Por cá, nos dois apiários a 600 m de altitude, neste terço final do inverno — entre meados de fevereiro e até a primavera entrar — as colónias mais fortes crescem um a dois quadros de abelhas por semana até atingirem o pico da sua população. Os factores desta aceleração repetem-se ano após ano: temperaturas máximas frequentemente entre os 14-20ºC, pólen abundante e de qualidade num campo farto, bom estado sanitário das colónias e rainhas de qualidade produzidas organicamente na época adequada — a da enxameação reprodutiva.
O Pedro Miguel, um dos meus clientes com quem falo regularmente, tem o bom hábito de me fazer perguntas pertinentes e pragmáticas. Há poucos dias questionava-me acerca da razão de preferir colocar sobreninhos/alças nesta altura do ano em detrimento das meias-alças. A resposta sumária é porque neste período a principal produção das minhas colónias não é mel… a principal produção é abelhas— o fluxo de néctar é ainda fraco e serve apenas para o seu consumo. Neste período as colónias mais desenvolvidas produzem até 12 a 13 quadros de criação, considerando os modelos que uso. Ao colocar uma alça a servir de sobreninho atinjo melhor os dois propósitos principais do momento: a prevenção da enxameação e a produção de novos enxames. As meias-alças serão colocadas mais adiante, quando se iniciar o fluxo do rosmaninho neste território.
A outra questão que o Pedro me colocou tem a ver com os critérios que utilizo para escolher as colónias onde colocar os sobreninhos. Por regra escolho colónias com 7 ou mais quadros com criação.
Caso 1)
Caso 2)
Notas:
- Sugiro esta publicação para aprofundamento da compreensão do ritmo de crescimento populacional de uma colónia nesta altura do ano.
- Um agradecimento ao Pedro Miguel, não fosse a sua curiosidade e não teria feito esta publicação como a fiz.
- Este trabalho no campo foi realizado entre as 11h00 e as 13h30. Depois de chegar a casa, comer qualquer coisa rapidamente, sentei-me à secretária e liguei o computador para assistir à primeira sessão on-line do Curso de Apicultura coordenado pelo Prof. Paulo Russo de Almeida, da UTAD. O Paulo há uns tempos atrás, sabendo meu interesse pelo processo de construção do conhecimento pelo método científico desafiou-me a assistir a esta primeira sessão onde iria abordar o tema. Já tive oportunidade de lhe agradecer o convite e volto a fazê-lo aqui. As cerca de 4 horas de sessão passaram a voar por diversas razões, das quais destaco estas: a excelente relação pedagógica que o Paulo estabelece —intercalando equilibradamente o método expositivo com o método interrogativo —; o rigor da linguagem utilizada lado a lado com o enorme conhecimento e domínio dos temas tanto no plano teórico como no plano prático; os espaços frequentes de diálogo que abre e o aproveitamento dos casos trazidos pelos formandos para os integrar devidamente nos conteúdos da sessão; o tempo ainda para as notas de humor que ajudam a fortalecer os vínculos relacionais entre todos. Entre outros aspectos, destaco estes. Termino dizendo que no âmbito da minha licenciatura e mestrado tive alguns muito bons professores. Não tive o Paulo como professor, mas gostaria de o ter tido. É de formação com esta qualidade que pensava quando fiz esta publicação.