Este inverno caracterizou-se, até à data, por uma semana e meia com temperaturas anormalmente baixas um pouco por todo o lado do nosso território continental.
Como todos os anos, também este ano me morreram colónias de abelha neste período de inverno já decorrido. Até ao momento a percentagem de mortalidade é mais elevada que noutros invernos. Seria humano e expectável que culpasse o frio anormal daquela semana e meia pela morte destas colónias. Contudo este tipo de reflexão não promove um bom e completo entendimento do processo da morte das minhas colónias. E só o bom e completo entendimento me coloca no ponto de partida adequado para evitar que o próximo inverno, que deverá caracterizar-se novamente por tempo frio, me venha a matar tantas ou mais colónias.
Como em todos os fenómenos letais podemos e devemos distinguir os factores precipitantes e os factores predisponentes. Os primeiros dizem respeito aos factores mais imediatos e próximos do fenómeno letal e os segundos respeitam aos factores mais distantes que predispuseram o organismo para uma fragilidade e quebra de resistência e capacidade para responder à mais pequena adversidade ambiental, os factores precipitantes mencionados em cima.
Não tenho dúvida que a morte das minhas colónias nestas duas a três semanas tiveram no frio um factor precipitante. Contudo o frio, por si só, não mata uma colónia com um mínimo de dois a três quadros de abelhas saudáveis na minha zona, uma das mais frias do país. O frio sim precipita, isto é, antecipa a morte de colónias muito fracas, aquelas com 500 abelhas que mal cobrem a face de um quadro. Como não consigo controlar o frio que faz no inverno, a alternativa que tenho é controlar melhor a dimensão dos enxames que entram no inverno.
Esta alternativa passa pela adequada e atempada minimização dos factores predisponentes, habitualmente os mais decisivos na morte das colónias no período invernal. Sei para mim três coisas que me garantem uma mortalidade invernal muito baixa: os enxames entram tão mais fortes no inverno quanto mais eficaz tiver sido o tratamento contra a varroose aplicado no verão (um eventual tratamento de inverno não salva as abelhas de inverno, salva as abelhas da primavera); as reservas alimentares devem ser suficientes e de boa qualidade; a rainha, nova ou menos nova, deve apresentar vitalidade e estar em sintonia com os inputs que recebe do exterior por intermédio das suas filhas.
Num dos territórios mais frios do país nunca me morreu uma colónia por causa do frio. As causas primeiras — os factores predisponentes — foram outras, e boa parte delas vou encontrá-las no verão, nos dias quentes, não nos dias frios.