Como já referi, o esforço na selecção de linhas resistentes é meritório. Contudo a transferência destas linhas resistentes para os apiários dos apicultores europeus e norte-americanos está a processar-se a conta-gotas, com a consequente diluição do traço resistente ao longo do tempo. Mais, os dados de inquéritos de grande escala a apicultores europeus e norte-americanos revelam que estas linhas não estão a sobreviver mais do que as linhas não resistentes. No caso ibérico coloca-se ainda o problema de actualmente faltarem programas sustentados e credíveis de desenvolvimento de linhas resistentes com a abelha autóctone.
O que interessa aos apicultores que adquirem linhas resistentes? Basicamente que as linhas resistentes sobrevivam mais e com menos cuidados (menos acaricidas e menos monitorização) e produzam tanto ou mais que as linhas não resistentes. Como disse atrás, não é isso que os apicultores inquiridos verificam nas suas linhas resistentes: morrem em igual número.
Talvez seja altura de questionarmos se os traços para os quais se está a seleccionar, especialmente o VSH, o grooming e o REC, serão os indicados.
Costuma-se dizer que se queremos aprender a sério devemos aprender com aqueles que fazem bem o trabalho. Neste caso de resistência ao Varroa é a Apis cerana que está a fazer bem o trabalho. Resiste há muito ao Varroa. E como faz a A. cerana para resistir?
Foi descoberto recentemente um comportamento nestas colónias que pode explicar boa parte da sua resistência. Está descrito neste artigo (li-o pela primeira vez há uns anos atrás, e decidi referi-lo só agora, depois de o Randy Oliver o ter referido no Bee-L há umas semanas atrás, dizendo que poderá ser o caminho para criar linhas de abelhas mais resistentes que as actuais existentes no mercado das linhas resistentes).
De uma forma muito sumária, foi descoberto um comportamento de “suicídio altruísta” das larvas e pupas da A. cerana quando feridas pelo Varroa.
Os autores escrevem “Assim, a suscetibilidade significativamente maior da criação infestada por ácaros do hospedeiro original de V. destructor [A. cerana] leva a um comportamento higiénico mais eficiente, fornecendo uma base para a sobrevivência da colónia de abelhas ao parasitismo e constituindo uma característica de resistência adicional do hospedeiro original deste parasita . Nossos resultados fornecem uma explicação mais parcimoniosa para as diferenças marcantes no impacto de infestações pelo haplótipo coreano de V. destructor entre as espécies de abelhas melíferas ocidentais [europeias] e orientais. A suscetibilidade da criação também pode contribuir para a sobrevivência da colónia à infestações de ácaros V. destructor em populações de A. mellifera naturalmente resistentes.“
fonte: https://www.nature.com/articles/srep27210
Obviamente, para mim, a solução está em aprender com a A. cerana, não em importar a A. cerana para o nosso país/Europa. Onde estão os estudos do impacto ambiental que decorrem da hipotética introdução desta espécie no nosso país/Europa? Aparentemente alguns apicultores, que se dizem amigos do ambiente e do ecossistema, estariam dispostos a introduzir um sério competidor por néctar e pólen, e que resistindo ao ácaro e com o elevado comportamento de enxameação que lhe é característico, muito provavelmente se tornaria uma população dominante, contribuindo inexoravelmente para a exaustão dos recursos melíferos tão necessários aos nossos insectos polinizadores, em particular os polinizadores selvagens que tantos riscos já correm. E tudo para terem ganhos de curto-prazo!? E ao mesmo tempo criticam os importadores e bodegueiros que trabalham com mel chinês por verem apenas os seus ganhos de curto-prazo!?