Em baixo deixo o testemunho, em resposta à minha solicitação, que o meu amigo Rui Martins, apicultor com apiários no distrito da Guarda, enviou no passado dia 27 de janeiro, acerca da sua experiência no combate ao varroa. Na conversa que tivemos lembro-me de lhe referir que seria importante este testemunho para sensibilizar outros companheiros, com apiários em territórios com características edafo-climáticas semelhantes às nossas, e não esqueço a sua imediata e generosa disponibilidade para o fazer.
“Há uns dias atrás o meu amigo José Eduardo lançou-me o desafio de escrever um texto para o blog “Abelhas à Beira” sobre o calendário da aplicação dos tratamentos contra a varroose.
Eu e o meu irmão entrámos no mundo da apicultura em 2016 quando nos inscrevemos num curso de iniciação à apicultura na Lousamel. Até lá, não tínhamos tido qualquer contacto com esta realidade.
A nossa aventura começou no ano de 2017 quando compramos os primeiros enxames. Atualmente temos mais de 100 colónias. Mas não foi fácil chegar até aqui. Cometemos muitos erros, apesar da boa formação inicial que tivemos e com a leitura de livros e informação veiculada em sítios da internet (já há vários anos que acompanhamos o blog “Abelhas à Beira”). Também contámos com ajuda e partilha de experiências de apicultores que fomos conhecendo nesta caminhada.
Deparámo-nos desde o início da atividade apícola com grandes perdas invernais de colónias. Inexplicavelmente algumas colmeias ficavam vazias e noutras as abelhas morriam de “frio” em pequenos cachos. Informo que os nossos apiários localizam-se a altitudes que variam entre os 600 m e os 900 m, na zona da Beira Interior. Mas o verdadeiro assassino das colónias tem pelo nome Varroa destructor. Sempre fizemos dois tratamentos um no fim do Inverno (início de março) e o outro no início do Outono (início de Outubro) / fim do Verão (Setembro). O resultado foi catastrófico, todos os anos tivemos perdas anuais superiores a 30 %. Durante este período usámos dois medicamentos diferentes e o resultado foi sempre o mesmo.
Na comunidade apícola não há um consenso, nem relativamente ao medicamento, nem em relação ao timing do tratamento contra a varroose. Este ano até à data as perdas invernais são de apenas 2,9 % e a maioria das colónias estão fortes. O que mudou? Já tínhamos conhecimento da importância dos timings na colocação do tratamento ao lermos as publicações do José Eduardo no blog “Abelhas à Beira” e em conversas informais, onde este alertava para a colocação atempada do tratamento (1º tratamento em início de fevereiro/fim de janeiro e o 2ª tratamento no início de agosto) e a sua duração (10 a 12 semanas). Este ano decidimos seguir os conselhos do José Eduardo e de outros apicultores da região que já praticam esta metodologia e como já mencionei anteriormente a taxa de sucesso do tratamento aumentou significativamente. Já agora, o princípio ativo do medicamento que usámos é o amitraz.
O tema da sanidade apícola é muito complexo e depende de várias variáveis: da genética das abelhas (comportamento higiénico), do maneio, da nutrição das abelhas (floração variada), etc. Não podemos, assim, reduzir este assunto apenas ao tratamento fitofarmacêutico. Mas enfatizo a importância de se tratar a varroose com medicamentos homologados nas alturas certas e com a duração adequada.“
Nota: relacionado com o testemunho do meu amigo Rui Martins sugiro a leitura desta publicação.