a monitorização da eficácia de um tratamento para a varroose num mesmo apiário

Esta publicação apresenta os resultados da monitorização da eficácia do tratamento da varroose em 5 colónias localizadas no mesmo apiário (FNOSAD, 2019). O gráfico em baixo ilustra os resultados obtidos acerca da diminuição da população de varroa durante o tratamento aplicado.


Pode notar-se que num mesmo apiário, a infestação e a eficácia do tratamento podem variar muito de uma colmeia para outra.

  • Para a colmeia R1, apesar de uma infestação inicial muito forte, a eficácia é satisfatória.
  • Para R2 e R3, ambos com infestação entre 4.000 e 5.000 ácaros varroa, a eficácia é muito diferente, ótima para R2 e insuficiente para R3.
  • Para R4 e R5, que têm níveis de infestação bastante semelhantes, a eficácia é muito insuficiente para R4 e um pouco abaixo do limite de 95% para R5.
  • Para além do caso de R2 (com uma percentagem de eficácia > 99%), o número de ácaros varroa residuais é, em todas as colmeias, demasiado elevado (de 113 a 651), apesar da eficácia por vezes satisfatória do tratamento (caso de R1 com um percentual de eficiência de 98% mas 168 varroa residuais).

Notas:

  • O número total de ácaros varroa (ponto de partida das curvas) corresponde a todos os parasitas contados ao longo do seguimento, ou seja, durante o tratamento de teste e depois dos dois tratamentos de controlo. As quedas de ácaros varroa atribuídas à ação do medicamento teste são contadas até 9 dias após o término do tratamento (fim das curvas).
  • de acordo com os técnicos da FNOSAD o limiar máximo de varroas residuais, as varroas que sobrevivem ao tratamento, não deve ultrapassar o limiar de 50 no caso dos tratamentos de final de verão/outono.

Reflexão: Desde há muito que reflicto sobre esta realidade, a falta de consistência nos resultados obtidos com um determinado medicamento aplicado na mesma altura, com os mesmos procedimentos e em colónias situadas no mesmo apiário. Neste gráfico que apresento em cima como explicar que a colmeia R1, com cerca 9 mil varroas, apresente no final do tratamento 168 varroas residuais e a colmeia R4, com pouco mais de 2 mil varroas, no final do tratamento apresente 651 varroas? Que razão está subjacente a tão grande variabilidade na eficácia do tratamento? Posso tentar adivinhar algumas razões: por exemplo existirem no apiário população de ácaros com diferentes níveis de resistência ao princípio activo utilizado. Aceitando esta resposta pergunto: porque razão não será toda a população de varroas de um apiário igualmente resistente, sabendo que serão estas que se reproduzirão e acabarão por colonizar de forma rápida todas as colónias presentes no apiário?

principais sinais clínicos observáveis ​​numa colónia afetada por varroose

Nesta publicação apresento os principais sinais clínicos observáveis ​​numa colónia fatalmente afetada por varroose.

Na criação:

  • padrão de cria operculada em mosaico/salpicada;
  • presença de ácaros varroa (fêmeas fundadoras e descendentes);
  • opérculos perfurados com um pequeno orifício;
  • alvéolos desoperculados revelando pupas mortas ou ainda vivas;
  • cadáveres larvais de cor castanho claro a castanho mais escuro;
  • cadáveres dissecados de larvas e/ou pupas;
  • abelhas mortas e/ou pupas com asas deformadas sob o opérculo no interior dos alvéolos;
  • canibalismo;
  • abelhas mortas ao emergir dos alvéolos (só a cabeça emerge, com a língua esticada).

Nas abelhas:

  • abelhas com asas deformadas (é pouco rigoroso falar em asas roídas porque nestas abelhas nada lhes roeu as asas);
  • abelhas com abdómenes atrofiados, mais ou menos descoloridos;
  • presença de ácaros varroa sobre as abelhas.

Nas colónias:

  • colmeias encontradas totalmente vazias, ou com pouquíssimas abelhas mortas à frente e no interior das colmeias, em alguns casos com pequenos aglomerados de abelhas mortas, às vezes em torno da rainha no topo dos quadros;
  • presença de mel e pão de abelha em quantidades apreciáveis.

Após a morte das colónias:

Encontramos um quadro clínico característico mostrando um lento despovoamento da colónia: as colmeias estão vazias de suas abelhas apesar da presença de reservas. É possível ver pontos brancos no interior dos alvéolos de cria que revelam a presença pregressa do parasita: são as fezes de ácaros Varroa formadas por cristais de guanina. Além disso, muitas vezes, cadáveres de ácaros varroa são visíveis no chão da colmeia.

fonte: GUIDE FNOSAD : vARROA ET vARROOSE

eficácia dos acaricidas: alguns apontamentos

A eficácia geral dos acaricidas é função de diversos factores. Entre outros:

  • a oportunidade/timing do tratamento;
  • a concentração do composto envolvido;
  • o período/extensão do tratamento;
  • o ambiente interno da colónia;
  • o ambiente externo à colónia;
  • a rapidez e extensão da evaporação dentro da colónia, para alguns compostos voláteis;
  • a temperatura ambiente durante a aplicação do tratamento, para alguns compostos;
  • a quantidade de abelhas presente na colónia, para alguns compostos e galénicas — colónias com maior população tendem a favorecer a dispersão do produto e, consequentemente, alcançar maior eficácia;
  • a quantidade de criação presente no ninho;
  • a gravidade da infestação;
  • a galénica utilizada para veicular o composto acaricida;
  • o tipo de colmeia;

Vem a propósito este estudo de campo realizado há poucos anos em Espanha Field efficacy of acaricides against Varroa destructor, cujas conclusões são lapidares: “… a eficácia do tratamento depende do apiário onde é aplicado. Além disso, a variabilidade de eficácia detectada entre colmeias no mesmo apiário representa um desafio na identificação dos fatores que são significativos.

Para levar para casa:

  • não assumir que se um acaricida foi eficaz na primavera também o será no verão/outono;
  • não assumir que se um acaricida foi eficaz no meu apiário nº 1 também o será no meu apiário nº2;
  • não assumir que se o acaricida foi efectivo em 10 colmeias do meu apiário — as que monitorei — também foi efectivo nas restantes 20 colmeias assentes nesse mesmo apiário — as que não monitorei.

como as abelhas atrasam/impedem a emergência das rainhas

Ainda acerca deste caso, com um pouco de tempo disponível decidi fazer alguma investigação. Neste artigo “Absence of nepotism toward imprisoned young queens during swarming in the honey bee” encontrei uma parte da resposta. Não relativamente às razões mas relativamente aos mecanismos/comportamentos utilizados pelas abelhas para atrasarem/aprisionarem as rainhas virgens nos seus casulos para lá dos habituais 16 dias de maturação desde o ovo até ao estádio de insecto adulto. Deixo em baixo a tradução de um pequeno excerto deste artigo que me parece elucidativo.

Todos os estudos sobre a influência das operárias na seleção de novas rainhas focaram-se nas interações entre operárias e rainhas imaturas (Châline et al., 2003; Noonan, 1986; Page et al., 1989; Schneider e DeGrandi-Hoffman, 2002; Visscher , 1998) ou entre operárias e rainhas adultas que já saíram de suas realeiras (Gilley, 2001, 2003; Tarpy e Fletcher, 1998). No entanto, algumas rainhas adultas permanecem nos seus casulos de rainhas por mais tempo, até uma semana após os 16 dias da sua maturação (Bruinsma et al., 1981; Fletcher, 1978; Grooters, 1987) antes de emergirem. Durante este tempo, as operárias agrupam-se em cada realeira aprisionando a rainha adulta e alimentam-na através de fendas na ponta do casulo (Figura 1c), que são vedadas novamente. As abelhas vibram sobre os casulos da rainha e impedem que as rainhas saiam reparando as aberturas nas realeiras. As operárias às vezes até pressionam a cabeça contra a ponta da realeira para evitar que a rainha saia enquanto outras operárias a fecham (Fletcher, 1978). Elas também protegem as rainhas impedindo agressivamente o acesso às rainhas que já emergiram (Gilley, 2001).”

Fotografias da configuração experimental e dos comportamentos das operárias em relação a rainhas adultas confinadas em suas realeiras. (a) Montagem experimental com a tampa modificada na caixa de criação principal da colónia à qual está anexada a caixa de observação de três quadros modificada com as realeiras acessíveis através de uma abertura. (b) Realeiras com rainhas presas às barras de madeira na caixa de observação prontas para serem instaladas na colónia de teste. (c) Operária alimentando uma rainha através de uma abertura na realeira. A língua da rainha é visível. (d) Cela da rainha equipada com o aparato de estrela para evitar a saída da rainha. O pedaço de acetato é visível no final da seta. As aberturas feitas pela rainha confinada tentando emergir podem ser vistas, e a operária à direita está no processo de fechá-las.

Nota: há mais de um século Doolittle afirmava coisas muito próximas (ver aqui). É admirável a sua competência observacional.

por que razão as abelhas atrasam/impedem a emergência das rainhas?

É da natureza das rainhas emergirem do seu casulo 16 dias, mais doze horas para trás mais doze horas para a frente, após a data da postura do ovo que lhes deu origem. É consensual. Para a maioria dos casos assim será, acredito eu!

Mas será assim em todos os casos? Da minha observação não. Ver aqui um caso em que não foi assim. Hoje apresento outro caso mais que se passou no mesmo apiário e noutra colónia também orfanada a dia 2 de abril.

No passado dia 24 de abril deparei-me com um novo caso ainda mais extremado e sublinhado. Numa colónia que orfanei como disse a 2 de abril, fiz a incisão com x-acto num mestreiro que vi ainda fechado e para minha grande surpresa saiu de lá não uma abelha — que às vezes as abelhas metem-se nos mestreiros depois da rainha ter emergido e fecham-nos novamente ficando no seu interior — mas uma rainha. Para mim este caso foi tão inesperado que me faltou o telemóvel à mão para tirar a respectiva foto deste acontecimento. Fica a foto do telhado onde vou registando os eventos que considero mais importantes.

Por que razão as abelhas atrasam/impedem a emergência de algumas rainhas? A explicação que encontro é que este comportamento permite salvaguardar melhor a colónia de uma orfandade irremediável com um plano B, caso o plano A não seja bem sucedido, isto é, têm uma ou outra rainha emergida mais tarde caso a(s) que tenha(m) emergido no tempo “regulamentar” não fecundem ou todas tenham partido com os enxames secundários. Do ponto de vista dos ganhos evolutivos para a espécie, resultante deste comportamento das abelhas atrasarem a emergência de algumas rainhas, de momento não encontro outra explicação.

Nunca tinha lido/ouvido da possibilidade de rainhas emergirem 22 dias após a postura do último ovo de onde poderiam ter tido origem. Os experientes amigos e companheiros de lides apícolas que informação têm sobre este tipo de casos? Que ganhos advêm para a colónia deste comportamento?

caldeira para derreter cera

Nestes dois dias anteriores, com chuva frequente e frio, optei por ficar por casa e iniciar uma tarefa que me provoca sentimentos mistos: derreter cera.

Foi altura de estrear a minha nova caldeira para derreter cera, adquirida o ano passado, que substitui uma outra com mais de 25 anos e por onde passaram alguns milhares de quilogramas de cera.

Uma caldeira para derreter cera é um investimento que, na minha opinião, tem um retorno rápido tendo alguma cera para derreter. Por exemplo, nestes dois dias derreti cerca de 60 kgs de opérculos. Com esta cera pronta a entregar na troca por cera laminada a poupança na aquisição da mesma quantidade de cera laminada é superior ao custo da caldeira.

Deixo em baixo algumas fotos que fui tirando.

Pronta a estrear.
Carregada… um pouco demais como me apercebi mais adiante (ainda estou a aprender os segredos desta máquina).
A gás… caro mas muito cómodo.
Fluindo…
… este oiro precioso.
Limpeza do bagaço da cera. Devia tê-lo feito mais amiúde ((ainda estou a aprender os segredos desta máquina).
Uma das placas/broas de cera obtidas.
A velhinha, com mais de 25 anos ao serviço cá em casa.

cura radical da enxameação: primeira observação dos resultados

Do conhecimento da técnica, ao ensaio da mesma e, hoje, à primeira observação dos resultados. A minha liberdade passa também por isto, adquirir o conhecimento que acredito necessitar, testá-lo e avaliar os seus impactos.

Nas duas colónias submetidas à cura radical da enxameação neste apiário num contexto com um forte fluxo das urgueiras roxas (Erica australis) as meias -alças colocadas há 19 dias atrás estão praticamente cheias. Nas restantes colónias não submetidas à técnica o cenário é semelhante. Do ponto de vista da produção a utilização desta técnica não teve um impacto negativo, a julgar pelo que consegui observar.

Estas duas colónias não enxamearam neste período de 19 dias, isto apesar de estarem claramente debaixo do impulso de enxameação desde há mais de 19 dias. A técnica aparentementente inibiu estas duas colónias de concretizarem o seu impulso de reprodução. Hoje marquei a rainha de uma destas duas colónias para melhor a controlar e seguir nas próximas inspecções.

Observei que entre quadros repletos de criação e sem qualquer mestreiro de enxameação…

… encontrei alguns quadros com mestreiros de enxameação.

Nestas duas colónias a intervenção realizada há 19 dias não foi suficiente para lhes eliminar a pulsão para enxamearem. Como o proponente da técnica refere a eventual necessidade de se aplicar a técnica uma segunda vez, para debelar de vez o impulso de enxameação, assim o fiz nestas duas colónias. Numa próxima inspecção irei estar atento a dois aspectos: (i) quantidade de armazenamento de mel nestas duas colónias quando comparado com colónias não submetidas à técnica; (ii) situação relativa ao impulso de enxameação: mantém-se ou evanesceu-se finalmente?

Entretanto, voltei a testar a eficácia do primeiro tratamento anual da varroose. Os resultados estão ilustrados na foto em baixo.

três casos, três caminhos

Caso 1: Hoje, finalmente tive disponibilidade para partir as patilhas das 19 gaiolas com rainhas virgens que introduzi no passado dia 20. Neste momento o meu maior cuidado e preocupação é verificar se existem mestreiros iniciados nestas colónias orfanadas. Na minha experiência tenho constatado que a presença e a não destruição destes mestreiros são um sério obstáculo à aceitação das rainhas virgens que irão sair das gaiolas nas próximas horas. Por esta razão procuro destruir todos estes mestreiros momentos antes de abrir as patilhas das gaiolas.

Mestreiro iniciado neste período de orfanação com larva a nadar em geleia real.

Caso 2: Na semana passada, dividi 3 colónias que se preparavam para enxamear. No momento desta divisão não encontrei a rainha numa destas colónias. Ainda assim dividi-a e introduzi rainha em gaiolas em ambas as colónias—filha. Hoje verifiquei que numa dessas divisões, onde acabou por ficar a rainha-mãe que afinal ainda não tinha enxameado, a rainha virgem e suas acompanhantes estavam todas muito mortas — isto com a gaiola ainda fechada.

Com a gaiola ainda fechada a rainha virgem e suas acompanhantes foram muito provavelmente picadas até à morte.

Caso 3: Quase como compensação, uma das colónia orfanada no passado dia 3, hoje cheias de abelhas e com várias virgens visíveis, foi dividida. Cada uma das divisões ficou com uma ou mais virgens e dividiram o local original.

Colónia orfanada no passado dia 3.
Avistadas pelo menos uma rainha virgem em cada quadro inserido nas caixas-núcleo, correndo tudo normalmente, serão mais duas colónias a juntar ao efectivo.
As duas divisões a partilharem o local da caixa-colmeia.
Uma das diversas virgens que me passaram à frente no dia de hoje.

o que faz a qualidade da rainha: o ponto de vista de Randy Oliver

Recentemente foi iniciada no fórum apícola Bee-L uma conversa sobre a qualidade das rainhas, quando um apicultor interveniente trouxe para a mesa os resultados obtidos por Tarpy, já apresentados neste blog em 2020 nesta publicação. Os resultados publicados por Tarpy estão sintetizados nestas duas afirmações: “Observámos que os padrões de criação de rainhas originárias de colónias com padrão de postura fraco melhoraram significativamente após a colocação em colónias com padrão de postura bom após 21 dias, sugerindo outros fatores que não a rainha contribuíram para a alteração do padrão de postura. Nosso estudo desafia a noção de que o padrão de postura é suficiente para julgar a qualidade da rainha.” Ontem, no Bee-L, Randy Oliver fez uma publicação que traduzo em baixo e que, como habitualmente, é uma excelente sinopse do seu pensamento acerca do que faz a qualidade das rainhas.

“Se você montar um apiário com vários núcleos idênticos, todos contendo
rainhas irmãs e, em seguida, acompanhar o desempenho destas colónias à medida que vão crescendo (ou não), você normalmente verá que alguns terão um desempenho melhor do que outros. Um histograma de seus desempenhos normalmente mostrará um curva “normal” em forma de sino. O quanto das diferenças no desempenho foi devido às suas rainhas, não sei.

Muitos de nós notamos que uma colónia atrasada pode repentinamente “virar” e sem mudar sua rainha tornar-se uma grande colónia. Então, obviamente, nem sempre podemos culpar a rainha.

Para colocar a importância da rainha em perspectiva, tenha em mente
que a rainha desempenha vários papéis na fábrica chamada colónia de abelhas.

Papel 1: Ela é a mãe da equipe de filhas descendentes de inúmeras linhas paternas que compõem a força de trabalho. Toda rainha, mesmo filha de mesma mãe, e acasalada no mesmo território, em virtude de sua genética individual, junta com a genética muito diversa de suas filhas por ter acasalado com diferentes zângãos [dados recentes apontam acasalamentos com até 50 zângãos], produz uma equipe de trabalhadores geneticamente variada. E tantos de nós observamos, dependendo da aleatoriedade com que os espermatozoides são misturados sua espermateca* e utilizados ao acaso na fertilização dos óvulos, a mesmo a colónia muito gentil pode de repente mudar para uma colónia hiper-defensiva. A lição a tirar — a genética da equipa das trabalhadoras não é uma “constante”, e a genética de suas filhas abelhas pode mudar subitamente (sem contar que uma parte substancial da força de trabalho de qualquer colónia num apiário lotado pode se feita de abelhas que derivam de outras colmeias).

Papel 2: Ela pode transmitir viriões** ou outros patógenos através de seus ovos. Mas ela também pode transmitir algum grau de herança imunitária transgeracional para seu filhos. Patógenos e morbidade causada por patógenos (doença) vêm e vão em qualquer colónia. O desempenho e a recuperação da colónia pode estar mais associado aos patógenos com os quais a colónia está lutando atualmente, e pouco a haver diretamente com a rainha.

Papel 3: Ela é o coração e a alma feromonal de uma colónia, suprimindo o
desenvolvimento dos ovários de suas filhas, e produzindo uma série de feromonas que são tomados como sinais pela força de trabalho. Suas feromonas afetam a coesão e o moral da colónia, o que pode influenciar o desempenho geral.

Papel 4: Mais importante ainda, a rainha funciona como o ovário da colónia.
Ela atua como a máquina de produção de ovos para a fábrica que chamamos de
“colónia.” E isso não é necessariamente uma função de sua aparência, de como ela “parece” – muitos de nós observamos que uma colónia surpreendente pode ser liderada por uma rainha de aparência esquelética, ou uma colónia fraca pode ser liderada por uma rainha digna de aparecer na capa de uma revista de abelhas.

Meu ponto é que são as abelhas-ama que condicionam o desempenho da rainha. Sua capacidade de colocar todo o seu potencial depende quão bem as abelhas -ama a alimentam hora a hora (já que uma rainha em plena produção — postura de 1-2 ovos por minuto, 24 horas por dia — pode colocar o equivalente ao seu peso corporal em ovos num dia). Sabendo que o estado nutricional das amas é totalmente dependente da quantidade e qualidade do pólen e néctar que chegam, que por sua vez é um função do sucesso das operárias forrageiras, o “campo” é um determinante crítico a considerar na avaliação de uma rainha.

Uma rainha bem desenvolvida tem o potencial de preencher cerca de 10 quadros com criação, mas raramente vemos uma colónia ter suficientes alvéolos vazios para ela fazer isso, ou em que as amas decidem permitir que ela ponha ovos em todos os quadros do ninho, e não canibalizem ovos ou larvas quando percebem que as pistas ambientais são desfavoráveis .

A substituição ou não de uma rainha avaliada com baixo desempenho depende do apicultor. Substituo rainhas mais velhas antes de serem substituídas quando não há zângãos por perto, ou aquelas cujas colónias não estão à altura. Se, por outro lado, as abelhas sentem que ela não está à altura do trabalho, elas a substituirão rapidamente. Eu não removo as células substituição e deixo para suas filhas decidir o que querem.”

Por estas e por outras gosto tanto do que o Randy escreve. Vemos e interpretamos de forma semelhante o que se passa com as nossa abelhas. Sem marketing falacioso, sem romantismo desajustado, sem antropomorfismo enviesante, sem simplismo simplório e empobrecedor. Enquanto assim for, e acredito que seja, continuarei a ser um dos seus aprendizes.

Em baixo repito as fotos e o que escrevi em junho de 2020.

Núcleo que em 24.03 não apresentava postura e que em 02.04 classifico a rainha como fraca de acordo com o padrão de postura que observo. Nestas situações costumo dar mais 15 a 20 dias para ver se o padrão de postura da rainha evolui e me faz alterar a ideia que se trata de uma rainha a eliminar. E muitas das vezes altero! Este foi mais um desses casos.
De lá para cá este núcleo já doou vários quadros com criação e hoje voltou a fazê-lo, este quadro que vemos na foto. O que provocou a reviravolta na qualidade da postura? Há muito me convenci que são as abelhas, isto é, a qualidade e a quantidade de abelhas que compõem a colónia, que fazem, na grande maioria dos casos que observo nos meus apiários, a qualidade das rainhas.

* logo após o acasalamento os espermatozoides são armazenados em lotes de acordo com a sequência dos acasalamentos ocorridos, isto é, o primeiro lote de espermatozoides é do primeiro zângão com qua a rainha acasalou, o segundo lote é do segundo zângão, o terceiro lote é do terceiro zângão, … E assim ficam armazenados, em lotes, durante algumas semanas. Passadas essas semanas os epermatozoides dos diversos lotes são misturados de forma aleatória na espermateca. Por exemplo, em 1000 ovos colocados uns a seguir aos outros pela rainha durante um dia, as abelhas que daí emergirão provavelmente terão pais diferentes. No caso do translarve como facilmente se depreende, as larvas transferidas pelo apicultor, mesmo as escolhidas no mesmo quadro, têm uma forte probabilidade de serem geneticamente bastante diferentes entre si.

** partícula viral completa, ou seja, infecciosa.

a introdução de rainhas de translarve: alguns detalhes

Na minha apicultura não recorro apenas a rainhas de emergência, muito longe disso. Utilizo variadas vezes rainhas criadas por translarve para iniciar novas colónias. Por exemplo, o ano passado utilizei 146 rainhas criadas por translarve.

Gosto da minha apicultura assim, uma apicultura com diversas opções no cinturão, opções que procuro utilizar de forma selectiva e pertinente de acordo com as condições de partida, condições estas determinadas sobremaneira pela imbrincagem entre a evolução mais lenta ou mais rápida das colónias, a maior ou menor disponibilidade para acompanhar de perto essa evolução, os equipamentos que tenho ou não disponíveis para fazer esse acompanhamento, e tudo isto temperado e envolto pela meteorologia que ora ajuda ora é um empecilho.

Conhecer os limites e utilizar as virtudes existentes tanto numa como noutra opção, rainhas de emergência ou rainhas de translarve, qualifica-me na minha profissão. Esta publicação aborda alguns detalhes em torno dos procedimentos a que dou preferência quando introduzo rainhas virgens.

Como referi nesta publicação, anteontem, a 19 de abril, preparei 5 colónias, confinando a rainha no ninho, deixando-as preparadas para serem desdobradas pela técnica Doolittle. Ontem entro no apiário com 10 rainhas virgens nos bolsos e 1o caixas-núcleo e pus mãos à obra. Deixo o foto-filme.

Comecei por colocar 2 núcleos junto de cada uma das cinco colónias a serem desdobradas.
Fui abrindo estas colónias para retirar estes quadros para os núcleos.
Fui retirando um ou dois quadros desta colónia, dois de outra, e um ou dois de outra ainda, até encher os núcleos com 5 quadros com abelhas provenientes de pelo menos três colónias distintas.
Depois de todos os 10 núcleos estarem preenchidos e no local, foi altura de os deixar repousar e ir ver as minhas pobres rainhas de emergência. E passados cerca de 10-15 minutos foi altura de iniciar a introdução destas ricas rainhas de translarve.
Estas rainhas vão ficar confinadas à gaiola cerca de 2 a 3 dias, a libertarem as suas sedutoras feromonas reais, para que as abelhas que lhe couberam em sorte as aceitem mais facilmente quando finalmente forem libertadas da sua gaiola.
Os núcleos foram estrategicamente colocados nas extremidade dos assentos e com o alvado virado no sentido contrário ao das colónias de produção, que ainda lá não estavam porque só hoje as coloquei no espaço entre os núcleos. Com estes cuidados pretendo diminuir o mais possível a deriva das rainhas no regresso do(s) seu(s) voo(s) de fecundação.

Para estas 10 rainhas foi assim. Para as outras 9 que introduzi ontem segui outro percurso, porque as condições de partida foram diferentes.

Ontem, as colónias doadoras submetidas à técnica ficaram com o sobreninho vazio.

Aspecto de um sobreninho ontem no final da generosa doação.

Hoje, entre várias outras tarefas, voltei a estas colónias para lhes terminar este vazio.

Todos estes sobreninhos foram fornecidos de quadros com cera clara puxada. A excluidora mantém-se para evitar o desastre que seria deixar as rainhas subirem ao sobreninho, aí assentarem acampamento, abandonarem o ninho às abelhas, que depressa o encheriam de pão de abelha em quantidades absurdas.

Hoje, a terminar o dia, foi altura de dizer adeus a várias colónias, que foram apanhar os ares de Lamego.

Uma das colónias que ganhou um novo dono.