acaricidas homologados em Portugal

A DGAV é a autoridade portuguesa que tem em mãos a responsabilidade de homologar os acaricidas a utilizar na luta contra a doença das abelhas conhecida como varroose.

Nesta hiperligação podem consultar uma lista quase completa dos acaricidas homologados à data de hoje: http://www.apiset.pt/docs/MUV_autorizados.pdf

Nesta hiperligação surge o acaricida mais recentemente homologado pela DGAV, e que não se encontra ainda na lista anterior:  http://www.melvag.com/blog/api-bioxal-novo-tratamento-homologado-contra-a-varroa/

Como facilmente se constata a lista compreende 5 marcas de tratamentos não-convencionais ou orgânicos, a saber: MAQS; Apilife VAR; APIGUARD; THYMOVAR e Api-Bioxal.

Os tratamentos convencionais ou sintéticos presentes na lista são de 4 marcas, a saber: APITRAZ; APIVAR; Apistan e Bayvarol.

Uma primeira consideração que desejo fazer acerca desta lista diz respeito à diversidade de princípios activos disponíveis, o que dá boas garantias e oportunidade ao apicultor para fazer a adequada rotação de princípios ativos, por forma a evitar ou minimizar os efeitos do surgimento de varroas resistentes.

Uma segunda observação, que com toda a justiça entendo dever fazer, é que a mortalidade de colmeias por via da varroa não se deve à falta de oferta na escolha de acaricidas homologados. Vamos a ser francos, a mortalidade das colmeias resulta, na grande maioria dos casos, do desconhecimento e/ou incúria do apicultor. Na minha opinião, o argumento dos elevados custos dos tratamentos homologados não colhe, uma vez que a grande maioria dos apicultores associados podem adquirir os mesmos a preços muito mais baixos que o preço de 1 Kg de mel.

nenhum efeito negativo da exposição prolongada ao amitraz

Em Julho de 2015, no American Bee Journal, Randy Oliver (Scientific Beekeeping.com) lançava estas questões aos leitores: “Porque se ouve falar de taxas elevadas de perda de rainhas e baixa capacidade de sobrevivência das colónias nos dias de hoje? Poderá ter algo a ver com os efeitos sub-letais do amitraz, um acaricida comumente usado?”

Quem está familiarizado com o trabalho de Randy Oliver, sabe que ele, para além de apicultor profissional, tem por hábito e gosto fazer um conjunto de investigações próprias, devidamente controladas, acerca de problemas com os quais os apicultores se vão confrontando no dia-a-dia. Estas investigações, realizadas de forma muito regular, são uma fonte de ensinamentos e reflexões muito valiosa, o que lhe tem granjeado uma enorme estima e uma reputação inabalável junto da comunidade de apicultores dos EUA.

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Fig. 1 — Randy Oliver analisando um quadro

Voltando aos eventuais efeitos da utilização do Apivar (que tem como princípio activo o amitraz) nas colónias de abelhas, em especial os efeitos sub-letais dos metabolitos (designados por alguns de nós como “moléculas alien”), Randy Oliver não foi no “diz que disse” e decidiu testar e investigar seriamente, de forma controlada, os mesmos. Transcrevo/traduzo de seguida o que ele escreve a título de introdução e discussão deste seu estudo (fonte consultada: http://scientificbeekeeping.com/no-negative-effect-from-extended-exposure-to-amitraz/).

“Introdução

Na primavera passada eu realizei um teste de campo, a fim de determinar se o tratamento de núcleos com tiras de Apivar (o princípio activo é o amitraz) afetaria o seu desenvolvimento. Os resultados (não houve nenhum efeito negativo observável) foram publicadas neste Jornal em outubro de 2014. Mas por essa altura eu já tinha lido mais acerca do amitraz, e estava curioso de saber se os seus resíduos (principalmente os seus metabolitos) teriam um efeito adverso sobre a colónia ou a saúde rainha e a sua sobrevivência. Como eu já tinha 36 colónias que tinham sido anteriormente expostas ao tratamento com Apivar, decidi continuar o teste para ver se surgiam efeitos a longo prazo, com a utilização prolongada das tiras de Apivar. […]

Discussão

Apesar de continuamente expostos às tiras de libertação lenta de amitraz (as tiras de Apivar foram colocadas continuadamente três vezes e ao longo de 8 meses), não encontrámos nenhuma diferença no desenvolvimento destas colónias, na sua sobrevivência à invernagem, ou na capacidade de sobrevivência das rainhas devido ao tratamento, quando comparadas com o nosso grupo de controle. Verificámos também que o Apivar é eficaz no controlo dos níveis de varroa. Embora eu não tenha podido confirmar os níveis de resíduos reais de amitraz ou metabolitos nos favos, por análise química, a minha outra pesquisa anterior sugere que os níveis terão sido substanciais, com base na elevada e prolongada taxa de exposição às tiras e considerando o número de quadros cobertos pelas abelhas durante a realização do teste. Os resultados destes dois ensaios combinados indicam que o tratamento com Apivar à taxa recomendada pelo fabricante parece ser uma ferramenta segura e eficaz para a gestão da varroa.”

 

A minha experiência pessoal com o Apivar tem sido muito positiva. Contudo é um tratamento que não faz milagres! Algum fará? Já tive algumas colmeias que morreram por causa da varroa depois de tratadas com Apivar. Sim, é verdade que sim! Sempre que coloquei as tiras tarde demais e/ou quando as não ajustei devidamente à câmara de criação, a meio do tratamento, em especial no tratamento de fim de verão, algumas colmeias não aguentaram com os meus erros. A responsabilidade foi minha, não foi das tiras, e seguramente não foi por ter varroas resistentes ao princípio ativo. Como não faço tudo bem, tenho por hábito olhar primeiro para mim e procuro descortinar onde falhei, para amanhã rectificar e melhorar o que há a melhorar. Contudo, parece-me por aquilo que vou ouvindo, que há outros companheiros que fazem tudo bem, e quando a varroa lhes mata as suas colmeias, responsabilizam as tiras que aplicaram ou, se não são as tiras, são as varroas que já são resistentes a este mundo e ao outro. A minha realidade é semelhante à descrita pelo Randy Oliver e isso dá-me muita tranquilidade porque não estou a lidar com nenhuma realidade ou factos “alien”, de outro mundo. Tudo é deste mundo!

efeitos colaterais adversos de alguns acaricidas

Para dar substância a uma afirmação em que escrevi “os tratamentos orgânicos não serão os bons assim como os tratamentos sintéticos não serão os maus. Todos os tratamentos, sintéticos ou orgânicos, são bons desde que cumpram o objectivo da sua utilização…” importa conhecer os vários ângulos desta problemática em torno dos acaricidas utilizados na apicultura.

O apicultor deve ser capaz de fazer informada e conscientemente as suas opções, deve evitar opções maniqueístas, e maximizar a oportunidade de utilizar um leque alargado de possibilidades para tratar as suas colmeias. Neste momento o que sabemos seguramente é que todas as opções têm efeitos colaterais, uns são dum tipo, outros são de outro. Não há opções ideais, quando muito apenas há boas opções.

“Os tratamentos contra a varroa utilizam-se generalizadamente em toda a UE e nos EUA para controlar esta praga nas abelhas. Como parte da avaliação de tais tratamentos são determinados os seus efeitos em colónias de abelhas. O timol é o óleo essencial mais tóxico usado no controle varroa, com uma DL50 do óleo aplicado diretamente sobre larvas de 150 μg/abelha e em adultos 210 μg/ abelha, ao passo que a toxicidade de mentol para larvas foi 383 μg/abelha e em adultos 524 μg/abelha (Gashout et al. 2009). Relativamente ao apiguard (acaricida com uma base de timol) foram observados efeitos como uma elevada mortalidade em larvas jovens (0-3 dias de idade) em colónias tratadas, com sobrevivência de 74-87%, comparada com 90- 95% verificada nos controles (Mattila et al. 2000). No entanto, estes níveis de mortalidade da criação não resultaram em relatos generalizados de menor sobrevivência das colónias após o uso o que sugere que existem capacidade nas colónias para compensar essas perdas na criação. Duff e Frugala (1992) avaliaram os efeitos do mentol e fluvalinato em colónias sem de ácaros para determinar impactos sobre a criação, aceitação rainha, sobrevivência da rainha e produtividade da colónia. A toxicidade da tau-fluvalinato em larvas é de 192 μg/ abelha e toxicidade para as abelhas obreiras adultas é 194 μg/ abelha (Gashout et al 2009). A área ocupada pela criação nas colónias tratadas com mentol era significativamente mais baixa, e foi observada um efeito de repelência na zona de tratamento. Embora a aceitação e sobrevivência de rainhas não tenham sido significativamente diferentes a perda de rainhas só ocorreu nas colónias tratadas (22% em colónias tratadas com o fluvalinato e 33% em colónias tratadas com mentol). A perda de rainhas tinha sido documentada pelos autores num estudo anterior com mentol. Westcott e Winston (1999) investigaram os efeitos dos acaricidas fluvalinato e ácido fórmico no crescimento da população, a longevidade das obreiras e a atividade de forrageamento. Acerca do ácido fórmico, amplamente usado no controlo da varroa,  é bem conhecido os seus efeitos associados a elevados níveis de mortalidade da criação. Eles demonstraram que o ácido fórmico diminuiu a área da criação operculada em 25%, comparado com o controle, e causou alguma perda da criação, enquanto esses efeitos não foram observado com o fluvalinato.”

Fonte: http://fera.co.uk/news/resources/documents/chem-reportPS2367.pdf

Notas:

  1. o fluvalinato ou o tau-fluvalinato é o princípio activo presente no Apistan.
  2. DL50 é a dose necessária de uma dada substância ou tipo de radiação para matar 50% de uma população em teste.
  3. μg (micro-grama) é um milhão de vezes menor que 1 grama.

 

tratamentos

Abro esta nova categoria intitulada tratamentos. A que tratamentos me estou a referir?

Sabemos que, no nosso país, os tratamentos que estamos autorizados a aplicar nas nossas colmeias são acaricidas, com vista a controlar os níveis do ácaro varroa. Por exemplo nos EUA, China e outros países, é permitido e até aconselhado o uso de antibióticos no tratamento da loque americana ou da loque europeia.  Como por cá não são permitidos tratamentos para as outras doenças das abelhas, esta categoria será dedicada quase inevitavelmente aos acaricidas.

Ao apicultor de hoje, como disse anteriormente, é tão importante conhecer a biologia da varroa como a biologia da abelha melífera. No seguimento deste raciocínio é igualmente fundamental estar bem fornecido de informação clara, credível e válida acerca dos vários tratamentos disponíveis. Importa que cada um de nós  esteja especialmente bem informado dos acaricidas que fazem parte da lista dos tratamentos homologados pela DGAV, onde se agrupam 4 acaricidas de natureza sintética e 5 de natureza orgânica. Uma lista muito equilibrada, que satisfaz as diversas opções dos apicultores e garante, ao mesmo tempo, a possibilidade de fazer a rotação de princípios activos sempre que o desejar ou necessitar.

Este blog pretende fazer uma abordagem actual, eclética e fundamentada dos diversos assuntos relacionados com as abelhas, assim como da relação que o homem tem com elas no exercício das suas actividades apícolas. Também nesta categoria os princípios não poderiam ser outros. Aqui não haverá, da minha parte, lugar para categorizações ideológicas, e frequentemente mal fundamentadas, dos tratamentos: os tratamentos orgânicos não serão os bons assim como os tratamentos sintéticos não serão os maus. Todos os tratamentos, sintéticos ou orgânicos, são bons desde que cumpram o objectivo da sua utilização: manter as varroas em níveis toleráveis, sem impacto económico significativo no desenrolar da actividade apícola e que, ao mesmo tempo, garantam produtos da colmeia dentro das normas estabelecidas pelos especialistas do comité europeu de produtos médico-veterinários.

Decorrendo desta perspectiva também não considero que haja mel bom e mel menos bom, mais sendo esta classificação feita com base nos tratamentos utilizados. Todo o mel puro é bom até prova em contrário. Para se fazer essa prova, existem análises credíveis feitas por laboratórios credenciados aos lotes de um determinado ano e da produção de um determinado apicultor. Todas as classificações do mel que não sejam suportadas por estas análises são especulações, ingénuas a maioria, com agendas ocultas algumas outras.

Lembro, a terminar, que os apicultores ligados a uma associação apícola podem em geral (julgo que há algumas excepções) aceder aos acarícidas homologados com preços fortemente co-financiados. Não nos devemos esquecer ainda que o tratamento da varroose é obrigatória no nosso país. Apelo a todos os que me lerem que tratem atempada e eficazmente a varroa para que não percam as suas colmeias e não contribuam para a infestação dos apiários vizinhos.