Ian Steppler, apicultor canadiano e meu amigo virtual, publicou recentemente um vídeo focado na “informação incompleta” que os testes de infestação realizados em abelhas adultas podem dar relativamente à população global de varroas em cada colónia e sua evolução. E de facto dão! Tive a oportunidade para alertar para esse aspecto quer os clientes dos meus serviços de acompanhamento técnico, quer os formandos dos workshops realizados por mim, em conjunto com o Nuno Capela e o Marcelo Murta, o ano passado.
(Um pequeno parêntesis para referir que duas outras técnicas de monitorização, a avaliação através da criação e a queda natural de varroa também apresentam limitações, tema para uma publicação posterior).
A principal limitação da monitorização por lavagem de abelhas adultas resulta do facto de, nos períodos de extensa criação nos ninhos, 75%-90% das varroas estarem na fase de reprodução e apenas 10%-25% estarem na fase de dispersão (antes designada fase forética). Este fenómeno conduz a eventuais e prováveis subestimações da população total de varroas, quando a interpretação dos resultados das lavagens é feita desconsiderando o estatuto da colónia, em particular se está numa fase de intensa criação de novas abelhas.
Atentemos na simulação que apresento em baixo parametrizada para colónias na zona de Coimbra, realizada no simulador de Randy Oliver.
Como vemos nesta simulação, iniciando o ano com 50 varroas, surge uma varroa caída na lavagem na segunda quinzena de fevereiro. Nesse momento, de acordo com a simulação, a população de varroas é de 165 indivíduos, dos quais 75% estão na fase de reprodução (no interior dos alvéolos e tapadas por opérculos) e apenas 25% na fase de dispersão (no corpo das abelhas). Um mês adiante, na segunda quinzena de março, a queda de varroas na testagem continua a ser de uma, mas… a população de varroas é agora de 461 indivíduos, dos quais 73% estão na fase de reprodução, inatingíveis pela lavagem de abelhas adultas (e também pela quase totalidade dos acaricidas que utilizamos). Este é um exemplo claro de como a monitorização das taxas de infestação por lavagens de abelhas adultas tende a subestimar o crescimento da população de varroas em períodos de intensa criação de novas abelhas. A população total multiplicou-se por 2,80, mas… no copo continua a surgir apenas uma varroa.
Pelo contrário, em períodos de forte diminuição de criação de novas abelhas esta técnica de testagem tende a sobrestimar a população de varroas. Utilizando a mesma simulação reparem que na testagem na primeira quinzena de setembro irão cair 4 varroas, quando a população total é de apenas 355 indivíduos. Voltando atrás, relembro que na segunda quinzena de março a queda de varroas na testagem é de uma, mas… a população de varroas é de 461 indivíduos. A explicação para estes dados, aparentemente absurdos, tem que levar em linha de conta o seguinte: enquanto em março 73% das varroas estavam no interior dos alvéolos, protegidas pelos opérculos, inalcançáveis pela técnica usada, em setembro apenas 53% estão nessa condição (ver linha % mites in brood, no simulador). Assim, enquanto em março o potencial de captura de varroas pela técnica incide sobre 25% da população total de varroas, em setembro incide sobre 47% da população total de varroas.
Para levar para casa: em períodos de intensa criação de abelhas novas, a minha sugestão, para evitar os dissabores que o Ian Steppler refere no seu vídeo, passa por complementar a testagem de abelhas adultas no campo com a utilização do simulador do Randy Oliver; sempre que a contagem de varroas nos testes de lavagem atinja os 2% ou sempre que os resultados da testagem introduzidos no simulador indiquem uma população total a rondar as 1000 varroas (mais ou menos 200), o que se atingir primeiro, iniciem os tratamentos. Neste período podem também, caso não utilizem o simulador, multiplicar por 3 ou 4 o número de varroas caídas na lavagem para terem uma ideia aproximada da taxa de infestação que irão ter passados cerca de 25 dias. No caso de avaliarem preferencialmente a infestação na criação de zângãos iniciem os tratamentos se a taxa estiver entre os 5%-10%. Se utilizarem a queda natural de varroas como técnica de monitorização multipliquem a média diária obtida por 30 para calcular a população total de varroas; uma queda média de 30-35 varroas/dia em períodos de criação intensa de novas abelhas deve fazer acender as luzes vermelhas.
Nota final: Já em 2017, Randy Oliver, nos alertava para esta limitação da avaliação da taxa de infestação por lavagem de abelhas adultas em períodos de intensa criação de abelhas novas:
Eduardo Gomes: serviços de formação presencial e on-line, consultoria presencial e on-line e apoio técnico em apiário (contactos: 935 251 670; jejgomes@gmail.com)