É consensual entre os apicultores mais informados que o pólen é O estimulante da criação de novas abelhas. Contudo como diz Randy Oliver “Não parece haver um benefício em alimentar com substitutos de pólen quando já existe um fluxo natural e substancial de pólen em andamento. Por outro lado, durante uma escassez, os substitutos de pólen têm um desempenho melhor quando as forrageadoras ainda são capazes de trazer uma pequena quantidade de pólen natural. A questão então é: por que essa pequena quantidade de pólen faz a diferença? […]
Os profissionais de marketing fizeram um ótimo trabalho em nos convencer de que “natural” é sempre melhor. Portanto, é tentador chegar à conclusão de que a pequena quantidade de pólen natural que chega fornece alguns elementos nutricionais essenciais que faltam.”
Mas Randy, e outros, em testes de campo verificou que mesmo alimentando com “bifes” proteicos que têm incorporados 15%-20% de pólen natural, o que daria os elementos que faltam, as colónias pouco cresceram durante o período de extrema escassez de pólen ao longo do teste.
Portanto, Randy suspeita que algo mais do que a falta de algum nutriente “natural” esteja envolvido.
Imagem de um quadro com criação com a habitual abóbada de pólen. Nenhuma abelha jamais viu esta vista (está escuro dentro da colmeia). Só porque costumamos ver esta linha de pão de abelha num arco ao redor da ninhada, não significa que esse seja o pólen ao qual as abelhas amas prestam mais atenção.Reparem nO detalhe… alguns alvéolos com pólen bem no interior da área de criação.
O detalhe: o pólen armazenado nos alvéolos no interior da área de criação é o pólen que primeiro será consumido pelas abelhas amas. É este pólen, ali armazenado, que dá a pista às abelhas amas que está a ocorrer um fluxo de pólen. O pólen/pão de abelha armazenado a mais de 5cm da área de criação, nas abóbadas dos quadros ou em quadros adjacentes só tende a ser consumido quando a expansão da área de criação e as abelhas amas se aproximarem dessas áreas mais afastadas.
Implicações práticas:
O pólen fresco, colocado aleatoriamente pelas forrageadoras nos alvéolos no interior da área de criação, permite que as amas produzam geleia abundante.
A facilidade com que as amas encontram pólen fresco ao lado da criação que estão alimentando estimula-as a alimentar (modo de expansão), ao invés de consumir larvas jovens, (modo de acumulação).
A presença de uma abóbada de pólen indica que há um excedente de pólen a chegar à colónia. A borda interna dessa abóbada indica a distância à criação que as abelhas amas precisam (ou estão dispostas) percorrer até se alimentarem.
Todas estas descobertas acima indicam a importância de colocar os suplementos de pólen ou as dietas artificiais o mais próximo possível dos alvéolos com criação, isto é, a menos de 5 cm.
Nos últimos dois verões/outonos, tenho tido dificuldades em manter a taxa de infestação por varroose abaixo dos níveis que pretendo em cerca de 20-25% das minhas colónias. Já escrevi várias vezes sobre este fenómeno e sobre os factores que lhe estão provavelmente associados. Um dos factores, o ingresso de um número substancial de varroas transportadas pelas minhas abelhas, em consequência da pilhagem de colónias a colapsar por varroose em apiários vizinhos, é um deles.
Esta dificuldade no controle da infestação por varroa, eventualmente por um crescimento acelerado das populações de varroa nesta época do ano, é observável de forma transversal e está bem documentada em várias zonas do mundo: “Na realidade, a maioria dos apicultores precisa usar vários tratamentos contra a Varroa por ano para manter os níveis abaixo dos limites prejudiciais. Além disso, a monitorização longitudinal das cargas de Varroa em vários apiários nos EUA descobriu que mesmo após os tratamentos, as taxas de crescimento populacional de Varroa frequentemente excedem em muito os níveis previstos com base apenas nas taxas de reprodução de Varroa. Isso sugere que os ácaros estão imigrando para as colónias de uma fonte externa, provavelmente colónias próximas.“
As duas hipóteses mais referidas para este crescimento acelerado das populações de varroa no final do verão/início do outono são: 1) a hipótese da “bomba de ácaros”; 2) a hipótese da “pilhagem” (ver aqui com mais profundidade).
Um estudo recente, com uma metodologia inovadora, vem fazer luz sobre os mecanismos mais específicos de transferência de ácaros inter-colónias, o impacto deste fenómeno no crescimento acelerado de populações de varroa em colónias receptoras devidamente tratadas, e uma reposta possível para gerir e mitigar os danos provocados por este influxo de varroas transferidas de colónias vizinhas.
Mapa com a localização dos apiários utilizados neste estudo: o círculo amarelo representa a localização do apiário com colónias não tratadas — as colónias “doadoras” de ácaros; os círculos a branco representam a localização dos apiários tratados com MAQS (ácido fórmico) e com taxas baixas de varroa — as colónias receptoras de ácaros.
Vejamos o enquadramento do estudo segundo os seus autores: “As abelhas vagueiam frequentemente entre as colónias, representando uma rota potencial para a transmissão de Varroa. A aglomeração de colónias nos apiários e em toda a paisagem envolvente resulta em infestações mais intensas de Varroa, pois as abelhas estão mais propensas a derivarem entre as colónias. As colónias também podem adquirir ácaros quando suas abelhas roubam outras colónias infestadas de ácaros e/ou quando abelhas não-natais derivam de outras colônias. A propensão das abelhas de entrar em colónias não natais aumenta quando as abelhas foram parasitadas por ácaros. As abelhas “ladras” também podem entrar em colónias não natais, e muitas vezes fracamente protegidas, a fim de roubar o mel durante os períodos de escassez de alimentos. O comportamento de roubo é especialmente prevalente no outono, quando as colónias com infestações de Varroa não controladas começam a entrar em colapso. Essas colónias enfraquecidas com cargas elevadas de Varroa são roubadas por colónias saudáveis próximas, cujas abelhas ladras podem pegar ácaros e trazê-los de volta para sua própria colónia. O final do outono é um período crítico para os apicultores enquanto preparam suas abelhas para o inverno, garantindo que as reservas de alimentos sejam adequados, as cargas de ácaros sejam baixas e as colónias saudáveis35. A reinfestação de Varroa durante este período pode desfazer os efeitos de um manejo bem-sucedido.Compreender o mecanismo pelo qual ocorre essa transmissão inter-apiarios no final do outono é fundamental para o desenvolvimento de melhores práticas de maneio para ajudar a mitigar os danos à saúde da colónia.“
Com a nova metodologia utilizada, foi possível aos investigadores identificar de forma objectiva a proveniência das abelhas das colónias “doadoras” e, ao mesmo tempo, identificar no grupo das colónias receptoras as “mais permissivas” à entrada e visita de abelhas das colónias “doadoras”.
Os dados recolhidos pelos investigadores são ao mesmo tempo surpreendentes e promissores. Apresento em baixo os que me parecem mais relevantes:
a hipótese do acelerado crescimento da população de varroa estar associado ao fenómeno “bomba de ácaros” não foi confirmado uma vez mais;
a hipótese do acelerado crescimento da população de varroa estar associado ao fenómeno “pilhagem” não surge como a mais preditiva, isto é, há outros mecanismos que explicam melhor o acelerado aumento da população de ácaros;
colónia receptoras onde foram colocadas redes de entrada para impedir a pilhagem (robbing screens) apresentaram um crescimento populacional de Varroa reduzido em comparação com colónias sem estas redes de entrada ou robbing screens;
os resultados sugerem a necessidade de uma hipótese alternativa à “bomba de ácaros” ou à hipótese da pilhagem. Os investigadores avançam com a hipótese denominada permissividade da colónia.
Exemplo de robbing screens, um equipamento muito utilizado nos EUA para diminuir os fenómenos de pilhagem.
As colónias mais permissivas, isto é as que permitem visitas mais frequentes de abelhas de outras colónias — abelhas não-natais —, tiveram maior crescimento populacional de ácaros do que as colónias menos permissivas. Neste estudo, as robbing screens foram usadas para contornar a permissividade natural de uma colónia, tornando as colónias receptoras menos acessíveis. Em boa medida a permissividade de uma colónia, está ligada à selecção de abelhas mais dóceis, menos defensivas. Os apicultores têm intencionalmente selecionado e propagado abelhas mais mansas desde há gerações. Vários estudos, no entanto, observaram que linhagens mais defensivas de abelhas melíferas apresentam frequentemente maior tolerância a Varroa. É possível que, ao criar abelhas mais brandas/dóceis, os apicultores tenham inadvertidamente tornado as colónias mais permissivas às visitas e, portanto, mais suscetíveis à imigração de ácaros.
A minha proposta para o novo ano: colocar redes de entrada (robbing screens) para ajudar as minhas colónias mais permissivas no controle das visitas de abelhas não-natais, ou colocar focinheiras ou redutores de alvado. O objectivo é alcançar dois benefícios com um só dispositivo: 1) diminuir os casos de colónias com mais susceptibilidade ao crescimento acelerado da população no período de fim de verão e início de outono; 2) impedir a entrada de velutinas nas minhas colónias nos meses de outono.
Nota: numa das mensagens que troquei com o Randy Oliver, em que lhe mencionei que este ano o tratamento principal de final de verão não foi eficaz em cerca de 20% das minhas colónias, ele surgiu com uma explicação que me pareceu curiosa na altura: o facto de haver colónias que funcionam como ímanes para as varroas. Quando li pela primeira vez este estudo, há cerca de um mês atrás, este conceito de colónias permissivas lembrou-me as palavras do Randy acerca das colónias ímanes. No que respeita a abelhas sempre fez e cada vez mais sentido faz considerar diferenças inter-zonais, inter-apiários e inter-colónias. As diferenças entre colónias, neste caso o potencial de infestação por varroas vindas do exterior, estão lá. Assim seja capaz de as considerar no meu maneio.
Edward Wilson, falecido recentemente, foi um dos pioneiros e dos mais influentes investigadores dos últimos 50 anos no estudo de sociedades de animais com altos níveis de organização social, como as abelhas, formigas e vespas. Estas sociedades apresentam três características fundamentais, sobreposição de diferentes gerações num mesmo ninho, o cuidado cooperativo com a prole, e uma divisão de tarefas (reprodutores e operárias), as necessárias para se falar de eussociabilidade.
Edward O. Wilson em Manhattan em 2008. Edward O. Wilson, biólogo e autor que levou a cabo um trabalho pioneiro sobre biodiversidade, insetos e natureza humana – e ganhou dois prémios Pulitzer – morreu no domingo em Burlington, Massachusetts, aos 92 anos. Embora tenha tido uma obsessão ao longo de sua vida por formigas, descobrindo como elas comunicam por intermédio de feromonas, é mais famoso pela publicação em 1975 de “Sociobiology: The New Synthesis”.
Sobre a Sociobiologia: “estudo sistemático da base biológica do comportamento social. O termo sociobiologia foi popularizado pelo biólogo americano Edward O. Wilson no seu livro Sociobiology: The New Synthesis (1975). A sociobiologia tenta compreender e explicar o comportamento social animal (e humano) à luz da seleção natural e outros processos biológicos. Um de seus princípios centrais é que os genes (e sua transmissão por meio da reprodução bem-sucedida) são os motivadores centrais na luta dos animais pela sobrevivência, e que os animais se comportarão de maneiras que maximizem suas chances de transmitir cópias de seus genes às gerações seguintes. Uma vez que os padrões de comportamento são até certo ponto herdados, pode-se dizer que o processo evolutivo da seleção natural promove aquelas características comportamentais (assim como físicas) que aumentam as chances de reprodução de um indivíduo.
A sociobiologia contribuiu com vários insights para a compreensão do comportamento social dos animais. Explica o comportamento aparentemente altruísta de algumas espécies animais como sendo na verdade geneticamente egoísta, uma vez que tais comportamentos geralmente beneficiam indivíduos intimamente relacionados, cujos genes se assemelham aos do indivíduo altruísta [kin selection]. Esta abordagem ajuda a explicar por que as formigas soldados sacrificam suas vidas para defender sua colónia ou por que as abelhas operárias de uma colmeia abandonam a reprodução para ajudar sua rainha a se reproduzir. A sociobiologia pode, em alguns casos, explicar as diferenças entre o comportamento do macho e da fêmea em certas espécies animais como resultado das diferentes estratégias às quais os sexos devem recorrer para transmitir seus genes à posteridade.
A sociobiologia é mais controversa, entretanto, quando tenta explicar vários comportamentos sociais humanos em termos de seu valor adaptativo para a reprodução. Muitos desses comportamentos, de acordo com uma objeção, são mais plausivelmente vistos como construções culturais ou como subprodutos evolutivos, sem qualquer propósito adaptativo direto próprio. “
Os meus amigos Marcelo Murta, Nuno Cascais e Rui Martins chamaram a minha atenção para os vídeos de Humberto Boncristiani e para os artigos de Kaira Wagoner, acerca de uma nova técnica para selecionar abelhas mais resistentes à infestação por varroa. De uma forma simples e sumária, Wagoner e colegas identificaram uma mistura de semioquímicos, que aspergidos na forma de spray sobre a criação operculada, ajuda a identificar as colónias com o melhor comportamento de desoperculação e limpeza dessas pupas. Estes semíoquímicos sintéticos mimetizam os componentes odoríficos naturais que as larvas/pupas infestada por varroa libertam quando parasitadas por varroa (esta técnica foi designada Unhealthy Brood Odor (UBO) — odor de criação não saudável). Nas palavras da autora principal, a investigação visou testar a “hipótese de que a resposta higiénica a uma mistura de semioquímicos associados à criação de abelhas melíferas infestadas com Varroa pode servir como uma ferramenta específica para prever a resistência ao Varroa ao nível de colónia. Em apoio à nossa hipótese, demonstramos que uma mistura dos compostos (Z) -10-tritriaconteno, (Z) -8-hentriaconteno, (Z) -8-heptadeceno e (Z) -6-pentadeceno desencadeia comportamento higiénico num ensaio de duas horas, e que as colónias de alto desempenho (resposta higiénica a ≥60% dos alvéolos tratadas) têm infestações de Varroa significativamente mais baixas, removem significativamente mais Varroa introduzidas artificialmente e são significativamente mais propensas a sobreviver ao inverno em comparação com colónias de baixo desempenho (resposta higiénica a <60% das alvéolos tratadas).“
Spray com semioquímicos: técnica UBO, uma forma muito simples para testar o comportamento de limpeza das abelhas. O vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ZYalOJRa7AwCilindro que delimita a área do quadro com criação a pulverizar. As áreas de ensaio continham até aproximadamente 50 alvéolos e foram isoladas usando uma seção curta de tubo de PVC com um diâmetro interno de 3,8 cm.Criação desoperculada após duas horas da pulverização. Wagoner concluiu que o limiar discriminativo de desoperculação se situa nos 60% dos alvéolos pulverizados, isto é, as colónias que resistem melhor à infestação por varroa, desoperculam pelo menos 60% dos alvéolos pulverizados com a mistura de semioquímicos utilizada. Comparação entre colónias com alto UBO e baixo UBO.
As maiores dificuldades na identificação de colónias com valor biológico e posterior selecção de colónias resistentes está relacionado com baixa fidedignidade e complexidade dos testes utilizados até aqui. Por um lado, o facto de o comportamento higiénico avaliado pelo teste convencional de refrigeração de criação, ou seja a capacidade de detectar, desopercular e remover criação refrigerada e morta, nem sempre conferir resistência ao varroa, coloca em causa este trabalho de selecção. Além disso, outros métodos de seleção de resistência são muito eficazes, contudo são pouco eficientes. Os métodos que alcançam os níveis mais altos de fidedignidade no teste à resistência ao varroa são demorados, complexos, minuciosos e, portanto, caros e impraticáveis para utilização apícola pela enorme maioria dos apicultores. Este novo método proposto por Wagoner e colegas, visa resolver e ultrapassar estas dificuldades.
Este novo método de identificação de colónias com comportamentos mais resistentes ao varroa tem méritos inegáveis (na minha opinião, com algumas fragilidades como referirei numa publicação posterior). Mostra, uma vez mais, que a ciência não esqueceu a apicultura e que a apicultura não pode dispensar a ciência, ainda que esta não forneça respostas miraculosas — a ciência também não é nem pretende ser populista!
Jorge Luis Borges 24 Ago 1899 // 14 Jul 1986 Escritor/Poeta/Ensaísta
Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos E que percorro com a minha mão côncava. Não sem alguma lógica amargura Entendo que as palavras essenciais, As que me exprimem, estarão nessas folhas Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. Mais vale assim. As vozes desses mortos Dir-me-ão para sempre.
James Ellis e Emily Noordyke, viram o seu artigo de revisão da literatura sobre a eficácia dos substitutos de pólen na saúde e produtividade das colónias ser publicado recentemente. Deixo a tradução do sumário de um artigo que merece uma leitura integral.
“Bife” substituto do pólen colocado em cima do ninho de criação de uma colónia de abelhas.
“Sumário: As abelhas melíferas ocidentais (Apis mellifera L.) coletam o pólen das flores como sua fonte de proteína, gordura, vitaminas e minerais. Os apicultores fornecem substitutos do pólen às suas colónias de abelhas para mitigar a falta de recursos naturais de pólen no meio ambiente. Apesar de seu uso difundido, não está claro se os substitutos do pólen são benéficos para a saúde e produtividade da colónia. Aqui, revemos a literatura a respeito da eficácia dos substitutos do pólen em quatro categorias principais: (1) consumo / palatabilidade dos substitutos do pólen, (2) produtividade da colónia, (3) resposta a pragas e doenças e (4) resposta fisiológica. Globalmente, a literatura mostra uma mistura de impactos positivos, neutros e negativos dos substitutos do pólen na saúde das colónias de abelhas. Além disso, recomendamos áreas para melhoria na pesquisa de substitutos do pólen. Esperamos que esta revisão leve a mais pesquisas sobre substitutos do pólen, uma vez que a nutrição é um fator-chave que afeta a saúde das abelhas geridas por apicultores.”
Junto ao solstício de inverno, esta publicação, que traduz excertos de um estudo de revisão muito citado na literatura da especialidade, visa sumariar o conhecimento mais actual em torno do impacto de factores abióticos, temperatura e humidade relativa (HR), nas actividades das abelhas no interior e exterior das colmeias.
A faixa normal de temperatura no interior de uma colónia de abelhas melíferas varia de 33 a 36 ° C (Kleinhenz et al. 2003; Petz et al. 2004), mais precisamente 34,5 ± 1,5 ° C (Jones et al. 2005);
Ao nível individual, quando a temperatura no interior da colmeia sobe acima de 36 ° C, a criação sofre de sobreaquecimento;
Quando a temperatura sobe acima de 36 ° C, as abelhas começam a mitigar a carga de calor usando o comportamento de abanar, vibrando rapidamente suas asas. As operárias assumem posições específicas durante o abanamento para serem mais eficazes (Southwick e Moritz 1987);
Outro mecanismo é o arrefecimento evaporativo, as operárias coletam água, permitindo o arrefecimento evaporativo dentro da colónia (Nicolson 2009);
Em caso de temperatura inferior a 33 ° C no interior da colmeia, as abelhas melíferas precisam de aumentar a temperatura para manter a criação, o que é realizado aumentando a densidade das abelhas no ninho (comportamento de agrupamento) e aumentando a endotermia de acordo com a necessidade (Harrison 1987; Stabentheiner et al. 2010);
Há um equívoco em torno da ideia de que o papel dos zângãos é apenas o acasalamento da rainha. Os zângãos participam da termorregulação da colónia sob condições específicas (Harrison 1987). Kovac et al. (2009) encontraram zângãos aquecendo os seus tórax, especialmente zângãos com mais de 2 dias, para auxiliar no aquecimento da criação em situação de baixas temperaturas;
A temperatura da criação é regulada não apenas pelo comportamento de agrupamento das operárias, mas também pelo aquecimento ativo dos músculos torácicos de voo. Essa estratégia, segundo Kleinhenz et al. (2003), inclui: (a) aquecimento superficial dos opérculos da criação enquanto as abelhas estão imóveis sobre esses opérculos, e (b) aquecimento de alvéolos de criação por aquecimento dentro dos alvéolos. No último caso, as abelhas com tórax aquecido (temperatura torácica de 34,1–42,5 ° C) entram em alvéolos vazios entre os alvéolos de criação operculada. Estas abelhas podem permanecer imóveis por até 45 minutos para aumentar a temperatura da criação dos alvéolos adjacentes em 2,5 ° C em 30 minutos. O fluxo de calor, neste caso, consegue-se a até três alvéolos de criação de distância da abelha aquecedora (Humphrey e Dykes 2008). A presença de alvéolos vazios não garante a manutenção da temperatura ideal do ninho de criação, mas podem reduzir o tempo e a energia gasta pelas abelhas para aumentar o aquecimento da criação (Fehler et al. 2007);
Foto (12/11/2021) de um quadro de uma colónia minha, onde se podem observar diversos alvéolos vazios no interior da zona de criação operculada.
As pupas em alvéolos operculados são mais sensíveis à baixa temperatura do que ovos ou larvas (Groh et al. 2006; Tautz et al. 2003). Li et al. (2016) relataram que as temperaturas da criação de operárias eram mais altas do que as de zângãos, e que é regulada de forma mais precisa;
Outro fator importante para o desenvolvimento da criação é a humidade relativa (HR) dentro das colónias. Li et al. (2016) descobriram que a HR é amplamente regulada pelas operárias. A HR é particularmente importante para a incubação dos ovos. HR abaixo de 50% impede a eclosão dos ovos, a faixa ótima de HR para incubação normal é de 90 a 95%. HR mais alta ou mais baixa reduz significativamente o número de ovos chocados normalmente (Doull 1976);
Nenhum ovo eclodiu a 30% de HR. Em caso de condições de baixa HR, as abelhas apresentam comportamento específico, como evaporação da água do néctar e forrageamento para coleta de água para aumentar a HR (Human et al. 2006). Com a HR elevada, o comportamento de ventilação é utilizado para reduzir a HR para ficar dentro da faixa ideal. Vale ressaltar que para a criação in vitro de larvas de abelhas melíferas, a temperatura de 34 ° C e HR de 96% (Aupinel et al. 2005; Silva et al. 2009) ou HR de 90% (Kaftanoglu et al. 2011) foram sugeridos;
O comportamento de forrageamento inclui as abelhas coletando néctar, pólen, própolis ou água para atender às necessidades da colónia. O forrageamento ocorre numa ampla faixa de temperaturas de 10 a 40 ° C (conforme revisto por Abou-Shaara 2014). Abaixo de 10 ° C, as abelhas reduzem as viagens de forrageamento (Joshi e Joshi 2010). O início da atividade de forrageamento foi registrado em uma média de 6,57 ° C, enquanto a atividade mais alta foi a 20 ° C (Tan et al. 2012). Num outro estudo, Woyke et al. (2003) descobriram que 10 ° C é a temperatura na qual o forrageamento é iniciado. Estes autores também notaram que o número de forrageadoras aumentou dez vezes quando a temperatura aumentou para 12 ° C. Contrariamente, a uma temperatura de 43 ° C, foi observada a menor atividade de forrageamento (Blazyte-Cereskiene et al. 2010);
A vida útil das abelhas forrageiras varia de 2 a 17 dias (média de 7,7 dias; Visscher e Dukas 1997). A exposição contínua de abelhas forrageiras a temperaturas elevadas pode levar a uma vida útil curta. Remolina et al. (2007) expôs as abelhas melíferas a 42 ° C até a morte e descobriram que o tempo de vida variou de 31 a 91 h (cerca de 1,29-3,79 dias);
Em condições de campo, Alattal e Alghamdi (2015) observaram as maiores perdas de colónias em abelhas carníolas (92%), seguidas por abelhas italianas (84%) e, em seguida, por abelhas iemenitas (indígenas) (46%) nas condições de temperatura de Reino da Arábia Saudita . Embora esses autores tenham relatado mais adequação das abelhas italianas a essas regiões quentes em comparação com as abelhas carníolas, as abelhas indígenas mostraram a maior adequação. Da mesma forma, Alqarni (2006) descobriu que as abelhas iemenitas são mais tolerantes a temperaturas elevadas durante o período de verão em Reino da Arábia Saudita do que as abelhas carníolas e italianas;
Outro fator abiótico, a humidade do ar, provavelmente não desempenha um papel tão importante num clima temperado, mas é importante em condições secas e quentes. A uma temperatura de 35 ° C, as abelhas melíferas sobrevivem melhor com 75% de HR, enquanto com mais baixa HR de 50% a 15%, a sobrevivência das operárias foi afetada negativamente, especialmente a 15% (Abou-Shaara et al. 2012);
O acasalamento de rainhas ocorre principalmente em temperaturas abaixo de 25 ° C (Tibor et al. 1987), portanto, altas ou baixas temperaturas têm um impacto negativo no voo da rainha (Heidinger et al. 2014);
A época do ano ou estação também influencia o acasalamento das rainhas, ou seja, rainhas acasaladas na primavera são mais vigorosas do que aquelas acasaladas no outono (Moritz e Ku ̈hnert 1984; Jhajj et al. 1992). Além disso, o maior número de acasalamentos bem-sucedidos foi registrado em maio, enquanto o menor ocorreu em julho e agosto (Al-Ghzawi e Zaitoun 2008). Se as rainhas estão enjauladas, a presença de amas é muito importante, Gontarz et al. (2005), por exemplo, descobriram que adicionar abelhas amas a rainhas em gaiolas aumentava a temperatura dentro da gaiola para quase 35 ° C ou mais em poucas horas;
A enxameação é a forma natural de reprodução das colónias de abelhas, pois a abelha rainha não é capaz de encontrar independentemente um ninho e as operárias não são capazes de se reproduzir (c.f. Grozinger et al. 2014). Existem diferentes razões para a enxameação: em colmeias pequenas, a sobrepopulação causa a enxameação, ao passo que a falta de alvéolos para a postura de ovos não (Simpson e Riedel, 1963);
O pequeno volume da colmeia e a baixa ventilação promovem a enxameação, bem como o superaquecimento que ocorre em de colónias com abelhas aglomeradas (Lensky e Seifert 1980). A enxameação ocorre principalmente da primavera ao início do verão;
As abelhas europeias (de clima temperado) geralmente têm baixa propensão para desertarem. No caso de deserção, as abelhas saem da colmeia e voam para outro local (relocação do ninho).
De acordo com a revisão acima, estudos futuros devem incluir os seguintes aspectos: (1) impactos da temperatura e humidade relativa nas características morfológicas (corpo e asa), aprendizagem, sobrevivência e parâmetros fisiológicos (propriedades da cutícula, espessura da cutícula e teor de água corporal ) das diferentes subespécies reconhecidas e para diferentes estágios (ou seja, ovos, larvas, pupas e adultos) e castas (operárias, zângãos e rainhas); (2) comparações diretas entre as subespécies de abelhas e a tolerância de seus híbridos à temperatura alta e muito baixa ou HR, especialmente considerando a mudança climática global prevista; (3) a capacidade das abelhas melíferas em diferentes idades tolerarem condições adversas; (4) novos projetos de colmeias (por exemplo, maior isolamento ou usando aquecimento ou ventiladores de refrescamento) para ajudar a sobrevivência das abelhas sob condições severas de verão ou inverno; (5) impactos das temperaturas e HR na atividade de armazenamento de alimentos sob diferentes condições ecológicas; (6) criação da rainha e maturidade dos zângãos sob várias temperaturas e HR; e (7) os impactos das temperaturas e HR no forrageamento, comportamentos de acasalamento, enxameação e deserção das subespécies reconhecidas das abelhas.
Não sou dado a auto-elogios como não sou dado a auto-comiserações. Sei de há muito que “santos da casa não fazem milagres” e que “pior que estar errado é ter razão antes do tempo”, e convivo sem perder o sono com esta realidade. O que não me mata torna-me mais resistente!
Depois de ler de ponta a ponta um guia publicado recentemente, em 2021, pela francesa FNOSAD (Fédération Nationale des Organisations Sanitaires Apicoles Départementales) acerca dos mais actuais avanços que a ciência nos disponibiliza sobre o ácaro varroa, confirmo que o trabalho persistente de pesquisa e divulgação que disponibilizo aos leitores assíduos deste blog acerca do que de mais importante se tem descoberto nos últimos anos neste domínio, tem acompanhado os tempos. Sem falsas e hipócritas modéstias, estou a fazer um trabalho de que me orgulho muito. Em baixo destaco algumas publicações deste blog (em hiper-ligação) em associação com os conteúdos deste guia francês tão actual, rico e valioso, escrito com recursos que não tenho, por uma instituição estatal francesa, guia este que me foi dado a conhecer há uns dias atrás pelo meu querido amigo João Gomes.
Entre outros avanços recentes no conhecimento do principal inimigo das abelhas, terei sido dos primeiros a publicar em português estes aspectos, entre outros:
Que 2022 nos permita controlar devidamente este parasita e inimigo mortal das nossas abelhas! Este desejo é dirigido, em particular, aos meus leitores e amigos que, através das suas mensagens públicas e privadas, me interpelam, me ensinam e me estimulam a continuar.
A partir dos 40m30s deste webinar, Jamie Ellis, Professor de Entomologia no Departamento de Entomologia e Nematologia da Universidade da Flórida, apresenta-nos uma proposta para solucionar os casos de colónias zanganeiras, que enxamearam ou com rainha com mau padrão de postura — colónias disfuncionais. Nas centenas de vezes em que utilizou esta técnica Ellis afirma que resultou em todos os casos. Posso afirmar que já utilizei o mesmo procedimento 3 ou 4 vezes, há cerca de meia-dúzia de anos atrás, para salvar colónias zanganeiras e que, comigo, também resultou sempre.
Pré-requisitos: ter enxames funcionais em núcleos de 5 quadros. Ellis recomenda ter um enxame funcional em núcleo por cada 5 a 10 colónias com 10 quadros.
Procedimentos:
Fase A — 1 e 2) colocar o núcleo funcional junto da colónia disfuncional de 10 quadros; 3) retirar 5 quadros da colónia disfuncional. Um destes quadros, pelo menos, deverá ter mestreiros se pretendermos que o núcleo para onde serão transferidos crie autonomamente uma nova rainha. Os outros quadros deverão ter pólen (1 ou 2 quadros) e criação (2 ou 3 quadros) . O objectivo é utilizar estes quadros retirados da colónia disfuncional para reiniciar uma nova colónia no núcleo com 5 quadros. Devemos retirar/destruir os restantes mestreiros, caso estejam presentes nos restantes 5 quadros que mantemos na colónia de 10 quadros. Fase B — 1) Puxar os 5 quadros da colónia disfuncional para um dos lados do corpo da colmeia. 2) Introduzir os 5 quadros do núcleo, com abelhas e rainha, no espaço vazio do corpo da colmeia. 3) Colocar os 5 quadros tirados da colónia disfuncional no núcleo. 4) Transferir o núcleo para um outro local (3 a 5 km de distância) e deixá-lo criar a sua rainha [ou introduzir uma]. *Alguns apicultores colocam a rainha transferida do núcleo numa gaiola preocupados com a sua aceitação. [Ellis não utiliza este procedimento e não tem encontrado problemas de não-aceitação da rainha do núcleo por parte das abelhas residentes da colónia disfuncional.]
Notas: 1) No casos de desejarmos resolver com estes procedimentos uma situação de uma colónia zanganeira, com uma população já relativamente pequena, proponho que deixemos o núcleo resultante, aquele que irá criar uma nova rainha, no local de origem do núcleo. Neste local receberá as abelhas de campo que retornarão ao local original nas horas seguintes e/ou nos dois a três dias seguintes. Estas abelhas irão reforçar a população deste núcleo e, por esta via, aumentar a sua viabilidade.
2) Nunca utilizei este procedimento para dar um “boost” em colónias enxameadas, para evitar a sua “paragem” enquanto é criada e fecundada a sua nova rainha. Esta forma de colocar colónias enxameadas rapidamente nos carris na véspera ou durante um fluxo de néctar intenso tem muitos méritos aos meus olhos e prevejo utilizá-lo na próxima temporada em alguns casos, que me servirão de estudo-piloto. Para que resulte é absolutamente indispensável que sejam eliminados previamente todos os mestreiros existentes. No caso de já terem nascido rainhas virgens não utilizarei o procedimento porque é praticamente impossível garantir que se tenham eliminado todas as rainhas virgens presentes. Sem esta garantia, a aceitação da nova rainha transferida do núcleo é improvável e corre um risco muito grande de se tornar uma vítima das abelhas que não são suas filhas. A experiência assim me o diz, a Kin selection theory assim o prediz.
As abelhas batem as asas 250 vezes por segundo. A câmera Phantom v2511 pode gravar mais de 1 milhão de imagens por segundo (criando câmera lenta na reprodução). Aqui, foi utilizada uma para capturar imagens para um documentário sobre as abelhas.
O comentário de J. F. a este vídeo numa conversa no Bee-L: “Depois que a abelha abre suas asas, o movimento da asa não é “para cima/para baixo” para mantê-la no ar, mas um “8 figurado”, semelhante ao movimento dos remos ao remar.”
Através destas imagens de leveza e graciosidade desejo aos que me acompanham um Feliz Natal!