade.

Estas caixas são levadas para uma casa rústica no interior da propriedade e a pouca distância do local onde está implantado o meu apiário preferido.

Como a casa na actualidade não é habitada, as janelas não estão nas melhores condições, apresentam alguns vidros partidos, mas este facto contribui para a entrada das abelhas na divisão onde armazeno as alças e meias alças e onde coloco temporariamente estas caixas com a cera dos opérculos.

As caixas com a cera dos opérculos são colocadas numa disposição que permita o acesso fácil das abelhas à mesma.

Passados poucos minutos estes opérculos começam a ser limpos do mel pelas abelhas do apiário.

Passados alguns dias estes opérculos estão completamente secos/limpos e em óptimas condições para serem encaminhados para a caldeira da cera.

Nota 1: nas duas ou três vezes em que procurei atalhar este processo, colocando as ceras dos opérculos retirados da tina e ainda besuntados com mel directamente na caldeira, reparei que sistematicamente a broa de cera resultante ficava muito “areada”, pouco aglomerada, o que me levou a intuir que o mel ainda presente contribuía para este desfecho que não me agradava.

Nota 2: por regra sempre fui relativamente espartano nas minhas compras de equipamento para a UPP. Se por um lado tinha muito pouca vontade de investir milhares de euros em maquinaria, por outro sempre temi ficar com o bebé nos braços ou por causa de uma avaria ou por causa de uma cessação abrupta da minha aventura apícola. Agora, com três vezes menos colmeias que há dois anos atrás, o equipamento que tenho é suficiente e acabaram-se os estrangulamentos no processo de extracção.

novas tecnologias na apicultura

Muitos apicultores já experimentaram inúmeras vezes o quão árduo é acompanhar devidamente as colónias de abelhas nos seus apiários ao longo do ano. Abrir colmeia após colmeia debaixo de um sol abrasador enfiado num fato quase hermético faz do maneio apícola uma tarefa mutíssimo extenuante. No outro extremo do calendário, nos dias frios, ventosos e chuvosos o acompanhamento das colónias para avaliar a necessidade de as suprir com alimentação suplementar, entre outras tarefas, acresce a exigência de o apicultor estar presente quando as suas abelhas mais precisam dele, nos dias de tempo feio.

Ao longo das últimas décadas tem-se assistido ao surgimento de novas máquinas e tecnologias que reduziram o esforço e aumentaram a rapidez das tarefas efectuadas nas salas de extracção. Observar uma fotografia de uma sala de extracção de há 30 ou 40 anos atrás com as salas de hoje é bem ilustrativa do que digo. Muitos equipamentos surgiram neste domínio. Já no campo, tirando os veículos para transporte de material e transumância, tudo se mantém muito semelhante ao que era há 100 anos atrás. Lembro-me bem como era esse trabalho no campo quando há cerca de 45 anos comecei a ajudar o meu pai em tarefas simples no seu apiário de Langstroth e Reversíveis. Muito pouco mudou de lá para cá, aí no campo!

Ora actualmente projectos como o B-GOOD “Giving Beekeeping Guidance by Computational Assisted Decision Making” visam testar e aperfeiçoar um conjunto de dispositivos de monitorização remota de colónias de abelhas, como acontece já noutros sectores produtivos da agricultura, com o objectivo de fornecer dados críticos e fidedignos em tempo real que auxiliem os apicultores nas decisões e operações de maneio. Estes dispositivos diminuirão de forma significativa o tempo, os custos e sobretudo o desgaste pessoal que ainda hoje está associado ao trabalho de campo nos apiários.

Em Portugal, no âmbito doB-GOOD estão a ser testados estes dispositivos num apiário de 10 colmeias situado no Douro. Os enxames foram por mim fornecidos o que me liga afectivamente a este projecto. Aos investigadores espero e desejo as melhores felicidades e que alcancem os resultados pretendidos, pois o trabalho de campo há muito que pede e precisa este tipo de instrumentos.

guru da saúde das abelhas: ajudando os apicultores a manter as abelhas saudáveis

“Para muitos, a apicultura é um trabalho de amor. E quem não gosta de manter as abelhas saudáveis?

Tradicionalmente, manter as abelhas saudáveis ​​significa vestir as luvas, acender o fumigador, fumigar as abelhas para acalmá-las, abrir a tampa da caixa, usar o levanta-quadros para soltar os quadros, levantar os quadros e então examinar as suas abelhas com cuidado.

E se suas abelhas puderem ser o guru e lhe disserem se estão ou não saudáveis? O aplicativo Bee Health Guru permite que você faça exatamente isso.

O Bee Health Guru é um aplicativo de smartphone Android e Apple iOS que a nossa equipe de investigadores em abelhas da Universidade de Montana vem desenvolvendo há quase uma década. Nossos principais investigadores, Jerry e Colin, trabalham com abelhas há mais de 30 anos e, a partir disso, trabalhando com milhares de apicultores ao redor do mundo, sempre suspeitaram que as abelhas faziam barulhos diferentes quando tinham diferentes problemas. Usando técnicas de pesquisa sofisticadas e equipamentos de áudio de última geração que enviámos para apicultores especialistas em todo o mundo, nossa equipe coletou os sons específicos que as abelhas produzem quando não estão bem. Em seguida, combinámos isso com nossa programação de inteligência artificial especialmente desenvolvida para levar até você um aplicativo de smartphone que leva apenas 30 segundos para ouvir suas abelhas e usar nosso banco de dados de sons e IA para informar em segundos o que está errado com suas abelhas.

Bee Health Guru – Pressione o botão vermelho e coloque seu telefone na entrada da colmeia.

Depois de ouvir suas abelhas, o Guru da Saúde das Abelhas lhe dirá em segundos (30 a 60) se alguma coisa está errado com as suas abelhas.

Nesta colmeia com criação apodrecida (loque americana/foul brood), que é particularmente difícil para os apicultores iniciantes identificarem, foi correctamente diagnosticada.

Aplicativo de smartphone Bee Health Guru – criação apodrecida encontrada/diagnosticada

Usar o aplicativo de smartphone Bee Health Guru é fácil! Basta colocar suas luvas de apicultura, pressione o botão de gravação vermelho e coloque seu telefone na entrada da colmeia.

O aplicativo emitirá um bip quando a varredura de 30 segundos terminar, e você simplesmente retirará o telefone da colmeia, permitirá que nossa IA (inteligência artificial) faça seu trabalho rapidamente e leia os resultados. Normalmente o seu telefone ficará coberto de abelhas, por isso, limpe-as com cuidado!

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A equipe de Guru da Saúde das Abelhas é formada por pesquisadores e cientistas de classe mundial. Jerry Bromenshenk, o nosso principal pesquisador, tem mais de 30 anos como professor de biologia na Universidade de Montana e leciona o único Programa de Mestrado de Apicultura on-line, oferecido pela University Academic Credit na América do Norte, com estudantes de todos os estados e províncias e 15 outros países.”

fonte: https://www.kickstarter.com/projects/beehealthguru/bee-health-guru-a-smartphone-app-for-beekeepers?fbclid=IwAR2OleKW-W0iptt3YofetL0Bo57w3yWW4Vk1SwhtB1qVi8Q6Wr7webyHlYY

Nota: tenho ideia que nunca promovi nenhum produto comercial ainda na sua fase beta no meu blog (ou mesmo outros, já consolidados, tem sido muito raro). Este será o primeiro e faço-o porque acredito nele e na sua enorme utilidade, caso se venham a confirmar as minhas expectativas assim como as de muitos outros. Na minha opinião para ser quase perfeito falta a capacidade preditiva de uma situação de pré-enxameação a esta aplicação. Desejo os melhores sucesso para a equipa de desenvolvimento desta aplicação, porque o seu sucesso será também o nosso e o das nossas abelhas.

monitorização da taxa de infestação por varroa: o tabuleiro/cartolina pegajosa

Uma vez mais socorro-me de Randy Oliver para analisar as virtudes e insuficiências do tabuleiro/cartolina pegajosa (stickyboards) e da lavagem de abelhas com álcool/detergente  para monitorizar a taxa de infestação de colónias de abelhas pelo ácaro varroa.

  • “Os tabuleiros/cartolinas pegajosas
    Muitos apicultores usam o tabuleiro/cartolina pegajosa (stickyboards) porque não precisam de abrir a colmeia, o que é uma vantagem. Mas se tem mais de 40 anos, então você tem que lidar com o fato de que é difícil e entediante discriminar os ácaros no meio do lixo da colmeia, e mais ainda manter o total de ácaros contados sem perder alguns ou contar duas vezes os mesmos (Fig. 1). Além disso, a contagem dos ácaros no tabuleiro/cartolina pegajosa deve ser ajustada não só à força da colónia, mas também à época do ano e à quantidade de criação presente para avaliar a maior ou menor proximidade com o limiar para o tratamento .

Fig. 1: Contar ácaros entre o lixo da colmeia no tabuleiro/cartolinas pegajosa é um processo entediante que requer boa visão ou ampliação suplementar. A queda natural do ácaro é um indicador indireto da taxa de infestação do ácaro, uma vez que a contagem é amplamente dependente da quantidade de criação emergente no primeiro dia. Esta parte do tabuleiro/cartolina pegajosa mostra claramente cinco ácaros adultos, um adulto parcialmente escondido por um pedaço de lixo de colmeia e uma concha parcial de ácaro.

Mas o que eu realmente queria saber era o quão consistentemente a queda natural dos ácaro refletia a taxa real de infestação das abelhas adultas na colmeia?

[…] Observei que os níveis de ácaros caídos aumentaram e diminuíram consideravelmente de um dia para o outro, o que foi surpreendente, pois acho que é seguro assumir que a taxa de infestação de ácaros do apiário não varia muito de um dia para o outro. Isso levantou uma questão na minha mente quanto à consistência das contagens para cada colmeia individual, o que me diria o quanto eu poderia confiar numa única contagem. Eu normalizei os dados e obtive o gráfico abaixo (Fig. 2).

Fig. 2: Tabuleiro/cartolina pegajosa com os dados de seis colmeias ao longo do tempo. Note que em qualquer dia em particular, a contagem pode subir ou descer facilmente multiplicado um fator de dois!

Claramente, a queda natural de ácaros é altamente variável de um dia para o outro. Então eu me perguntei se o mesmo se aplicaria a uma lavagem de abelhas com álcool.

  • Queda natural ácaros vs. lavagem com álcool
    Por sorte, eu também havia coletado dados com lavagens com álcool de ½ xícara de abelhas das mesmas colónias, às vezes nos mesmos dias em que obtinha contagens nos tabuleiros/cartolinas pegajosas(fig. 3).

Fig.3: Lavagens com álcool para as mesmas colmeias e nas mesmas datas do gráfico anterior. Observe algumas coisas: a variabilidade reduzida de lavagens com álcool e que as contagens através dos dois métodos para determinar a taxa de infestação de ácaros não correspondem para cada colónia (a cor de cada colmeia é igual nos dois gráficos).

Do ponto de vista prático, a questão mais importante é qual o método que reflete mais de perto a taxa real de infestação na colmeia. Como a lavagem com álcool é uma medida direta do número real de ácaros por 100 abelhas, provavelmente terá maior relevância biológica (e prática). Então vamos comparar os dois para ter um conjunto de dados completo (Fig. 4).

Fig. 4: Comparações da queda natural de ácaros através dos tabuleiros/cartolinas pegajosas e lavagem de álcool de ½ xícara de abelhas no final de julho e início de agosto. O que é alarmante é a contagem da queda natural de ácaros na área sombreada rosa no fundo, na qual a queda de ácaros naturais subestima substancialmente uma taxa de infestação grave na colmeia (mais de 5 ácaros / 100 abelhas). Menos preocupantes eram as contagens nos tabuleiros/cartolinas pegajosas na área azul, o que superestimava o problema.

Como você pode ver acima, os dois métodos de monitorização seguiram a mesma tendência geral – a queda de ácaros naturais tendeu a subir à medida que a taxa real de infestação de ácaros aumentou. O problema é que, numa percentagem razoável dos casos, a queda natural não refletiu o surgimento de uma séria infestação de ácaros (acima dos 5%)!

  • Aplicação prática: perdi a fé na queda natural de ácaros como meio de monitorar a infestação pelos ácaros varroa. É útil quando usado para determinar se um varroacida promove uma queda rápida no seu número, mas não tanto para indicar o nível biologicamente relevante de infestação pelos ácaros. Se alguém usa tabuleiros/cartolinas pegajosas como único método de monitorização, sugiro que faça a contagem ao longo de um largo período de tempo.”

fonte: http://scientificbeekeeping.com/mite-management-update-2013/

invernar colónias de abelhas: oscilações no ambiente interno das colmeias e seus efeitos

Neste vídeo Rudi Peters, apicultor norte-americano, apresenta um conjunto de dados e conclusões acerca dos efeitos de certas opções para invernar colónias de abelhas. O autor aborda o efeito negativo das oscilações no ambiente interno da colmeia, a vantagem de ter colmeias com bom isolamento e as desvantagens de entradas superiores na colmeia. Sendo dados de uma realidade climatérica diferente da nossa, com abelhas de outro ecotipo, as conclusões aqui apresentadas, ainda assim, podem fazer sentido para alguns de nós que invernam colmeias em zonas com oscilações frequentes de temperatura, como é o meu caso.

Aspectos que destaco:

  •  as colónias que melhor conseguem manter a estabilidade/consistência das condições do seu meio ambiente interno têm mais hipótese de sobreviver;
  • nas zonas com muitas oscilações de temperatura durante o dia  as abelhas têm maior dificuldade na manutenção da estabilidade/consistência das condições do seu meio ambiente interno;
  • cachos de abelhas que se expandem por efeito de algum calor exterior (efeito termogénico dos raios de sol) podem perder um número apreciável de abelhas se estas ficarem subitamente isoladas do cacho principal por um brusco abaixamento da temperatura;
  • com oscilações de temperaturas diurnas superiores a 10º (Celsius? ou Fahrenheit? não fica claro para mim) as abelhas podem começar a morrer nas zonas das camadas exteriores por isolamento;
  • colmeias melhor isoladas diminuem a frequência de oscilações de temperatura no ambiente interior;
  • o apicultor pode minimizar este fenómeno melhorando o isolamento das colmeias, em especial nas suas zonas superiores (tecto e pranchetas no nosso caso);
  • por outro lado um melhor isolamento diminui a condensação do vapor de água no interior da colmeia;
  • a causa de mortalidade de colónias é a condensação (gotas de águas) não a humidade (vapor de água);
  • colmeias com entradas superiores obrigam as abelhas a mais trabalho e a um consumo de energia maior que as colmeias só com entrada inferior;
  • colmeias com apenas entrada inferior apresentam maior humidade mas baixa condensação se estiverem bem isoladas no topo;
  • colmeias sem entrada superior e bem isoladas apresentam mais 3 a 4 quadros com criação à entrada da primavera;
  • no início do inverno as colmeias com entrada superior consomem mais (maior necessidade de energia para manterem o clima interno estável);
  • no final do inverno as colmeias com apenas entrada inferior consomem mais porque têm mais criação que as colmeias com entrada superior;
  • as colmeias de Rudi Peter têm uma entrada inferior com 5cm de largura; têm estrado com rede mas fechado; não estão directamente no chão (diz que é um apicultor e não um produtor de cogumelos);
  • Rudi Peters tira o isolamento quando os dias começam a aquecer para que o calor do sol (efeito termogénico) contribua para o aquecimento do ambiente interno e estimule o aumento de postura da rainha.

Como conclusão geral retiro que não é o frio e/ou a humidade que colocam as abelhas em perigo no período da invernagem. O verdadeiro inimigo está nas oscilações bruscas de temperatura no ambiente interno da colmeia que originam dois fenómenos com impacto negativo: o isolamento de abelhas e o consequente coma térmico; a condensação do vapor de água existente no interior da colmeia em contacto com superfícies frias. Colmeias melhor isoladas ajudam as nossas abelhas e para o conseguir o apicultor tem aos seu dispor alguma variedade de equipamentos no mercado de produtos apícolas. Cabe a cada um fazer as escolhas.

desoperculador de rolos: uma solução à medida?

A Lega propõe este desoperculador  de rolos que poderá bem ser a solução à medida para as minhas necessidades dos próximos anos.

Nota: se algum companheiro tem experiência com este desoperculador ou outro semelhante agradeço que envie o seu comentário a referir as vantagens e desvantagens que encontrou.

tabuleiros divisores: como os construo

Escrevi aqui a propósito dos tabuleiros divisores simples: “Podemos fazer este tabuleiro a partir de prancheta normal com algumas modificações muito simples, ou fazê-lo de raiz, desde que esteja de acordo com as características referidas.”

Vou descrever com mais algum detalhe como os faço a partir de pranchetas, geralmente as mais usadas.

Acerca das molduras:

  1. Numa carpintaria profissional mando cortar ripas de pinho, com 1 cm de altura, 2,5 cm de largura e perímetro com as dimensões exactas de 3 dos lados da moldura das pranchetas;
  2. No lado 4 (lado menor nos caso das Langstroth) mando cortar 2 ripas com um cumprimento que permita deixar uma abertura/espaço livre com 10 cm no centro para fazer a entrada;
  3. Prego estas ripas sobre a moldura original da prancheta e apenas numa das faces. Para o efeito utilizo um agrafador automático ligado a um compressor de ar. Esta moldura fica, no final, com uma altura de cerca de 1,5cm em relação ao plano formado pelo fundo/platex da prancheta (1 cm das ripas+0,5 cm da moldura original da prancheta);
  4. Na entrada, com cerca de 10 cm e que fica sempre aberta, não estou a utilizar a pequena ripa que se vê na imagem para a fechar.

Acerca do orifício aberto no centro da prancheta:

  1. Faço um corte quadrado com cerca de 10 cm de lado no centro da prancheta;
  2. Corto 2 quadrados de rede mosquiteira de metal, com uma malha não superior a 3mm, com cerca de 12 cm de lado, para cada tabuleiro;
  3. Colo estes 2 quadrados de rede, um em cada face da prancheta, com recurso à cola térmica e respectiva pistola.

Notas:

  1. No início e para tapar o orifício central  utilizei rede em plástico rígido em alguns tabuleiros. Verifiquei que as abelhas conseguiram roe-la quando os tabuleiro ficaram mais tempo nas colmeias;
  2. Com as redes em metal não verifiquei este problema, mas em alguns dos tabuleiros que ficaram mais tempo as abelhas propolisaram parcialmente a rede, diminuindo, julgo eu, a troca de odores entre as duas colónias. Neste caso e se pretendermos juntar as colónias, poderá ser necessário utilizar algumas das outras técnicas conhecidas para o efeito.

o tabuleiro de Snelgrove: uma introdução

Tenho de confessar que sou um adepto cada vez mais arraigado da utilização de tabuleiros divisores para as mais diversas situações, entre as quais destaco a prevenção e o controle da enxameação, o desenvolvimento de colmeias produtivas, a renovação de rainhas e a gestão do número de efectivos/colónias que disponho, no sentido de o aumentar ou de o manter.

Neste enquadramento, a meu ver é perfeitamente justo fazer aqui uma singela homenagem ao homem que levou a utilização do tabuleiro divisor a um patamar de genialidade, refiro-me a Louis Edward Snelgrove. Ao iniciar esta temática espero que, para lá da homenagem a este grande nome da apicultura moderna, nos ajude a todos a ver caminhos que nos permitam ter e fazer uma apicultura cada vez mais produtiva, simples e económica.

O tabuleiro de Snelgrove: O método Snelgrove foi inicialmente descrito por Snelgrove no seu livro de 1934, “Enxameação: controle e prevenção”. Este método surge na sequência de décadas de manipulação de colmeias usando vários tipos de tabuleiros e grelhas excluidoras para separar a rainha da criação. Leonard Snelgrove apresentou o seu tabuleiro divisor na obra mencionada em cima. A maior novidade do tabuleiro de Snelgrove é que apresenta entradas superiores e inferiores com o objectivo de “sangrar/drenar” abelhas campeiras entre o ninho e sobreninho/alça. Este método foi originalmente concebido para fazer a prevenção da enxameação (como por ex. o método Demarée), para ser utilizado pelos apicultores nos dias prévios à enxameação. No entanto mais tarde Snelgrove descreve outras variações que permitem controlar não só a enxameação mas também realizar o aumento do efectivo apícola. Portanto, não há um “método Snelgrove” específico, mas em vez disso um conjunto de técnicas e procedimentos com objectivos diversos baseados na utilização do  tabuleiro de Snelgrove.

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Fig. 1 e 2 : Exemplo de um tabuleiro Snelgrove e detalhe das suas entradas

No futuro voltarei a este tema para abordar alguns dos princípios, objectivos, técnicas e procedimentos de utilização deste tabuleiro.

um sistema de registo dos apiários, precisa-se…

Se tivesse que escolher um equipamento que ilustre a velha regra 20% das causas produzem  80% dos efeitos sem qualquer dúvida e sem a mais pequena hesitação escolheria o sistema de recolha de dados e de registo que utilizo. Quando iniciei o meu projecto apícola, foi das primeiras questões/problemas que me coloquei. A verdade é que a felicidade que tive na opção que fiz há cerca de 7 anos foi tanta que ainda hoje o mantenho praticamente inalterado nas suas linhas mestras. Serviu-me para as 50 colónias com que iniciei a minha actividade de apicultor profissional e mostrou-se adequado ao longo destes anos de crescimento da minha operação apícola.

Não me devo enganar muito se afirmar que um número considerável dos apicultores não mantém um registo adequado dos aspectos gerais dos seus apiários e dos aspectos particulares de cada colónia nesses apiários. Informações gerais, abrangentes e plurianuais da gestão/maneio dos apiários a juntar a informações mais detalhadas de cada uma das colónias são tão cruciais como os registos financeiros (aquisições e vendas, grosso modo) para maximizar a eficiência do maneio de qualquer empreendimento apícola do mais pequeno ao maior, com maioria de razão se pensarmos nos empreendimentos de natureza profissional.

Uma visita a muitos apiários geralmente revela colónias marcadas por paus, pedras ou outros materiais prontamente disponíveis colocados nos telhados de cada colónia. O arranjo específico desses materiais pode indicar tudo, desde o estatuto da rainha até à necessidade de uma colónia ser alimentada. Dois problemas surgem com este tipo de manutenção de registos. É de curto alcance: uma vez que o estatuto da colónia mude e os materiais sejam rearranjados, a informação anterior é perdida. O sistema também é exclusivo para cada operador, tornando-o não transferível e não-traduzível para outros, como por exemplo empregados/ajudantes a tempo parcial.

Somente se os registos forem escritos terão algum valor histórico. Este é um ponto importante, ainda que colocá-los no papel/computador leve o seu tempo. Infelizmente, não há substituto. Manter registos é tão necessário quanto visitar os apiários para o apicultor que quer ter mais do que uma ideia superficial do estatuto atual das suas colónias. Talvez o maior problema com a manutenção de registo seja decidir quais informações e dados recolher e registar. O grande volume de dados potenciais que podem ser coletados é surpreendente. O apicultor deve escolher cuidadosamente o que é mais importante com base na sua experiência e nos seus objectivos. Os objectivos ajudam a criar registos focados no que é importante, a experiência ajuda a discernir quais os dados que importa registar e quais ignorar.