Nos onze anos da minha actividade apícola como apicultor profissional, tenho verificado que os resultados dos tratamentos contra a varroose apresentam taxas de eficácia aparentemente diferentes, quando comparo os resultados entre os tratamentos de final de inverno e os tratamentos de final de verão. Encontro mais regularmente colónias com PMS após os tratamentos de verão (por ex. nos anos de 2014, 2016 e 2020) do que após os tratamentos de final de inverno. E porquê? Esta é a questão apícola mais premente na minha cabeça, decorrente do que observo e considerando as minhas opções por medicamentos não dependentes da temperatura ambiente, não voláteis*, com alguma rotação de princípios activos ao longo destes anos e, sobretudo, com o que considero um bom ajustamento do calendário de tratamentos realizado a partir de 2015/2016**.
As hipóteses explicativas que confluem todas (com que peso cada uma?) para a maior dificuldade em manter as taxas de infestação abaixo do dano ao nível da colónia são, na minha opinião, basicamente as três que apresento em baixo:
- a interacção entre a dinâmica populacional das abelhas e a dinâmica populacional dos varroas, ao longo de um ano, provoca mais pressão parasitária no final do verão do que no final do inverno/início da primavera (tive oportunidade de explicar este fenómeno numa palestra que fiz em 2019, na Guarda);
- a hipótese dos ácaros no final do verão serem mais resistentes que os do final do inverno, hipótese ainda não testada pelo que sei, e aqui apresentada por Frank Rinkevich uma das referências mundiais actuais neste domínio;
- o fenómeno de multi-infestação, isto é, a parasitação de uma larva de abelha por 2 ou mais ácaros muito mais frequente no final do verão do que no final do inverno, fenómeno pouco considerado por muitos apicultores, apesar de já conhecido e referido na literatura científica desde a década 90 do século passado. A multi-infestação contribui de forma importante para o aumento da carga viral em cada uma das futuras abelhas e as asas deformadas são a expressão mais visível desta maior carga viral.
* o amitraz do Apivar, o tau-fluvalinato do Apistan, a flumetrina do Bayvarol, os princípios activos até agora utilizados por mim, não são voláteis;
** tenho recebido testemunhos de amigos apicultores da minha zona, que decidiram experimentar o meu calendário de final de verão, isto é, antecipar o segundo tratamento para agosto. Fico naturalmente satisfeito com o feedback que me têm dado da melhoria notável dos resultados, quando comparados com os resultados que obtinham quando medicavam em setembro ou até em outubro.