Na sequência desta situação levei os núcleos formados para outro apiário. Neste outro apiário tinha por lá dois núcleos onde a introdução de rainha virgem em gaiola não resultou. Neste contexto decidi meter mãos à obra para maximizar os recursos disponíveis do momento, e ensaiar uma segunda oportunidade com estes núcleos, fazendo a introdução de mestreiros pela técnica de enxertia.
Estes são os recursos disponíveis: mestreiros retirados dos núcleos transumados onde já andavam virgens em joviais correrias.
Uma consideração acerca da viabilidade destes mestreiros: tenho verificado ao longo da minha experiência, que uma parte importante dos mestreiros que tenho encontrado fechados nos quadros, e isto após a emergência das rainhas virgens, depois de analisados a olho contém rainhas aparentemente mal-formadas. Sendo o caso há uma boa probabilida de ter recortado mestreiros inviáveis. Mas perdido por 100 perdido por 1000, e procurei seleccionar os que me pareceram viáveis e procedi ao seu recorte o mais cuidadosamente que me foi possível. Feito isso coloquei-os nos referidos núcleos, pendurados por um palito, entre dois quadros.
A enxertia foi realizada no dia 17 e ontem 19, entre outras tarefas, fui ver o avanço desta situação.
Procedi à inspecção o mais rapidamente que consegui e tomei nota que os sinais preliminares são muito animadores. Primeiro, encontrei os mestreiros rotos pelo fundo. Segundo, a forma certinha como os fundos foram recortados indicia que foi feito pelas rainhas virgens no momento da sua emergência.
Neste momento a minha apicultura serve-me não só como a principal fonte de rendimento mas também como um inesgotável campo de pesquisa pessoal e de teste de algumas ideias feitas. Este mundo das abelhas, ainda cheio de segredos, co-habita com tantos ou mais mitos acerca dele. Por exemplo, assim como já vi inúmeras vezes que a primeira rainha virgem a nascer não elimina as suas irmãs rivais, coloco para mim a questão se tal se deve à simultaneidade com que nascem ou se a somar a isso se deve também à defesa destes mestreiros por parte das abelhas, que repelem as tentativas de destruição dos mesmos por parte das primeiras virgens a nascer. No caso vertente, se nestes dois núcleos, que já não têm possibilidade de criarem a sua rainha pelo tempo que já levam orfanados, como vou colocar quadro nenhum com ovos/larvas jovens, alguma rainha fecundada que venha a surgir só poderá ter tido origem num destes mestreiros rotos.
Se num destes dois núcleos por lá aparecer uma rainha fecundada a tese de que as primeiras rainhas a emergirem matam as suas rivais ainda no interior dos mestreiros se tiverem tempo para o fazer fica difícil de sustentar. Em sentido contrário, a tese não refutada é que nesta situação específica é a vontade/o instinto colectivo das abelhas que prevalece, expresso na defesa destes mestreiros mais tardios às investidas das rainhas virgens. E não será (quase) sempre assim no mundo secreto das abelhas: a vontade do colectivo a sobrepor-se à vontade do indivíduo?