influência do clima na evolução da varroose: estudo espanhol

Este estudo espanhol (1995) aborda a influência de três tipos de clima na evolução da varroose. Este é um assunto que me interessa particularmente dado que verifico que a varroose nos meus apiários a 600m de altitude é, em geral, mais difícil controlar (felizmente não tem sido impossível, apenas mais difícil) do que nos apiários a 900m. Como estão apenas distanciados uma a três dezenas de quilómetros não posso afirmar que estejam em zonas com tipos de clima diferentes. Contudo há aspectos de pormenor que os distinguem, em especial as temperaturas mínimas, mais baixas nos apiários a 900m, e os diferenciais entre as temperaturas mínimas e as temperaturas máximas, mais elevados nos apiários a 900m. Extrapolando os dados do estudo para a minha realidade, estes factores estarão a abrandar a dinâmica de crescimento das populações de varroa nos meus apiários a mais alta altitude. Pela minha constatação, a olho, deste fenómeno, inverno sempre um número maior de colónias nos apiários de altitude. As abelhas, pelo que vou vendo ano após ano nestes apiários de montanha, lidam muito bem com o frio, estando devidamente desparasitadas e devidamente fornecidas de alimento e com populações acima das 7000- 8000 abelhas (4 quadros cobertos de abelhas mínimo para não correr riscos desnecessários).

“Resumo: Estudámos a dinâmica da população de V. Jacobsoni [alguns anos mais tarde os especialistas concluíram que o haplotipo presente na Península Ibérica era o haplotipo coreano V. destructor] na Andaluzia, no
sul da Espanha, região onde existem grandes contrastes climáticos. Realizou-se amostragem mensal, de julho de 1990 a outubro de 1992, sem tratamento acaricida, em 26 colmeias distribuídas em 9 apiários em toda a Andaluzia, com exceçpão de uma colmeia localizada em Cáceres. Estas zonas correspondem às seguintes 3 regiões climáticas: Mediterrâneo continental e oceânico (MCO), Mediterrâneo continental (CM) e Mediterrâneo subtropical (MS). O desenvolvimento das populações de ácaros foi estudado levando-se em consideração os seguintes parâmetros: mortalidade natural (M), taxa de infestação de abelhas adultas (TIA) e taxa de infestação de criação (TIC). As taxas de infestação para os 3 tipos de climas foram, respectivamente, 9,9; 4,1 e 6,1 ácaros por 100 abelhas adultas. Da mesma forma, as taxas de infestação de cria foram 34,2; 17,8 e 24,8 ácaros por 100 alvéolos. O período de máxima infestação variou dependendo da região climática. Os valores globais para as 3 regiões estudadas foram de 8,2 ácaros por 100 abelhas e 29,5 ácaros por 100 alvéolos.”

Deixo em baixo a caracterização que os autores fazem das três regiões climáticas.

  • i) O Vale do Guadalquivir, a linha de costa oceânica e a Extremadura, que representam uma área com clima mediterrânico predominantemente continental, mas com uma orla costeira de clima mediterrânico oceânico; toda esta zona sendo considerada como uma região climática (MCO), caracterizada por uma temperatura média anual de 18 ° C e uma humidade relativa média bastante elevada. Estabelecemos 12 colónias em 6 locais diferentes. [região com as mais elevadas taxas de infestação nas abelhas adultas e criação];
  • ii) A área dos planaltos da Andaluzia oriental e do sulco Intrabético tem um clima mediterrâneo continental (CM) com uma temperatura média anual entre 13 ° C e 15 ° C e uma variação térmica anual bastante elevada (a partir de 7 ° C a 20 ° C). A humidade média é mais baixa do que na região climática anterior e os períodos de geada são bastante frequentes. Nós amostrámos 8 colónias localizadas em 2 locais. [região com as mais baixas taxas de infestação nas abelhas adultas e criação];
  • iii) A zona da costa mediterrânica subtropical (MS), de clima mediterrâneo subtropical, apresenta oscilações térmicas fracas, um inverno ameno e uma temperatura média anual de 18 ° C a 19 ° C. Nesta área, estudamos 6 colónias localizadas no mesmo local. [região com taxas intermédias de infestação nas abelhas adultas e criação].

fonte: https://www.apidologie.org/articles/apido/pdf/1995/05/Apidologie_0044-8435_1995_26_5_ART0002.pdf

Nota 1: numa futura publicação conto apresentar outras explicações, desta feita com a ênfase colocada nas diferenças entre a condução das colónias a 600 m e as colónias a 900 m que, na minha opinião, estão subjacentes a diferentes dinâmicas de evolução das populações de varroa.

Nota 2: bons tempos, ou menos maus, onde era possível ter colónias a sobreviverem sem aplicação de acaricidas mais de dois anos. É bem revelador que actualmente a crescente gravidade da varroose parece ser mais função do aumento de virulência dos vírus veiculados pelas varroas, em particular os vírus das asas deformadas e os vírus da paralisia aguda, do que nas varroas per si.

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