as lições retiradas dos relatórios apícolas dos EUA

Sou um leitor ávido e habitual de relatórios anuais publicados por algumas associações/institutos de apicultura, tendo já publicado um ou outro pelo interesse que encontro nos seus dados (ver por ex. aqui). Acho os relatórios extremamente didácticos pela visão macroscópica que me permitem elaborar, pelo sentido que dão às observações mais fragmentares que vou fazendo nos meus apiários e pelo reforço que dão a algumas das acções basilares no maneio das minhas colónias.

As observações demasiado fragmentares, sem a devida integração e comparação com dados de natureza mais global, são semelhantes ao “olhar de um boi para um palácio”!

Nas duas últimas newsletter (28/12/2020 e 05/01/2021) que recebi do Bee Informed (EUA) é apresentada, na primeira, a análise de vários especialistas regionais acerca das tendências encontradas nas operações apícolas “comerciais” (operações com mais de 500 colónias) e os resultados do Sentinel Apiary Program, na segunda.

Relativamente à primeira newsletter (28/12/2020) chamou-me a atenção a organização e a quantidade de trabalho realizado pelos diversos especialistas que acompanham as operações comerciais e transumância de colónias entre várias regiões, da qual podemos ver um vislumbre no esquema em baixo.

Mapa das regiões das equipes de transferência de tecnologia BIP. Os pontos amarelos representam a base de cada especialista de campo e os pontos laranja identificam os estados onde eles fornecem serviços de supervisão de colónias. As setas indicam os movimentos dos especialistas de campo à medida que seguem as migrações de colónias de abelhas dos apicultores “comerciais” dos EUA durante a temporada de apicultura.

Na Região Noroeste, Ben Sallmann, o especialista de campo dessa região apresenta o seguinte sumário, no qual revejo boa parte dos eventos meteorológicos no território dos meus apiários em 2020: “Em fevereiro passado (2020), as condições climáticas da Califórnia foram ideais para a produção de amêndoas, e as abelhas também tiveram acesso a uma quantidade maior de pastagem este ano em comparação com o anterior. Portanto, as colónias cresceram muito rapidamente e os apicultores constaram muita enxameação. Durante este período, o clima da região noroeste foi chuvoso e muitos destes enxames fracassaram na fecundação das novas rainhas [não tive esta experiência, julgo que em boa medida porque consegui adiar a enxameação para “fora” da época das chuvas, para lá de meados de maio para ser mais concreto]. Não surpreendentemente, os níveis de infestação pelo ácaro Varroa também aumentaram mais cedo este ano. A loque europeia foi menos prevalente em 2020 em comparação com 2019, mas foi observada em algumas das colónias utilizadas para polinizar mirtilos [não sei o que é loque europeia, felizmente] . O mesmo padrão também se verificou nas taxas de infecção por ascosferiose (cria de giz) [doença muito esporádica e rara nas minhas colónias]. Embora os dados do Nosema sejam difíceis de avaliar devido à redução nos testes do Nosema este ano, em geral, as amostras que foram analisadas mostraram contagens de esporos mais baixas em comparação com os dados de 2019 [ao longo dos anos não tenho notado colónias com problemas críticos de nosemose, felizmente]. Neste outono, os níveis regionais de Varroa aumentaram consideravelmente depois que as rainhas começaram a diminuir a sua postura e muitas dessas colónias continuaram a enfraquecer, mesmo após a aplicação de tratamentos de controle de Varroa [sim, este ano constatei o mesmo em cerca de 20% das colónias tratadas]. Por outro lado, observamos menos sintomas visíveis de infecções virais do que anteciparíamos com cargas de Varroa tão altas [vi sinais evidentes e intensos das infecções virais nos 20% das colónias referidas em cima]. No geral, os apicultores que realizaram um tratamento de Varroa no início do verão se saíram muito bem.” fonte: https://beeinformed.org/2020/12/28/the-bee-informed-partnership-field-specialists-report-on-2020-commercial-beekeeping-trends/

Da segunda newsletter (05/01/2021) com os resultados do Sentinel Apiary Program

Em 2020, apicultores com 76 apiários representando 394 colónias participaram no Programa Sentinela. O laboratório da Universidade de Maryland processou quase 2.000 amostras do programa durante a temporada para monitorar Varroa e Nosema! 

… quero enfatizar uma vez mais a importância crítica do mês de agosto para iniciar o segundo tratamento contra o ácaro varroa (ver mais aqui). Também nos EUA este mês adquire, em muitas regiões, a mesma importância para quem deseja controlar efectivamente e a tempo e horas o ácaro. No gráfico em baixo verifica-se que o limiar de 3% de infestação de abelhas adultas (demarcado pela linha tracejada) é ultrapassado no mês de agosto para a média nacional. Estes dados não me surpreendem; já há alguns anos leio relatos no Beesource, por parte dos apicultores mais experimentados, para a necessidade de controlar a varroa nos meses de julho e agosto.

No relatório detalhado podemos ler: “Detectámos Varroa em mais de 70% das amostras do Sentinel recebidas em 2020. A percentagem de amostras contendo Varroa aumentou ao longo da temporada. A partir dessas amostras positivas, a fração das que atingiram o valor limite de 3 ácaros por 100 abelhas também aumentou ao longo dos meses (linha tracejada).

fonte: https://beeinformed.org/2021/01/05/sentinel-apiary-program-2020-wrap-up-and-2021-sign-up/

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