acaricidas rápidos e acaricidas lentos

Em França verificar a eficácia dos medicamentos utilizados na luta contra o ácaro varroa é, desde 2007, uma atribuição coordenada pela FNOSAD (Fédération Nationale des Organisations Sanitaires Apicoles Départementales) que reúne a grande maioria dos OSAD (Organisations Sanitaires Apicoles Départementales), representando mais de 30.000 apicultores, profissionais e amadores.

Estes tratamentos/acaricidas que beneficiam de homologação são testadas anualmente por forma a mostrarem que garantias dão no controle da infestação pelo ácaro varroa abaixo dos limites considerados  prejudiciais às colónias de abelhas. Os principais parâmetros avaliados por estes testes são a eficácia global, avaliado através dos ácaros residuais encontrados após os tratamentos, assim como a velocidade de ação desses mesmos tratamentos sobre os ácaros.

Em 2014 a FNOSAD avaliou estes dois parâmetros em 4 tratamentos: o Apivar, o Apistan, o Apilife Var e o MAQS. Qualquer um destes 4 tramentos/acaricidas está homologado em Portugal.

Do conjunto de resultados obtidos em cerca de 300 colónias de abelhas testadas surgiu a evidência de que a eficiência média obtido em 2014 pelo Apivar® e Apistan® é elevada (97% e 96%, respectivamente), mas envolve tempos de tratamento longos (70 dias e 56 dias, respectivamente).

Os medicamentos MAQS® e Apilife Var®, que têm tempos de tratamento mais curto (7 e 28 dias, respectivamente) atingem percentagens de eficácia médias um pouco mais baixas (93% e 87% respectivamente).

Contudo um dado de extrema importância, e que nos ajuda a tomar decisões mais ajustadas no terreno, é-nos dado pela velocidade de acção destes acaricidas sobre os ácaros. A este respeito e para estes quatro fármacos testados em 2014, o número de dias necessários para ir abaixo do limiar de 1000 varroas revelou que o Apivar® requer uma média de 29 dias. Esta duração é, respectivamente, 23, 14 e 2 dias com Apilife Var®, Apistan® e MAQS®

Sublinho estes dados: para fazer regredir o número de varroas abaixo do limiar de 1000 o acaricida de acção mais lenta demora 29 dias (o Apivar) e o mais rápido atinge esse limiar em apenas 2 dias (o MAQS).

Estes dados são, na minha opinião, de grande utilidade quando a urgência de uma infestação nos exige a colocação de um acaricida de acção rápida, ou quando pelo contrário o contexto no qual efectuamos o tratamento não nos exige essa rapidez. Finalmente talvez nos ajude também a perceber que muitas das vezes se o tratamento não foi bem sucedido e a colónia acabou por colapsar, não foi por uma questão de resistência dos ácaros ao princípio activo do tratamento por nós escolhido, mas tão só porque chegámos demasiado tarde à corrida e com um cavalo lento, ainda que forte (será o caso do Apivar). Como costumamos dizer “cada coisa é para o que foi feita”.

fonte: http://ecbiz193.inmotionhosting.com/~nodglo5/wp-content/uploads/2016/04/FNOSAD-2014-study-high-quality.pdf

bayvarol: algumas reflexões

Pela primeira vez estou a utilizar o Bayvarol no tratamento da varroose. Vou tratando em parte de acordo com o avanço da cresta mas sobretudo de acordo com o que a minha experiência dos dois últimos anos me tem mostrado.

A minha experiência tem-me mostrado que aguardar até que tenha crestado todas as meia-alças e alças meleiras pode ter custos muito grandes no que diz respeito à infestação das colmeias pelo ácaro varroa. A explicação é simples e a conclusão mais simples ainda:

  1. Nos últimos dois anos tenho terminado a cresta dos meis-escuros (em geral as meladas da azinheira, carvalho e castanheiro) em meados de Setembro;
  2. Nas zonas onde tenho os apiários as rainhas começam a diminuir a postura cerca de dois meses antes desta data. O ratio número de varroas/cria operculada sobe enormente nestas 6 a 8 semanas entre meados/finais de Julho e meados de Setembro.
  3. Tenho encontrado nestes dois últimos anos nas colmeias que trato a partir de Setembro, e de acordo com o ritmo da cresta como referi atrás, algumas colmeias com um número muito significativo de abelhas com asas deformadas.
  4. A conclusão é clara: iniciei o tratamento tarde demais.

Lendo e relendo os documentos oficiais dos acaricidas que tenho utilizado (Apivar, Apistan e agora Bayvarol) assim como os estudos independentes realizados acerca dos resíduos destes acaricidas no mel e nas ceras, concluo que estava a ser mais papista que o papa.

Actualmente estou a antecipar os tratamentos cerca de 4 a 6 semanas. Procurando trabalhar num cenário ideal, é contudo a realidade que se impões e é ela que aos meus olhos dita as leis.

No caso em particular do Bayvarol, o fabricante refere que idealmente as tiras não devem ser utilizadas no pico de um fluxo de néctar mas que em casos de infestações severas pode ser utilizado em qualquer altura do ano e diz também e que nenhum intervalo de segurança existe no que respeita ao mel.

Relativamente aos famosos ácaros resistentes aos princípios activos espero continuar a não os encontrar. Para isso segui um conjunto de procedimentos que julgo que me ajudarão a atingir este fim. Não me esqueci de colocar as 4 tiras que o fabricante recomenda, não me esqueci de, nas colmeias com ninho e sobreninho, passar todos os quadros com criação para o ninho e colocar as tiras bem no meio destes quadros com muitas abelhas amas e criação para nascer, não me esqueci nas colmeias com a criação descentrada de ver onde estavam os quadros com criação para aí colocar as tiras, não me esqueci de só abrir os sacos com as tiras no exacto momento em que as colocava no interior das colmeias; espero também não me esquecer de dentro de 2 a 3 semanas ir verificar numa amostra significativa de colmeias se tudo está bem e se as tiras continuam a estar em contacto com um grande número de abelhas amas e inseridas no seio das zonas de criação.

Com estas precauções espero não esbarrar com os ácaros resistentes… dado que também não fui resistente ao maior trabalho que dá tratar adequadamente as colmeias espero de coração aberto que ainda haja alguma justiça no mundo e que o famigerado Bayvarol se mostre à altura do desafio.

Se assim for, e dado que já utilizei o Apivar e o Apistan com bons resultados, poderei dizer que no meu reino ainda não tenho varroas resistentes aos três sintéticos homologados no nosso país… poderei dizer para mim mesmo que sou um homem tocado pela fortuna… mas que dá uma trabalheira alcançá-la lá isso dá.

mudança do princípio activo do acaricida

Depois de 3 tratamentos consecutivos com Apivar (o princípio activo é o amitraz da família das amidinas), estou a tratar as colmeias crestadas com Bayvarol (o princípio activo é a flumetrina da família dos piretroides semi-sintéticos).

A minha estratégia na escolhas dos tratamentos é clara e eficaz até agora: efectuar um ciclo de 3 a 4 tratamentos com Apivar e depois interromper este ciclo com um acaricida que tenha o princípio activo de uma família diferente (o Apistan ou o Bayvarol).

Para além dos intervalos de segurança dos acaricidas acima referidos serem zero dias (lembro que o intervalo de segurança define o período de espera que deve decorre entre a última aplicação de um produto e a colheita) também as recentes análises ao mel nacional nos devem deixar tranquilos quanto à sua utilização.

O facto de não terem sido detectados acaricidas (cumafos, flumetrina e tau-Fluvalinato) nas amostras de mel nas diferentes regiões portuguesas poderá indicar que os apicultores cumprem as boas práticas apícolas. […] Para além do referido, os acaricidas estudados são compostos lipofílicos, podendo a baixa contaminação do mel com estas substâncias dever-se a esta característica. Em estudos realizados por Bogdanov, Kilchenmann & Imdorf (1999) foi determinada a ordem de lipofilicidade destas substâncias, os níveis de acaricidas encontrados nos vários produtos após tratamento diminuíram na ordem seguinte: cera > favos de mel >> alimento (açucar) ≥ mel, e em termos de lipofilicidade: flumetrina > fluvalinato ≥ cumafos.” in https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/4036/1/Residuos%20de%20Medicamentos%20Veterinarios%20em%20Mel.pdf

ácido oxálico vaporizado/sublimado: um tratamento (in)eficaz!!??

Sigo e intervenho no fórum norte-americano de apicultura Beesource. Posso dizer, com base no que ali leio, que os tratamentos com os vaporisadores/sublimadores de ácido oxálico estão na moda entre os apicultores norte-americanos de pequena e média dimensão.  Em Portugal, julgo que a utilização destes vaporizadores de ácido oxálico no controle da varroa está a dar ainda os primeiros passos. Tenho ideia que é muito reduzido o número de apicultores que os utiliza por cá. Importa, contudo, ir analisando as experiências dos que, lá fora, já utilizam este método para tirar-mos algumas conclusões. Até porque muitas das vezes, parece-me que as novidades neste campo, quando entram no nosso país, vêm envolvidas numa aura que leva a crer que este novo produto ou novo método de aplicação irá ser a solução de todos os nossos problemas. É uma característica muito nossa: do mais pesado pessimismo/depresssão ao mais despudorado optimismo/euforia vão 5 segundos!

Neste fórum apícola norte-americano as opiniões expressas em geral são positivas acerca da eficácia deste dispositivo/método, sobretudo nos estados a norte do país onde se assiste a uma paragem da postura da rainha durante o inverno. Contudo, há também relatos de infestações de varroa mal controlados após a utilização desta opção de tratamento.

Em baixo deixo um testemunho de um apicultor norte-americano acerca dos resultados que observou após a utilização do ácido oxálico sublimado.

O título diz tudo … Temos uma grande colmeia próspera. As abelhas estão a construir favo tão rápido que eu não sei o que fazer. A rainha está colocando ovos como uma louca. Lotes e lotes de criação saudável, favo, pólen, mel etc. De modo que é uma boa notícia!  Mas, nós também temos lutado com o temido ácaro varroa. O JRG veio e me ajudou [um amigo e mentor incrível]. Ele me mostrou uma percentagem muito pequena do vírus das asas deformadas num número muito pequeno de abelhas. Eu estou-lhe grato que todo o apiário não esteja infectado.

Eu tinha começado com a vaporização de ácido oxálico (AO) há três semanas numa base de intervalos de 5 dias. Vi 10-30 ácaros caindo por dia. Diminuí o intervalo para 4 dias.

Eu instalei duas tiras de Apivar por caixa [todos os dez quadros estavam cheios de abelhas]. De modo que coloquei em 3 caixas com 30 quadros um total de 6 tiras Apivar nesta colmeia forte. Eu verifiquei 24 horas após a instalação das tiras Apivar mais de 300 ácaros mortos por dia. Uau!!…  isso me deixa querendo saber sobre a eficácia da vaporização de AO …  

Aqui estão as minhas perguntas: Porque via apenas 10-30 ácaros mortos diariamente usando a vaporização de AO contra os mais de 300 ácaros mortos por dia usando o Apivar? Por que o vapor de AO não nos dá mais ácaros mortos? Existe alguma coisa que podemos fazer de diferente para garantir que não perdemos esta colmeia para os ácaros Varroa?  Obrigado,

Soar

Fonte: http://www.beesource.com/forums/showthread.php?322531-Wow!-I-am-noticing-a-big-difference-between-Apivar-amp-OA-vaporization-results-Why

Apêndice 1: a utilização de vaporizadores/sublimadores de ácido oxálico obriga a cuidadosas e apertadas medidas de protecção individual, nomeadamente a utilização de uma máscara adequada, para evitar os efeitos nocivos da inalação dos gases de ácido oxálico na saúde do aplicador/apicultor.

Muita prudência na escolha de uma máscara verdadeiramente protectora e mudar os filtros da mesma de forma regular, são os conselhos que deixo para que não prejudiquem a vossa saúde tentando manter as vossas abelhas saudáveis.

Apêndice 2: a utilização de vaporizadores de ácido oxálico contruídos artesanalmente pelos apicultores pode revelar-se uma grande desilusão por dois tipos de razões:

a) estes equipamentos, se mal calibrados, podem estar a queimar o ácido oxálico e não a sublimá-lo, retirando qualquer efeito positivo deste tratamento sobre as varroas;

b) a poupança alcançada com a sua construção caseira pode ser residual.

Apêndice 3: entre os apicultores que utilizam os vaporizadores de ácido oxálico não há consenso acerca do intervalo óptimo entre as diversas vaporizações: as opiniões variam de 3 dias de intervalo a 5-7 dias de intervalo. Mais um dos muitos temas apícolas em que 10 apicultores são capazes de gerar 12 opiniões diferentes e antagónicas.

definições, acaricidas e opções fundamentadas

  • o) Resíduos de medicamentos veterinários: substância farmacologicamente activa, tal como definida na alínea a) do artigo 1.o do Regulamento (CEE) n.o 2377/90, do Conselho, de 26 de Junho, e posteriores alterações, que prevê um procedimento comunitário para o estabelecimento de limites máximos de resíduos de medicamentos veterinários nos alimentos de origem animal;
  • p)  Limite máximo de resíduos (LMR): o teor máximo em resíduos, tal como definido na alínea b) do artigo 1.o do Regulamento (CEE) n.o 2377/90, do Conselho, de 26 de Junho, e posteriores alterações;
  • q)  Intervalo de segurança: período de tempo entre a última administração do medicamento veterinário ao animal, em condições normais de utilização, e a obtenção de alimentos provenientes desse animal, a fim de garantir que os mesmos não contêm resíduos em teor superior aos LMR estabelecidos em conformidade com o Regulamento (CEE) n.o 2377/90, do Conselho, de 26 de Junho, e posteriores alterações.

Fonte: Infarmed (http://ofporto.org/upload/documentos/595029-egime-juridico-dos-med-veterinarios.pdf)

Juntando as peças do puzle temos:

  • para o Apivar o intervalo de segurança é de zero dias e o LMR de amitraz (substância activa no Apivar) no mel é de 200 microgramas por Kg de mel;
  • para o Bayvarol o intervalo de segurança é de zero dias e o LMR de flumetrina (substância activa no Bayvarol) no mel não está definido pela UE;
  • para o Apistan o intervalo de segurança é de zero dias e o LMR de fluvalinato (substância activa no Apistan) no mel não está definido pela UE.

Sem fantasmas e sem alarmismos continuarei a tratar as minhas colmeias com os melhores tratamentos, os de mais garantida eficácia, os mais simples de utilizar, os homologados e os inócuos para a saúde dos meus clientes… ciente que é meu dever, minha obrigação, ouvir quem de facto merece ser ouvido, sobretudo neste aspecto em particular, para fazer opções fundamentadas e não embaladas por modas.

varroacidas e seus resíduos em produtos apícolas

Afirmei na abertura desta categorias o seguinte: “não considero que haja mel bom e mel menos bom, mais sendo esta classificação feita com base nos tratamentos utilizados. Todo o mel puro é bom até prova em contrário.” Senti necessidade de fazer esta afirmação porque infelizmente no nosso país, e não só, há apicultores que, de uma forma que eu considero irresponsável, mal informada e alarmista, tendem a associar a qualidade do mel ao tipo de tratamentos utilizados pelos apicultores no combate à varroa. Falam em resíduos no mel deixados por esses varroacidas, e chegam a levantar graves suspeitas da perigososidade que estes méis apresentam aos consumidores. No sumário em baixo podemos ver que as análises feitas na Alemanha a méis de colónias tratadas com acaricidas sintéticos, só detectaram vestígios de fluvalinato em 1% das amostras, e que a flumetrina e o amitraz não foram detectados. Refiro-me apenas a estes princípios activos porque são os únicos que estão presentes nas marcas dos tratamentos  homologadas como varroacidas no nosso país.

Sumário: “Em geral, a utilização de varroacidas nas colónias de abelhas deixa resíduos nos vários produtos das abelhas. Entre a variedade de varroacidas disponíveis, três ingredientes são comumente detectáveis no mel e cera de abelha: bromopropilato (Folbex VA), cumafos (Perizin, Asuntol) e fluvalinato (Apistan, Klartan, Mavrik). Estes produtos químicos são solúveis na gordura e não voláteis, e, portanto, acumulam-se a níveis de ppm como resíduos na cera de abelha e com vários anos de tratamento. Através do processo de difusão, estes ingredientes migram a partir do favo de cera para o mel lá armazenado. No mel alemão, o varroacida mais frequentemente encontrado é o cumafos (28%). O bromopropilato é detectável mas com baixa frequência (11%). Devido à sua alta força de ligação com a cera de abelha, a detecção fluvalinato é relativamente rara no mel (1%). Todos os resíduos foram encontrados a baixos níveis de ppb.  Outros ingredientes com um comportamento químico semelhante têm um papel sem importância enquanto resíduos no mel, cera e própolis, devido à quantidade muito baixa de ingredientes utilizados (acrinatrina, flumetrina) ou sua instabilidade (amitraz).”

Fonte: https://hal.inria.fr/file/index/docid/891581/filename/hal-00891581.pdf

Nota: ppm (partes por milhão) é a medida de concentração que se utiliza quando as soluções são muito diluídas.

Exemplo: Quando se afirma que a água poluída de um rio contém 5 ppm em massa de mercúrio significa que 1 g da água deste rio contém 5 µg (0,000005 gr) de mercúrio.

os tratamentos devem demorar pelo menos 16 dias

Sabemos que o ácaro da varroa não é afectado pelos acaricidas durante os 12 dias em que está  protegido pelo opérculo de cera que sela o alvéolo onde se desenvolve a nova abelha por nascer. Isto significa que, para ser eficaz, qualquer tratamento deve ter um tempo de acção que se estenda, pelo menos, por um período de 12 dias. Discutimos aqui os casos representados no Diag. 1.

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Diag. 1 — 12 dias medeiam a entrada e saída da varroa e sua descendência do alvéolo , período durante o qual o ácaro da varroa está totalmente protegido pela capa de cera dos tratamentos aplicados pelo apicultor. Em baixo são descritos 6 casos ( as linhas indicam a eficácia de quatro dias de cada aplicação).

  • Caso 1: O tratamento aplica-se apenas uma vez. O tratamento só é eficaz durante 4 dias, e quando ele termina não faz efeito sobre as varroas que já estavam protegidas pelos opérculos durante o período do tratamento. Estas varroas continuam vivas.
  • Caso 2: O tratamento aplica-se duas vezes. O tratamento mantém-se activo durante 8 dias. Como no caso 1, não afeta as varroas que se encontram protegidas pelos opérculos durante o período do tratamento.
  • Caso 3: O tratamento aplica-se três vezes. O tratamento mantém-se activo durante 12 dias, e desta vez quando a varroa emerge do alvéolo com a jovem abelhas morre. Isto mostra que o tratamento deve ser efectivo pelo menos 12 dias.
  • Caso 4: Aplicamos três vezes, mas por má sorte, foi uma hora depois da varroa entrar no alvéolo. Quando ela sai, já terminou a eficácia do terceiro tratamento, e por isso a varroa não é afetada, continua viva e a multiplicar-se.
  • Caso 5: Aplicamos o tratamento quatro vezes. Agora sim, apanhamos todas as varroas. Assim, todas as varroas desta colmeia entram em contacto com o produto acaricida em algum momento do tratamento. Fica demonstrado que é melhor que um tratamento tenha uma duração mínima de eficácia de 16 dias.
  • Caso 6: Se aplicamos duas vezes seguidas, fazemos um intervalo nos tratamentos e aplicamos novamente um terceiro tratamento corre-se o risco de vermos uma eficácia abaixo do desejado. Durante o intervalo sem tratamento, a varroa teve muito tempo para deixar o alvéolo onde se encontrava e voltar a entrar noutro alvéolo. Isso mostra que o tratamento deve ser continuado, e por razão nenhuma se deve fazer intervalos antes de passados 16 dias seguidos de tratamento.

Em resumo , para que um tratamento seja eficaz , deve manter-se e eficaz durante 16 dias, pelo menos, e não deve haver nenhum intervalo durante a sua aplicação. Para uma melhor eficácia podemos estender o tempo de tratamento para 24 dias.

Isto significa uma mínimos de 4 viagens e até 6 viagens muito rigorosamente calendarizadas para produtos que devam ser renovados a cada quatro dias, como é o caso de muitas formulações caseiras, especialmente com base no ácido fórmico e no ácido oxálico.

Em conclusã0, todos nós ao escolhermos a nossa estratégia de tratamentos devemos:

  • conhecer muito bem o ciclo reprodutivo e fase forética da varroa;
  • conhecer muito bem a estabilidade, durabilidade, condições e modo de actuação do acaricida que aplicamos;
  • desenhar de forma rigorosa o nosso calendário de tratamentos à luz destas variáveis;
  • ter boas garantias que temos a disponibilidade necessária para cumprir com esse calendário.

como tratar contra a varroa?

Entre muitas questões no mundo complexo da apicultura esta é das mais importantes e recorrentes nos dias de hoje: como tratar contra a varroa?

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Fig. 1 — Imagem ampliada do ácaro varroa destructor

Para a resposta à questão não há regras universais (que sejam válidas para todos os locais) e intemporais (que sejam válidas para todas as épocas). Como bons princípios, utilize um acaricida que é adequado às suas condições locais e ao momento em que pretende utilizá-lo, utilize-o de acordo com as instruções do fabricante e mantenha registos dos tratamentos que realiza (marca, lote, data de início e término do tratamento bem como resultado obtido).

Tendo em consideração os acaricidas homologados em Portugal para o controle da varroa, vale a pena ter em conta alguns aspetos bem estudados e consensuais na comunidade apícola internacional, a saber:

  • Evite o uso de acaricidas à base de piretróides (Apistan e Bayvarol, são as marcas homologadas em Portugal) se há alguma evidência credível de resistência aos seus princípios ativos nas suas colmeias ou em colmeias vizinhas.

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Fig. 2 — Jovem abelha com a língua estirada que morreu no momento do nascimento por causa da varroa 

  • Evite usar os acaricidas com formulações baseadas no timol (Apiguard, Thymovar e Apilife Var, são as marcas homologadas em Portugal), se as temperaturas, durante cerca de um mês, estiverem frequentemente abaixo dos 15ºC ou acima dos 30ºC.  Para que estes acaricidas funcionem de forma eficaz, a temperatura ideal situa-se entre os 15ºC e os 30ºC. Se usados com temperaturas abaixo dos 15ºC, muitos ácaros não serão atingidos; se utilizados acima dos 30ºC, as abelhas poderão abandonar a colmeia.

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Fig. 3 — Imagem de uma colónia que, por causa das baixas temperaturas, não contacta o suficiente com o tratamento à base de timol ali colocado 

  • Evite o gotejamento de ácido oxálico/Api-Bioxal se tem criação (operculada ou não) na colónia. O ácido oxálico é tóxico para a criação não operculada e, por outro lado, os ácaros na criação operculada vão escapar ilesos (cerca de 90% da população de ácaros encontra-se na criação operculada). Evite a vaporização/sublimação do ácido oxálico se a colónia tiver criação operculada ou se não estiver preparado para repetir rigorosamente o tratamento três a quatro vezes, com intervalos de cinco dias, para apanhar as varroas foréticas e as varroa emergentes.

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Fig. 4 — Imagem das varroas que se multiplicam debaixo dos opérculos na criação operculada

  • Esteja ciente de que alguns acaricidas, como o ácido fórmico ou o timol, podem inibir a postura da rainha e podem aumentar a mortalidade das jovens larvas em cerca de 25% (caso do ácido fórmico presente no MAQS, que é a marca homologada em Portugal). Evite estes ingredientes quando é crucial que a colónia aumente o número de abelhas novas para a sua sobrevivência, cenário que se aplica especialmente ao período outono-inverno, durante o qual as colónias dependem do nascimento destas abelhas para chegarem em boas condições à primavera seguinte.

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Fig. 5 — Quadro com criação em mosaico, sinal de  uma elevada mortalidade de larvas 

  • Não reduza as doses de tratamento ou o seu tempo de aplicação, pois que os tratamentos parciais são só parcialmente eficazes. Este procedimento errado é também uma ótima maneira de selecionar para as varroas resistentes. Coloque os tratamentos exatamente como o fabricante preconiza, mesmo que isso signifique um pouco mais de trabalho e mais alguma demora. Se eliminarmos uma porção baixa de varroas tal irá obrigar-nos a tratar em épocas menos convenientes mais adiante e, pior, irá contribuir para que haja cada vez mais abelhas doentes. Será mais ou menos como se nós tivéssemos um ácaro do tamanho de um gato nas nossas costas a sugar-nos uma parte do nosso sangue todos os dias. Estas varroas vão continuar a ferir as abelhas, a alimentar-se da sua hemolinfa e a transmitir virús muito perniciosos entre elas.

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Fig. 6 — Abelhas doentes por causa das varroas que se alimentam da sua hemolinfa dia após dia

Pelo exposto, não compreendo e também não acredito na vantagem de se fazerem tratamentos que só eliminam as varroas foréticas. Julgo que servirá para melhor compreensão a seguinte imagem: quando pretendo desinfetar as mãos, devo lavar bem as duas e não apenas uma.

Actualização: na altura em que este post foi escrito ainda não se tinha verificado/confirmado que o ácaro varroa se alimenta predominantemente do orgão corpo gordo. Neste momento, decorrente desta descoberta, e pela importância do corpo gordo (orgão equivalente ao nosso fígado) no mecanismo imunitário, na desintoxicação, e outras funções… em suma na vitalidade global das abelhas, entende-se que os ácaros na sua fase “forética” são mais prejudiciais do que se supunha.

aluen CAP para quando em Portugal?

Aluen Cap é um novo tratamento acaricida, formulado com ácido oxálico e desenvolvido por uma cooperativa de apicultores argentinos em estreita ligação com a Universidade local. Terei lido acerca deste novo tratamento há cerca de um ano. A propósito de uma questão do Bernardino, decidi fazer uma referência a este tratamento, que me parece muito promissor. Munido desta informação cada um de nós poderá falar do mesmo junto da sua Associação de Apicultores e estas, por sua vez, poderão fazer chegar os nossos anseios junto dos técnicos da DGAV, para que possam analisar a pertinência de iniciar o seu processo de homologação em Portugal, caso confirmem todas as características referidas pelos seus inventores e que transcrevo/traduzo em baixo.

“Aluen CAP” é um novo acaricida orgânico para combater a varroa, que elimina a necessidade de aplicação de produtos sintéticos, sem perder o potencial de produção. O tratamento, que atinge mais de 95% de eficácia e pode ser usado por décadas, foi recentemente aprovado pelo Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Alimentar (SENASA) para a sua produção e distribuição.

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Fig. 1 — Rótulo/logotipo actual do acaricida Aluen CAP

O Dr. Elian Tourn observa: “o Aluen CAP é a única formulação acaricida orgânica do mundo que é eficaz em colmeias com grande desenvolvimento da criação e sem restrições ambientais”. Além do mais, indica que a sua utilização não exige que as abelhas o consumam, evitando a sua intoxicação; reduz de cinco para uma as visitas necessárias para a sua aplicação, reduzindo em 20% o consumo de combustível fóssil em apicultura.

Como funciona?

O tratamento que acaba de ser aprovado pelo SENASA, é aplicado por meio de tiras de celulose de libertação lenta, impregnadas com uma solução acaricida à base de ácido oxálico. Essas tiras devem ser colocados entre os quadros com criação e deixam-se ficar durante 42 dias.

Resumo Técnico do tratamento

  • Requer uma única aplicação e a eficiência é superior a 95%, mesmo em colónias com muita criação;
  • É orgânico e não contamina o mel, mesmo que seja usado durante a melada;
  • Não gera resistência, pois é uma molécula (ácido oxálico) naturalmente presente em todos os seres vivos;
  • Não tem restrições ambientais na sua aplicação. O produto foi testado na Patagónia, no Litoral, Cuyo e nas Pampas húmidas e semi-áridas;
  • Não interfere no desenvolvimento da criação e/ou da abelha adulta.”

Fonte: http://inta.gob.ar/noticias/apicultura-aluen-cap-fue-aprobado-por-senasa

sumo de limão: um verdadeiro acaricida?

Ainda não há muitos dias vi, pela primeira vez, um vídeo no youtube onde um apicultor fazia a promoção da utilização do sumo de limão (ácido cítrico) no combate à varroa. Afirma que este tratamento na primavera e/ou no verão controla a varroa. Fiquei muito surpreendido que a simples aplicação do sumo de limão possa ser suficiente para controlar a varroa ao longo de um ano. A minha dúvida prende-se com o facto de na primavera/verão, na generalidade dos apiários do nosso país, haver muita criação operculada no ninho. Sabemos que, nestas condições, 90% das varroas estão abrigadas e protegidas dentro dos alvéolos operculados. Como pode a aplicação de sumo de limão permitir que a colónia siga saudável neste período e, em especial, entrar com níveis baixos de varroa no outono? Há algo que me está a escapar ou então a informação dada nesse vídeo é muito insuficiente. Se algo me escapa tenho a certeza que algum dos companheiros me irá elucidar. Se a informação do referido vídeo é incompleta é lamentável, porque com mais de 5500 visualizações (à data do meu visionamento),  e assumindo que apenas 1% dos que o viram decidiram seguir estritamente o que lá é recomendado, significa que mais de 50 apicultores poderão ter posto em risco as suas colónias de abelhas. Eu pessoalmente conheço um companheiro, que por ter sido crente, perdeu até agora 8 das 13 colmeias que possuía com os tratamentos com sumo de limão.

Tanto quanto sei os tratamentos com outros ácidos orgânicos obrigam a 3 a 4 aplicações intervaladas por 4-7 dias. E são ácidos com um efeito acaricida muito superior ao do ácido cítrico a acreditar em vários estudos devidamente controlados. Em baixo ficam alguns dados recolhidos por esses estudos.

Vários ácidos orgânicos que têm mostrado atividade acaricida têm sido utilizados na luta contra a varroa destructor. Os ácidos mais eficazes, desde que em concentrações não prejudiciais para as abelhas, são o ácido oxálico e o ácido fórmico.

O ácido cítrico tem actividade acaricida contra a varroa, mas em muito menor grau do que o ácido oxálico. Milani (2001) identificou no laboratório que uma dose letal de ácido citrico para varroa necessita de ser três vezes superior à de ácido oxálico e, especialmente, o ácido cítrico apresenta uma grande variabilidade na eficácia. Highes et al. (2006), comparando diversas soluções de açúcar com vários ácidos orgânicos, incluindo o cítrico, concluíram que o único ácido orgânico com uma eficácia apreciável, pelo método de gotejamento, foi o ácido oxálico. A solução de ácido cítrico, apesar de ter um pH menor do que a solução de ácido oxálico não induziu uma queda de varroa significativamente superior à das colónias não tratadas, o que sugere que não é só a acidez mas também outros mecanismos metabólicos os que podem estar na base de maior susceptibilidade da varroa ao ácido oxálico.

Em alguns países europeus é autorizado a utilização do produto austríaco Hive Clean enquanto acaricida. Este produto contém ácido cítrico e vários outros ingredientes, como o ácido oxálico. A sua eficácia média é semelhante ao de uma solução normal de açúcar com ácido oxálico (Howis e Nowakowski de 2009). Podemos, portanto, pensar que o ácido cítrico não acrescenta nada ao Hive Clean.

Há uns anos cheguei a comprar uma garrafa de Hive Clean, que acabei por não utilizar depois de alguns companheiros se terem mostrado muito insatisfeitos com os resultados que obtiveram com a sua utilização.

Com base nestes dados, e neste momento em que escrevo, para mim é pouco crível que o ácido cítrico possa ser considerada uma ferramenta adicional na luta contra a varroa. Por maioria de razão digo o mesmo em relação ao sumo de limão, dado que nestes não é possível uma dosagem precisa de ácido cítrico.

Ressaltamos, a concluir, que não existe em Portugal, qualquer produto autorizado à base de ácido cítrico e, portanto, a legislação dos acaricidas existente no nosso país não permite a sua administração nas colmeias para tratar a infestação pela varroa. Quando muito podemos dar-lho como uma bebida refrescante… juntamente com um acaricida de créditos comprovados!

Fontes consultadas:

  • Higes, M., R. Martin Hernandez, and A. Meana. 2006. “Effectiveness of Organic Acids in Varroa (Acarina: Varroidae) Mite Control.” Revista Ibérica de Parasitología 66 (1-4): 3–7.
  • Howis, Maciej, and Piotr Nowakowski. 2009. “Varroa Destructor Removal Efficiency Using Beevital Hive Clean Preparation.” Journal of Apicultural Science 53 (2): 15–20.
  • Milani, Norberto. 2001. “Activity of Oxalic and Citric Acids on the Mite Varroa Destructor in Laboratory Assays.” Apidologie 32 (2): 127–38.