ácaro Varroa: alguns aspectos da sua ecologia comportamental

Começando pelo fim a tradução deste muito recente, sumário e pertinente artigo de revisão da literatura sobe o ácaro Varroa: “Em conclusão, a ecologia comportamental do ácaro Varroa precisa ser totalmente compreendida antes que possamos realmente entender e controlar este parasita devastador das abelhas a uma escala global.” […] Deixo em baixo a tradução de alguns aspectos para a leitura atenta daqueles que entre nós procuram conhecer melhor o inimigo. Só munidos deste conhecimento aumentamos a probabilidade de o combater mais eficaz e eficientemente e, ao mesmo tempo, compreender melhor a razão porque algumas práticas são desaconselhadas ou têm resultados insuficientes [ver notas minhas a bold e entre parêntesis rectos].

“A distância entre uma larva de abelha e o topo da abertura do alvéolo também pode ser um fator chave na invasão dos alvéolos pelo Varroa. Logo que esta distância é de 7,0-7,5 mm, o alvéolo torna-se atraente para os ácaros e a invasão começa (Goetz e Koeniger 1993, Beetsma et al. 1999). Se esta distância for alcançada mais cedo, o período atrativo é maior (Boot et al. 1995). O favo mais velho é mais atraente para os ácaros, possivelmente porque os alvéolos ficam menores com o uso [devido a acumulação de seda dos casulos pupais] e, portanto, a distância de uma larva ao topo do alvéolo atinge-se mais cedo (Piccirillo e Jong 2004). Isso sugere que os apicultores devem remover o favo mais velho ou usá-lo apenas para mel para reduzir a invasão de ácaros. Curiosamente, o favo de alvéolos pequenos [com 4,9 mm de largura ou menor], que foi sugerido como um sistema de controlo mecânico para reduzir as populações de Varroa (Martin e Kryger 2002, McMullan e Brown 2006), é agora considerado ineficaz na redução de cargas de Varroa em comparação com o favo normal (Seeley e Griffin 2011 ) e pode mesmo provocar uma maior probabilidade de invasão dos alvéolos. Assim, o favo de alvéolos pequenos deve ser descontinuado como opção de tratamento de ácaros (Berry et al. 2010, Coffey et al. 2010).”

[Este excerto ajuda-nos a compreender melhor porque razão os dados de inquéritos epidemiológicos de larga escala, recentemente recolhidos nos EUA, identificam maior mortalidade de colónias entre os apicultores que re-utilizam mais frequentemente os quadros velhos que retiram das colónias que colapsam durante o inverno.]

Um diagrama simplificado que mostra o ciclo de vida do Varroa destructor. Durante a fase reprodutiva, uma fêmea fecundada entra no alvéolo de uma larva de operária ou larva de zângão antes de ser operculado (A). Logo que o alvéolo é operculado, o ácaro fundador produz um filho e várias filhas que se acasalam entre irmãos, enquanto se alimentam da pupa da abelha (B). Após a emergência da abelha adulta, os ácaros saem do alvéolo e iniciam a fase de dispersão (C), durante a qual as fêmeas recém-fecundadas são transportadas pelas abelhas para chegar a um alvéolo com criação larvar para o invadir, iniciando o ciclo novamente.

“As taxas de visitação de larvas por abelhas ama também podem ser um fator no processo de invasão de alvéolos pelo Varroa. As larvas de zângão são atrativas para os ácaros durante cerca de 40 horas antes da operculação, enquanto as larvas de operárias são atrativas durante 20 horas apenas antes da operculação (Boot et al. 1992). Este período mais prolongado de atração de ácaros por larvas de zângão pode contribuir para a preferência do Varroa para invadir alvéolos de zângão. As larvas de zângão também têm taxas de visitação de abelhas ama aproximadamente 2,5 vezes mais altas do que as larvas de operárias (Calderone e Kuenen 2003, Reams et al. dados não publicados). A criação que tem uma taxa de visitação mais alta provavelmente é exposta aos ácaros Varroa com mais frequência e, portanto, tem uma possibilidade maior de ser invadida. No entanto, mais estudos são necessários para entender como as taxas de visitação de abelhas ama influenciam a invasão de alvéolos pelo Varroa.”

[Na minha opinião há ainda lacunas importantes no conhecimento que temos do ciclo de vida do ácaro varroa, em particular de muitos detalhes durante a sua fase de dispersão/forética.]

“A invasão de Varroa em alvéolos de criação pode ser vista de várias maneiras: a taxa de invasão de ambos os tipos de larvas, a preferência por alvéolos de zângão quando comparada com a preferência por alvéolos de operárias. As taxas de invasão de larvas de zângãos e operárias são calculadas pelo número de ácaros por alvéolo (Fuchs 1990). As taxas de invasão de alvéolos de zângão são geralmente mais altas do que as taxas de invasão de alvéolos de operárias (Fuchs 1990, Boot et al. 1995). […] À medida que a proporção de alvéolos de zângãos para alvéolos de operárias aumenta, a preferência por alvéolos de zângão diminui (Fuchs 1990, 1992). Isto significa que com menos criação de zângãos, os alvéolos de zângãos são preferidos e, portanto, a preferência por alvéolos de zângãos não é constante, mas flutua ao longo do ano (Fuchs 1990, 1992). A preferência por alvéolos de zângão também depende da população de ácaros em toda a colónia. À medida que a população de ácaros aumenta (tipicamente durante a primavera e o verão), a preferência por alvéolos de zângãos diminui (Fuchs 1990).

“A preferência por alvéolos de operárias define-se como o limiar no qual o Varroa começará a invadir os alvéolos de operárias (Fuchs 1992). Este limiar […] é de cerca de 300 ácaros por colónia. Após este limiar ser atingido, a preferência por alvéolo de operárias começa a aumentar (Fuchs 1992). Isso ocorre porque assim que este limiar é atingido, há um número tal de ácaros dentro da colónia que se torna mais adaptativo para um ácaro invadir um alvéolo de operária com uma única fundadora do que invadir um alvéolo de zângão que já contém outras varroas. Isso mostra que a invasão de alvéolos de zângãos e operárias pode flutuar ao longo do ano e à medida que a população de ácaros vai mudando.”

[Esta é, na minha opinião, uma das razões para a eficácia insuficiente do conhecido “corte de zângão” no controle da infestação por varroa. Esta bio-técnica, a ser utilizada, deve ser acompanhada de outras técnicas químicas (orgânicas e/ou sintéticas) e/ou culturais mais eficazes, enquanto elementos de uma estratégia mais abrangente, diversificada e efectiva.]

“Vários ácaros podem invadir o mesmo alvéolo e isto ocorre mais frequentemente com taxas mais elevadas de infestação de ácaros (Martin 1995, Floris et al. 2020). Isso pode ser vantajoso para a população geral de ácaros dentro de uma colmeia porque aumenta a possibilidade de exogamia. No entanto, é provável que os ácaros que invadem o mesmo alvéolo estejam relacionados, de modo que a prole pode não alcançar uma maior diversidade genética por cruzamento (Beaurepaire et al. 2019). Invasões múltiplas também têm um impacto negativo sobre o ácaro. À medida que o número de invasões por alvéolo aumenta, menos ovos são postos por ácaro e a mortalidade da prole aumenta (Martin 1995). Curiosamente, mesmo após uma invasão bem-sucedida de um alvéolo com larva, a infertilidade do ácaro feminino é relativamente alta. A baixa fertilidade é causada por vários fatores, incluindo a mortalidade masculina, com o esmagamento ou deslocamento da pupa, o que leva a ácaros não fertilizados e uma invasão de ácaros “mal-sucedida” (Martin 1997, 2001; Nganso et al. 2020). A mortalidade masculina tende a ser maior durante o inverno (Martin 2001) e pode conduzir a fêmeas maduras a saírem do alvéolo sem terem acasalado (Martin et al. 1997, Häußermann et al. 2020). A falha de uma fundadora em colocar ovos dentro do alvéolo com larva também pode ser causada por oviposição atrasada ou por um baixo número de espermatozóides armazenados na sua espermateca (Harris e Harbo 1999).

[Esta é uma das várias razões que me ajudam a compreender porque os acaricidas aplicados no fim de inverno resolvem melhor o problema da varroose quando comparados com a eficácia dos acaricidas que aplico no verão.]

fonte: https://academic.oup.com/jinsectscience/article/22/1/18/6523143

inquérito BIP: perdas de colónias de abelhas nos Estados Unidos em 2020-2021

Bons velhos hábitos são para manter e, assim sendo, continuo a ler os relatórios anuais sobre perdas de colónias. Escrevi há um ano atrás nesta publicação “Sou um leitor ávido e habitual de relatórios anuais publicados por algumas associações/institutos de apicultura, tendo já publicado um ou outro pelo interesse que encontro nos seus dados (ver por ex. aqui). Acho os relatórios extremamente didácticos pela visão macroscópica que me permitem elaborar, pelo sentido que dão às observações mais fragmentares que vou fazendo nos meus apiários e pelo reforço que dão a algumas das acções basilares no maneio das minhas colónias.” Este esforço de pesquisa — que se traduz em mais conhecimento para mim e que vou partilhando com os leitores —, associado a trabalho, proactividade, mudança e reflexão, contribuem para que a mortalidade de colónias por varroose neste verão/outono de 2021 tenha sido um redondo zero nos meus apiários. Não foi fácil… nunca é com este inimigo!

Na sequência deste velho hábito não pude deixar de ler os dados preliminares obtidos pelo inquérito conduzido pelo The Bee Informed Partnership a perdas de colónias de abelhas nos Estados Unidos em 2020-2021. Vejamos alguns números globais:

  • forneceram respostas validadas ao inquérito 3.347 apicultores com 192.384 colónias;
  • o inquérito cobriu o período de um ano, entre abril de 2020 e abril de 2021;
  • durante o inverno de 2020-2021 (1 de outubro de 2020 – 1 de abril de 2021), cerca de 32,2% das colónias nos Estados Unidos foram perdidas (Fig. 1);
  • durante o verão de 2020 (1 de abril de 2020 – 1 de outubro de 2020), cerca de 31,1% das colónias foram perdidas nos Estados Unidos (Fig. 1);
  • durante todo o ano (1 de abril de 2020 – 1 de abril de 2021), os apicultores nos Estados Unidos perderam cerca de 45,5% de suas colónias de abelhas (Fig. 1). Esta é a segunda maior perda anual já registada, 1,8% maior do que a perda anual estimada do ano passado (43,7%), e um aumento de 6,1% sobre a taxa média de perda (39,4%) nos últimos 10 anos.
Fig. 1: a amarelo as perdas de verão; a azul as perdas de inverno; a vermelho as perdas anuais totais.

Os apicultores que responderam foram solicitados a identificar até às três principais causas da perda de colónias nas suas operações. Apicultores de todos os tipos de operação relataram que o ácaro parasita Varroa destructor foi a principal causa da perda de colónias durante o inverno (Fig. 2), com os apicultores “comerciais” (com mais de 500 colónias) a referirem problemas com as rainhas em segundo lugar. As razões relatadas para as perdas de verão foram ligeiramente diferentes, com problemas de rainha, seguido pelo ácaro varroa, listado como o mais e o segundo mais importante em todos os tipos de operação de apicultura, respectivamente. A nosemose é a causa menos referida.

Fig.2 : Causas de mortalidade identificadas pelos apicultores que responderam ao inquérito. A primeira e segunda causa mais identificadas são, respectivamente, varroose e problemas com rainhas. A nosemose é a causa menos referida, o que de alguma forma confirma os dados de um estudo controlado que podem ver aqui. ( Backyard, apicultor com até 50 colónias; Sideliner, apicultor com mais de 50 colónias até 500 colónias; Commercial, apicultor com mais de 500 colónias).

Um outro grupo de dados que chamou a minha atenção: apenas metade dos apicultores de quintal (backyard) entrevistados substituíram rainhas nas suas colónias durante o verão de 2020 (49,9%; n = 3.019). Em contraste, a maioria dos “sideliner” (89,3%; n = 84) e virtualmente todos os apicultores comerciais (97,1%; n = 35) introduziram novas rainhas durante este período (Fig. 3).

Fig. 3: Proporção de apicultores que introduziram uma nova rainha (Sim) nas suas colónias durante o verão de 2020 de acordo com o tipo de operação de apicultura.

Interrogações: sabendo que são os apicultores “comerciais” que substituem na totalidade, ou perto disso, as rainhas com 1 ano de vida, como se explica que seja este mesmo grupo a identificar mais problemas com as rainhas durante o verão? Será pelo desgaste rápido das rainhas que decorre da extensão dos períodos de postura por força dos contratos de polinização que este grupo de apicultores assina ano após ano, ou pelos impactos sub-letais causados pelas longas viagens até aos pomares da Califórnia nestes indivíduos mais longevos da colónia, ou… ? Se o desejarem, podem deixar as vossas propostas de explicação na caixa de comentários.

fonte: https://beeinformed.org/wp-content/uploads/2021/06/BIP_2020_21_Losses_Abstract_2021.06.14_FINAL_R1.pdf

shake, shake: fazendo os ácaros soltarem as suas garras


Conforme apontado pelo Dr. David de Jong em 1982, os ácaros aderentes de forma superficial a uma abelha são relativamente fáceis de remover agitando as abelhas num líquido [ou açúcar em pó], mas os ácaros que estão profundamente alojados nas membranas intersegmentais no abdómen das abelhas podem ser mais difíceis de desalojar.

Curioso em determinar exatamente como os ácaros varroa se seguram numa abelha, passei algum tempo olhando-os de perto sob o microscópio.

É fascinante observar um ácaro caminhando sobre o vidro. A cada passo, o ácaro infla um empódio pegajoso. Nesta foto, coloquei um ácaro vivo de costas numa lâmina de microscópio e, em seguida, coloquei uma lamínula de vidro fina sobre ele. O ácaro é obrigado a andar de cabeça para baixo no vidro. O empódio da perna superior nesta foto está a começar a se desdobrar; o próximo está totalmente estendido no vidro.”

fonte: https://scientificbeekeeping.com/6960-2/

Nota: para além desta capacidade de grande aderência, os varroas mimetizam também os odores do corpo das abelhas de forma perfeita, o que lhes permite escapar boa parte das vezes ao comportamento de auto e hetero limpeza das abelhas. Esta capacidade de ocultação é mais um aspecto que faz deles uma arma de aniquilação massiva das abelhas.

crescimento exponencial da população de varroas: o “r” e outros números

Para entendermos de uma forma simples o crescimento exponencial o cenário abaixo é ilustrativo:

Um artesão decide que irá fazer potes de barro ao longo de 16 dias, duplicando a sua meta diária de produção todos os dias. No dia 1, ele produz apenas um pote, no dia 2, ele duplica a sua produção e termina duas peças. No dia 3, já são quatro potes produzidas num só dia e no dia seguinte, são 8. Caso ele siga este comportamento nas próximas duas semanas, quando chegar ao dia 16, terá que produzir 32.768 potes num só dia.

O número de peças feitas, resultado da soma de todos os dias de confecção, serão 65.535 potes produzidos ao longo de 16 dias, representando um crescimento exponencial na produção.

Obviamente, quando se trata de produção, os seres humanos só conseguem ser exponenciais com o auxílio de máquinas. Contudo, se utilizarmos as bactérias, os vírus, os ácaros varroa como referência, todos eles são capazes de cumprir esta tarefa por conta própria. Analisemos com mais detalhe o caso do ácaro varroa.

Uma fotografia espetacular de um ácaro fêmea totalmente escelerotizado pronto para emergir de um alvéolo. O Varroa é um parasita primorosamente adaptado à abelha, com todos os aspectos de sua anatomia e comportamento ajustados por via da tentativa e erro evolutiva [co-evolução] para sobrevivência no ambiente hostil (mas rico em recursos) de uma colónia de abelhas. Foto de Gilles San Martin.

“A Varroa está no paraíso quando as colónias expandem a criação, em particular quando há muita criação de zângãos. Durante este período de tempo (a fase de crescimento linear da população de abelhas), a Varroa é capaz de se reproduzir com sucesso com uma taxa elevada, mais que dobra sua população a cada mês.

Nota científica: o aumento percentual de uma população ao longo do tempo é denominado taxa de crescimento populacional. Em condições ideais, esta taxa de crescimento para várias espécies é exponencial e é quantificada como a taxa intrínseca de aumento. Os biólogos quantificam essa taxa de aumento por meio de um valor diário denominado “r (dia)”. O r (dia) da Varroa em abelhas europeias não resistentes, durante os períodos de crescimento linear da população de abelhas, está quantificado em torno de 0,021.

Nas épocas do ano em que a criação está presente, a população de ácaros numa colmeia de abelhas melífera europeia típica aumentará de forma exponencial. Conforme ilustrado pelo gráfico acima, a população de ácaros cresce numa colónia típica de 100 para mais de 8.000 em sete meses.

Aplicação prática: o acúmulo de Varroa é exponencial nestas alturas do ano em que a criação é abundante (dobrando a cada mês). Dificilmente nos apercebemos na fase de crescimento da população de abelhas, até que a diminuição de criação no final desta fase faz parecer que Varroa explodiu de repente. Além disso, um influxo de ácaros carregados por forrageadoras que pilham colónias a colapsar e por abelhas que derivam pode aumentar a população varroa neste período crítico [na minha zona de finais de julho até finais de setembro].”

fontes: https://scientificbeekeeping.com/the-varroa-problem-part-9/ e https://scientificbeekeeping.com/the-varroa-problem-part-5/

É nesta época, meados de agosto ao fim de setembro, que mais me importa estar muito vigilante, abrindo com frequência semanal ou quinzenal as colónias e avaliar o seu estado sanitário uma a uma, durante e após o tratamento de verão. Os sinais/sintomas que me servem de referência são:

  • vejo ou não varroas sobre as abelhas;
  • vejo ou não abelhas com os abdómenes atrofiados;
  • vejo ou não abelhas com asas deformadas;
  • vejo ou não abelhas irritadiças ou mortiças;
  • vejo ou não abelhas demasiado dispersas nos quadros.

Aplico outros sistemas de monitorização, mas mais pontualmente. Esta monitorização visual tenho-a aplicado sistematicamente. Com este sistema de monitorização a taxa de mortalidade global/ano por todas as causas não tem ultrapassado os 10% desde 2014, situando-se abaixo dos 5% na maioria dos anos neste período.

a minha resistência à resistência: o foco no foco

Nos EUA os projectos para criarem abelhas resistentes ao ácaro varroa já têm cerca de 30 anos, e foram/são levados a cabo tanto em instituições governamentais como em empresas privadas. Na Europa estes projectos surgiram um pouco mais tarde, pela mão de grupos de instituições e de apicultores. Por exemplo, próximo de nós, um grupo de técnicos da Universidade de Córdova trabalhou na selecção de linhas resistentes em abelhas ibéricas na década passada… até ao momento em as colónias desapareceram, alegadamente roubadas.

Os mecanismos de resistência conhecidos são vários, entre os quais o SMR, o VSH e o REC. Esta heterogeneidade de mecanismos origina dificuldades na selecção de um traço e na sua avaliação rigorosa (ver este artigo publicado em outubro de 2021, em que um dos co-autores é Peter Rosenkranz, um dos especialistas em varroa mais reconhecido e citado pelos seus pares: Reproduction of Varroa destructor does not elicit varroa sensitive hygiene (VSH) or recapping behaviour in honey bee colonies (Apis mellifera)).

Os programas de selecção de abelhas resistentes melhor documentados que eu conheço são os de Keith Delaplane e os de Randy Oliver. Ambos referem as dificuldades, em seleccionar, replicar e estabilizar a um bom nível estas linhas resistentes (ver aqui e aqui). Obviamente, um e outro, são cientistas/experimentadores, não são vendedores de rainhas resistentes!

Artigos de revisão acerca dos avanços destes programas de criação de linhas resistentes e da transferência destas linhas para os apiários de todos nós, referem resultados muito modestos para tanta investigação, tanto conhecimento gerado, tantas linhas escritas e tantas esperanças depositadas (ver este artigo, publicado em 2020, de revisão da literatura nos últimos 30 anos: Three Decades of Selecting Honey Bees that Survive Infestations by the Parasitic Mite Varroa destructor: Outcomes, Limitations and Strategy).

Olhando para a Natureza e procurando aprender com as lições que nos dá, verificamos que os enxames naturalmente resistentes estão massificados num continente, África, e num sub-continente, América do Sul. O que nos está a dizer a Natureza?

  • A seleção natural pode resultar na resistência de toda a população em grandes populações panmíticas apenas quando uma grande proporção da população sobrevive à invasão inicial de Varroa. Foi o que aconteceu em África e na América do Sul.
  • Quando, após a invasão de Varroa, uma grande parte da população de abelhas entra em colapso ou é protegida contra os ácaros por tratamentos químicos, a seleção natural para resistência não tem sucesso. Foi o que ocorreu na Europa e na América do Norte.
  • A estrutura panmítica de acasalamento das abelhas evita a seleção natural local para resistência, porque os genes de resistência se dispersam em populações vizinhas a uma taxa maior ou igual à taxa local de recrutamento desses genes por seleção.
  • A seleção por cruzamento pode aumentar o nível de resistência das colónias e, assim, aumentar a proporção de colónias resistentes na população como um todo. Quando essa proporção é alta o suficiente, os apicultores podem interromper o tratamento químico e a seleção natural pode prosseguir.
  • Em populações fechadas, como nas ilhas, a seleção natural não é neutralizada pela dispersão de genes de resistência, e a seleção natural pode prosseguir, a menos que seja restringida pela endogamia.

fonte: Natural selection, selective breeding, and the evolution of resistance of honeybees (Apis mellifera) against Varroa (2020)

Terje Reinertsen, um dos poucos apicultores europeus a trabalhar com linhas alegadamente resistentes.

Dando de barato que sabemos muito bem o que estamos a selecionar e que sabemos muito bem o que estamos a avaliar (não, não o sabemos!); dando de barato que as afirmações dos vendedores de rainhas resistentes não são exageradas (e muito provavelmente são-no!); dando de barato que nos últimos 30 anos se deram enormes progressos e estes foram transferidos para os apiários de todos nós (e sabemos muito bem que não, não foram!), o foco do foco da minha resistência à resistência enquanto “a solução” para a apicultura dos dias de hoje está descrito no parágrafo em baixo.

Se dou de barato os aspectos em cima, não posso ignorar o caminho que a Natureza seguiu: os programas de criação de abelhas resistentes terão um real impacto na apicultura europeia quando estes conseguirem de uma forma massificada e rápida substituir as linhas não resistentes. A proporção de linhas resistentes tem de estar generalizada pelos apiários europeus num curto espaço de tempo. Se com a oferta diminuta de linhas resistentes dos últimos 30 anos, se com projectos de micro-escala não alcançamos nada de especial nestas últimas três décadas, por que razão acreditarei que nos próximos 30 anos com a mesma abordagem, os resultados serão diferentes? Ou a introdução de rainhas resistentes é massiva e súbita ou, se assim não for, temo que o sistema de acasalamentos ao acaso, típico destes insectos, fará soçobrar estes esforços.

No caso português, onde existem cerca de 700 mil colónias, em tese seria necessário substituir cerca de 95% das actuais 700 mil rainhas não resistentes por rainhas resistentes de matriz iberiensis. Até lá ou levamos as poucas colónias resistentes para uma ilha sem abelhas, ou aprendemos a controlar os acasalamentos, ou aprendemos a criar uma relação preferencial com o nosso fornecedor de linhas resistentes, confiando que terá sempre stock disponível para nós, ou … aprendemos a gerir e utilizar melhor os acaricidas que temos actualmente e outros que irão surgir.

Nota: Quem lê com atenção e sem pre-conceitos as publicações que já fiz sobre linhas resistentes há muito verificou a atenção e carinho que dou a esta abordagem, à qual reconheço muitos méritos. Contudo isso não implica uma cegueira e uma obstinação na aceitação que será “A solução” para a varroose na apicultura. Não o é hoje, não o será num futuro próximo e duvido que alguma vez o venha a ser pelas razões que refiro em cima. Mesmo que o venha a ser interrogo-me que garantias temos que as varroas não evoluirão e não conseguirão aprender a esquivar-se e sobreviver aos mecanismos que seleccionámos para as nossas abelhas resistentes? O que a varroa mais nos tem mostrado é a sua enorme adaptabilidade, tão típico das espécies que se reproduzem em ciclos muito curtos.

o número de varroas à saída do inverno: 20 ou 182 fará assim tanta diferença?

Depois dos tratamentos de final de inverno contra a varroose — de acordo com o meu calendário início os tratamentos entre a última semana de janeiro e a primeira semana de fevereiro —, tendo eles sido eficazes, ficam habitualmente alguns ácaros que darão continuidade às geração seguintes. Todos desejamos que esse número seja o mais baixo possível, mas fará assim tanta diferença sobreviverem 200 em lugar de apenas 20?

No blog The Apiarist, David o autor, exemplifica claramente como é muito diferente iniciarmos a nova época com 20 ácaros ou, por exemplo, 182. Recorre, para fazer as suas estimativas, ao simulador on-line construído e disponibilizado por Randy Oliver (ver aqui o simulador).

Ele pergunta: “O que é um punhado de ácaros entre amigos? Faz realmente diferença se a sua colmeia contém 20, 74 ou 146 ácaros no início da temporada seguinte?

Ele responde: “Sim. Isso faz uma enorme diferença.

Ele explica: “Os ácaros presentes no início de janeiro se reproduzirão de forma rompante na criação de primavera. Portanto, em qualquer momento específico da estação – assumindo que todas as outras coisas sejam iguais – haverá uma carga de ácaros significativamente maior numa colónia que começou o ano com mais ácaros do que numa que começou o ano com menos ácaros.

Sabemos bastante sobre a reprodução da Varroa. Por exemplo, sabemos que mais varroas são geradas em pupas de zângãos do que em pupas de operárias (por causa da maior duração da pupação). Há uma série de parâmetros adicionais que influenciam a taxa de reprodução da população de ácaros — a proporção de criação de zângãos para a criação de operárias, a disponibilidade de criação, a duração da fase forética/fase de dispersão dos ácaros (por sua vez, provavelmente influenciada pela disponibilidade de abelhas amas, e assim por diante …

Tudo isso significa que podemos prever o número de ácaros presentes numa colmeia durante a temporada com base no número de ácaros no início, se fizermos uma série de suposições sobre a força da colónia, momento da temporada, taxa de crescimento da colónia, etc. .

Gráfico de colunas com estimativas da população de varroas em setembro (eixo dos Y) de acordo com o número de varroas em janeiro (eixo dos X).

E conclui: “Mesmo considerando várias limitações, que inevitavelmente restringem a reprodução dos ácaros, o aumento de ácaros entre janeiro e setembro é “apenas” cerca de 100 vezes. Isso significa que uma colónia que começou a temporada com 20 ácaros conterá pouco mais de 2.000 em setembro, enquanto uma colónia que começou com 182 ácaros vai acabar com mais de 18.000 até ao final do verão. […] Ou, mais cientificamente, é um nível de infestação com o qual a colónia provavelmente não sobreviverá. 18.000 ácaros é provavelmente bem mais de um ácaro para cada duas abelhas adultas na colónia [em setembro]. Com esse nível de ácaros, você pode esperar que todas as pupas sejam parasitadas [multi-infestadas digo eu, pupas a serem sugadas por 2, 3 ou mais varroas fundadoras]. A colónia está condenada.

fonte: https://www.theapiarist.org/contact-killer/

Nota: nesta simulação o valor atribuído ao influxo de varroas por via da pilhagem de colónias a colapsar nas redondezas foi zero.

re-visitando um antigo estudo valenciano

O que de bom têm os documentos escritos, sejam eles de que tipo forem, é que se podem re-visitar sempre que o desejamos, como fazemos com os nossos velhos e bons amigos.

Neste caso, e considerando um contexto de quase calamidade apícola tanto em Portugal como em Espanha, com inúmeros relatos sobre a razia que a varroa tem feito pelos apiários desta Península, acho importante re-visitar e deixar a bold, de forma vívida, carregada, algumas conclusões/observações de um antigo estudo valenciano por aqui referenciado há quase quatro anos atrás:

Cidade das artes e das ciências, Valência, Espanha.
  1. As colónias que não foram tratadas com acaricidas morreram num espaço de 10 e 12 meses após a infestação inicial;
  2. os meses de fevereiro e março são os meses em que se assiste ao pico da criação para esta região de acordo com o ecotipo de abelhas, as condições climáticas, e as florações (predominância de laranjeiras) segundo os autores;
  3. as colmeias não tratadas não enxameiam e a diminuição da população de abelhas adultas é gradual ao longo de quatro meses, março a junho, até à sua morte.
  4. a infestação pela varroa nas abelhas adultas quase que triplica no período de um mês apenas, entre abril e maio;
  5. a queda natural/mortalidade de ácaros varroa mais que quadriplica entre o início de fevereiro e meados de março;
  6. quando a infestação das abelhas adultas ultrapassa os 20% as abelhas nascem mais pequenas e pesam menos.

Notas:

  1. se fosse um teste “bond” à John Kefuss, “Live and let Die”, daqui não se retiraria uma única colónia para semente de futuras linhas resistentes; mas alguns continuam a acreditar que é por aqui o caminho!
  2. disponibilidade de pólen e crescimento dos enxames, uma das correlações mais fortes que conheço do que vou observando nos meus enxames;
  3. ao contrário do que muitas vezes é repetido estes enxames muito infestados não enxamearam; posso dizer o mesmo dos meus;
  4. no período de um mês a infestação não se multiplicou por 1,5, nem por 2; foi por 3;
  5. a mortalidade e queda natural de ácaros nos tabuleiros multiplicou por 4 em cerca de mês e meio; continuo a duvidar se algum dia confiarei na fiabilidade deste tipo de contagem para avaliar a eficácia do tratamento x ou y, pois não está escrito nos ácaros quais os que caíram por morte natural e aqueles que caíram por efeito do acaricida;
  6. este foi um aspecto que me levou também a considerar que o Apivar este ano estava a ser ineficaz em 20-25% das minhas colónias: para além de encontrar algumas abelhas com asas deformadas 12 semanas após o início do tratamento, o que quer dizer que estas abelhas já foram criadas e emergiram em pleno período do tratamento, para agravar a minha pré-ocupação vi algumas abelhas recém-emergidas com os abdómenes mais curtos.

vinagre de maça: a solução para combater as viroses nas abelhas?

Das primeiras dicas que recebi quando iniciei a minha actividade apícola em 2009 foram os benefícios de utilizar o vinagre para curar a ascosferiose (criação de giz) e para evitar a fermentação do xarope de açúcar e torná-lo mais palatável e atraente para as abelhas. Da minha experiência o vinagre não resolveu a ascosferiose nas colmeias submetidas ao tratamento. O benefício para evitar a fermentação do xarope de açúcar fiquei com a impressão que o alcancei. Sobre se o tornou mais palatável não tenho forma de o confirmar.

Como deixei há muito de alimentar as minhas abelhas com xaropes açucarados deixei também de utilizar o vinagre. Qual a razão desta publicação, então? A razão é simples: no dinossáurico fórum Bee-L (imaginem que ainda funciona através de e-mail, raramente tem imagens, os textos dos intervenientes são longos em geral, muito bem escritos e, sobretudo, as conversas e debates são de grande qualidade — como os invejo, aos falantes do inglês, e ao mesmo tempo lamento que em português não exista nada de remotamente semelhante!), é o tema quente do momento. O debate iniciou-se quando um apicultor canadiano, E. Tardif, postou o vídeo em baixo.

Os que visionaram este pequeno vídeo puderam constatar que o que está em causa é muito diferente do que estamos habituados a ouvir sobre os supostos efeitos benéficos do vinagre de maçã. Já não se trata de curar a ascosferiose, não se trata de evitar a fermentação do xarope, ou torná-lo mais atraente. O que está a ser aventado é outra coisa: a possibilidade de a acidificação do xarope de açúcar contribuir para a desestruturação dos vírus da paralisia, da criação ensacada e das asas deformadas. O estudo referido no vídeo, que me dispenso de o traduzir dada a sua complexidade, os mais interessados podem lê-lo aqui: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abd7130.

Os apicultores que intervieram no debate no Bee-L, estão cépticos sobre os benefícios da utilização do vinagre de maçã. Entre outras razões referem um estudo que verificou danos nas abelhas pela acidificação com sumo de limão do xarope. Este estudo, curiosamente, foi referenciado por mim há uns meses atrás (aqui e aqui).

Nota: não posso deixar de relevar a menção que se faz no vídeo ao efeito prejudicial dos xaropes de açúcar não acidificados. No que respeita ao meu maneio é um problema que “não me assiste”, porque há muito perdi as ilusões sobre o pretenso efeito estimulante das xaropadas e deixei de as utilizar.

o fracasso dos programas de seleção para a resistência ao ácaro varroa

Randy Oliver escreveu recentemente no Bee-L acerca dos progressos, lentos, e dos obstáculos inesperados e inexplicados com que o seu programa para seleccionar e propagar linhas de abelhas resistentes ao ácaro varroa se está a confrontar. Atentem ao elevado número de lavagens de abelhas que são realizadas, em todas ou quase todas as colónias, para monitorar o nível de resistência de cada. Este caso de progressão lenta ilustra bem o relativo fracasso de tantos e tantos programas levados a cabo nestas duas últimas décadas para seleccionar, preservar e massificar linhas de abelhas resistentes ao varroa, e isto apesar de todo o investimento feito. Realisticamente, uma solução simples e rápida, que possa ser passada de apicultor em apicultor, de apiário em apiário, de território em território está longe de ser encontrada, é um objectivo ainda longínquo, mas o sonho permanece… sempre!

Dois pequenos vídeos com Randy Oliver a exemplificar como fazer no apiário uma lavagem de abelhas com álcool para determinar o nível de infestação nas abelhas adultas.

(Randy Oliver escreve:) Este tópico está muito na minha mente, já que estamos a meio de nossa primeira rodada de lavagem de ácaros nesta temporada para identificar quais são as colónias, com novas rainhas filhas de colónias resistentes. Estamos a realizar entre 1000 e 1500 lavagens de ácaros para selecionar as criadoras com potencial, que então serão submetidas a lavagens uma vez cada mês para confirmar [a resistência].

Já fazemos isso desde 2017, substituindo todas as nossas rainhas a cada ano
apenas com rainhas filhas de mães de colónias rigorosamente comprovadas
como resistentes aos ácaros. O que aprendi é que existe uma falta frustrante
de herdabilidade. Só porque a colónia mãe era completamente à prova de ácaros, não significa que as filhas da rainha daquela colónia resistente irão liderar colónias resistentes.

Estamos progredindo e, ao longo dos anos, passámos de menos de 1%
de colónias exibindo resistência para mais de 7%, mas longe de 95%. E
isto [acontece] com um programa de seleção rigoroso de acasalamentos amplamente controlado. Neste verão, planeamos realizar acasalamentos em alguns locais de grande altitude, onde não há zângãos externos.

Estou surpreso, depois de criarmos facilmente abelhas com esta ou aquela cor, temperamento, comportamento higiénico, ou resistência do ácaro da traqueia, com o quão difícil é preservar o traço resistência à varroa.

Randy Oliver
Grass Valley, CA
530 277 4450
ScientificBeekeeping.com

Nota: sobre os avanços e perspectivas na seleção de características de resistência ao ácaro Varroa destructor em abelhas melíferas ver também aqui.

avanços científicos no controle de infecções por Nosema ceranae (Microsporidia) em abelhas (Apis mellifera)

Deixo em baixo a tradução de excertos de um artigo, relativamente recente, de revisão da literatura acerca dos avanços científicos no controlo de infecções pelo microsporídio Nosema ceranae.

Introdução: Como gado, as abelhas requerem tratamentos veterinários de apicultores ou agricultores quando infectadas com parasitas ou patógenos. Isolada pela primeira vez em 1949 do fungo Aspergillus fumigatus, a fumagilina tem sido usada para tratar a nosemose induzida por Nosema apis em abelhas melíferas durante décadas. No entanto, estudos recentes mostram que este antibiótico pode ser ineficaz contra infecções por Nosema ceranae. Também há evidências de que a fumagilina é bastante tóxica e causa alterações cromossómicas, carcinogenicidade em humanos e alterações na ultraestrutura das glândulas hipofaríngeas em abelhas. Consequentemente, muitos países fora das Américas (incluindo a União Europeia) baniram a fumagilina para uso agrícola (MRL; Regulamento da Comissão, UE, 2010, nº 37/2010).

Pequenas moléculas: O reaproveitamento de medicamentos para abelhas melíferas usados atualmente pode ser outra estratégia para o controle de N. ceranae. Os ácidos oxálico e fórmico, usados como acaricidas pelos apicultores para suprimir os ácaros varroa (ectoparasitas devastadores das abelhas), inativaram a N. ceranae em testes de laboratório e de campo. […]

A maioria dos tratamentos experimentais do Nosema tem como alvo os esporos no trato digestivo das abelhas, deixando esporos viáveis nas estruturas das colmeias, favos de néctar e fezes, livres para infectar ou reinfectar animais não-tratados ou tratados. Consequentemente, estudos futuros deveriam investigar mais profundamente a dosagem e a sinergia entre os tipos de tratamento que atacam os esporos nos vários estágios da vida. O emparelhamento de tratamentos tópicos geradores de vapores (por exemplo, compressas embebidas em ácido oxálico) com medicamentos orais, por exemplo, pode matar tanto os esporos reprodutores quanto os livres no ambiente da colmeia, ao mesmo tempo que controla os ácaros varroa.

RNA de interferência: A investigação de RNAi pode ser útil na descoberta de novos alvos e tratamentos para infecções por N. ceranae em abelhas. O RNAi é um mecanismo de silenciamento genético pós-transcricional que é conduzido pela ligação do RNA de cadeia dupla (dsRNA) a sequências transcritas homólogas de um gene alvo. Além disso, o RNAi é um mecanismo anti-infeccioso natural presente na resposta imunitária das abelhas. O RNAi está a ser investigado para atividade terapeutica na medicina humana e para pesticidas na agricultura. A inibição de ácaros varroa e vários vírus com RNA infecciosos para as abelhas já foi realizada por RNAi. […] Embora muitas aplicações de RNAi tenham sido exaustivamente pesquisadas, nenhum medicamento ou pesticida baseado em RNAi foi aprovado até agora para uso agrícola.

Extratos e suplementos naturais: Dados preliminares sugerem que um suplemento fitofarmacológico comercial, Nozevit®, pode melhorar a saúde das abelhas diminuindo a carga de esporos nas colónias. Mais investigações e um tamanho maior de amostra são necessários para confirmar esses resultados, já que van den Heever et al. relataram haver nenhum efeito de Nozevit® em ensaios com abelhas em laboratório. Uma pesquisa de 2 anos com o suplemento à base de algas marinhas HiveAlive ™ relatou uma diminuição nas cargas de esporos da colónia e um aumento da população da colmeia em relação aos controles após a administração de dois tratamentos semestrais. Surpreendentemente, a sobrevivência não foi comentada neste estudo, embora os autores levem em conta a mortalidade da colónia nas suas análises do desenvolvimento da colónia.

Embora certos extratos naturais e suplementos comerciais tenham demonstrado eficácia contra N. ceranae, existem outros suplementos de produtos naturais anunciados como anti-infecciosos que não têm nenhum efeito benéfico nas abelhas infectadas com N. ceranae. Nosestat® e Vitafeed Gold® foram avaliados num teste de campo e não tiveram impacto na produtividade da colónia e nos níveis de esporos de Nosema. ApiHerb® e Nonosz® também são vendidos para melhorar a saúde das abelhas e talvez tratar a nosemose, mas pesquisas adicionais e mais evidências científicas são necessárias para apoiar as alegações de eficácia. Evidentemente, os apicultores devem ser cautelosos sobre que suplementos e extratos selecionam para o tratamento de infecções por N. ceranae.

Suplementos microbianos: A administração de suplementos microbianos pode ter impactos positivos na saúde das abelhas e prejudicar a viabilidade de N. ceranae. Baffoni et al. sugerem que a suplementação da dieta das abelhas com estirpes de bifidobactérias e lactobacilos, que segregam metabólitos de antibióticos, diminui os níveis de esporos de N. ceranae. Este trabalho soma-se a estudos anteriores que indicam que os ácidos orgânicos e outros metabólitos (por exemplo, surfactina) produzidos por bactérias reduzem a mortalidade das abelhas e as cargas de N. ceranae quando adicionados aos alimentos de abelhas. Foi demonstrado que outras estirpes bacterianas e probióticos (Parasaccharibacter apium, Bacillus sp., Bactocell® e Levucell SB) melhoram a sobrevivência de abelhas infectadas, mas não diminuem a carga de esporos. Um tratamento anti-Nosema bem-sucedido deve melhorar a saúde das abelhas e diminuir os níveis de infecção. Contudo probióticos, prebióticos e substitutos do pólen mal selecionados podem realmente exacerbar as infecções e aumentar a mortalidade das abelhas.

fonte: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fvets.2019.00079/full

Nota: da minha realidade, não tenho tido problemas com nosemose nas minhas colónias, tanto quanto consigo observar. Nos últimos 6 anos, desde que afinei a minha estratégia de controlo da varroose, a taxa de mortalidade invernal não tem ultrapassado os 5%. Na verdade também não utilizo “Probióticos, prebióticos e substitutos do pólen mal selecionados [que] podem realmente exacerbar as infecções e aumentar a mortalidade das abelhas.”, e não faço colecta de pólen.