É possível definir, de forma universal, para todas as colónias do nosso país, quantos tratamentos por ano devemos efectuar para manter a varroa controlada ao longo do ano?
Não, é a resposta mais correcta que conheço.
Cada colónia é um planeta próprio e particular; cada apiário é uma galáxia diferente e única.
Num mesmo apiário podemos ter colónias com taxas de infestação muito baixas, abaixo de 0,5%, e outras com taxas de infestação superiores a 5%. Entre colónias e apiários podemos ter medicamentos com taxas de eficácia acima de 90% e, o mesmo medicamento, ter eficácias abaixo de 70%, aplicados com os mesmos procedimentos e na mesma altura.
A diversidade das taxas de infestação e a imprevisibilidade da eficácia dos medicamentos, homologados e não homologados, convoca-nos a melhorarmos os nossos conceitos e práticas; exige da nossa parte conhecimentos realistas e fundamentados e a monitorização frequente das taxas de infestação.
E são estas, as taxas de infestação, que determinarão quantos tratamentos devemos efectuar ao longo do ano, para, ao longo do ano, termos a varroa bem controlada.
E, se me permitem uma sugestão amiga, varroa bem controlada significa o mais possível nunca acima de 2% numa amostra de 300 abelhas adultas, devidamente lavadas em álcool a 96%.
Os nebulizadores de ácido oxálico (fogger) são equipamentos relativamente populares para o controlo da varroose. Esta popularidade advém do facto de, em comparação com os sublimadores convencionais, serem em geral mais rápidos e dispensam a utilização de energia eléctrica ou de baterias, pois recorrem a chama alimentada por uma pequena botija de gás propano.
Sobre a real eficácia dos tratamentos aplicados através deste equipamento as opiniões dividem-se (ver, entre outros, o fórum Beesource). Verifica-se da leitura no fórum um padrão: que quem está satisfeito não apresenta números sobre a contagem de varroas em abelhas adultas presentes antes e após o tratamento com o nebulizador. Alguns prometem apresentar esses dados mas, tanto quanto li, ainda não o fizeram até à data. Como nunca utilizei este equipamento não tenho opinião fundada na minha experiência. Assim sendo voltei-me, como habitualmente, para o Mestre dos dados em apicultura, Randy Oliver. Ele como Peter Drucker e outros, onde me incluo, acreditam que só se pode controlar o que se quantifica, que só se pode qualificar o que se mede. E no blogue do Randy encontrei a propósito dos nebulizadores a citação de uma experiência pessoal e controlada levada a cabo pelo apicultor e químico reformado Dick Cryberg, com quem eu tive a oportunidade de conversar há uns anos atrás no Beesource sobre outros assuntos. Randy cita este apicultor, por quem mostra grande respeito, no seu blogue scientific beekeeping. Deixo em baixo a tradução.
“Randy Oliver —Circulam no YouTube recomendações para o uso de um nebulizador térmico para aplicar ácido oxálico. O químico aposentado Dick Cryberg, que é uma pessoa muito perspicaz e cujas observações respeito profundamente, postou o seguinte no Bee-L: Dick Cryberg — Nebulizei com ácido oxálico a 10% dissolvido em água. Nebulizei dez núcleos uma vez por semana com 0,6 g de ácido oxálico dihidratado durante oito semanas consecutivas neste verão. Eu tinha dez núcleos não tratados lado a lado para controle. O núcleo com taxa mais alta de infestação em abelhas adultas após o tratamento (3%), determinada por lavagem com álcool, foi um núcleo tratado. Não vi claramente nenhuma evidência de que matei um número significativo de ácaros. No geral, os enxames tratados e os controles tiveram contagens de ácaros equivalentes. Todos estavam com um pouco mais de 1% de ácaros no início. O tratamento ocorreu a partir de meados de junho até o final de julho. […] Passei várias horas brincando com o nebulizador para descobrir como administrar uma dose consistente. Tive que fazer um furo na parte superior da alça e empurrar o gatilho totalmente para baixo com uma chave de fenda após cada disparo para obter um volume consistente a cada vez. Também tive que puxar o gatilho o mais rápido possível para obter volumes consistentes. Verifiquei, ao capturar e analisar a névoa, que nem todo o oxálico era nebulizado. Pensei que não estava a nebulizar a quantidade suficiente para impactar a varroa. Também esperei 20 segundos entre os acionamentos do gatilho para permitir a recuperação total do calor na bobina. Mesmo assim, muito do que saiu pelo bico foi líquido que acabou no fundo do núcleo. Achei o processo entediante e não tão rápido, com mais de três minutos por núcleo em cada tratamento. Vi os vídeos do You Tube e vi muita discussão sobre tratamento. Eu sou o primeiro, ao que sei, a fazer contagens de ácaros antes e depois e incluir controles negativos, os núcleos não tratatados, lado a lado. Neste momento vejo todas as afirmações no YouTube como banha da cobra pura, com o valor usual que a banha da cobra normalmente tem, mas estou aberto a provarem que estou errado. Estou um pouco recesoso de utilizar álcool devido à inflamabilidade, embora ninguém tenha relatado um problema de incêndio. Além disso, o ácido oxálico reagirá muito rapidamente com o álcool formando um éster e o éster descarbonizará muito rapidamente e não matará os ácaros. Se nebulizar com soluções de etanol (álcool etílico), provavelmente precisará preparar uma solução nova pouco antes da nebulização para evitar a inevitável formação de ésteres que ocorrerá durante o armazenamento, mesmo à temperatura ambiente. Esta reacção química não é um problema na solução aquosa, mas precisa ser considerada no álcool ou particularmente na glicerina que alguns estão usando.”
Nota: esta publicação sobre este equipamento, que não me despertou interesse particular até à data, vem na sequência de um pedido de ajuda de um companheiro apicultor que utilizou o nebulizador com oxálico misturado em álcool e glicerina, 4 vezes com intervalos de 7 dias entre aplicações e que relata que continua a encontrar muita varroa na criação de zângão. Sugeri que na próxima visita às colónias avaliasse a taxa de infestação em abelhas adultas para verificar se de facto está a conseguir baixar a mesma, que estava antes da primeira ronda bastante alta, a 6%.
A noção de tratamento proactivo que Randy Oliver segue e que acompanho é em linhas simples esta: tratar logo que as lavagem de amostras de 300 abelhas adultas fazem soltar uma varroa, o equivalente a uma taxa de infestação pouco superior a 0,3%. Fazer este tratamento proactivo, que não tem um cariz urgente, está muito longe das práticas de 99% dos apicultores. No entanto o facto de não ser urgente não lhe retira importância, pelo contrário reforça-a.
Fazer um tratamento proactivo durante o ano traz dois ganhos evidentes para o apicultor e para as colónias de abelhas: (i) para o apicultor, permite-lhe dilatar no tempo o tratamento seguinte, por exemplo torna possível não tratar durante o fluxo primaveril, o que pode ser muito útil para os mais legalistas uma vez que foi recentemente retirado do mercado o único medicamento que estava homologado para utilizar durante o período de produção de mel para consumo humano, o MAQS; (ii) para as abelhas, mantendo tudo o resto igual, este tratamento proactivo será muito provavelmente a diferença entre a sobrevivência e o colapso da colónia.
Apresento em baixo duas simulações exactamente iguais, excepto o facto que na primeira não foi utilizado um tratamento proactivo na segunda quinzena de janeiro quando caía somente uma varroa, e na segunda simulação foi feito esse tratamento proactivo nessa data.
Nestas duas simulações é claro que este tratamento proactivo não sendo urgente foi de importância decisiva na evolução posterior do crescimento da população de varroas: sem o tratamento proactivo a população de varroas no mês de julho ronda as 10 mil, e a colónia colapsa poucos dias depois; com tratamento proactivo e no mesmo mês a população de varroas ronda as 600. No primeiro caso, sem o tratamento proactivo, adiar o tratamento para evitar fazê-lo durante os fluxos primaveris de néctar foi uma opção mal sucedida. No segundo caso essa mesma opção foi realista, segura e bem sucedida e a justificação está no tratamento proactivo feito em janeiro.
Nos últimos 6 meses tenho acompanhado com uma certa regularidade o maneio levado a cabo por um jovem e amigo apicultor de Coimbra. Entre outros aspectos como a defesa das suas colónias frente à vespa velutina, é o seu maneio para o controlo da varoose que suscita as linhas desta publicação.
Do que sei, em 18 de Julho tratou as suas colónias com Amicel quando a taxa de infestação atingia os 8% em amostras de 300 abelhas adultas. Até esta data tinha efectuado dois tratamentos, um em fevereiro e outro maio. Em finais de agosto uma nova avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas indicava uma infestação a rondar 1%. Para se verificar esta evolução de 8% para 1%, e utilizando o simulador do Randy Oliver, a eficácia deste tratamento com Amicel rondou os 95%.
Nada mais fazendo, estas colónias iriam terminar o ano com taxas de infestação a rondar 13% (40 varroas em amostras de 300 abelhas adultas), a colapsarem ou próximo disso.
Mas este jovem e competente apicultor a partir dessa data fez mais dois tratamentos: um no final de agosto com ácido oxálico gotejado e outro no final de outubro com tiras de libertação lenta de ácido oxálico misturado em glicerina. Medida a taxa de infestação pelo procedimento habitual, em 22 de dezembro era inferior a 0,3%, isto é menos de 1 varroa em 300 abelhas.
No final do ano este apicultor amigo e competente realizou 5 tratamentos e seguiu de perto a filosofia de Randy Oliver nestes meses finais do ano, assim como a de Russell Heitkman. Este último, apicultor californiano, com a família há 40 anos no sector, produz cerca de 90 mil rainhas/ano e trabalha +3000 colónias, tem como princípio não esperar que a taxa de infestação chegue aos 3%, para ele um limiar já demasiado alto e com riscos de os tratamentos falharem; prefere tratar para ter os níveis de infestação abaixo ou igual a 1%: trata não para fazer descer os níveis de infestação mas para evitar que eles subam; não confia cegamente em nenhum medicamento, acredita neles todos, na sua utilização frequente e diversificada**.
Como já escrevi “Assim como para a prevenção da enxameação é necessário andar um mês à frente das colónias, também o controlo da varroose nos obriga a estar, não um, mas dois meses à sua frente.
A empresa Vita Bee Health, maior empresa mundial de produtos sanitários para abelhas melíferas, está a lançar no mercado um novo acaricida de libertação lenta de ácido oxálico veiculado através de tiras de fibra, com a marca VarroxSan.
Segundo a empresa: “VarroxSan utiliza uma tira de fibra resistente, evitando ou retardando a remoção pelas abelhas, permitindo que o produto funcione bem em todas as condições e garantindo uma elevada eficácia com uma dose relativamente baixa de ingrediente ativo. Nosso sistema de impregnação exclusivo garante que cada tira contenha uma quantidade idêntica de ingrediente ativo, proporcionando sempre uma dose confiável e consistente.
Através de uma série de estudos realizados por laboratórios independentes e institutos de investigação, em diversas condições geográficas e climáticas, o VarroxSan alcançou uma eficácia média de 96,80%.
O ácido oxálico di-hidratado é um acaricida de contato letal para os ácaros varroa em contato físico com ele. O modo de ação ainda não é compreendido totalmente, mas sabe-se que o baixo pH desempenha um papel fundamental.” (fonte: https://www.vita-europe.com/beehealth/products/varroxsan-varroa-control/)
Respondendo à questão do título, vindo de quem vem, Vita Bee Health, será muito provável que este novo acaricida venha a ser homologado na Europa. Vamos ver a que preços!
Se… tivesse colmeias no litoral centro como as trataria em 2024? Vou utilizar alguns dados do terreno obtidos no acompanhamento que fiz conjuntamente com o Marcelo às suas colmeias e apresentar algumas simulações feitas no simulador do Randy Oliver parametrizado por mim para o ciclo de desenvolvimento de colónias no litoral centro.
Se por hipótese começar o ano de 2024 nas minhas colmeias com uma população de 2109 varroas, o seu controlo ao longo do ano será muito difícil e arriscado. Mesmo com 4 tratamentos eficazes (80%-90%) e muito eficazes (95% ou acima) as minhas colmeias ultrapassariam os limiares de dano económico — mais de 15 varroas por 300 abelhas, como se pode ver na simulação em baixo.
Como vemos da simulação em cima os quatro tratamentos, nas condições simuladas, são suficientes para evitar o colapso das colónias, mas não são suficientes para evitar o prejuízo económico na sequência de se terem atingido taxas de infestação demasiado altas — acima das 15 varroas por 300 abelhas. Chegado aqui, entre a espada e a parede, decidi simular adicionando um quinto tratamento. Vejamos em baixo o resultado:
Começar o ano de 2024 com 211 varroas em lugar das mais de duas mil é um aspecto crítico para ter a população abaixo dos limiares de dano económico, com as colónias em pleno estado de saúde e com o máximo potencial produtivo ao longo de todo o ano como me mostra a simulação seguinte:
Como vemos a introdução do quinto tratamento nas condições simuladas muda o jogo a nosso favor: permite entrar num circulo virtuoso e atingir o final do ano com um número de varroas inferior a 200 que me permitirá olhar para o ano seguinte com mais tranquilidade no que respeita ao controlo da varroose.
E se… decidisse voltar aos dois tratamentos anuais, tratando quando a varroa atinge os 3% de taxa de infestação?
Pois, qualquer semelhança com a realidade…
Notas: 1) não vou esquecer que são apenas simulações, não é a realidade. Mas é uma ferramenta mais que me ajudará a reflectir e até a planear de forma mais informada.
2) Será altura de se mudar o paradigma do PAN atribuir uma comparticipação para apenas dois medicamentos, que em muitos casos serão insuficientes para um efectivo controlo da varroose ao longo do ano. Só os meus dois cêntimos para a conversa!
Nesta publicação descrevo o caso dos tratamentos e monitorização de infestação que o meu amigo Marcelo Murta levou a cabo nas suas colmeias.
Da monitorização feita a 19 de julho obteve taxas de infestação a rondar os 8%, isto é 24 varroas por cada 300 abelhas. Utilizando o simulador do Randy Oliver para obter 24 varroas nessa data foi necessário partir do pressuposto de que as colónias entraram no ano com uma população de 180 varroas (simulei este valor porque não possuo dados reais da taxa de infestação anteriores a esta data; ver quadrícula “mite population”, no fundo à esquerda ).
Como descrito na publicação, o Marcelo fez um tratamento em finais de Julho para fazer baixar a taxa de infestação. No último dia de agosto fez uma segunda monitorização da taxa de infestação e os valores encontrados andavam em torno de 1% (3 varroas em 300 abelhas).
Como vemos da simulação em cima, mesmo com a elevada eficácia do tratamento de finais de julho, de outubro em diante o simulador apresenta valores superiores a 15 ácaros (ver valores azul no interior dos pequenos quadrados brancos), valor a partir do qual se observa um declínio no desempenho da colónia, em geral (Randy Oliver).
Em boa hora o Marcelo optou por fazer, nesse último dia de agosto, o quarto tratamento do ano, recorrendo ao ácido oxálico gotejado. De acordo com Randy Oliver é expectável este tratamento atingir uma eficácia entre 80%-95%, quando as colónias não apresentam criação operculada. Fiz mais uma simulação para contemplar este tratamento, como podem ver em baixo.
Sei que é intenção do Marcelo, fazer um 5º tratamento antes de finalizar o ano, até porque provavelmente terá uma taxa de infestação superior uma vez que não se verifica um ligeiro aumento de criação no outono, típico de um clima temperado do interior do país, mas um aumento de criação pronunciado, o típico no litoral norte e centro.
Finalizando com a questão do título, a resposta é que neste caso e neste ano muito provavelmente 4 tratamentos será curto para o Marcelo atingir as suas expectativas. E cada caso é uma boa fonte de reflexão, desde que não se façam generalizações apressadas. A partir deste não vamos concluir que de norte a sul e de este a oeste do nosso país sejam necessários os mesmos tratamentos e nas mesmas datas. Se for para generalizar apenas isto: 12 dias depois de cada tratamento monitorizem a sua eficácia e utilizem este ou outro bom simulador que vos ajude a tomar decisões informadas. Bom combate!
Simulador do Randy aqui: https://scientificbeekeeping.com/randys-varroa-model/
Na minha opinião estamos a atravessar, de há uns anos para cá, uma época de mudanças importantes no combate à varroa. Estas mudanças advém de dois aspectos documentados: existência de populações de varroas resistentes ao amitraz na Europa e a colonização e disseminação de uma estirpe mais virulenta de vírus no nosso continente. A juntar a estes dois factos junto um terceiro, que resulta da minha especulação e de outros apicultores informados: ao utilizarmos massivamente acaricidas que matam exclusivamente varroas na fase de dispersão (fase forética), fomos seleccionando as varroas com períodos mais curtos de dispersão, aquelas que mais adaptadas estavam para sobreviver à mecânica da maior parte dos acaricidas sintéticos e orgânicos que temos vindo a utilizar.
Nestes tempos de mudança e aumento de complexidade conheço basicamente três tipos de resposta dos apicultores para o controle da varroa:
1) os que acreditam que as mudanças biológicas e comportamentais das varroas e vírus não existem, que tudo é uma conspiração, que as varroas e os vírus continuam a ser os mesmos de sempre, apicultores cheios das certezas típicas da ignorância, e que vão falhar desastrosamente e silenciosamente, sem nunca assumirem que falharam nas suas opções e sem perceberem porque falharam;
2) os que percebendo as mudanças e que as soluções antigas estão a falhar querem mudar a sua estratégia, mas desejam alternativas milagrosas e estão apenas disponíveis para utilizar “receitas do tipo limão”, baratas e hiper-simples de utilizar. Parece-me que nunca lhes ocorreu pensar que se fosse assim tão simples já todos utilizaríamos essas “balas de prata”. Também estes, com a suas ilusões, vão falhar;
3) aqueles que estão conscientes das mudanças e que vão enriquecer as suas qualificações de combate e o seu arsenal de acaricidas. Estes assumem a necessidade de continuar a aprender e procuram conhecer o melhor possível o inimigo, as suas forças e fragilidades, e a sua evolução. Ao mesmo tempo procuram conhecer mais profundamente o potencial e as limitações dos chamados acaricidas suaves (orgânicos) e de medidas culturais (interrupção da criação, entre outras), para as introduzir numa estratégia mais inteligente e efectiva. Estes têm as melhores probabilidades de manter a varroose “at bay”.
Especulando, acho que nos dois primeiros grupos encontramos 80% dos apicultores europeus e 20% deles enquadro-os no terceiro grupo.
Para os apicultores do terceiro grupo sugiro lerem este bom artigo de revisão sobre a evolução da varroa, vírus e vantagens e limitações da utilização dos acaricidas suaves, publicado em 2021: Varroa destructor from the Laboratory to the Field: Control, Biocontrol and IPM Perspectives—A Review. Mais adiante conto fazer traduções de alguns excertos, para os que têm mais dificuldades com o inglês.
Nestas publicações (aqui e aqui) apresentei uma técnica inovadora de aplicação do ácido fórmico por escovagem. O objectivo desta técnica é eliminar a varroa que se encontra na criação operculada das abelhas. Como sabemos, em colónias com criação, cerca de 70-90% das varroas estão na sua fase reprodutiva, a parasitarem as abelhas em formação (Rosenkranz, P., Aumeier, P., & Ziegelmann, B. (2010)). A protecção dada pelos opérculos é um factor limitante à eficácia de muitos dos acaricidas que utilizamos. O ácido fórmico, mais especificamente os seus vapores, é dos poucos acaricidas com elevado potencial nesta fase do ciclo de vida das varroas.
Os procedimentos básicos para a aplicação do ácido fórmico sobre a criação operculada por escovagem estão descritos nesta publicação e podem ser lidos com maior detalhe no artigo original aí e aqui referenciado.
No artigo podemos ler que eficácia desta técnica, avaliada pela mortalidade das varroas fundadoras e sua descendência 24 horas após a escovagem, se situa entre os 90 e 92%, para utilização de ácido fórmico com concentrações de 65% e 85%, respectivamente. A análise estatística revela que estas diferenças não são significativas, por esta razão concluo que não há vantagens em utilizar a concentração de 85%. Um aspecto que me parece revelante é o facto de os autores terem observado passadas 48h-72h após a aplicação da técnica que mesmo as varroas que ainda viviam após-24h, uma parte estava morta ou incapaz de se reproduzir.
Uma limitação desta técnica é o facto de não eliminar as varroas na fase de dispersão (fase forética). Os autores recomendam um novo tratamento com esta técnica passados 10 dias ou a utilização de um outro acaricida/técnica com efeito comprovado sobre os ácaros na fase de dispersão.
Acerca do impacto nas pupas e nas abelhas os autores escrevem: “In these experiments, all the honeybees that emerged from the treated brood were found active and healthy, the hive population and activity being normal during the whole period of experiments [2 anos].” Em poucas palavras, não encontraram efeitos negativos assinaláveis nas abelhas que emergiram após o tratamento. E acrescentam “Thus, in the brood protection perspective, the brushing procedure can be considered superior to the treatment in a closed space as the volatile substances will come in contact only with the capped stages of honeybee brood and the mites inside cells, while in treatment boxes all brood, including larvae and eggs are treated and open brood is clearly affected. Having an immediate result and being targeted only on the capped brood frames, the effect of any external temperature and humidity do not influence the results and procedures’ effectiveness as in the classical treatments with formic acids. More than this, by these new treatments we can avoid exposing the adult honeybees which are very sensitive to these substances, as their volatility is very high, increasing rapidly at high, external and nest temperatures.” Em resumo, esta técnica de aplicação do fórmico é mais segura para ovos, larvas e abelhas adultas, quando comparada com as técnicas tradicionais de aplicação do ácido fórmico.
Dito isto, num cenário hipotético, se fosse um apicultor confrontado com a elevada ineficácia de medicamentos homologados e/ou das formulações caseiras, não deixaria de experimentar esta técnica em 3 ou 4 colónias para a avaliar no meu território e com as minhas abelhas, com o objectivo de me preparar para um futuro que tudo aponta ser difícil e complexo.
Notas: 1) como muitas vezes mais é menos, se eu fosse aplicar o fórmico por escovagem não iria utilizar uma trincha de 25 cm de largura, e muito menos aplicá-lo com a trincha a escorrer. A aplicação deve ser só sobre a criação operculada e com o quadro ligeiramente inclinado para que alguma gotícula a mais caia para o chão e não para o interior de um alvéolo não operculado. Nunca me esqueceria que com este ácido o limiar entre matar o ácaro sem matar o hospedeiro é muito estreito. Não me esqueceria também de utilizar os EPI’s necessários na utilização de um ácido tão corrosivo.
2) Não estou a sugerir a aplicação deste tratamento por outros pois carece de homologação no nosso país. Estou a revelar o que se vai fazendo na Europa e no mundo para combater o primeiro e mais perigoso inimigo das abelhas. Espero que este olhar pelo que nos rodeia acalente em nós a esperança de que novas armas estão a ser preparadas para substituir e/ou complementar as actualmente disponíveis, que parecem não estar a acompanhar os ganhos de resistência do inimigo.
Recentemente o apicultor norte-americano Bob Binnie publicou este vídeo sobre a aplicação de ácido oxálico na forma sublimada em núcleos.
O que mais me interessou no vídeo foi o facto de o Bob Binnie referir que aplica 2 grs. de ácido oxálico em núcleos e referir que aplica 4 grs. de ácido oxálico em colónias estabelecidas em colmeias Langstroth com 10 quadros. E do ponto de vista da eficácia está a fazer a opção correcta. No estudo Determining the dose of oxalic acid applied via vaporization needed for the control of the honey bee (Apis mellifera) pest Varroa destructor (2021), Cameron Jack e colegas referem que é essa a dosagem mais eficaz de acordo com as observações controladas que realizaram.
O pequeno problema é que a EPA (a congénere norte-americana da DGAV) definiu que as colónias não devem ser tratadas com mais do que 1 gr. de ácido oxálico quando sublimado.
O grande problema para os apicultores norte-americanos é que este limite estabelecido pela EPA, repito 1 gr. de ácido sublimado por colónia, é pouco ou nada eficaz como demonstrado pelo estudo de Cameron Jack e colegas. Bob Binnie foi honesto e corajoso por vir publicamente dizer como faz e que o “rei vai nú”, arriscando ser perseguido e multado por tal.