seleccionar abelhas resistentes: o teste do spray

Os meus amigos Marcelo Murta, Nuno Cascais e Rui Martins chamaram a minha atenção para os vídeos de Humberto Boncristiani e para os artigos de Kaira Wagoner, acerca de uma nova técnica para selecionar abelhas mais resistentes à infestação por varroa. De uma forma simples e sumária, Wagoner e colegas identificaram uma mistura de semioquímicos, que aspergidos na forma de spray sobre a criação operculada, ajuda a identificar as colónias com o melhor comportamento de desoperculação e limpeza dessas pupas. Estes semíoquímicos sintéticos mimetizam os componentes odoríficos naturais que as larvas/pupas infestada por varroa libertam quando parasitadas por varroa (esta técnica foi designada Unhealthy Brood Odor (UBO) — odor de criação não saudável). Nas palavras da autora principal, a investigação visou testar a “hipótese de que a resposta higiénica a uma mistura de semioquímicos associados à criação de abelhas melíferas infestadas com Varroa pode servir como uma ferramenta específica para prever a resistência ao Varroa ao nível de colónia. Em apoio à nossa hipótese, demonstramos que uma mistura dos compostos (Z) -10-tritriaconteno, (Z) -8-hentriaconteno, (Z) -8-heptadeceno e (Z) -6-pentadeceno desencadeia comportamento higiénico num ensaio de duas horas, e que as colónias de alto desempenho (resposta higiénica a ≥60% dos alvéolos tratadas) têm infestações de Varroa significativamente mais baixas, removem significativamente mais Varroa introduzidas artificialmente e são significativamente mais propensas a sobreviver ao inverno em comparação com colónias de baixo desempenho (resposta higiénica a <60% das alvéolos tratadas).

Spray com semioquímicos: técnica UBO, uma forma muito simples para testar o comportamento de limpeza das abelhas.
O vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ZYalOJRa7Aw
Cilindro que delimita a área do quadro com criação a pulverizar. As áreas de ensaio continham até aproximadamente 50 alvéolos e foram isoladas usando uma seção curta de tubo de PVC com um diâmetro interno de 3,8 cm.
Criação desoperculada após duas horas da pulverização. Wagoner concluiu que o limiar discriminativo de desoperculação se situa nos 60% dos alvéolos pulverizados, isto é, as colónias que resistem melhor à infestação por varroa, desoperculam pelo menos 60% dos alvéolos pulverizados com a mistura de semioquímicos utilizada.

Comparação entre colónias com alto UBO e baixo UBO.

As maiores dificuldades na identificação de colónias com valor biológico e posterior selecção de colónias resistentes está relacionado com baixa fidedignidade e complexidade dos testes utilizados até aqui. Por um lado, o facto de o comportamento higiénico avaliado pelo teste convencional de refrigeração de criação, ou seja a capacidade de detectar, desopercular e remover criação refrigerada e morta, nem sempre conferir resistência ao varroa, coloca em causa este trabalho de selecção. Além disso, outros métodos de seleção de resistência são muito eficazes, contudo são pouco eficientes. Os métodos que alcançam os níveis mais altos de fidedignidade no teste à resistência ao varroa são demorados, complexos, minuciosos e, portanto, caros e impraticáveis para utilização apícola pela enorme maioria dos apicultores. Este novo método proposto por Wagoner e colegas, visa resolver e ultrapassar estas dificuldades.

Este novo método de identificação de colónias com comportamentos mais resistentes ao varroa tem méritos inegáveis (na minha opinião, com algumas fragilidades como referirei numa publicação posterior). Mostra, uma vez mais, que a ciência não esqueceu a apicultura e que a apicultura não pode dispensar a ciência, ainda que esta não forneça respostas miraculosas — a ciência também não é nem pretende ser populista!

fontes: https://academic.oup.com/jinsectscience/article/21/6/4/6414651?login=true; https://www.researchgate.net/publication/340974063_Cuticular_pheromones_stimulate_hygienic_behavior_in_the_honey_bee_Apis_mellifera

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