Tendo optado pelo ácido oxálico em detrimento do ácido fórmico para realizar o tratamento intermédio das minhas colónias (ver aqui a razão mais forte), esta publicação visa esmiuçar com bom detalhe uma opção possível para tratar colónias com muita criação presente, garantindo a qualidade do mel e eficácia satisfatória: as tiras de cartão com ácido oxálico misturado em glicerina alimentar.
Como sabemos o ácido oxálico pode ser utilizado em tratamentos flash pelo método de gotejamento e por sublimação. Contudo estes dois modos de tratamento são muito pouco eficazes em enxames com muita criação operculada, como é o caso das minhas colónias nos meses de abril ou maio, os meses em que tenciono efectuar este tratamento intermédio. Neste contexto as tiras de cartão impregnadas de uma mistura de glicerina e ácido oxálico têm-se mostrado razoavelmente eficazes e são uma opção a considerar. Estas tiras, de libertação lenta do ácido oxálico, permitem atingir as varroas ao longo de um ciclo ou mais de criação, à medida que vão ficando expostas de acordo com o ritmo a que as novas abelhas vão emergindo dos alvéolos operculados onde foram criadas.
Em baixo deixo uma formulação para se fazerem estas tiras em casa. Esta formulação é copiada de um dossier técnico apícola publicado por instituições apícolas francesas idóneas (ver aqui o link para o dossier). É inabitual eu dar receitas caseiras de acaricidas (esta é a segunda vez que o faço), contudo abro esta excepção considerando a completa ausência na lista dos medicamentos homologados de um tratamento de longa duração, que não deixe resíduos preocupantes no mel e que apresente uma boa eficácia média na presença de criação operculada. Chamo a atenção para o facto que o ácido oxálico é um ácido muito forte e que deve ser manipulado com toda a precaução e com os EPI adequados. Finalmente, afirmar que pretendo apenas informar os apicultores que seguem este blog, como outros já fizeram em língua francesa ou espanhola, em dossiers técnicos apícolas, publicados por instituições que reputo de responsáveis e credíveis, que estão atentas aos problemas efectivos dos apicultores, que apresentam propostas de solução para necessidades reais sentida por muitos de nós, neste caso e em concreto a necessidade de controlar a taxa de infestação durante a temporada de fluxo.
“Preparação: As tiras são feitas de tiras de cartão imersas numa mistura de glicerina (65%) e ácido oxálico (35%) por 24 horas (relação peso/peso).
Exemplo para 1000g de solução de impregnação:
“Para 50 tiras de cartão, utilize 350g de ácido oxálico e 650g de glicerina de qualidade alimentar. A glicerina é aquecida a 60°C e então o ácido oxálico é gradualmente misturado com a glicerina quente, mexendo levemente. As tiras são imersas na mistura aquecida a 40-50°C, depois deixadas à temperatura ambiente durante 24 horas (uma tira absorve entre 18 e 21 g de solução). As tiras devem ser drenadas para remover o excesso de mistura (não devem pingar na colmeia) e devem ser armazenadas em sacos herméticos longe do calor e da luz à temperatura ambiente.
Aplicação: São colocadas 4 tiras por colmeia no ninho (nos espaços entre quadros). São deixados nas colónias por 21 dias para abranger um ciclo de criação e renovadas uma vez ao final de 21 dias.
Resultados: As tiras de ácido oxalico foram aplicadas no final do verão em diferentes apiários durante 42 dias, com renovação a meio do tratamento, aos 21 dias (LAOx2 no quadro em baixo) ou sem renovação a meio do tratamento (LAO).

Conclusão: As tiras preparadas em casa não são tão eficazes como as tiras de AluenCap, contudo apresentam resultados interessantes ainda que com eficácia heterogénea, dependendo dos apiários, das colónias no mesmo apiário e, sobretudo, do ano**. A renovação das tiras a meio do tratamento (21 dias) proporciona um ganho significativo na eficácia e garante uma melhor homogeneidade de resultados. […] a renovação das tiras é realmente um ponto a não ser descurado na utilização das tiras de ácido oxálico porque permite obter melhores resultados quer para as tiras preparadas quer para o Aluen CAP®. Para as tiras preparadas, essa renovação das tiras no meio do tratamento é quase obrigatória.”
** os autores do relatório destacam a heterogeneidade de resultados inter-anuais. As razões não estão ainda devidamente identificadas. A minha hipótese é esta: a humidade relativa (HR) na altura da realização deste tipo de tratamento influi na eficácia — HR mais elevada menor eficácia; HR menos elevada maior eficácia.
fonte: http://w3.avignon.inra.fr/lavandes/biosp/DocTechADA/cahierVarroaN1_2019.pdf
Nota: nesta publicação fiz a primeira menção a uma formulação caseira, publicada num reputado blog apícola espanhol, e também relativa à mistura de ácido oxálico com glicerina em suportes celulósicos.