As minhas notas dizem-me que foi em 2014. Nesse ano munido da melhor ciência que conhecia, decidi iniciar o segundo tratamento para controlar a varroose tendo suporte na informação que recolhi através da monitorização de cerca de 20% das minhas colónias. A técnica que escolhi na altura para avaliar a taxa de infestação está aqui descrita. Os dados que obtive em finais de julho nesta amostra de colónias indicavam uma taxa de infestação a tocar os 1,6%. Munido deste valor e da melhor ciência que conhecia na altura, que indicava (e continua a indicar) que o número de varroa duplica por mês, e que o limiar económico da taxa de infestação para iniciar os tratamentos não deve ser superior a 3% neste período pós-cresta, iniciei o segundo tratamento em finais do mês de agosto.
2014 foi último ano em que a mortalidade por varroose chegou aos 18%. Apesar de ter feito tudo “by de book”, com base na melhor ciência que conhecia, comecei a questionar-me sobre os procedimentos. Esta dúvida em particular, não me deixou mais: se as taxas de infestação não são uniformes entre as colónias, como poderei convencer-me que uma amostragem de 20% das colónias vai espelhar com rigor a taxa de infestação de todas as colónias no apiário?
De lá para cá, por tudo o que tenho observado nas minhas colónias, por tudo o que tenho lido (em especial o que é escrito pelo Randy Oliver acerca dos casos de colónias outliers, que sempre encontra quando testa as suas 1600 colónias), convenci-me que decidir tratar ou não tratar, avaliar se o tratamento foi ou não eficaz, tudo isto com base em amostras que deixam de fora 80% ou mesmo 70% das colónias de um apiário não é suficientemente confiável. Para mim não é!
David Tarpy, um dos nomes mais proeminentes da apicultura norte-americana, investigador e extensionista de enorme reputação, escreve o seguinte a este respeito: “As recomendações atuais são monitorizar todas as colónias de abelhas quanto à infestação do ácaro Varroa, de preferência várias vezes ao longo de uma temporada, para determinar se e quando o tratamento é necessário. Também é recomendado que várias técnicas de amostragem sejam empregadas para garantir que uma medida precisa seja obtida para cada colmeia.”
Monitorizar sim, claro que sim, e acrescento: monitorizar devidamente… para não iludirmos a pessoa mais fácil de iludir: nós próprios.
Comparo os testes á covid19, com os testes ao varroa. Para que servem os testes, se sabemos que o parasita está presente e é omnipresente. Tal como as vacinas são obrigatórias para todos, independentemente da idade, do local, ou da saúde geral, assim tratar todas as colónias nas datas em que sabemos que o varroa atinge os picos de infestação, deve ser tido como norma de tratamento anual, visto tratar-se de doença endémica.
O que aconselho é que, passados 3 a 4 dias após o tratamento, verifiquem o número de varroas caídos nas bandejas das colónias. Poderão assim ter uma ideia mais concreta sobre a infestação das suas colónias, e ir adaptando o tratamento ao ciclo do varroa e ao clima da sua região.
É assim que faço há muitos anos, fui aprendendo com os erros e corrigindo o maneio. Ainda me lembro da apicultura, antes do varroa, e que saudades eu tenho…dos anos 70 do século passado.