eureka, tenho uma colónia de abelhas resistente à varroa! revisitação

Há um mês atrás fiz esta publicação. Ontem, voltei a abrir esta colónia.

É uma colónia bem povoada para a altura do ano.
Tendo identificado este padrão de criação salpicado, duvidoso, a 9 de setembro, nem por um momento suspeitei de loque americana; desde essa altura não vi, em momento algum, sintomas específicos de loque americana.
Também não vejo sintomas de loque europeia, criação de giz ou criação ensacada. Reparo agora que nunca fiz uma publicação sobre a loque europeia. Tenho ideia que é uma doença que não tem sido identificada laboratorialmente em Portugal.
Abelhas novas e abelhas a emergir. Não fosse este padrão de criação, aparenta ser uma colónia saudável.
Sua majestade passeando tranquilamente deixando a feromona da pegada.
Pão de abelha recente e com cores vibrantes.
Benditas leiras de nabiças nas proximidades!

Questões: Poderão algumas populações da A. m. iberiensis apresentar a combinação genética e correspondentes comportamentos resistentes ao varroa? Não tenho qualquer dúvida que sim; algures haverá colónias resistentes na nossa sub-espécie nativa. Será o caso desta colónia? Não me parece. Não vejo sinais dos mecanismos que mais comumente conferem resistência. Posso sonhar que o mecanismo encontrado por esta colónia para resistir ao varroa seja de outra natureza? Com certeza que sim; vou sonhar. A natureza encontra sempre um caminho, por vezes caminhos vários. Em fevereiro/março começarei a ter as primeiras respostas.

alimentando… e fazendo contas

Desde 2014 que os suplementos alimentares que forneço aos meus enxames são em pasta açucarada, em 99% dos casos. Nos três primeiros anos da minha apicultura, 2009 a 2011, alimentava no final do inverno/início da primavera com xarope líquido. Em 2012 e 2013 meteu-se-me na cabeça que o açúcar era prejudicial às abelhas e deixei de as alimentar. Nesses dois anos vi algumas das minhas colónias morrerem à fome. Mais que o eventual prejuízo de alimentar as minhas abelhas com açúcar, ficou-me claro o prejuízo irrecuperável que adveio da fome que algumas passaram. É caso para dizer que a realidade atropelou as minhas crenças!

Em 2014, e de lá para cá, ficou claríssimo para mim que a minha competência como apicultor se mediria também pela taxa de colmeias mortas, em particular durante a invernagem. De lá para cá, defini esta métrica para mim: considerar-me-ía um apicultor com razoável competência se conseguisse atingir, ano após ano, uma taxa de mortalidade, por fome e/ou varroa, abaixo dos 10% do meu efectivo. E de lá para cá, com muito trabalho, com algum conhecimento à mistura, com um pouco de sorte também, tenho atingido de forma consistente este objectivo. Como não tenho por feitio responsabilizar terceiros pela mortalidade das minhas colónias (farmacêuticas, doenças desconhecidas, os governantes, os insecticidas, as fases da lua,…), procurei melhorar o que dependia de mim. E assim, de 2014 para cá, conta-se pelos dedos de duas mãos o número de colónias que me morreram por fome.

E hoje, dia sem chuva e com algum sol e com uma temperatura mais amigável, pus-me a caminho para mais uma ronda de alimentação.

Algumas colónia já tinham comido o Kg de pasta que lhes coloquei há 4 semanas atrás.
Outras ainda não.
Duas colónias lado a lado, a debaixo tinha consumido tudo e esta mais próxima não.
Como vi as abelhas a trazerem boas cargas de pólen e como a temperatura a rondava os 15ºC, aproveitei para confirmar se havia criação em alguns núcleos. Nos que abri, sim tinham criação. Uma situação um pouco anormal neste território, nesta altura do calendário. A abelha esmagada mostra bem como o levantamento dos quadros nesta altura do ano pode correr muito mal se em lugar de uma abelha for uma rainha.
As colónias aparentavam boa saúde, com excepção de um núcleo (num apiário com 22 núcleos) com um cacho de cerca de 500 abelhas, resultados tardios do PMS, que muito provavelmente irá morrer nas próximas 2 a 3 semanas.
Pão de abelha e pólen recente.

Neste momento para além de as alimentar faço contas também. O meu fornecedor de alimento para as abelhas refere-me um aumento recente de cerca de 30% por kg de alimento. Obviamente não deixarei de alimentar as colónias que necessitarem — neste momento são cerca de 25% das colónias assentes neste apiário. No final do ano apícola (próximo outubro de 2022) aferirei do retorno do investimento.

mais uma ronda neste verão índio

Ontem, dia de S. Martinho, iniciei mais uma ronda pelos meus apiários.

Com a temperatura em torno dos 16ºC, dei-me ao luxo de abrir as colmeias e inspeccionar algumas colónias no final do tratamento de verão/outono para a varroose. Como da última vez pareceu-me tudo bem! Não vi abelhas com abdómenes pequenos/atrofiados, não vi abelhas com asas deformadas.

E chegou a altura de retirar as tiras, após as 12 semanas passadas.

As colónias estão cheias de abelhas, apesar de as manchas de criação serem reduzidas. Estas são abelhas de vida longa (diutinus). Que bom as rainhas terem reduzido substancialmente a postura! Menos rotação de abelhas, menos abelhas novas a provocarem o envelhecimento precoce das gerações de abelhas mais velhas, menos reprodução da varroa, temperatura mais baixa nos ninhos, logo menos consumo, menos alimento suplementar, menos despesa.

Contudo… algumas colónias mais leves estão a ser suplementadas. Tratar de forma igual desiguais é um erro que procuro o mais possível evitar.

Na envolvente, a folhagem dos castanheiros, ali pelo chão, alguns tiros dos caçadores, um pouco lá ao longe. Mais um verão índio.

tudo bem! apontamento sobre as colónias em dois apiários de altitude

O extenuante processo de equalização das reservas permite-me não apenas equalizar as reservas mas também avaliar o estado sanitário das colónias, assim como a população das mesmas. Nos dois apiários que tenho entre 800-900 m de altitude estão muito bem nestes dois aspectos: colmeias populosas como raramente as encontro nesta altura do ano, muito pouca criação em geral, o que é habitual, e assimtomáticas no que respeita à varroose, vírus das asas deformadas e vírus da paralisia aguda.

Vista geral de um dos dois apiários.
Colónia em que coloquei um mestreiro em meados de maio.
Colónia em que introduzi uma rainha virgem em gaiola nos finais de abril.
Colónia em que introduzi mestreiros de reprodução pelo método de enxertia.
Aspecto da dimensão da mancha de criação que vejo habitualmente nestes dois apiários nesta altura do ano.
Rainhas a responderem adequadamente ao meio envolvente, reduzindo substancialmente a postura. Este fenómeno não traz prejuízo nenhum à colónia. Nestas condições as abelhas não precisam de manter a temperatura do ninho nos 35ºC, consomem menos reservas, não envelhecem tão rapidamente e a varroa não se reproduz.
Mas se o pasto é escasso para umas, para outras é abundante e suculento!

Saio deste empreendimento de equalizar as reservas em todas as colónias completamente de rastos, contudo com a alma revigorada e o espírito tranquilo. Neste dois apiários posso dizer que, por agora, está tudo bem! Acredito que as cerca de 50 colónias que me encomendaram para o início de março estarão muito fortes para entregar chegada a altura, serão colónias populosas, saudáveis e com rainhas sobreviventes que provaram bem num dos territórios mais hostis de Portugal, no que se refere aos aspectos abióticos.

preparando as colónias para a invernagem

10 a 12 kgs de mel são as reservas necessárias e suficientes para as minhas colónias invernarem no território onde as tenho. Nem todos os anos tenho conseguido fazer a equalização das reservas em todas elas. Nesses anos tenho começado a suplementá-las em outubro/novembro com pasta açucarada. Este ano, graças a estes dias ainda quentes, estou a proceder de forma sistemática à equalização das reservas, por forma a que a maior parte das colónias tenham a quantidade de alimento suficiente para passarem o outono e parte do inverno. Só a partir de meados de janeiro planeio iniciar a alimentação com pasta açucarada nestas colónias.

Exemplar de um quadro que retirei de uma colónia com “excesso” de reservas. A bitola que utilizo é retirar quadros com mel em todas as colónias com mais que quatro quadros como este.
A colónia doadora recebeu este quadro que tinha saído de uma colmeia zanganeira. Como se pode ver este quadro foi alvo de pilhagem. As vespas que ajudaram na pilhagem terão também consumido as larvas da traça da cera e seus ovos.

Ao mesmo tempo este procedimento permite-me uma última inspecção aprofundada do ninho, antes de as deixar sossegadas até ao final de janeiro/meados de fevereiro. Notei que as colónias mais fortes têm manchas de criação inabituais para a época.

6 a 8 quadros como o de cima não é habitual neste território nesta altura do ano.

A explicação de tanta criação não está na alimentação estimulante. Como sei? Estas colónias não estavam a ser alimentadas. A explicação está na foto em baixo.

Pão de abelha recém ensilado. O melhor estimulante que as minhas abelhas conhecem.

3 destas colónias com 6 a 8 quadros de criação e 9 a 10 quadros de abelhas passaram à configuração ninho mais sobreninho.

Colónia que vai passar à configuração ninho+ sobreninho.
Colmeia forte a ser preparada para invernar na configuração ninho+sobreninho.
Alguns minutos depois!

Tudo isto num apiário visitado por vespas crabro e velutina. Mais uma prova que cada realidade tem um local, e que cada local conta a sua própria estória! As velutinas mato as que posso, as crabro não. Estas últimas não provocam, até à data, nenhum dano económico assinalável. Comem algumas abelhas, mas comem também borboletas da traça da cera durante a noite. Ocupam um nicho ecológico, que vazio será ocupado por outras vespas, muito provavelmente a velutina. Quando desejar que as minhas abelhas sofram predação zero levá-las-ei para a lua.

instantâneos de uma tarde com a minha mulher

É alto, ventoso, abundante o território do apiário onde me entretenho no maneio na companhia de minha mulher.

Colocando meias-alças (alças).
Palmerizando.
Confinando a rainha ao ninho.
No lado norte da Serra da Estrela, o horizonte pontuado pelo voo de uma abelha..
Partilhando o território das abelhas.
Com o trabalho concluído é altura de dizer “by by lolita girl”!

mel claro: início da cresta de 2021

Ontem, para o Marcelo Murta, que me veio ajudar, e para mim, o dia começou às 6h45m.

Por volta das 7h50 estávamos a entrar neste apiário de Lusitanas, território das flores com coração, para iniciar a cresta dos méis claros deste ano. O plano era crestarmos os sete sobreninhos lá presentes. Por volta das 9h10 estávamos de regresso a casa, com a carga que tinha sido planeado trazer. As imagens são do início desta cresta e extracção deste néctar prístino, intocado, que fluiu de forma natural e primitiva entre as abelhas.

Umas das sete colónias com sobreninho crestadas.
5 dos 10 quadros foram transferidos para o corpo vazio colocado à esquerda. Cada sobreninho com os 10 quadros pesava aproximadamente 45 kgs.
Corpo com 5 quadros depois de desabelhado por um soprador.
Crestado o sobreninho, a colónia fica com uma meia-alça (alça) e excluidora de rainha que tinha.
Chegada a casa com 14 corpos cada um com 5 quadros.
Fotografia de um quadro…
Caindo para um coador, um mel de cor clara, cujo paladar e aroma muito frutado e persistente, fazem dele um mel surpreendente e muito apreciado por todos os que o provaram..

A todos nós que iniciámos a cresta, ou a vamos iniciar, desejo uma boa cresta e colheita. Que o semeado ao longo de meses tenha agora correspondência no que colhemos.

desvendando a intimidade de uma colónia em produção

Ontem, 28 de junho, fui ao meu apiário das lusitanas (a 600 m de altitude) aplicar o tratamento intermédio contra a varroa. Para tal tive de desmontar todas as colónias ali assentes para chegar ao ninho. Aproveitei a oportunidade para fotografar a intimidade da primeira colónia que desnudei.

Vista geral do apiário. Entre colónias só no ninho, enxames novos, estão as colónias dedicadas à produção. A colónia que fotografei na sua nudez é a que está mais à direita da imagem no assento mais próximo, com ninho, excluidora de rainhas, sobreninho e duas meias-alças/alças.

Do topo para a base vou expor gradualmente a sua intimidade, despindo-a suave e prazerosamente.

Meia-alça (alça) do topo, com ceras laminadas, à espera que uma espécie de milagre aconteça, e puxem a cera e ainda a encham com o que resta dos néctares da silva, cardos e dos néctares e melada do castanheiro.
Primeira meia-alça, logo por cima do sobreninho, cheia a três quartos. Esta meia-alça foi colocada com ceras laminadas.
Quadro lusitano com mel novo, operculado de travessão a travessão. Os outros 9 estão mais ou menos na mesma.
Grelha excluidora, que confinou a rainha ao ninho desde 15 de abril.
O quadro 10, com reservas, ainda que se não vejam ; ) ….
Um quadro representativo dos 8 quadros com criação presentes nesta colónia.
Ainda que o fabricante (Lyson) recomende a colocação de 4 tiras de cartão com ácido oxálico embebido em glicerina, estou a colocar apenas três… afinal este é visto por mim como um tratamento intermédio para evitar a subida da taxa de infestação e eliminar varroas eventualmente resistentes ao amitraz.
Depois foi voltar a vesti-la…
As datas históricas desta colónia: foi transferida do apiário PR (a 900 m de altitude) para o apiário RAT (a 600 m de altitude) em 09-03; em 29-03 coloquei-lhe o sobreninho; a rainha foi confinada ao ninho através de excluidora a 15-04. Foi utilizada diversas vezes para fornecer quadros e abelhas para os desdobramentos/multiplicação de colónias que efectuei. À data de ontem tem cerca de 40 kgs de mel para fornecer ao cuidador.

duas novidades e… mais do mesmo

Hoje, dia 26 de junho, à entrada do verão voltei às abelhas. Após quase 15 dias de férias, voltei! Por lá andei das 10h00 às 13h00, a fazer o maneio que me apeteceu fazer, que devia fazer e que não me cansou fazer; isto tudo num assento com cerca de 40 colónias, entre núcleos, colónias novas em desenvolvimento não dirigidas à produção e colónias orientadas para a produção. Para o final da tarde iremos às restantes 50 estacionadas neste apiário.

O assento com 40 colónias.
A primeira novidade: “Sem ternura a vida não é lá grande coisa!” (“Meu pé de laranja lima”- José Mauro de Vasconcelos)
O tratamento intermédio… porque a varroa não dorme, não tem fins-de-semana, nem tira férias.
Palmerização de núcleos e fortalecimento de colónias em produção.
Com a marcavala a secar e as silvas e candeias do castanheiro a abrir, é tempo de colocar mais meias-alças/alças.

fazendo ovos das omeletes

Em diversas situações o meu caminho, estratégia e maneio vai em sentido contrário ao saber estabelecido. Esta publicação serve para deixar explícito que estou muito consciente, que estou a par e conheço relativamente bem esse saber estabelecido. Serve ainda o propósito de afirmar que dar o primeiro passo para fora dessa zona de conforto, entrar numa zona onde a magia acontece, foi uma grande vitória pessoal. Foi em boa medida este o percurso que sustenta meu sucesso como apicultor; apicultor que vive exclusivamente da apicultura há mais de dez anos. E o meu sucesso dependeu e depende de duas coisas simples, ao alcance de todos: muita transpiração e alguma inspiração/imaginação.

Num ano que muitos rotulam de escasso, com pouco mel, este é o resultado de 90% de transpiração e 10% de inspiração. Tudo se encaminha para que seja um dos meus melhores anos em termos de produção média por colónia.

Vejamos agora dois casos concretos que ilustram este caminho, várias vezes ao arrepio do saber estabelecido:

  1. O caso das colmeias armazém: cerca de 10% do meu efectivo (langstroth e lusitana) passa o outono-inverno na configuração ninho+sobreninho.
Verifiquei na inspecção de 4 de março que esta colónia Langstroth, que passou o outono-inverno na configuração ninho+sobreninho, tinha a rainha em postura no sobreninho. Um indicador que poderia “aguentar” com a colocação de excluidora depois de previamente colocar a rainha no ninho, coisa que fiz no dia 9.

Hoje estava assim, de baixo a cima:

2. O caso dos núcleos doadores de quadros a colónias em produção: em baixo a ilustração da palmerização de um núcleo, que doa quadros com criação fechada às colónias em produção, ou a colónias com rainhas fecundadas muito recentemente.

Este quadro é de uma colónia estabelecida num núcleo de 5 quadros. A postura é da responsabilidade de uma rainha emergida de um mestreiro de enxameação que enxertei cerca de um mês e meio atrás. Este quadro tem de um lado e do outro cerca de 7 mil abelhas para emergir nos próximos dias — um núcleo bem povoado tem uma população de cerca de 10 mil abelhas. Foi desta rainha e da sua utilização que um idiota credenciado gozou no Facebook para promover as suas rainhas. Ele que mostre o que faz como eu mostro o que faço, e que se deixe de garotices.