ciclo reprodutivo do ácaro varroa nos alvéolos de obreira (versão simplificada)

1) Ovo posto pela rainha no fundo do alvéolo 

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O alvéolo está aberto.

2) 8 dias depois de o ovo ter sido posto (5º dia do estádio larvar) 

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Uma varroa fêmea fecundada entra no alvéolo 15 horas antes deste ser operculado.

3) 9 dias depois de o ovo ter sido posto

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O alvéolo é operculado, a varroa fêmea fecundada fica fechada no interior e alimenta-se da hemolinfa da larva.

4) 11 dias depois de o ovo ter sido posto

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A varroa fêmea põe um ovos a cada 30 horas: o primeiro é de um macho e os seguintes são de fêmeas.

5) 20 dias depois de o ovo ter sido posto

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A varroa mãe continua a por ovos a cada 30 horas. Logo que atingem a maturidade sexual (5 a 6 dias) as varroa filhas são fecundadas pelo macho no interior do alvéolo.

6) 21 dias depois de o ovo ter sido posto

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A jovem abelha sai do opérculo carregando 2 varroas fecundadas. As varroas fêmeas imaturas e a varroa macho morrem no interior do opérculo.

a pontualidade suiça

Pesquisadores suíços mostraram que o Vírus das asas deformadas (VAD) reduz o tempo de vida das abelhas obreiras e que os altos níveis de VAD estão diretamente associados – têm um efeito causal – à perda de colónias durante a invernagem (ver post relacionado). Por conseguinte, a finalidade do tratamento contra a varroa no final de verão/início do outono é reduzir os níveis desta, de modo a que os níveis elevados das estirpes virulentas de VAD não sejam transmitidas às abelhas de inverno.  Quando é a melhor altura para tratar é a questão de um milhão de euros?  Dizer que tem que ser suficientemente cedo para que esta população de abelhas de inverno, crítica para a sobrevivência na invenagem, viva até a primavera já é um alerta, mas um pouco vago. Vejamos se é possível chegar a uma resposta mais concreta.

No estudo suíço acima referido, os investigadores olharam para a longevidade de abelhas de inverno. Podemos usar os dados da sua pesquisa para inferir quando começam a ser criadas as abelhas de inverno na colónia e quando o tratamento do ácaro da varroa deve, portanto, ser concluído para proteger essas abelhas.

Os estudos foram conduzidos em Berna, Suíça, em 2007/08, onde a temperatura média em novembro/dezembro desse ano foram 3ºC (não muito distantes das temperaturas médias nos locais dos meus apiários na Beira). Os investigadores observaram, pela primeira vez, diferenças mensuráveis ​​na longevidade das abelhas de inverno (entre colónias que, posteriormente, sucumbiram ou sobreviveram) em meados de novembro. Este fenómeno ocorreu 50 dias após abelhas terem nascido (as abelhas foram marcados para se poder determinar a sua idade). Até ao final de novembro, essas diferenças foram-se acentuando. Portanto, em meados de novembro, as abelhas de inverno expostas à varroa e ao vírus já exibiam uma vida útil reduzida. Subtraindo 50 dias a partir de meados de novembro significa que essas abelhas nasceram no final de setembro. Como é do conhecimento geral, o desenvolvimento das abelhas obreiras demora 21 dias. Assim, os ovos devem ter sido colocados na primeira semana de setembro e as larvas em desenvolvimento terão sido operculadas em meados de setembro (sabe-se que a varroa entra no alvéolo onde a larva se desenvolve cerca de 12h a 24h antes deste ser operculado — ver post relacionado).

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Fig. 1 — Quadro com sinais de parasitação pelo ácaro varroa, e muito provavelmente pelo vírus das asas deformadas, numa colónia que irá morrer por fome nos dias frios de inverno por não ter abelhas suficientes para chegarem ao mel armazenado

No estudo suíço referido, para proteger a população de abelhas de inverno, o tratamentos dos ácaros teria, portanto, que estar concluído até meados de Setembro, de modo que os níveis de varroas sejam suficientemente baixos, garantindo que as larvas em desenvolvimento não sejam infestadas pelos ácaros, veículos de transporte de cargas potencialmente letais do VAD.

Para o tratamento com Apivar (tratamento que tenho eleito e que leva 6 semanas a estar concluído), isso significa que o tratamento deve ser iniciado entre o início e meados de agosto.

Claro, estes números e datas não são universais e devem ser ajustados aos locais onde se situam os apiários, assim como às particularidades dos tratamentos que cada um decide utilizar. No meu caso particular, e nos meus apiários da Beira, estas datas fazem todo o sentido, de acordo com as observações que tenho realizado nos dois últimos anos. Para não chegar tarde, devemos ter a pontualidade suíça.

Actualização (26-01-2019): Actualmente deixo as tiras de Apivar nas colmeias entre 10 a 12 semanas.

ciclo reprodutivo da varroa

Que a varroa é a maior ameaça ao bem-estar e sobrevivência das nossas colónias de abelhas, julgo que ninguém, com alguma experiência apícola, terá dúvidas. Para melhor combatermos este parasita importa que cada um de nós se vá munindo de informação e conhecimentos a seu respeito. O apicultor actual para além de ser um conhecedor de abelhas deve também conhecer com uma boa profundidade este perigoso inimigo. O conhecimento do ciclo reprodutivo da varroa dá-nos uma boa ideia do respeito que lhe devemos ter.

O ciclo reprodutivo da varroa

Sabe-se hoje que a varroa mãe entra no alvéolo onde se encontra a larva da abelha ao 5º dia do estado larvar, isto é, ao oitavo dia de vida da larva (3 dias enquanto ovo e mais cinco enquanto larva). Instala-se no fundo do alvéolo e submerge na papa larvar, o que dificulta a sua detecção e remoção pelas abelhas que fazem a higiene da larva.

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Fig. 1 — Representação esquemática do ciclo de reprodução do ácaro da varroa

Cerca de 5 horas após a selagem do alvéolo a larva da abelha consome o resto da papa larvar que existia no fundo do mesmo. O ácaro da varroa começa por esta altura a sugar-lhe a hemolinfa (o sangue das larvas das abelhas). Aproximadamente 70 horas depois da selagem do alvéolo a varroa põe o seu primeiro ovo. Este primeiro ovo dá origem a um ácaro macho. Os ovos seguintes dão origem a ácaros fêmeas e são postos com um intervalo de 30 horas. Em média um “programa reprodutivo” normal produz até cinco varroa filhas na criação de obreira e até 6 varroas filhas na criação de zângão. Desde a postura dos ovos até à sua adultez decorrem cerca de 6 a 7 dias. Os machos da varroa são claramente mais pequenos que as fêmeas (dimorfismo sexual).

A varroa mãe perfura a frágil cutícula da larva da abelha para que a sua prole se alimente. A reprodução das varroa é endogâmica, isto é, o macho fecunda as suas irmãs.

O ciclo completo de reprodução da varroa demora doze dias a completar-se. Finalizado este período uma ou duas varroas maduras, juntamente com a mãe, saem do alvéolo no momento em que a jovem abelha emerge do seu alvéolo.

O crescimento exponencial das varroas e implicações no maneio

Em média as varroas multiplicam-se por um factor de 1,7 por cada 20 a 30 dias. Estes são os números que nenhum apicultor deve esquecer.

Num cenário de uma colmeia com um elevado número de varroas, cerca de 6000 ácaros, taxa que poderá passar despercebida ao apicultor menos atento, e fazendo as contas direitinhas, significa que em menos de um mês este número poderá aumentar para cerca de 10 000 varroas.

Com estes números presentes todos compreendemos melhor porque aplicarmos os tratamentos, 15 ou 20 dias antes ou 15 ou 20 dias depois, pode fazer toda a diferença. A diferença entre termos uma colmeia tratada a tempo, que irá rapidamente recuperar, e uma colmeia moribunda, que dificilmente conseguirá recuperar da varroa e dos vírus que elas veiculam. Amanhã já poderá ser tarde!

foi a varroa que matou a colmeia?

Mais vezes do que se deseja, o apicultor encontra uma colmeia, ainda há poucas semanas pujante, cheia de abelhas e com muito movimento no alvado, sem abelhas. Pode suspeitar que as abelhas desertaram, este é um acontecimento possível, mas raro. Se lhe é colocada a hipótese de tal ter sucedido por causa da varroa, frequentemente, rejeita essa possibilidade, porque não viu varroas nas abelhas… porque a colmeia estava muito forte… porque a varroa não deita abaixo uma colmeia tão forte num espaço de duas ou três semanas.

Mas sim, pode mesmo ter sido  a varroa.

No diagnóstico post mortem de uma colmeia sem abelhas, que todos devemos fazer para compreender melhor as causas do sucedido, se encontrarmos uma cenário como o que passarei a descrever, o melhor que temos a fazer é mesmo colocar a varroa como a hipótese primeira na lista das causas possíveis.

  • Era uma colónia forte. As colónias fortes têm uma probabilidade maior que as colónias mais fracas de sucumbirem com a varroa, e de sucumbirem de uma forma muito rápida (muitas vezes num período de apenas duas semanas).
  • Colapsou à entrada do outono ou inverno. Dependendo das zonas, em regra, as rainhas diminuem a postura nesta altura do ano. Os ácaros que se desenvolveram a um ritmo crescente até aí, com menos criação na colmeia, parasitam por esta altura a quase totalidade das larvas e ninfas. Muitas das novas abelhas não nascem ou nascem fortemente debilitadas pela acção combinada dos ácaros e dos virús por eles transmitidos.
  • Deixa muito mel nos quadros. Dada a altura do ano em que estes acontecimentos súbitos surgem, o tempo mais frio dificulta ou até impede a predação por outras abelhas e/ou insectos destas reservas de mel.
  • Apresenta alguma criação nos quadros. Estas áreas de criação na grande maioria operculada, sinaliza que a rainha manteve a sua postura regular até cerca de duas a três semanas antes de a colónia colapsar. Este último ciclo de criação já estava condenado. Dada a rapidez com que o colapso ocorre ficam pequenas manchas de criação prestes a nascer, podendo até observar-se algumas abelhas prestes a nascer, com metade do corpo já fora do opérculo e com a língua extirada.
  • A rainha não se encontra. As razões podem ser diversas: morreu devido a infecções virais; morreu à fome; morreu pela exposição ao frio, dado que a força de trabalho se foi extinguindo.

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Fig. 1 — Criação afectada pela varroa numa colónia com sinais de Sindrome de Parasitação pelo Ácaro da Varroa

Estas situações indesejáveis sucedem a todos os que têm abelhas, mas mais frequentemente àqueles apicultores que tratam à vista, que iniciam os tratamentos quando vêm as abelhas com asas deformadas e/ou varroas em grande número em cima das abelhas; aos apicultores que andam a inventar a roda, com tratamentos mal cozinhados por eles ou por conhecidos; aos apicultores que pura e simplesmente são preguiçosos e negligentes e não monitorizam e não tratam em devido tempo as suas colmeias; aos apicultores que por uma ou outra razão têm abelhas mas ignoram tudo ou quase tudo acerca delas.

a ameaça da varroa: algumas razões

O ácaro varroa (varroa destructor) é, nos dias de hoje, a maior ameaça à apicultura. As razões para este estatuto do ácaro varroa são várias, sendo as mais relevantes:

1 — É um parasita recente da abelha do mel. Consequentemente, o equilíbrio entre o hospedeiro (a abelha) e o parasita (a varroa) ainda não foi atingido e, por outro lado, os apicultores ainda não têm uma experiência suficientemente longa que lhes permita atuar eficazmente;

2 — O ácaro varroa espalhou-se por quase todo o mundo num período de tempo relativamente curto, de poucas dezenas de anos;

3 — Sem tratamentos periódicos a maior parte das colónias de abelhas colapsam num período de tempo não superior a 2 a 3 anos.

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Fig. 1 — Pupa de uma abelha com quatro varroas visíveis.

Qualquer apicultor que hoje deseja manter as suas colmeias saudáveis tem não só de ter bons conhecimentos acerca da biologia da abelha mas também da biologia e do ciclo de vida do ácaro varroa.

É minha intenção escrever frequentemente sobre este assunto. Espero poder dar o meu modesto contributo para que todos os apicultores que forem visitando este blog possam aprender mais um pouco sobre esta praga ou até somente confirmarem o que já sabem.