Anteontem à tarde (06-03) fiz as primeiras transferências para colmeias das colónias que invernaram em núcleos. Uma boa parte destes núcleos resultaram das piores razões. Em finais de agosto/início de setembro cerca de 20% das minhas colónias apresentavam sinais óbvios de PMS. Por uma razão que não está suficientemente clara, o tratamento iniciado em finais de julho/início de agosto não foi eficaz nestas colónias. Debilitadas, com uma quebra populacional enorme e com a longevidade das abelhas sobreviventes comprometida decidi passar estas colónias para núcleos com a intenção de aumentar a sua densidade e agregação. Alguma coisa terei feito bem dado que a maioria ultrapassou esta dura prova. Gradualmente começam a atingir o volume que exige a transferência para uma caixa de dez quadros. Em baixo apresento o foto-filme dos procedimentos que utilizo habitualmente nestas circunstâncias.
Categoria: apiário hoje
serra abaixo: a primeira transumância do ano
Hoje realizei a primeira transumância de colónias deste ano. A distância percorrida foi pouca, cerca de 15 km a descer, as colónias passaram dos 900m de altitude para os 600m e para uma zona edafo-climática cerca de 5ºC mais quente — hoje por ex. cá em cima esteve uma máxima de 12ºC e lá em baixo a máxima chegou aos 17ºC.
Tendo identificado e pré-preparado ontem as 12 colónias a transumar, hoje às 8h15 lá estava para acabar de as fechar — foi só empurrar o resto de esponja. As abelhas como previ estavam todas ainda ao quente, e por companhia só tive as vaquinhas que por ali pastavam.
o meu apiário mais pequeno: um balanço no primeiro dia do mês de março
Antes de ontem, no primeiro dia do mês de março, fui trabalhar as colónias do meu apiário mais pequeno. Neste apiário, onde já estiveram assentes 80 colmeia nos idos 2014-2019, e anos houve em que nos terrenos em redor estiveram cerca de 60 núcleos de fecundação, hoje estão 5 colmeias do modelo Lusitana e 3 núcleos. Das 5 colmeias duas delas passaram o outono e inverno na configuração ninho e sobreninho. No final da ronda, quando saí do apiário, tinha deixado mais duas colmeias nessa configuração. Contas feitas, 4 das 5 colónias Lusitanas do apiário estão muito fortes. A menos forte apresentava 5 quadros com criação e mantém-se por enquanto só no ninho.
Das duas colónias que passaram o outono-inverno na configuração ninho mais sobreninho, uma apresentava 10 quadros com criação — 6 no ninho e 4 no sobreninho — e a outra 12 quadros com criação — 6 no ninho e 6 no sobreninho.
Dos 3 núcleos — dois do modelo Lusitana e o terceiro do modelo Langstroth — os dois do modelo português, albergam duas colónias que consegui salvar do PMS que sofreram em agosto/setembro do ano passado. Conto passá-los para colmeias de 10 quadros na próxima semana.
Em regra, neste apiário as colónias estão muitos fortes para a época. Por que razão? Pela alimentação líquida estimulante não é; não que lhes forneci nem sequer meio quartilho. Pela suplementação proteica também não é porque não que lhes forneci nenhuma. Pela qualidade das rainhas produzidas de forma orgânica por mim? Em parte sim, mas não é suficiente. Por as abelhas estarem saudáveis? Sim, muito isso. Pelo pólen presente no campo? Sim, muito isso também. Pela sintonia do trinómio rainhas pujantes, abelhas locais e saudáveis e campo abundante de pólen? Ah sim, de certeza esta combinação.
o primeiro tratamento do ano contra a varroose
Ontem, entre as 11h30 e as 15h30, andei ocupado a fazer o primeiro tratamento do ano contra a varroose. O apiário está situado a 900 m de altitude e as colónias estão a despertar da dormência. Assim sendo, entendo ser este momento o mais indicado e oportuno. Com este timing pretendo manter o varroa em níveis muito baixos, por forma a garantir que as novas abelhas, que irão nascer durante os próximos 4 meses, se desenvolvam o mais possível saudáveis. Simultaneamente, é uma boa altura para apanhar boa parte dos ácaros — por haver ainda pouca criação operculada nas colónias, muitos varroas estão alojados nas abelhas adultas, logo mais desprotegidos dos efeitos de um acaricida que actua por contacto.
Apesar da menor eficácia do Apivar no último tratamento em que o utilizei (verão de 2020), decidi ainda assim voltar a utilizá-lo. As razões são: o aumento gradual da criação que diminui a probabilidade de multi-infestações, isto é, a infestação de cada larva de abelha por mais que um ácaro; a fecundidade dos varroas nesta época do ano é mais baixa (ver aqui); com pouca criação operculada os ácaros estão mais expostos aos efeitos deste acaricida que funciona por contacto. Naturalmente ficarei vigilante!
Neste apiário, com 44 colónias, retirei hoje as primeiras 4 colónias mortas ou seriamente comprometidas, 2 por estarem órfãs e outras duas por estarem extremamente fracas devido aos efeitos da PMS verificada no verão passado — estas abelhas viveram menos 30 a 40 dias que o expectável e não asseguraram a rotação/turnover para a nova geração de abelhas que iria começar a surgir nos próximos 15 dias. Até agora a mortalidade invernal neste apiário é de 9%.
No dia de hoje confirmei a entrada de pólen nas colmeias e seu armazenamento. Este é um aspecto essencial para o crescimento natural e gradual das colónias, em sintonia com o território.
Às 16h30 sentei-me à mesa para almoçar!
Nota: o amitraz tem um efeito sub-letal nos varroas. Não os mata, paralisa-os. Paralisados, os varroas desprendem-se das abelhas e acabam por morrer à fome, caídos sobre os estrados das colmeias.
depois do frio, o sol no quadrante sul e uma aprendizagem a fazer
Ontem, entre as 12h30 e as 15h30, andei entretido a alimentar com pasta de açúcar as colónias do meu apiário preferido, a 900 m de altitude. Os sinais, do inverno mais frio que me lembro desde que iniciei a minha aventura apícola em 2009, estavam ainda bem visíveis no estradão de acesso aos assentos.
Como calculava, o estado geral das colónias estava de acordo com a época, apesar das duas últimas semanas com temperaturas raras. Das 64 colónias ali estacionadas, em três encabeçamentos um pouco afastados entre si, fui encontrar 1 núcleo morto, uma colónia muito possivelmente zanganeira e uma colónia a ser pilhada. Na visita anterior tinha retirado duas colónias mortas, que haviam sido colocadas em núcleos em meados de setembro, após terem sido diagnosticadas com PMS alguns dias antes. A taxa de mortalidade, até à data, está pouco abaixo dos 8% neste apiário.
Este outono-inverno a mortalidade de colónias muito provavelmente ultrapassará a barreira dos 5%, fasquia que não tenho ultrapassado nos últimos 4 anos. Estimo que fique, ainda assim, abaixo dos 10%. A razão deste aumento de mortalidade foi a minha incompetência, a minha falta de um maneio de excelência. O frio das últimas semanas não ajudou, mas a principal variável a contribuir para a mortalidade já vinha detrás, na debilitação de cerca de 20% das minhas colónias pelo Parasitic Mite Syndrome (PMS).
Os mestres apicultores da velha guarda, referem uma mortalidade invernal habitual a rondar os 10% nos tempos pré-varroa. Tomando este valor como referência para a nossa época pós-varroa, na minha opinião, uma mortalidade invernal abaixo dos 5% é excelente, entre 5 e 10% é muito bom, entre 10-15% é bom, entre 15-20% é medianito. Acima dos 20% é mauzito! Por muito auto-complacente e por muito que tenda a atribuir as responsabilidades a um deus desconhecido ou outros, todo o apicultor mais rapidamente baixará a mortalidade invernal quanto mais depressa aprender e decidir olhar olhos-nos-olhos a sua responsabilidade.
a gestão da desigualdade entre colónias
Desde o início da minha actividade apícola fui confrontado com colónias desiguais nesta época do ano. Tendo aprendido que este é um fenómeno normal e incontornável, procurei aprender acerca de como o gerir e optimizar. Entre outras, a ferramenta de gestão que adoptei, utilizada desde há muitas décadas, foi cunhada com o termo equalização. No meu território, neste mês de janeiro é impraticável iniciar o maneio de equalização das colónias. Resta-me alimentá-las com pasta de açúcar, confinar uma ou outra mais fraca numa caixa de 5 quadros, e esperar mais cerca de um mês a mês e meio para iniciar a transferência de quadros com criação fechada, prestes a emergir, das mais fortes e trocá-los por quadros com criação aberta ou com reservas das colónias mais fracas. E assim apoiadas as colónias mais frágeis se fazem fortes e vigorosas à entrada do fluxo de néctar. Se a colónia é um indivíduo (super-organismo para alguns), o apiário é a a aldeia, que eu quero comunitária, onde a partilha de forças traz ganhos a todos. Para mim o cuidador, os ganhos são claros desde há uns anos, e estão aqui elencados. Este é um maneio que francamente me dá grande prazer fazer, que assenta como uma luva na minha idiossincrasia, colocando as colónias mais fortes ao dispor das mais fracas. Tenho para mim que a forma como fazemos a nossa apicultura também é terreno para a expressão da nossa ética e da nossa mundovisão.
a meio do outono: os sinais observados
No passado dia 20 de novembro aproveitei as boas temperaturas (a rondarem os 18ºC) para fazer uma rápida inspecção em algumas das colónias situadas em dois apiários a 600m de altitude.
Com surpresa fiquei com a sensação que tinham armazenado recentemente algum néctar. Contudo, não tenho a certeza absoluta que o líquido que escorreu de alguns quadros adjacentes aos quadros com criação não seja, afinal, mel diluído pelas abelhas, transferido dos quadros mais laterais para os mais centrais.
As colónias armazém, fortes, mantêm bons níveis de criação para a época. Assim continuará enquanto as abelhas forem trazendo algum pólen, como é o caso. Não sei aonde o vão buscar; em redor não me apercebo das fontes deste pólen tardio.
Continuo a trabalhar em modo robin dos bosques!
E surgem algumas dúvidas acerca do que raio se está a passar! Neste núcleo encontrei “criação calva” (habitualmente é um sinal de infestação pelo varroa), que depois de retirada dos respectivos alvéolos e inspeccionada não apresentava varroas.
Se não fiquei convencido que se tratava de uma resposta higiénica das abelhas em resposta à infestação pelo ácaro varroa o que se poderá estar então a passar? Até ao momento a minha melhor explicação alternativa é: a criação desoperculada está morta por falta de aquecimento da mesma. Este acontecimento surge num núcleo não muito densamente povoado, com uma área de criação operculada eventualmente demasiado extensa para a densidade de abelhas adultas existente, num território em que as temperatura mínimas estão frequentemente abaixo dos 5ºC, situação em que a criação nas extremidades dos quadros pode ficar descoberta do manto de abelhas quando o cacho invernal se comprime para fazer a termorregulação.
O que vou fazer? Comecei por sinalizar este núcleo para o manter debaixo de olho, alimentei e provavelmente irei eliminar esta rainha à entrada de abril. Mais que a idade ou padrão de postura como critério de eliminação de rainhas, interessa-me eliminar aquelas rainhas que não estão em sintonia com o território e com a população de abelhas disponíveis na colónia de que fazem parte. Como alguns de nós, algumas rainhas e obreiras suas filhas têm mais olhos que barriga!
apicultor em modo robin dos bosques
Hoje saí por volta da 14h00 para o apiário e andei por lá até às 16h00 em modo robin dos bosques.
Andei a tirar das mais ricas para dar às mais pobres.
Andei também a tirar da carteira do patrão, que é rico e generoso, o necessário para comprar esta deliciosa pasta, que consomem em três tempos (neste caso em cerca de 3 semanas).
tratamento de verão da varroose: alguns detalhes
Desde 2014/2015 que, tendo entendido melhor a dinâmica que se estabelece entre o ciclo de vida do ácaro varroa e o desenvolvimento populacional de uma colónia de abelhas, passei a realizar o segundo tratamento para a varroose não à entrada do outono como até aí, mas sim a meio do verão. Desde que introduzi este novo calendário para o território onde estão assentes as minhas colónias, e de 2017 para cá, tive uma colónia morta por varroose num universo de cerca de 4 mil tratamentos aplicados.
Como tive a oportunidade de defender na palestra que fiz no dia 9 de fevereiro deste ano no âmbito do II Encontro de Apicultores do distrito da Guarda, a dinâmica da relação entre o número de pupas de abelhas e o número de varroas ao longo de um ano, e supondo a realização de um primeiro tratamento muito eficaz à saída do inverno, evolui aproximadamente desta forma:
- cerca de meio do ano (maio/junho) atinge-se o número máximo de pupas a serem criadas pelas abelhas: 15 mil;
- nesta mesma altura o número de varroas rondará os 1500;
- em meados/finais de setembro o número de pupas caiu significativamente para cerca de 2500;
- e nada tendo sido feito até à data para controlar o número de varroas estas rondarão as 5 mil;
- em conclusão temos temos cerca de 5 mil varroas a infestarem cerca de 2500 larvas/pupas. Nesta altura a colónia é um morto-vivo. Qual o tratamento para um morto-vivo?
Como as designações das coisas são o seu melhor sumário deixei de falar e pensar em tratamento de outono para passar a pensar e falar em tratamento de verão. Em boa hora o fiz!
O timing do tratamento é a parte mais importante do mesmo, é a conclusão a que chego. Mas pode não ser suficiente, ou os seus efeitos positivos podem ser potenciados se atendermos a alguns detalhes na sua aplicação. No caso da aplicação das tiras de Apivar (o tratamento que tenho utilizado recorrentemente nestes últimos anos) tenho tido grande cuidado ao colocar as tiras: sempre entre quadros com criação. Isso exige-me ver quadro a quadro do ninho para identificar o início da câmara de criação e o seu fim, em cada ninho de cada colónia. E foi isso mesmo que hoje estive a fazer a partir sensivelmente das 7,15h e até às 10,00h em 36 colónias (média aproximada de 5 minutos dispendidos por colónia). Aproveitei também esta oportunidade para recentrar no ninho a câmara de criação.
Mais adiante, dentro de 3 a 4 semanas, estes ninhos serão novamente inspeccionados para ajustar as tiras a uma câmara de criação que entretanto terá evoluído, se terá modificado, e muito provavelmente se terá comprimido em várias destas colónia. Será também a altura para fazer uma primeira avaliação visual da eficácia do acaricida no controle da varroose.
Este trabalho de re-inspecção foi ontem realizado num apiário onde iniciei o tratamento há cerca de 3 semanas atrás e os sinais que observei são muito positivos. Espero que assim continue por mais um tratamento, sem que possa confirmar o que alguns afirmam convictamente:
- varroas resistentes ao acaricida;
- volatilidade do princípio activo em consequência do calor;
- pouco contacto das abelhas com as tiras porque aquelas estão à entrada da colmeia a refrescarem-se;
- …
cresta 2020: o meio
A minha cresta vai-se espraiando pelos dias e semanas de Julho. Nas duas últimas semanas tenho estado ocupado, em parte, com a cresta de um dos meus apiários a 900 m de altitude. Neste apiário, com poucas colónias dedicadas à produção, cerca de 30 das 86 que lá estão assentes no dia de hoje, obtenho um mel multifloral fruto da mistura do néctar das marcavalas com o néctar dos castanheiros. Com a cresta destas colónias quase no fim, estão já extraídos perto de 600 kgs, o que aponta para uma média deste apiário um pouco superior aos 20kgs/colónia em produção. Ainda sonhei com uma produção média de 30 kgs, contudo as elevadas temperaturas das últimas 3 semanas encurtaram a floração e exsudação das candeias do castanheiro.
O mel é muito claro, fruto da predominância do fluxo da marcavala sobre o do castanheiro, neste ano e neste local. Contudo as notas gustativas e o aroma do néctar de castanheiro fazem-se notar, dando a esta mistura natural uma paleta de sensações e uma persistência no paladar muito próprias.
Cerca de 60% do mel extraído neste apiário proveio de colmeias armazém, com exlcuidora colocada entre o ninho e sobreninho a 19 de maio, no início da primavera que chegou tardia a este canto da serra da Estrela. A excluidora foi o equipamento que me permitiu obter quadros com esta estampa:
Nota: O meu muito obrigado ao David, Fred, Nuno e Hélio que me acompanharam em algumas destas tarefas!