varroose: estudo de um caso

Nos últimos 6 meses tenho acompanhado com uma certa regularidade o maneio levado a cabo por um jovem e amigo apicultor de Coimbra. Entre outros aspectos como a defesa das suas colónias frente à vespa velutina, é o seu maneio para o controlo da varoose que suscita as linhas desta publicação.

Do que sei, em 18 de Julho tratou as suas colónias com Amicel quando a taxa de infestação atingia os 8% em amostras de 300 abelhas adultas. Até esta data tinha efectuado dois tratamentos, um em fevereiro e outro maio. Em finais de agosto uma nova avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas indicava uma infestação a rondar 1%. Para se verificar esta evolução de 8% para 1%, e utilizando o simulador do Randy Oliver, a eficácia deste tratamento com Amicel rondou os 95%.

8% de infestação no terreno é equivalente a 24 varroas numa amostra de 300 abelhas. Para se assistir à redução de 24 varroas para cerca de 3 varroas em amostras de 300 abelhas, o simulador indica ser necessário que o tratamento de Amicel utilizado atinja uma eficácia próxima de 95%.

Nada mais fazendo, estas colónias iriam terminar o ano com taxas de infestação a rondar 13% (40 varroas em amostras de 300 abelhas adultas), a colapsarem ou próximo disso.

Mas este jovem e competente apicultor a partir dessa data fez mais dois tratamentos: um no final de agosto com ácido oxálico gotejado e outro no final de outubro com tiras de libertação lenta de ácido oxálico misturado em glicerina. Medida a taxa de infestação pelo procedimento habitual, em 22 de dezembro era inferior a 0,3%, isto é menos de 1 varroa em 300 abelhas.

Partindo de 3 varroas por amostra em finais de agosto para alcançar zero varroas por cada amostra de 300 abelhas adultas em 22 de dezembro a eficácia de cada um dos dois tratamentos de ácido oxálico aproximou-se dos 95%.

No final do ano este apicultor amigo e competente realizou 5 tratamentos e seguiu de perto a filosofia de Randy Oliver nestes meses finais do ano, assim como a de Russell Heitkman. Este último, apicultor californiano, com a família há 40 anos no sector, produz cerca de 90 mil rainhas/ano e trabalha +3000 colónias, tem como princípio não esperar que a taxa de infestação chegue aos 3%, para ele um limiar já demasiado alto e com riscos de os tratamentos falharem; prefere tratar para ter os níveis de infestação abaixo ou igual a 1%: trata não para fazer descer os níveis de infestação mas para evitar que eles subam; não confia cegamente em nenhum medicamento, acredita neles todos, na sua utilização frequente e diversificada**.

Como já escrevi “Assim como para a prevenção da enxameação é necessário andar um mês à frente das colónias, também o controlo da varroose nos obriga a estar, não um, mas dois meses à sua frente.

*https://scientificbeekeeping.com/oxalic-acid-treatment-table/

**https://honeybeehealthcoalition.org/wp-content/uploads/2021/06/Commercial_Beekeeping_060621.pdf

6 comentários em “varroose: estudo de um caso”

  1. Boa tarde, já que fala em Varroa neste artigo gostaria de perguntar o que se costuma fazer em comeias que têm sobreninho neste momento. É suposto por duas tiras apivar no ninho de baixo e duas no ninho de cima?

    1. Bom dia, André! O fabricante recomenda colocar uma tira de Apivar por cada conjunto de 5 quadros cobertos de abelhas. Assim, num ninho em que as abelhas cobrem 10 quadros, o fabricante recomenda a colocação de duas tiras. Nas colmeias com sobreninho em que as abelhas cobrem 15 quadros (10 do ninho e 5 do sobreninho), e pelo mesmo príncipio, deverão ser colocadas 3 tiras (duas no ninho e uma no sobreninho), ou, se cobrirem os 20 quadros do ninho e sobreninho, 4 tiras (duas no ninho e outras duas no sobreninho. Bom ano apícola.

  2. Caro Eduardo

    Seria deveras interessante saber que produtos usou o seu amigo e apicultor nos dois tratamentos que efectuou no período compreendido entre Janeiro e Julho.
    Saudações apicolas.
    Peres

    1. Bom dia, Francisco! Na minha opinião é muito mais interessante conhecer os detalhes do período pós-julho, período em que o meu amigo começou efectivamente a controlar a varroose. Mais que os produtos utilizados, interessa relatar os novos procedimentos, isto é as testagens frequentes, os timings dos tratamentos, a utilização do simulador do Randy, em suma um conjunto de dados e ferramentas de diagnóstico e previsão que o meu amigo passou a utilizar no auxílio à tomada de decisão. No período anterior a julho o meu amigo não o fazia e como é evidente não estava a conseguir manter a varroose debaixo de controlo. Acho que todos nós já fizemos um doutoramento sobre a incapacidade de manter a varroose controlada, não me parece ser necessário dar muitas mais explicações sobre este tipo de maneio mal sucedido. Necessário é aprender a fazer o seu controlo! Dar exemplos concretos daqueles que o estão a conseguir parece-me uma boa ferramenta pedagógica. Um abraço e um ano apícola bem sucedido!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.