desinfecção por maçarico de colmeias com esporos de loque americana: o contexto, a reflexão, os dados

As colmeias com loque americanadevem ser
queimadas devido aos esporos que permanecem
viáveis por até 40 anos.

O contexto: Quando deparamos com uma colónia com loque americana, uma das questões que se coloca é como podemos desinfectar a caixa-colmeia. Vários apicultores, senão a maioria, opta por queimar os quadros e desinfectar com recurso ao maçarico a superfície de madeira da caixa-colmeia, isto é, o seu estrado, corpo e prancheta de agasalho. Quem o faz garante que este procedimento é suficiente, afirmando que não teve problemas de novas infestações.

A reflexão: Estou convicto que para cada um dos testemunhos que refere esse bom resultado, provavelmente haverá outros com resultados negativos. Contudo é próprio da nossa natureza humana apresentar os bons resultados, e deixar em privado aquilo que não correu bem. Por outro lado, como uma equipa de futebol que ganhe dez jogos seguidos não garante que ganhará os dez seguintes, também ser bem sucedido dez vezes com a desinfecção com maçarico de caixas contaminadas pelos esporos de loque não garante que o mesmo volte a acontecer ao desinfectar a décima primeira.

Os dados: A desinfecção com maçarico não garante a eliminação de todos os esporos. Esta afirmação não resulta de uma noite mal dormida ou de uma imaginação fértil. É uma afirmação sustentada nos dados que conheço de um ensaio controlado, bastante claro a este respeito, do qual traduzo pequenos excertos bastante elucidativos.

A queima [com maçarico] deu uma descontaminação superficial completa, enquanto um número substancial de esporos permaneceram viáveis nas camada mais internas da madeira.

A desinfecção das colmeias [com maçarico] não pode ser recomendada.” 

Em conclusão, a descontaminação de estruturas de madeira, como colmeias, continua a ser um problema. Isso parece dever-se principalmente à estrutura da madeira, e não à natureza dos esporos.

fonte: https://sfamjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1046/j.1365-2672.2001.01376.x

Nota: sobre a loque americana escrevi em 2017: “Para quem quer impedir o alastramento do contágio e assim preservar as suas colmeias e as colmeias dos vizinhos só tem um caminho: eliminar pelo fogo as fontes de loque americana. Isso implica matar as abelhas e queimar tudo: abelhas, quadros e caixas num buraco aberto no solo que depois deve ser bem coberto com terra para evitar que as abelhas nas redondezas se infectem em alguns restos mal queimados.” O artigo em cima aponta outros caminhos, mas pouco viáveis para muitos apicultores.

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