Hoje, por volta das 9h30, estava a entrar no meu segundo apiário a 600 m de altitude, e não pude deixar de notar um bando de cerca de 10 abelharucos a levantar voo. Não sei se coincidência ou não, o ano passado tinha algumas velutinas à frente dos alvados das colmeias neste território e não dei conta dos abelharucos. Este ano dou conta dos abelharucos e não vi, até agora, uma velutina ou crabro em frente dos alvados das colmeias.
Nas 41 das 42 colónias assentes neste apiário à data de hoje verifico uma expansão da área de criação em boa parte delas e um padrão e compaticidade que me deixaram satisfeito.
Foto representativa do padrão de postura e compaticidade encontrado nas 41 das 42 colónias deste apiário.
E na 42ª?
Na 42ª foi isto o que vi:
Colónia pouco povoada! Medicada com duas tiras de Apivar, e tratamento iniciado em meados de julho, de acordo com o calendário afinado nos últimos anos.Criação em mosaico, abelhas com asas deformadas, abelhas com varroas, larvas distorcidas… … abelhas moribundas a emergir com o probóscide/língua estirado.
Tudo sinais muito claros de PMS. Isto numa colónia com reservas de mel e pão-de-abelha suficientes para a altura.
Olhando para o tecto da colmeia, onde fui anotando os aspectos críticos desta colónia ao longo da estação, ajudou-me a tornar compreensível este desfecho.
Esta colónia, prematuramente forte, tinha a rainha já em postura no sobreninho a 16.03.
Sendo uma colónia forte e tendo eu colocado o sobreninho cedo na temporada, reforcei-a com alguns quadros com criação retirados de outras colónias dedicadas à produção para conformar estas à regra “não mais de 6”. Apesar de na altura esta colónia ter as duas tiras de Apivar no ninho (tratamento de final do inverno), este suplemento de quadros com criação deveria ter sido acompanhado com a colocação de mais uma ou duas tiras de Apivar no sobreninho para respeitar o que o fabricante preconiza: uma tira de Apivar por cada cinco quadros de abelhas. Sabendo isto há anos, não o tendo feito é inequivocamente uma incompetência minha no maneio desta colónia sobrepovoada.
A 16.05 coloquei uma excluidora entre o ninho e o sobreninho, com a rainha confinada ao ninho. Hoje vi sinais muito evidentes de PMS.
PMS identificado hoje, e hoje ainda ou amanhã cedo, o mais tardar, vou dar os passos que se exigem para solucionar esta situação. Tema para uma próxima publicação.
Publiquei no passado dia 27.04 um post sobre o síndrome provocado pelo vírus da paralisia crónica das abelhas. O blog The Apiarist, do qual sou subscritor, publicou ontem, dia 08.05, um post sobre este mesmo síndrome, a propósito da crescente mortalidade de colónias verificada na Grã-Bretanha nos últimos anos por esta causa.
Como se vê no gráfico o número de apiários que registam casos de paralisia crónica das abelhas tem aumentado, em especial a partir de 2013 (2017 é o último ano registado). O Sun Reporter publicou, no passado dia 02.05, um artigo sobre este vírus. E os comentários incluíram estas referências à atual pandemia do Covid-19 e à tecnologia 5G: “Acho que é beevid – 19. Eu não acho surpreendente” “É a radiação de 5g..google it” “O mel local supostamente carrega anticorpos de vírus e constipações locais – ajuda os seres humanos se comer este produto, ou é o que dizem. Portanto, pode ser que as abelhas estejam realmente infectadas por covid. Não é brincadeira.”
Radiação 5 G, oh my god!!? Este síndrome foi documentada há mais 2300 anos por Aristóteles e não consta que há época, na Grécia, existissem antenas e radiações 5G. Enfim, a “realidade” é o que quisermos!!
Deixando estes “cientistas” conspirativos e alucinados, que se multiplicam exponencialmente nas redes sociais, atentemos sobre o que nos dizem os cientistas (os autênticos) que trabalham no campo, que observam de forma controlada e medem com o melhor rigor possível para depois, com humildade científica, retirarem conclusões circunstanciadas, verificáveis e refutáveis.
Fatores de risco da síndrome ao nível do apiário
“Os metadados associados aos registros do Beebase são relativamente esparsos. Detalhes de métodos específicos de gerenciamento de colónias não são registrados. Fatores ambientais locais – OSR, borragem, gap de junho etc. – também estão ausentes. Inevitavelmente, alguns dos fatores que podem estar associados ao aumento do risco não são registrados.
Uma doença relativamente rara que está agrupada espacialmente, mas não temporalmente, é um problema complicado para definir fatores de risco. Steve Rushton, o autor sénior do artigo, fez um excelente trabalho ao analisar os dados disponíveis.
Os dois fatores mais importantes ao nível apiário que contribuíram para o risco da doença foram:
Apicultura comercial/profissional – os apiários geridos por apicultores comerciais/profissionais tinham um risco 1,5 vezes maior de registrar a síndrome.
Importação de abelhas – os apiários que tinham importado abelhas nos dois anos anteriores tinham um risco 1,8 vezes maior de registrar a doença.” (ver o artigo aqui: https://www.nature.com/articles/s41467-020-15919-0)
Artigo do The Times com o título ” Rainhas exóticas provocam uma epidemia às abelhas”.
Importação de abelhas não significa importação de doenças
Há bons registros de abelhas importadas pelos canais oficiais. Isso inclui rainhas, pacotes e colónias em núcleos. Entre 2007 e 2017, houve mais de 130.000 importações, 90% das quais foram rainhas.
Um risco aumentado deste síndrome em apiários com abelhas importadas não significa que as abelhas importadas foram a fonte da doença.
Com os dados disponíveis, não é possível distinguir entre as duas hipóteses a seguir:
as abelhas importadas são portadoras do vírus da paralisia crónica ou a fonte de uma nova (s) estirpe (s) mais virulenta (s) do vírus, ou
as abelhas importadas são suscetíveis à (s) estirpe (s) de vírus da paralisia crónica endémica no Reino Unido às quais não foram expostas em seu país de origem.
Existem maneiras de separar essas duas possibilidades … o que obviamente é algo que queremos concluir.” fonte: https://theapiarist.org/aristotles-hairless-black-thieves/
A infecção/síndrome do vírus da paralisia crónica da abelha (VPCA), que não deve ser confundido com o vírus de paralisia lenta ou vírus da paralisia aguda, afeta geralmente as abelhas adultas da Apis mellifera e causa uma paralisia crónica que se pode espalhar facilmente entre os membros da uma colónia. As abelhas infectadas com VPCA começam a apresentar sintomas após 5 dias e morrem alguns dias após. A infecção pelo vírus da paralisia crónica das abelhas é um fator que pode contribuir ou causar o colapso repentino das colónias de abelhas, e por vezes é confundida com a intoxicação por envenenamento.
Embora o VPCA infecte principalmente abelhas adultas, o vírus também pode infectar abelhas em estágios mais precoces de desenvolvimento, embora as abelhas mais novas tenham cargas virais significativamente mais baixas em comparação com suas companheiras mais velhas.
As abelhas que foram infectadas com VPCA podem abrigar milhões de partículas virais. O vírus possui atividade neurotrópica, isto, é afecta o processamento sensorial, memória, aprendizagem, o controle motor, a locomoção, a orientação corporal e excitação.
A infecção apresenta-se de duas maneiras distintas: a infecção/síndrome tipo I e a infecção/síndrome tipo II, a mais frequente na Europa.
Uma abelha infectada tipo I apresenta um abdómen inchado devido ao saco de mel estar cheio de líquido e asas fracas ou trémulas. As abelhas infectadas do tipo I tendem a gatinhar no chão ou aglomeram-se perto da entrada da colmeia, pois suas asas enfraquecidas levam à incapacidade de voar.
Uma abelha infectada tipo II apresenta uma completa perda do pêlo (alopécia), fazendo com que pareça preta e oleosa. Essas abelhas ainda conseguem voar 2-3 dias após o aparecimento dos sintomas, mas perdem a capacidade de voar pouco antes de sucumbir à doença.
As abelhas doentes são consideradas intrusas na colmeia e são atacadas pelas abelhas saudáveis da colónia. Em poucos dias, ficam incapazes de voar, apresentam tremores e acabam por morrer, alguns dias após o início da infecção. Embora estas duas síndromes sejam descritas, elas não são exclusivas porque podem estar presentes na mesma colónia. Portanto, uma síndrome geral foi definida, agrupando os principais sintomas dos 2 tipos. A síndrome é caracterizada pela presença de abelhas trémulas, incapazes de voar, rastejando, algumas são negras e depiladas; finalmente, essas abelhas às vezes são rejeitadas da colónia e são encontradas moribundas ou mortas à entrada da colmeia.
Pequeno vídeo que mostra uma abelha com infecção tipo II a ser agredida pelas suas irmãs, com vista à sua expulsão da colmeia.
Actualmente não há tratamento conhecido para a doença. Frequentemente, as abelhas infectadas pelo vírus da paralisia crónica morrem por si próprias, mas as abelhas infectadas, se detectadas, devem ser removidas da colmeia imediatamente para diminuir as chances de o vírus se espalhar através da trofalaxia ou do atrito com abelhas saudáveis. A suplementação de uma colmeia enfraquecida, que foi severamente afetada pelo vírus, com abelhas saudáveis de outra colónia pode impedir o seu colapso.
“… nós criadores de abelhas e rainhas, aqui na Califórnia, continuamos nosso trabalho diário no campo [em tempos da Covid 19].
Estamos a fazer várias centenas de núcleos por semana, e estamos em plena produção de rainhas. Estou a dividir a um ritmo louco as nossas colmeias criadoras de rainhas para as impedir de enxamear.
A boa notícia é que a nossa criação de linhas selectivas resistentes ao ácaro varroa parece estar a ganhar força. Começámos em 2017 com uma rainha resistente a servir de matriarca (juntamente com algumas colmeias com contagens baixas de ácaros). Em 2018, cerca de 20 colónias atingiram uma boa classificação (mantendo menos de 1% de taxa de infestação em 5 amostragens com lavagem com álcool e ao longo do ano; permitimos um aumento até 3% na lavagem de novembro quando elas param a criação, mas devem baixar de novo para 1% ou menos até março).
Em 2019, 30 tiveram uma boa classificação. Nesta primavera e até agora, 56 atingiram uma boa classificação (depois de excluir colónias que apresentavam resistência mas que não estavam à altura por outras razões), com mais 25 colónias ainda para serem submetidas à lavagem com álcool quando retornarem da polinização das amendoeiras.
Sete colónias estão a desenvolver-se bem sem nenhum tratamento contra a varroa durante dois anos completos.
Todos os anos, renovamos as rainhas de todas as nossas colónias apenas com filhas de mães resistentes. O progresso é lento, mas é muito emocionante ver colónias bonitas e fortes com contagem de ácaros a zeros após um ano inteiro sem tratamento.
Nesta temporada, irei utilizar um número maior de rainhas matriarcas para evitar um excessivo afunilamento da diversidade genética. Estou ansioso para ver se a nossa porcentagem de colónias resistentes continua a aumentar.”
Randy Oliver Grass Valley, CA www.ScientificBeekeeping.com (Bee-L, 02.04.2020)
Neste blog http://blog.exometeofraiture.net/blog/2018/12/09/autopsie-ruche-morte-hivernage/ Fred l’apiculteur faz um conjunto de observações e apresenta um grupo de fotos que me parecem muito didácticos, em especial para a época invernal em que estamos a entrar. A todos, ou quase todos nós nos irão morrer colmeias neste período. Em muitos casos o enigma da causa da morte poderá ser resolvido com uma observação simples mas competente e qualificada dos quadros dos ninhos dessas colmeias. A identificação correcta da causa de mortalidade das colónias durante o inverno é uma boa parte do caminho para evitar que o mesmo volte a acontecer no ano seguinte. E, para mim, o mais importante objectivo que me coloco como apicultor é manter as minhas colónias vivas durante o inverno.
“O inverno é um período sombrio para o apicultor; a maioria das perdas de colónias ocorre durante o inverno.
O cenário é sempre o mesmo: colmeias dinâmicas e populosas durante o verão, reservas suficientes e… em novembro / dezembro, é o desastre, essas mesmas colmeias ficam vazias de abelhas. Às vezes, encontramos uma pequena bola de abelhas com a rainha, e muitas vezes permanece alguma criação. Também existem quadros bem fornecidos de mel, mas em muitos casos, o apicultor não consegue fornecer dados sobre a eficácia do tratamento contra o Varroa.
Nesse tipo de situação, todos têm a sua teoria para explicar o desastre: pesticidas aplicados no final da temporada, falta de qualidade das rainhas, alimento artificial de inverno de baixa qualidade, ambiente degradado, envenenamento, ondas electromagnéticas GSM,”teríamos que alimentar com mel “,” é uma pulverização do agricultor local “, … mas nunca a varroa é mencionado como causa plausível; “Tenho muito poucas varroas nas colmeias, não as vi sobre as abelhas! »….
Afinal o que matou realmente a colónia? Quais os elementos objetivos que ajudam a esclarecer qual a causa plausível? O que o apicultor pode fazer para analisar objetivamente o problema e mudar o que for necessário para parar de ter essas mortalidades na temporada seguinte?
No início do inverno de 2018 e 2019 Renaud Lavend’homme, palestrante apícola conhecido pelo seu envolvimento no projeto Arista Beeresearch, ofereceu-se para fazer a “autópsia” de uma colónia vítima desta doença de inverno. Com o equipamento necessário para realizar essa operação, ele oferece-nos uma série de documentos, fotos e vídeos, a fim de solucionar o enigma.
Uma descrição do estado geral dos quadros da colónia morta no início do inverno: criação operculada esparsa, bastante mel e pólen, poucas abelhas mortas encontradas na colmeia. A declaração típica do dono da colmeia: “Intrigado com a total ausência de abelhas na entrada de uma das minhas colmeias, eu olhei para dentro e… o ninho estava vazio. Ainda cheio de reservas e muito ativo durante a minha última visita do outono. Estou extremamente chateado e triste. Alguém tem uma explicação? Obrigado“
As imagens em baixo foram tiradas com um simples telemóvel. Vemos imediatamente pequenos pontos brancos nas paredes da grande maioria dos alvéolos, o olho inexperiente concluirá erradamente que são cristais de açúcar. Na verdade, são cristais de guanina**, que nada mais são do que excrementos do ácaro Varroa !!!
Então, a criação restante é desoperculada para confirmar as nossas primeiras suspeitas. O suspense é de curta duração! Neste caso, Renaud encontrou apenas 3 pupas não infestadas em cerca de 30 alvéolos com criação operculada, ou seja, cerca de 90% da criação infestada …
A língua da pupa estirada é um dos sintomas de uma mortalidade por infestação maciça de Varroa. E a presença de cristais de guanina indica claramente que há “companhia” no alvéolo …”
Nota: Também este apicultor chegou à conclusão que o mês de agosto é crítico para o controlo da varroose com tratamentos de longo prazo, 10 a 12 semanas, como resposta às reinfestações (ver caixa de comentários). Conclusões que estão alinhadas com as que tirei de há uns anos para cá e que vou relembrando por aqui com alguma regularidade.
** Guanina: “O que diabos é a guanina?” Muito simplesmente, a guanina é uma das quatro bases que contêm nitrogénio encontradas no DNA. Provavelmente já viu sequências de letras representando a estrutura do DNA que se parecem com isto: ATGGATGTCGACGGT e assim por diante. As quatro letras representam as quatro bases: adenina, citosina, guanina e timina. Acontece que o excremento dos ácaros Varroa contém cerca de 95% de guanina. Guanina tão pura que aparece como um globo branco brilhante – um depósito que os ácaros deixam no interior dos alvéolos. Afinal, não há “WC” para serem usadas enquanto estão fechados sob uma tampa, espremidos entre uma pupa de abelha e uma parede de cera, de modo que os deixam onde estão.
Em baixo fica o relato muito impressivo de uma apicultora norte-americana, R. Z., apresentado hoje no fórum Bee-L, a propósito do tratamento contra a varroose com ácido oxalico sublimado numa colmeia de observação. Para lá do interesse nos dados das suas observações acerca do que viu no dia e dias seguintes à aplicação do tratamento, trouxe este relato para o meu blog para uma vez mais enfatizar a enorme importância de tratar as colónias atempadamente, muito antes de elas apresentarem sintomas claros de PMS. A partir de um certo nível de infestação (no meu caderno de bordo acima de 3%) mais preocupante que as varroas são os vírus por elas veiculados, e mais adiante veiculados entre as abelhas, e entre elas e a rainha. Origina-se uma cadeia de eventos muito difícil de controlar que muitas vezes só se encerra com a morte em sofrimento das abelhas da colónia. O relato pungente fica traduzido em baixo.
PMS= abelhas com asas deformadas; opérculos furados; abelhas semi-mortas a emergir do alvéolo com a língua estirada; excrementos brancos das varroas no fundo e paredes dos alvéolos; larvas deformadas; padrão de criação operculada irregular ou em mosaico.
“Há dois anos, coloquei um pequeno enxame que estava debilitado na minha colmeia de observação num esforço para salvar a rainha durante o inverno.
Encontrei as abelhas cobertas de ácaros, com o vírus das asas deformadas e sinais progressivos de virose da paralisia aguda. Então usei meu sublimador para vaporizar a colónia com ácido oxalico. Tentei com pequenas quantidades no começo, mas isso não criou pressão suficiente para originar o vapor. Então, usei a dose de 1 grama na minha colmeia de observação de 3 quadros. Essas abelhas receberam pelo menos três vezes a dose recomendada.
Coisas que observei:
As abelhas perto do vaporizador afastaram-se a bater as asas, mas as restantes continuaram como se nada se tivesse passado.
A rainha não parou na postura dos ovos.
Pequenos cristais formaram-se sobre as abelhas, nos quadros e na criação por toda a colmeia.
4 horas depois, todas as larvas que flutuavam em geleia foram removidas, exceto algumas larvas quase operculadas. A criação operculada e os ovos permaneceram.
Após 6 horas, nos alvéolos recentemente limpos vi ovos novos.
Os ácaros caíram durante cerca de 3 dias. E depois de os limpar do fundo da colmeia, não vi outro ácaro naquela colmeia (era inverno).
A colmeia continuou “mancando” por mais alguns meses, fui alimentando-a com mel, e a criação operculada e os ovos que ficaram cobertos com cristais de oxálico na altura da aplicação desenvolveram-se normalmente.
Mesmo depois que todos os ácaros terem sido eliminados, as doenças/viroses permaneceram e a rainha provavelmente apanhou o vírus da paralisia. No começo, ela começou a parecer desajeitada ao depositar os ovos nos alvéolos; depois, dois dias depois, ela parecia tropeçar e escorregar um pouco no quadro. Alguns dias depois, ela caiu no chão de costas, mexendo apenas a cabeça e a língua. Nas operárias, a paralisia parecia começar nas pernas traseiras e avançar pelo corpo. Foi horrível.
Minha aprendizagem:
com 3x a dose de vapor de oxálico, larvas de 3-6 dias foram sacrificadas, mas substituídas por ovos em poucas horas.
Mesmo depois de todos os ácaros morrerem e desaparecerem, os vírus persistiram e pareceu terem sido transferidos de irmã para irmã e de irmã para a mãe.
A debilitação de uma colmeia com PMS é brutal de acompanhar de perto. O que eu observei com abelhas sofrendo (caídas de costas com paralisia progressiva) parecia intolerável na minha sala de estar. E, como a analogia canina de Randy Oliver, parece cruel não fazer nada para impedir esse destino. Agora sou uma defensora de tratamentos precoces e eficazes.
Manter os vírus em baixo precocemente é muito, muito melhor do que tratar tardiamente. Mesmo se sua colmeia sobreviver, pode levar um ano inteiro para eliminar os vírus, se eles forem totalmente eliminados.”
O estudo de Samuel Ramsey veio re-equacionar uma verdade científica que vinha do início dos anos 70 do sec. XX: o parasita externo varroa alimenta-se predominantemente do corpo gordo da abelha e não da hemolinfa. Para termos uma noção mais clara do local da abelha onde os varroas se alimentam é necessário conhecer alguns detalhes da investigação. Samuel Ramsey e os colegas recolheram abelhas de uma colmeia infestada de ácaros e registraram a localização na abelha à qual os ácaros estavam fixados.
Verficaram que a maioria estava presa à parte inferior esquerda do abdómen. Mais especificamente, o ácaro estava encravado sob o terceiro tergito abdominal.
Fig.1 : A maior parte dos ácaros (60%) estava localizado na zona indicada pelo ponto vermelho
Ramsey e seus colegas removeram alguns dos ácaros e usaram um microscópio eletrónico para examinar este ponto de fixação do ácaro na abelha. Por baixo do tergito existe uma membrana mole. A impressão do corpo do ácaro era claramente visível na membrana.
Fig.2 : Imagem ampliada por microscópio electrónico do ponto de fixação do ácaro na abelha
Nas imagens em cima podemos ver: as patas almofadadas do ácaro foram deixadas presas à membrana (imagem esquerda, setas brancas), abrangendo uma ferida óbvia onde os aparelhos bucais perfuraram a membrana (seta preta). Entre eles, a forma de W invertido é presumivelmente a impressão da carapaça inferior do ácaro.
A imagem em close-up à direita mostra os sulcos no local da ferida consistentes com as partes bucais do ácaro.
Estes ácaros estavam a alimentar-se do corpo gordo da abelha.
Fig.3 : Vista ao microscópio electrónico do corpo gordo de uma abelha
Espero escrever mais um ou dois posts com mais alguns detalhes da investigação de Samuel Ramsey, para depois retirarmos algumas novas implicações para a prática apícola e, em simultâneo, reforçarmos a importância de efectuar o tratamento de final de verão de forma atempada.
Nota: a investigação deste jovem mostra as virtualidades do processo científico, um processo de construção suportado pelo que já é conhecido mas, paralelamente, um teste e reteste empírico do conhecimento já construído, uma construção nova, sustentado em novas reflexões e observações, novas técnicas e novas medições, que resultam algumas vezes em propostas de novas relações para as variáveis em estudo. Quando se trata de propor uma alternativa de explicação há uma comunidade de pares para convencer, comunidade muito exigente quanto à qualidade da investigação e robustez dos factos apresentados. Como este jovem fez afirmações extraordinárias foi obrigado por essa comunidade a apresentar evidências também elas extraordinárias. Parece-me que o tem conseguido e abriu um novo paradigma com muitas implicações práticas e teóricas. Mais uma vez a ciência mostra que se não é o espaço dos meros opinadores, também não é um espaço de dogmas inquestionáveis.
Alguns patógenos das abelhas conhecidos estão distribuídos por todo o mundo. Eles incluem: Varroa destructor no caso de Apis mellifera e Apis cerana; bactérias que causam a Loque Americana e Loque Europeia; os microsporídios Nosema apis e Nosema ceranae; e numerosos vírus que afetam a Apis mellifera. Esses patógenos tendem a ter diferentes haplótipos de virulência variável. A mudança climática pode encorajar a transferência desses haplótipos entre as populações de abelhas. Outros patógenos ou haplótipos têm faixas de distribuição mais limitadas, como Tropilaelaps, que até agora só foi encontrada na Ásia.
As mudanças climáticas conduzirão a deslocações de abelhas de diferentes espécies e raças, colocando-as em contato com patógenos com os quais nunca co-evoluíram, como ocorreu com o Varroa destructor e a Apis mellifera. No espaço de algumas décadas no século passado, dois haplótipos extremamente homogéneos desse parasita foram suficientes para invadir virtualmente todas as áreas de distribuição da Apis mellifera. A história mostra, portanto, que tais encontros podem ser catastróficos e que as abelhas necessitarão de assistência humana para sobreviver.
Os movimentos das abelhas melíferas podem ser espontâneos e ligados às mudanças climáticas nas zonas geográficas de origem e de acolhimento (por ex. o conhecido caso de colonização das abelhas africanizadas no continente americano). Pode acontecer ainda que a maior ou menor expressão de doenças, dependa de fatores climáticos. Um estudo recente descobriu que temperaturas mais baixas estão associadas a uma menor prevalência do parasita Nosema ceranae, indicando que temperaturas mais altas, resultado de mudanças climáticas, podem ocasionar mais abelhas infectadas com este microsporídio.
Teste ao filamento (teste do palito) Os apicultores devem realizar o teste ao filamento nos alvéolos suspeitos antes da infecção atingir o seu estágio mais avançado e mais infeccioso. O teste deve ser feito de acordo com os procedimentos seguintes:
Identifique o alvéolo suspeito que apresente sinais de loque americana – alvéolos com coloração mais escura, gordurosos, perfurados e/ou afundados.
Insira um palito de fósforo no interior do alvéolo.
Lentamente, retire o seu conteúdo.
Se este conteúdo for pegajoso e formar um filamento castanho-escuro, com 3 a 5 cm de comprimento isso indica que a colmeia, muito provavelmente, está infectada com loque americana.
Se este filamento for de cor cinza-clara e menor que 1,5 cm, então a doença é provavelmente loque europeia. No entanto, as larvas infectadas por Paenibacillus alvei (uma infecção secundária associada à loque europeia) também podem causar larvas infectadas que produzam um filamento mais longo e se assemelhe ao filamento de larvas infectadas com loque americana.
Um dos principais meios de distinção entre loque europeia e loque americana é que a loque europeia normalmente mata a larva antes do alvéolo ser operculado; ao contrário as larvas infectadas com loque americana geralmente morrem após o alvéolo ser operculado.
Teste ao filamento nos casos de loque americana
Filamento: pode ser bastante viscoso, formando um filamento em torno de 3-5cm de comprimento.
Aparência do filamento: é geralmente castanho escuro e pode ser bastante elástico.
Odor: apresenta um odor bastante sulfuroso nos estádios mais avançados.
Padrão da criação e estágio da infecção: padrão de criação em “mosaico” e opérculos perfurados. As larvas infectados geralmente morrem após a operculação dos alvéolos.
Escama: Frágil, de cor castanho-escuro.
Teste ao filamento nos casos de loque europeia
Filamento: Geralmente não é muito viscosa nos estágios iniciais, com alguns filamentos a atingirem cerca de 1,5cm. No último estágio da infecção, com possível infecção secundária, o comprimento do filamento pode ser mais comprido.
Aparência do filamento: massa semilíquida de cor cinza-claro, com algum amarelado devido a tubos traqueais infectados.
Odor: geralmente um odor azedo.
Padrão de criação e estágio da infecção: criação irregular, larvas mortas, ou descoloridas (amareladas) e torcidas, em alvéolos abertos não operculados.
Escama: aspecto de borracha, com uma cor cinza-claro a preto.
Lembre-se sempre de que estas são orientações para uma análise de campo simples e, por vezes, as conclusões podem ser equivocadas. O único meio preciso de diferenciar a loque europeia da loque americana é por meio de análises de laboratório. Como todos sabemos a loque americana é uma doença de declaração obrigatória. Como apicultor “conservador” (alguns poderão dizer prudente), nos casos de loque americana só vejo uma saída: o fogo. Para bem do próprio, para bem dos apicultores vizinhos e para bem da apicultura nacional. A loque americana pode tornar-se, num período de poucos anos, pandémica, como aconteceu há cerca de dois anos na África do Sul. Segundo os próprios sul-africanos o principal factor desta evolução dramática foi o desconhecimento, a desvalorização do problema e uma actuação parcial e incompleta, decorrente de uma atitude excessivamente optimista (imprudente, se desejarem) por parte de muitos apicultores daquele país.
Os apicultores devem realizar o “teste do palito” sempre que observem opérculos suspeitos no seio de um quadro de cria selada/fechada.
Os alvéolos adequados para realizar o teste do palito para verificar a resistência do filamento que identifica a Loque Americana são aqueles cujos opérculos apresentam uma coloração mais escura, um aspecto gordurosos, estão perfurados e/ou ligeiramente afundados.
Fig.1 : Opérculos mais escuros e afundados (no centro da imagem) e que nos devem levantar suspeitas.
Fig.2 : Opérculos afundados, com aspecto gorduroso e perfurados e que nos devem levantar muitas suspeitas.
Fig.3 : Opérculos afundados, com aspecto gorduroso e furados, que nos devem levantar muitas suspeitas.
Fig. 4: Inúmeros opérculos perfurados são frequentemente sinais de um estado avançado de Loque Americana.
Nem sempre os opérculos perfurados indicam obrigatória e necessariamente a existência de Loque Americana. O teste do palito para testar a resistência do filamento é o passo seguinte no diagnóstico. Um assunto para um outro post.