resistência aos acaricidas: alguns apontamentos e reflexões

Apontamentos

A resistência a pesticidas é um fenómeno que ocorre quando os organismos-alvo sobrevivem a doses ou concentrações de uma substância tóxica que anteriormente provocava níveis elevados de mortalidade. Os principais mecanismos de resistência hoje conhecidos incluem desintoxicação melhorada, insensibilidade do local-alvo e penetração cuticular reduzida.

Daqui decorre que para avaliar resistências seja indispensável conhecer/determinar um “valor-base de referência” da concentração necessária de uma determinada substância activa para que esta provoque elevados níveis de mortalidade em populações-alvo susceptíveis. Mais, é de todo desejável que se defina o que são níveis elevados de mortalidade na população-alvo.

No caso concreto dos pesticidas utilizados pelos apicultores para controlar as populações do varroa é uma tarefa complexa determinar com rigor se se está na presença de um fenómeno de resistência ao acaricida que se utilizou. Episodicamente há apicultores a testemunhar a baixa eficácia dos tratamentos, referindo com alguma frequência a possibilidade de resistências. Para termos uma noção da complexidade que envolve avaliar com o rigor necessário este fenómeno nada como analisar os protocolos utilizados na sua investigação.

Frank D. Rinkevich, um grande especialista na área (ver aqui excelente entrevista que deu), numa publicação recente dá-nos a conhecer um exemplo desse percurso/protocolo. Acerca da resistência ao amitraz e baixa eficácia do Apivar em alguns casos pontuais de operações apícolas profissionais nos EUA o autor sentiu, entre outros aspectos, a necessidade de apresentar uma definição funcional de resistência, e definiu-a assim: populações de varroa que apenas são susceptíveis a concentrações do amitraz 10 vezes superiores ao “valor-base de referência” e cuja eficácia do Apivar® é inferior a 80% podem ser classificadas como funcionalmente resistentes ao amitraz.

fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6968863/

Reflexões

Neste outro estudo de 2019, acerca da eficácia de tratamentos baseados no ácido fórmico, verificamos que dois dos três tratamentos avaliados apresentam uma eficácia inferior a 80%. Será um caso de varroas resistentes ao ácido fórmico? Aumentar em 10 vezes a dosagem do ácido fórmico está fora de questão porque as abelhas não iam sobreviver. De qualquer forma a resistência dos ácaros ao ácido fórmico, tanto quanto é do meu conhecimento, nunca foi rigorosamente testada com qualquer protocolo. Assume-se que a falta de eficácia dos tratamentos com fórmico não se pode dever à existência de varroas resistentes ao mesmo. Como esta hipótese não foi testada faltam evidências da resistência ao fórmico. A questão que me fica é se esta falta de evidências é uma evidência da falta de resistência? Não sei, não estou convencido, é um aspecto que na minha opinião merece mais estudo e menos partis pris!**

fonte: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00218839.2019.1656788

Nota: destes dois estudos, e sem querer tornar esta análise numa questão de tipo “clubístico”, noto que mesmo quando o Apivar é menos eficaz elimina os varroas numa percentagem semelhante ou até superior a dois dos tratamentos com fórmico.

** Neste aspecto estou bem acompanhado. Randy Oliver escreveu: “Tem sido frequentemente afirmado que os acaricidas naturais serão “sustentáveis”, isto é, que é improvável que o ácaro lhes desenvolva resistência. Eu não compro isso. Milani (2001) fala pelos biólogos quando afirma: “Não há razão para acreditar que o ácaro varroa não possa desenvolver resistência contra acaricidas de origem natural ou moléculas simples (por exemplo, ácido fórmico). Existem centenas de espécies de insetos e ácaros que se alimentam de plantas que contêm toxinas naturais. ”. fonte: http://scientificbeekeeping.com/the-arsenal-natural-treatments-part-1/

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