as varroas não são vampiros, são lobos

Esta apresentação garantiu a Samuel Ramsey um prémio para continuar a levar a cabo a sua investigação em torno do que consomem exactamente as varroas quando parasitam as abelhas adultas.

Como diz este candidato a uma bolsa de doutoramento na área da entomologia houve na comunidade científica e na comunidade de apicultores uma verdade axiomática, que se aceitou ao longo de décadas, de que as varroas se alimentavam da hemolinfa/sangue das abelhas.

A investigação até agora realizada por este jovem aponta noutro sentido: as varroas alimentam-se da gordura que se encontra armazenada no zona inferior do abdómen das abelhas. Esta zona/orgão conhecido como “corpo gordo”  para além de constituir uma reserva de nutrientes tem outras funções de enorme relevância, como por exemplo: desintoxicadora de pesticidas; reguladora dos níveis hormonais; resposta imunitária de primeiro nível; entre as nove funções já conhecidas. De uma forma simples, este orgão tem na abelha funções equivalentes às que o fígado tem para nós.

Samuel Ramsey verificou ainda que varroas alimentadas só com hemolinfa/sangue morriam mais rapidamente e produziam um pequeno número de ovos. Já as varroas alimentadas com a gordura do “corpo gordo” das abelhas sobreviveram mais tempo e produziram seis vezes mais ovos.

O próximo passo desta investigação será procurar introduzir no “corpo gordo” das abelhas algo que possa interromper o ciclo reprodutivo das varroas sempre que estas ali procurarem o seu alimento. Uma espécie de caldo com pozinhos amarelos. Mais uma luz que parece abrir-se ao fundo de um longo e tortuoso túnel.

loque americana: a resistência dos esporos

A loque americana é uma doença bacteriana produzida pela bactéria Paenibacillus larvae, que ocorre em duas fases, uma bacilar em que se reproduz e outra esporular que lhe permite manter-se latente e defender-se das agressões externas. O perigo da loque americana está precisamente nestes esporos que são muito resistentes e difíceis de eliminar. A melhor imagem que me ocorre é a de um tanque com uma carapaça muito dura.

Estes esporos têm tolerância a temperaturas muito altas, resistem 30 minutos a 100 graus e 15 minutos a 120 graus. Resistem à ação de desinfetantes químicos, como cloro, produtos à base de iodo e radiação ultravioleta durante 20 minutos de exposição. Além disso, de acordo com as condições de conservação, eles podem sobreviver no meio ambiente durante muito tempo, e somente após 30 anos começam a mostrar uma diminuição na viabilidade. Infelizmente são máquinas quase perfeitas de perpetuação do seu ADN.

loque americana: um programa de acção para todos nós

Vou assumir neste post que todos nós somos capazes de identificar a loque americana e, mais arrojado ainda, todos estamos dispostos a fazer o melhor possível para resolver este problema quando ele surge nas nossas colmeias.  Tendo assumido a competência e a motivação (num mundo ideal claro) para erradicar a loque americana dos nossos apiários, resta-me deixar muito claro o que se deve fazer quando somos confrontados com este problema sanitário.

Fig. 1: Utilização do teste do palito para fazer de forma expedita o diagnóstico de loque americana

Como ponto de partida importa-nos reconhecer o seguinte: para a loque americana ainda não existe nenhum antibiótico verdadeiramente eficaz; a loque americana é uma doença extremamente infecciosa e que urge o mais rapidamente possível erradicar completamente. Os antibióticos utilizados não eliminam o problema, apenas o mascaram. O foco irá persistir através dos esporos e mais tarde ou mais cedo expandir-se a outras colmeias do apiário e colmeias de apiários vizinhos.

Para quem quer impedir o alastramento do contágio e assim preservar as suas colmeias e as colmeias dos vizinhos só tem um caminho: eliminar pelo fogo as fontes de loque americana. Isso implica matar as abelhas e queimar tudo: abelhas, quadros e caixas num buraco aberto no solo que depois deve ser bem coberto com terra para evitar que as abelhas nas redondezas se infectem em alguns restos mal queimados. Só o fogo elimina os esporos da loque americana, os antibióticos não o conseguem fazer.

Quem trata a loque americana com medicamentos está a iludir-se porque não elimina devidamente os esporos e ainda acaba por contaminar o seu mel e, eventualmente, o mel dos seus vizinhos. Na tentativa vã de salvar um ou mais enxames com a utilização de antibióticos pode estar a colocar em causa a sanidade/conformidade de centenas ou milhares de quilogramas de mel. A este propósito leia-se o que o especialista Miguel Maia escreve:

“A introdução de antibióticos no mel inicia-se com o intuito do apicultor prevenir /controlar as loques. As boas práticas indicam que no caso de loque americana, as colmeias devem ser destruídas em detrimento do controlo por antibióticos. […] Durante o armazenamento do mel, os antibióticos são estáveis e, mesmo que exista a sua degradação, os produtos de degradação são detectados. Devido à má utilização dos antibióticos, muitos lotes de mel podem ser rejeitados no comércio provocando enormes prejuízos na apicultura.” fonte: Os antibióticos no mel, Miguel Maia, Engº Zootécnico.

contagem de varroas foréticas: instrumentos, procedimentos e cálculos

Estes três vídeos apresentam-nos de forma rápida e esclarecedora 3 técnicas, os instrumentos, os procedimentos e os cálculos para proceder à estimativa da infestação das abelhas adultas pelo varroa.

Os limiares para a decisão de tratar situam-se, no meu caso, entre os 2% e 3% de infestação das abelhas adultas (ver aqui).

Os vídeos estão legendados em francês e qualquer dúvida que tenham acerca do seu conteúdo utilizem por favor os comentários para as colocarem. Procurarei responder rápida e claramente às vossas dúvidas.

o vírus das asas deformadas e abelhas de inverno

20141008-0032-150x150

Fig. 1:  Abelha infectada com o vírus das asas deformadas

O vírus das asas deformadas (VAD) é um vírus comum nas colónias de abelhas melíferas, amplamente distribuído e intimamente associado com os ácaros varroa. A prevalência do VAD nas colónias de abelhas melíferas está diretamente ligado à infestação pela varroa. Nas colónias fortemente infestadas pela varroa, quase 100% das abelhas obreiras podem estar infectados com o VAD, mesmo que estas não apresentem sintomas. O VAD está fortemente associado à mortalidade de colónias no inverno. O controle do VAD é geralmente conseguido com o tratamento contra a varroa. Após o tratamento eficaz o apicultor assiste a uma diminuição gradual do VAD umas vez que as abelhas infectadas são substituídas por outras saudáveis. O VAD pode ser encontrado em todas as castas e nas diversas fases da vida das abelhas. O VAD também é transmitida através de alimentos, fezes, da rainha para os ovos e a partir dos zângãos para a rainha.

search

Fig. 2: Criação afectada pelo ácaro da varroa e pelo VAD (as larvas distorcidas nos alvéolos podem confundir o apicultor e levá-lo a pensar estar na presença de loque europeia dada a semelhança dos sintomas apresentados pelas larvas).

Os sintomas observados em infecções agudas incluem a morte precoce de pupas, asas deformadas, abdómen atrofiado, descoloração da cutícula das abelhas adultas, que chegando a nascer morrem dentro de poucos dias, fazendo com que a colónia possa eventualmente entrar em colapso num período muito curto de tempo, podendo ser confundido com o famoso Colapso/Despovoamento súbito de colmeias.

O VAD também pode ainda afetar a agressividade das abelhas assim como a memória e aprendizagem de comportamentos nas abelhas adultas. Para que o apicultor possa minimizar a presença e todos os efeitos perniciosos do VAD nas suas colmeias só tem uma saída no momento actual da ciência: diminuir para níveis muito baixos a infestação pelo ácaro varroa. Mais, a infestação da varroa deve ser reduzida nas colónia antes que produzam as abelhas de inverno, o que requer um bom timing de controle da varroose nos apiários. Nas regiões interiores do nosso país as abelhas de inverno são criadas, em regra, nos meses de Agosto a Outubro. Estes 2 a 3 meses requerem ao apicultor uma vigilância e atenção grandes em torno dos níveis de infestação pelo ácaro varroa pré e pós-tratamento. Só as colónias com baixos índices de infestação pela varroose nestes meses conseguirão ultrapassar os invernos típicos no interior do nosso país.

fonte principal: Honey Bee Viruses, the Deadly Varroa Mite Associates

a reprodução da varroa nos meses de fevereiro a agosto

Começando por alguns factos e concluindo com um cenário ou uma projecção com base nos factos:

Os factos:

Um ciclo de reprodução de varroas produz, pelo menos, 1,45 novas fêmeas se criadas em larvas de obreira; pelo menos 2,2 novas fêmeas  se criadas em larvas de zângãos, larvas mais atraentes para a varroa.

A reprodução da varroa ocorre nos alvéolos fechados/operculados e dura 12 ou 14 dias, se em larvas de obreiras ou de zângãos respectivamente. A maioria das varroas sexualmente maduras apresentam 3 ou 4 ciclos reprodutivos sucessivos durante a sua vida.

A duração da fase forética entre 2 ciclos reprodutivos é variável. Uma fêmea nova amadurece durante 7 dias, em média, na sua primeira fase forética (mínimo de 5 até 14 dias) antes de infestar uma larva e levar a cabo o seu primeiro ciclo reprodutivo. Muito importante: no entanto, a fase de forética não é vital, e subsequentemente passa a depender, principalmente, da disponibilidade de larvas próximas a ser infestadas e na fase adequadas do seu desenvolvimento.

O tempo de vida útil do parasita é adaptado ao ciclo de vida da abelha. Uma fêmea pode viver entre 1 e 2 meses no verão e entre 6 a 8 meses durante o inverno, na ausência de criação.

Infestação: na temporada apícola, as larvas de zângão são muito mais fortemente infestadas do que as larvas de obreiras (8 a 10 vezes mais). O impacto e nível de infestação é, portanto, menos perceptível, exceto quando a criação de zângãos diminui, provocando, assim, uma transferência em massa da população das varroas em direção à criação de obreiras, o que tem um impacto súbito numa única geração de obreiras e pode levar ao colapso da colmeias quando o nível de infestação é muito alto (facto de importância crítica, nunca o esquecer).

(fonte: http://www.veto-pharma.com/products/varroa-control/about-varroa-mites/)

Agora o cenário…

Começando com uma varroa na nossa colmeia a 1 de Fevereiro, no dia 12 fevereiro temos a mãe e mais uma filha. No dia 1 de março (5 dias na fase forética e 12 dias a reproduzir-se nas larvas das obreiras), temos as duas mães e mais duas filhas, 4 no total. Se considerarmos que a mãe original está no fim da vida passados estes 30 dias temos 3 varroas na nossa colmeia. Antes do início da temporada de criação de zângãos a varroa triplica os seus números a cada trinta dias (perspectiva conservadora).

Mas em abril as nossas colmeias começam a criar zângãos e as 3 varroas vão desenvolver a sua prole nesta casta de larvas. Tudo se irá acelerar. Passados 19 dias (5 dias da fase forética e 14 nas larvas de zângão) as três varroas presentes no início de abril deram origem a 6 novas filhas. Temos agora nove varroas na nossa colmeia. Num período de 19 dias o número de varroas triplicou. Por volta de 8 de maio temos cerca de 30 varroas. Antes do final de maio temos entre 90 e 100 varroas. A quinze de junho o número voltou a triplicar e chegamos às 300 varroas. No início de Julho estamos a chegar às 1000 varroas. 3000 varroas será o número aproximado cerca de 20 de Julho. Por volta de 10 de Agosto estamos a chegar a 10 000 varroas.

Os números não enganam: numa população de 50 000 abelhas no início de Julho temos 2% de infestação. Percentagem tolerável mas que coloca as nossas colmais à beira de um aumento crítico das varroas num período de pouco mais de um mês, mês em que geralmente andamos muito ocupados com a cresta do mel para nos apercebermos.  Se nada fizermos entre o início de Julho e meados de Agosto a percentagem de infestação muito provavelmente irá atingir os 20%. Nesta altura temos uma colmeia à beira de colapsar pelo contributo negativo dado por vários factores:

  1. temos um ácaro em cada uma de 5 abelhas;
  2. os ácaros preferem as abelhas nutrizes e portanto não será extravagante pensar que uma em cada duas abelhas nutrizes transportam uma varroa;
  3. estes ácaros esperam o momento oportuno para se introduzirem nos alvéolos e podem encurtar a fase forética para menos do que os 5 dias que habitualmente são referidos na literatura;
  4. a criação de zângãos está reduzida e assistimos à transferência massiva dos ácaros para a criação de obreira;
  5. a postura das rainhas e a criação tem vindo a decrescer regularmente desde o solstício de verão em muitas regiões do nosso país…
  6. todos estes factores criam as condições para que 50% a 75 % do próximo ciclo de novas abelhas surjam de larvas parasitadas.

44% de colónias de abelhas perdidas nos EUA em 2015-16

Apicultores em todo os Estados Unidos perderam 44% das suas colónias de abelhas durante 2015-16, no período de abril 2015 a abril de 2016, segundo os últimos resultados preliminares de uma pesquisa nacional anual. Esta taxa inclui as perdas de inverno e verão e constata-se que as perdas totais pioraram em comparação com as do ano passado. É o segundo ano consecutivo em que as taxas de perda de verão rivalizam com as taxas de perda de inverno. A pesquisa, que pede a apicultores de pequena escala e a apicultores profissionais para controlar as taxas de sobrevivência das suas colónias de abelhas, é realizado anualmente pela Beeinformed em colaboração com os Inspetores de Apiários da América do Norte, e com financiamento do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA). Os resultados da pesquisa para este ano e todos os anos anteriores estão disponíveis ao público no site da Beeinformed.

“Nós estamos no segundo ano de altas taxas de perda de verão, o que é motivo de grande preocupação”, disse Dennis van Engelsdorp, um professor assistente de entomologia da Universidade de Maryland e diretor do projeto Beeinformed. “Algumas perdas de inverno são normais e esperados. Mas o fato de que os apicultores estão a perder abelhas no verão, quando as abelhas devem estar no seu mais saudável, é bastante alarmante. “Os apicultores que responderam à pesquisa perderam um total de 44,1 % de suas colónias ao longo do ano. Isto reperesenta um aumento de 3,5 por cento em relação ao ano anterior (2014-15), quando as taxas de perda foram 40,6%. A taxa de perda de inverno aumentou de 22,3% no inverno anterior, para 28,1 % este inverno, enquanto a taxa de perda de verão aumentou de 25,3% para 28,1%.

Os pesquisadores referem que são muitos os fatores que contribuem para a perda de colónias. Um culpado claro é o ácaro Varroa , um parasita letal que se pode espalhar facilmente entre as colónias. Pesticidas e desnutrição causadas por mudanças nos padrões de uso da terra também são propensos promover estas perdas, especialmente entre os apicultores profissionais.

” A alta taxa de perda ao longo de todo o ano significa que os apicultores estão trabalhando horas extras para substituir constantemente as suas perdas”, disse Jeffrey Pettis , entomologista sénior do USDA e um coordenador da pesquisa. “Estas perdas custam tempo e dinheiro ao apicultor. Mais importante, a indústria precisa dessas abelhas para atender à crescente demanda por serviços de polinização. Precisamos urgentemente de soluções para diminuir as taxas de perdas de colónias de inverno e verão ” .

in https://beeinformed.org/2016/05/10/nations-beekeepers-lost-44-percent-of-bees-in-2015-16/

E entre nós? Se não me falha a memória os dados mais recentes para Portugal publicados no Coloss referem perdas a rondarem os 10%.

varroose: uma lição no youtube

Nesta série de vídeos publicado no youtube https://www.youtube.com/watch?v=ti2xcXxwOzM (ver lista completa à direita) podemos assistir a uma série de conferências muitíssimo recente apresentada por António Gomez Pajuelo, um dos maiores especialistas espanhois em apicultura e em varroose. A conferência é dada em catalão. Com a ajuda dum forista espanhol transcrevo algumas das ideias principais apresentadas por este especialista espanhol. Muito do que ele refere já foi escrito e abordado por mim neste blog, servindo este post como um sumário de alguns desses aspectos e, naturalmente, como confirmação e reforço do que foi por aqui escrito.

A introdução faz um enquadramento geral da atual situação da varroose e ciclo de vida da varroa. Refere que 25% da varroa é forética e permanece no corpo da abelha entre 3 a 10 dias. 75% está operculada. Os tratamentos que introduzimos na colmeia devem assegurar que, além de atacar a varroa forética (25%), também atacam a varroa operculada, devendo ser eficazes durante os próximos 12 dias. Isto porque quando nós introduzimos o tratamento pode acontecer que a varroa tenha acabado de ser coberta pelo opérculo, de modo que a varroa só sairá do opérculo 12 dias mais tarde, portanto o produto deve ter o potencial de atacar estas varroas que não foram atacado pelo produto no momento da sua introdução. Pajuelo explica ainda que os produtos têm o início da libertação ou ataque sobre as varroas 3 ou 4 dias após a introdução, portanto devemos adicionar 3 ou 4 dias a esses 12 dias, o período que a abelha leva até nascer depois de operculada. Então, se não temos um suporte para libertar o produto por 30 dias devemos fazer um segundo tratamento após 15 dias para atacar a varroa que sobreviveu no alvéolo operculado.

Este especialista refere que por cada varroa que entra num alvéolo saem 2 varroas. A teoria diz que, se não houver intervenção do apicultor na luta contra a varroa, por cada mês a partir fevereiro e até agosto a varroa duplica o seu número por cada mês que passa e atinge as 6400 no final deste período, conduzindo a colónia à morte. Os sinais visuais mais evidentes da varroose  são abelhas com abdómen reduzido e abelhas com asas deformadas.

Acerca do teste de monitoragem da varroa na criação que o apicultor desopercula (por exemplo com um garfo de cresta — o método de monitoragem que prefiro) encontramos 75% das varroas existentes na colmeia (exceção feita ao meses de paragem de postura). Esta monitoragem deve ser realizada após o término do tratamento, porque não há garantias da eficiência do tratamento por forma a ficarmos tranquilos (produto com prazo de validade expirado, manuseio incorreto apicultor, tempo pouco auspicioso, etc.).

Pajuelo refere que hoje os tratamentos mais eficazes são os que têm o amitraz como substância activa. O Amicel, tiras de celulose impregnadas com amitraz, é mais eficaz do que as tiras de plástico, porque as abelhas retalham as tiras de celulose e as fibras de celulose envolvem e impregnam mais os corpos das abelhas. Além disso as fibras que caem no fundo da colmeias aumentam ainda mais contato com o produto. Diz que as tiras de celulose atingem mais rapidamente que as de plástico uma maior mortalidade das varroas, mas tal não significa que o produto seja mais eficaz, apenas que é mais eficaz na fase de introdução, mas eventualmente ambas as tiras, tanto de plástico como celulose acabam por ter a mesma eficiência ou resultados.

Acerca do ácido oxálico afirma que gotejamento do mesmo deve ser prudente em função do seu grau de pureza. Quanto às sublimação do ácido oxálico, é um procedimento que mata apenas a varroa forética (25%) e 4 aplicações dão mais garantias do que apenas 3 aplicações. Se a sublimação do oxálico não é corretamente efectuada, por ex. com a utilização de sublimadores de construção caseira sem controle de temperatura, devido às temperaturas demasiado elevadas,  a molécula do oxálico é destruída e a eficácia do tratamento fica seriamente comprometida.

Acerca do thymovar diz que na zona onde o thymovar é colocado a rainha suspende a postura, podendo chegar a parar a postura por um par de dias assistindo-se ainda a aumento da agressividade das abelhas quando sujeitas à aplicação de tratamentos à base de timol.

Aborda também as teses do alvéolo pequeno dizendo que todos os estudos sérios que foram realizados confirmam que as colónias com os alvéolos de 4,9 mm acabam por ter mais abelhas/criação e, portanto, mais varroas sobre as abelhas. Conclui dizendo que, portanto, o alvéolo pequeno/natural não diminui a quantidade de varroa como defendido por alguns. Afirma ainda não é verdade que o tamanho de 4,9 mm é o tamanho natural dos alvéolos, porque os enxames naturais apresentam alvéolos com 4,9 mm na parte inferior dos favos, mas surgem alvéolos com 5,1 mm na zona intermédia e com 5,4 mm na zona superior do mesmo, isto é, a dimensão dos alvéolos não é uniforme ao longo de um favo natural. Refere ainda que a varroa não suporta mais de 40 graus, portanto no deserto do Arizona onde o casal Lusby afirma ter abelhas resistentes à varroa, as condições ambientais locais podem ajudar a explicar quase tudo.

Acerca do quadro de criação intensiva de zângãos refere que se ajuda a subtrair algumas varroas pode também causar dissabores se no dia ou dias previstos para o corte o favo de zângão não se pode ir ao apiário, porque o apicultor teve um impedimento/acidente ou porque está a chover. Em situações destas os zângãos acabarão por nascer e com eles todas as varroas que se tencionava eliminar.

Pajuelo termina dizendo o que todos sabemos ou deveríamos saber, que não existe uma fórmula única e maravilhosa para lidar com a varroa.

varroa: a fase forética

No ciclo de vida do ácaro varroa distinguem-se duas grandes fases: a fase reprodutiva e a fase forética. A primeira passa-se no interior do alvéolo operculado, a segunda no exterior dos alvéolos alojadas sobre as abelhas adultas. É desta segunda fase que agora vamos tratar.

images-5

Fig. 1 — Varroa forética sobre o abdómen de uma abelha

Durante a fase de forética, os ácaros servem-se das abelhas adultas e dos zângãos para serem transportados quer dentro quer fora da colmeia. Nesta fase alimentam-se da hemolinfa (sangue) das abelhas. O estágio forético dura cerca de 5-11 dias, período este em que os ácaros não se reproduzem. Nos períodos em que a colónia de abelhas não tem criação (geralmente coincidentes com períodos de escassez), os ácaros são obrigados a permanecer nesta fase forética, que pode ir de poucas semanas até 5-6 meses, dependendo do clima.

Os ácaros mudam de hospedeiros (saltam de uma abelha para outra) muitas vezes e isso contribui para a transmissão de vários vírus, de uma abelha infectada para uma outra saudável por via das feridas que aqueles abrem na quitina das abelhas. Os ácaros experimentam uma maior mortalidade durante a fase forética, porque cometem erros, como cair no tabuleiro sanitário se ele existir, porque são mordidos pelas obreiras (grooming), ou simplesmente morrem devido à idade avançada. A “queda natural” dos ácaros num tabuleiro sanitário reflete uma combinação de todos estes factores. No entanto, é bom dizer que o total dos ácaros caídos não chega sequer a 20% da população total. Portanto, a utilização de um fundo sanitário não é suficiente para evitar o uso de produtos acaricidas para o controle da varroa.

images-6

Fig. 2 — Imagem de duas abelhas: a abelha da esquerda apresenta um aspecto saudável; a abelha da direita apresenta sinais evidentes da acção de dois vírus, o virús das asas deformadas e o virús da paralisia aguda (abelha sem pêlos, muito negra e com aspecto geral oleoso) transmitidos muito provavelmente pelo ácaro varroa 

A fase forética é importante para os ácaros dado que é nesta fase que se transferem entre colónias, por ação da deriva das abelhas e zângãos, ou pela pilhagem de uma colónia moribunda por via de uma forte infestação de ácaros. Nesta última situação, poderá estar a ocorrer uma selecção dos ácaros (e também os virus) com alta virulência. Enquanto que numa floresta natural, os ácaros que matam uma colónia também morrerão com o seu hospedeiro (devido à baixa probabilidade desta ser encontrada por uma colónia vizinha), num apiário o comportamento de pilhagem, assegura o sucesso da transferência de ácaros da colónia moribunda para uma outra, onde o ciclo se reiniciará novamente. Um outro mecanismo de provável transmissão horizontal, ainda não devidamente confirmado, pode acontecer aquando da queda das varroas em flores, transportadas por abelhas forrageiras. Estas varroas podem acabar por se hospedar na próxima abelha forrageira que visite essa flor.

Porquê a fase forética? Os cientistas ficaram intrigados a respeito da razão de os ácaros terem de passar por uma fase forética, onde experimentam uma alta taxa de mortalidade. Em condições de laboratório, a varroa pode reproduzir-se com sucesso sem uma fase forética. Nestas condições laboratoriais, os ácaros que foram transferidos imediatamente após o nascimento da abelha para outra célula de cria recém-operculada conseguiram reproduzir-se até sete ciclos. No entanto num estudo realizado em condições naturais verificou-se que os ácaros que não experimentam a fase forética têm uma fertilidade mais baixa, especialmente em comparação com aqueles que se hospedam e alimentam em abelhas jovens. Aparentemente os ácaros preferem esta abelhas nutrizes não só por causa de sua proximidade com larvas (sabemos que estas abelhas inspecionam e alimentam frequentemente as larvas), mas também porque são abelhas que fornecem aos ácaros uma alimentação (hemolinfa) mais adequada para a sua futura reprodução. Descobriu-se que os ácaros alimentados artificialmente pela hemolinfa de abelhas desta faixa etária têm um maior número de descendentes, seguido por aqueles alimentados pela hemolinfa de forrageiras, e que aqueles que apresentaram o menor número de descendentes foram alimentados com a hemolinfa das abelhas recém-nascidas.

Em conformidade com os resultados desta investigação mais convencido fico que a paragem da postura é uma ferramenta de grande utilidade no controle da varroa. Esta paragem pode ser natural (condições de escassez, enxameação, ou outras) ou pode ser provocada pelo próprio apicultor (engaiolamento da rainha, desdobramentos, enxame nú, e outros). Conto voltar a este assunto em breve.

fonte: http://articles.extension.org/pages/65450/varroa-mite-reproductive-biology