A Agência Europeia de Avaliação de Produtos Médico-Veterinários estabeleceu desde há décadas o Limite Máximo de Resíduos (LMR) de amitraz e seus metabolitos por kg de mel em 200 microgramas (µg). Vejamos como se estabelece e calcula este LMR em três passos e que passo a descrever de forma sumária.
1) A dose de amitraz e seus metabolitos sem efeito em animais é avaliada a partir de estudos toxicológicos. Define-se este nível abaixo do qual nenhum estudo demonstrou ter efeitos na saúde.
2) A Ingestão Diária Aceitável é calculada com uma margem de segurança da ordem de 100 a 1000 inferior à dose observada no ponto 1) de resíduos que o consumidor pode ingerir todos os dias durante toda a sua vida sem pôr em perigo a sua saúde.
3) O Limite Máximo de Resíduos (LMR) é determinado pelo consumo médio diário de mel estimado*. Para cada tipo de alimento, um LMR é definido para que o indivíduo humano consumindo quantidades usuais desses alimentos nunca exceda esta ingestão diária cumulativa aceitável calculada no ponto 2).
fonte: http://gds19.org/Docs/PDF/Apiculture/Fiches/Fiche27_MedicamentApicoleReglementation.pdf
Nota: *A Agência Europeia de Avaliação de Produtos Médico-Veterinários estimou um consumo médio diário de 20gr de mel para calcular o LMR , que corresponde a um consumo anual de 7,3 kgs por indivíduo. Tanto quanto sei, o consumo médio de mel per capita no nosso país ronda os 700-800 grs./ano.
fonte: https://www.ema.europa.eu/en/documents/scientific-guideline/note-guidance-risk-analysis-approach-residues-veterinary-medicinal-products-food-animal-origin_en.pdf
Por outras palavras, os 200 µg de amitraz e seus produtos de degradação (metabolitos) por kg de mel são estabelecidos com um margem de segurança de pelo menos 100 vezes inferior à quantidade que todos os estudos reconhecidos de toxicologia encontraram não ter qualquer efeitos adversos na saúde de indivíduos humanos. Como este LMR foi calculado para um consumo médio diário de 20gr. de mel, o consumidor teria de consumir 7,3 kgs/ano de mel para atingir este limiar. Sabemos que este limiar foi calculado numa base 100 a 1000 vezes inferior ao nível em que deixam de se observar efeitos adversos na saúde. Portanto e concluindo, apenas os consumidores que consumam mais de 730 kgs/ano de mel poderão ter alguns efeitos negativos na sua saúde! Onde estão esses hiper-consumidores de mel?
A terminar relembro o que publiquei aqui, com este esclarecimento de Bruce N. Ames, um eminente toxicologista: “Possíveis riscos de cancro decorrentes de resíduos de pesticidas nos alimentos têm sido muito discutidos e debatidos com afinco na literatura científica, na imprensa popular, na arena política e nos tribunais. Pesquisas de opinião do consumidor indicam que grande parte do público dos EUA acredita que os resíduos de pesticidas nos alimentos são um sério risco de cancro (Opinion Research Corporation, 1990). Em contraste, estudos epidemiológicos indicam que os principais fatores de risco de cancro são o fumo do tabaco, desequilíbrios alimentares, hormonas endógenas e inflamação (por exemplo, infecções crónicas). Outros fatores importantes incluem exposição intensa ao sol, falta de atividade física e consumo excessivo de álcool“(Ames et al., 1995).