Randy Oliver escreveu no BeeL (fórum de apicultores reputados) recentemente acerca dos dados recolhidos na sua experiência para criar abelhas resistentes ao ácaro varroa. Em concreto escreve ele:
“Uma coisa que vem à mente de alguns apicultores é que as abelhas sobrevivem sem tratamento. Muitas pessoas afirmam tê-las, mas muitas vezes não produzem evidências, ou então são casos pontuais e apenas histórias bem contadas. Posso oferecer algumas provas “duras”/quantificadas? Eu monitorei os níveis de ácaros numa população inicial de pouco mais de 1000 colónias no ano passado, para ver qual proporção realmente sobreviveria sem tratamento. As rainhas de todas as colónias eram filhas de aproximadamente 15 rainhas, cujas colónias anteriormente pareceram exibir resistência ao acúmulo de ácaros. Em cada evento de monitorização, tirei da experiência toda e qualquer colmeia em que a contagem de ácaros estava numa trajetória para a eventual morte da colónia pela infestação pelo varroa (tratava-as, de modo que nem uma única colónia morreu pela acção de ácaros durante a experiência). À medida que nos aproximamos da marca de 1 ano, das mais de 1000 colmeias, parece que talvez 16 tenham mantido contagens de ácaros abaixo de 4 ácaros por 100 abelhas – menos de 2% de “sobreviventes” (eu estimo 16 colónia dado que eu já amostrei metade até agora). Se eu não tivesse tratado o resto ao longo do ano, acho que seus colapsos inevitáveis teriam superado mesmo aqueles 2% com os ácaros que derivariam das colónias colapsadas. Isso não quer dizer que outros não possam começar com uma linhagem de abelhas que exiba um maior grau de resistência ao ácaro (VSH, russas ou outras confirmadas ), mas certamente se aplicará a qualquer pessoa que comece com linhas de abelhas comuns (que apresentam muito menos resistência do que as linhagens com que comecei). Eu estou tão entusiasmado quanto qualquer um sobre a criação de abelhas que exibem a resistência aos ácaros, mas a mensagem para levar para casa é que, de fato, devemos ser extremamente céptico sobre as reivindicações relativas à sobrevivência a longo prazo de qualquer linha de abelhas sem dados “duros”/quantificados que o suportem .”
Destas linhas que caracterizam o estilo frontal, sólido e fundamentado próprio de Randy Oliver destaco:
- a eventual existência de colónias de abelhas resistentes são pontuais/locais;
- numa população de cerca de 1000 colónias apenas 16 (menos de 2% da amostra) mantiveram a infestação abaixo dos 4%;
- a linhagem destas 1000 colónias provinham de 15 rainhas que na época anterior tinham aparentado alguma resistência ao varroa;
- um cepticismo face a reivindicações de criadores de rainhas alegadamente resistentes que não apresentam dados “duros”/quantificados que as suportem.
Para nós, em Portugal, estes dados devem-nos fazer reflectir que das aparências às evidências a distância pode ser grande. Fazer rainhas a partir de uma matriarca que aparentemente tem alguma resistência ao varroa é, seguramente, uma actividade louvável. Muitíssimo questionável é promover as filhas destas como mais resistentes em qualquer grau ao varroa.