VSH (Varroa Sensitive Hygiene): abelhas resistentes e seus comportamentos (2)

Neste post descrevo alguns aspectos mais específicos apresentados pelas abelhas com características VSH.

As abelhas VSH não respondem a todas as pupas infestadas de ácaros com igual intensidade (ver Fig. 1). Elas são mais propensas a remover pupas infestadas com ácaros nas fases 2 a 4 do desenvolvimento pupal e menos na fase 1 ou nas fases 5 a 8. Além disso, são muito menos higiénicas nas larvas de zangão infestadas. As razões para estas tendências não são claras.

Fig. 1: Alguns fatores que influenciam o grau do comportamento higiénico de abelhas sensíveis ao varroa: idade e genética das abelhas, idade e tipo da criação e nível de infestação pelos ácaros na criação operculada.

Tem sido observado que as abelhas VSH reagem mais vigorosamente a colónias altamente infestados (ex. 15-25 ácaros por 100 alvéolos operculados). Respondem com muito menos intensidade na criação com baixa infestação (1-5 ácaros por 100 alvéolos operculados), provavelmente porque os sinais químicos odoríficos emitidos pelas pupas infestadas e  que activam o comportamento de remoção são menos concentrados e mais difíceis de detectar.

Fig.2: Comparação de dois quadros com criação infestada por ácaros. À esquerda quadro de uma colónia com baixo comportamento VSH; à direita quadro que foi exposto a abelhas VSH durante 24 horas: as pupas infestadas e desoperculadas aparecem como pontos brancos nesta foto.

fonte: http://articles.extension.org/pages/30361/varroa-sensitive-hygiene-and-mite-reproduction

VSH (Varroa Sensitive Hygiene): abelhas resistentes e seus comportamentos

Com o objectivo de seleccionar abelhas resistentes ao ácaro varroa, várias linhas de investigação e várias propostas têm sido apresentadas nas duas últimas décadas.

O laboratório apícola da USDA-ARS em Baton Rouge (EUA) tem-se destacado na selecção e melhoramento de abelhas que apresentem um comportamento que é designado por VSH (acrónimo de Varroa Sensitive Hygiene).  De forma simples estas abelhas removem/limpam as pupas infestadas pelos ácaros (ver vídeo aqui).

Este comportamento VSH tem-se revelado um importante mecanismo de resistência ao ácaro varroa. O maior nível de resistência surge nas abelhas de linhagem pura (mães e pais VSH). No entanto, as abelhas VSH híbridas (ex. rainhas VSH fecundadas ao ar livre com zangãos não-resistentes) também têm apresentado uma considerável resistência aos ácaros varroa.

O VSH é muito semelhante ao comportamento higiénico que as abelhas usam para combater a loque americana, ascosferiose, os ovos e larvas de traças da cera e os pequenos escaravelhos da colmeia (Aethina tumida). Todas as colónias têm provavelmente indivíduos que executam VSH e, assim sendo, a selecção e melhoramento por criadores de rainhas de linhas resistentes pode ser levado a cabo através de criteriosos mecanismo de avaliação e selecção para esta característica com as abelhas de qualquer parte do mundo. Sabe-se que este comportamento VSH é realizada predominantemente por abelhas com idades entre 15-18 dias de idade. A remoção dos ácaros das pupas infestadas começa quando uma abelha “desoperculadora” cheira as pupas infestadas e perfura  os opérculos. Posteriormente outras abelhas, as “removedoras”, alargam o furo dos opérculos e removem as pupas infestadas

Fig. 1: Remoção da pupa infestada pelo ácaro da varroa.  A remoção envolve várias abelhas e resulta na morte da prole do ácaro. A varroa-mãe geralmente sobrevive.

fonte: http://articles.extension.org/pages/30361/varroa-sensitive-hygiene-and-mite-reproduction

apiários de fecundação isolados: condições para o seu estabelecimento

Serão os apiários de fecundação isolados uma ilusão como opina Michael Bush quando escreveu no BeeSource “Apiário isolado é um pensamento ilusório por parte dos criadores de rainhas … ou um mito definitivo …”. Não é sempre assim, mas é a mais pura verdade na enorme maioria dos casos: uma ilusão dos criadores de rainhas.

Vejamos o que nos diz alguém dos apiários Russel (http://www.russellapiaries.webs.com/), apicultor de uma 3ª geração de apicultores e entomologistas com mais de 125 anos de actividade apícola, acerca de técnicas sérias utilizadas na identificação de apiários isolados.

Eu tenho discutido esta prática várias vezes antes. Os apiários isolados, embora nunca 100% certos,  são um método que é usado principalmente por alguns dos criadores mais sérios, e têm sido utilizados na indústria à muito tempo… essas áreas são testadas pelos criadores de forma rigorosa para avaliar a presença de outras colónias na área… Eles são testados usando vários métodos: inspeções de campo, testes de rainhas virgens, radar e armadilhas com 9-ODA [feromona mandibular da rainha].

Para o criador sério, os ensaios para identificar áreas isoladas é muito caro (em média são investidos US $ 43 000 por localização) e pode levar anos e anos antes de o criador ser capaz de começar a utilizar o apiário para a produção.

Uma vez que uma área mostra resultados promissores a partir desses testes, é preenchido pela linhagem de abelhas  escolhida para a saturação de área… por exemplo após 4 anos de testes num raio de 28 milhas [45 Km] decidimos aceitar um local… mudámos 500 colónias de uma certa linhagem para esse local… A área será testado novamente nesta temporada e, em seguida, colocaremos os 5.000 núcleos de fecundação neste local para criação de rainhas unicamente da linhagem colocada na temporada anterior… através de pesquisa do genoma nós (assim como outros) testamos a filiação de zangões capturados de forma aleatória em vôo perto das zonas de congregação de zangãos, com a finalidade de identificar a contaminação por outras colónia na área… Outra forma de isolamento de apiários que é usado nas regiões montanhosas é um “Snow cap yard” de alta altitude que  pode fornecer excelentes locais onde as abelhas podem ser isoladas devido aos topos de montanha congelada em torno de uma área onde as abelhas são mantidos… enquanto o vale aquece se enche de culturas durante a primavera e o verão, os topos das montanhas circundantes ao vale permanecem congeladas devido à alta altitude.

Espero que isso ajude.” rrussell6870, post no BeeSource em Janeiro de 2011.

Julgo que para os que entendem que em Portugal e no momento actual se está a efectuar hibridação controlada vem a propósito a afirmação de Randy Oliver: “A pessoa que enganamos mais facilmente somos nós próprios.”

abelhas resistentes: um longo caminho espera randy oliver?

Randy Oliver escreveu no BeeL (fórum de apicultores reputados) recentemente acerca dos dados recolhidos na sua experiência para criar abelhas resistentes ao ácaro varroa. Em concreto escreve ele:

Uma coisa que vem à mente de alguns apicultores é que as abelhas sobrevivem sem tratamento. Muitas pessoas afirmam tê-las, mas muitas vezes não produzem evidências, ou então são casos pontuais e apenas histórias bem contadas. Posso oferecer algumas provas “duras”/quantificadas? Eu monitorei os níveis de ácaros numa população inicial de pouco mais de 1000 colónias no ano passado, para ver qual proporção realmente sobreviveria sem tratamento. As rainhas de todas as colónias eram filhas de aproximadamente 15 rainhas, cujas colónias anteriormente pareceram exibir resistência ao acúmulo de ácaros. Em cada evento de monitorização, tirei da experiência toda e qualquer colmeia em que a contagem de ácaros estava  numa trajetória para a eventual morte da colónia pela infestação pelo varroa (tratava-as, de modo que nem uma única colónia morreu pela acção de ácaros durante a experiência). À medida que nos aproximamos da marca de 1 ano, das mais de 1000 colmeias, parece que talvez 16 tenham mantido contagens de ácaros abaixo de 4 ácaros por 100 abelhas – menos de 2% de “sobreviventes” (eu estimo 16 colónia dado que eu já amostrei metade até agora). Se eu não tivesse tratado o resto ao longo do ano, acho que seus colapsos inevitáveis ​​teriam superado mesmo aqueles 2% com os ácaros que derivariam das colónias colapsadas. Isso não quer dizer que outros não possam começar com uma linhagem de abelhas que exiba um maior grau de resistência ao ácaro (VSH, russas ou outras confirmadas ), mas certamente se aplicará a qualquer pessoa que comece com linhas de abelhas comuns (que apresentam muito menos resistência do que as linhagens com que comecei). Eu estou tão entusiasmado quanto qualquer um sobre a criação de abelhas que exibem a resistência aos ácaros, mas a mensagem para levar para casa é que, de fato, devemos ser extremamente céptico sobre as reivindicações relativas à sobrevivência a longo prazo de qualquer linha de abelhas sem dados “duros”/quantificados que o suportem .

Destas linhas que caracterizam o estilo frontal, sólido e fundamentado próprio de Randy Oliver destaco:

  • a eventual existência de colónias de abelhas resistentes são pontuais/locais;
  • numa população de cerca de 1000 colónias apenas 16 (menos de 2% da amostra) mantiveram a infestação abaixo dos 4%;
  • a linhagem destas 1000 colónias provinham de 15 rainhas que na época anterior tinham aparentado alguma resistência ao varroa;
  • um cepticismo face a reivindicações de criadores de rainhas alegadamente resistentes que não apresentam dados “duros”/quantificados que as suportem.

Para nós, em Portugal, estes dados devem-nos fazer reflectir que das aparências às evidências a distância pode ser grande. Fazer rainhas a partir de uma matriarca que aparentemente tem alguma resistência ao varroa é, seguramente, uma actividade louvável. Muitíssimo questionável é promover as filhas destas como mais resistentes em qualquer grau ao varroa.

feromona mandibular da rainha e comportamento defensivo

O comportamento defensivo é uma das características mais conhecidas de uma colónia de abelhas e consiste no reconhecimento de predadores, no alertar as companheiras e adotar comportamentos anti-predador (desde posturas de ameaças, até zumbidos e, finalmente, picadas). O comportamento defensivo está intimamente ligado à feromona de alarme, mas também à feromona mandibular da rainha (FMR).

A presença da rainha parece ser importante na regulação do comportamento defensivo de uma colónia, uma vez que foi observado que as colónias sem rainha exibem um comportamento defensivo maior em comparação com o que é exibido pelas colónias com rainha. Estes dados são reforçados por estudos que demonstraram que a FMR sintética diminuiu a resposta de picadas de abelhas colocadas em gaiolas (Kolmes e Njehu, 1990). O efeito da FMR sobre o comportamento defensivo da colónia foi recentemente confirmado por Gervan et al. (2005), que mostraram que a administração de FMR sintético reduz significativamente o comportamento defensivo em colónias com rainha e que no caso de colónias sem rainha se verifica uma diminuição no número de abelhas guardiãs e uma ligeira redução da reação de picada. Vergoz et al. (2007), descobriram que a FMR bloqueia a aprendizagem de comportamentos aversivos em jovens obreiras.

Destes dados tirei duas aplicações práticas:

  1. durante o período de enxameação explico a alguns proprietários de terrenos vizinhos aos meus apiários que alguma agressividade das abelhas é temporária e recomendo que se protejam e/ou procurem trabalhar esses terrenos em horários mais matinais;
  2. no meu maneio permite-me verificar de uma forma rápida e não intrusiva se colónias anteriormente orfanizadas já têm rainha em postura: se ao levantar a prancheta do ninho ou ao passar a mão calçada com a luva de apicultor numa passagem rasante ao topo dos quadros um bom número abelhas ficarem irritadas muito provavelmente ainda não têm rainha em postura; se pelo contrário manifestarem uma relativa indiferença a estes gestos muito provavelmente já têm rainha em postura.

Nota: A FMR sintética já é comercializada por algumas casas especializadas. Em baixo estão dois links que apresentam este produto:

  • http://pheromonehelper.ca/en/honey-bee-pheromones/tempqueen.html
  • https://www.etnamiele.it/attrezzature-apistiche/1508-pseudoqueen-feromoni-artificiali-regine.asp

Fontes:

  • Kolmes S.A, Njehu N. Effect of queen mandibular pheromones on Apis mellifera worker stinging behavior (Hymenoptera: Apidae) J New York Entomol S. 1990;98(4):495–98;
  • Gervan N, Winston M, Higo H, Hoover S. The effects of honey bee (Apis mellifera) queen mandibular pheromone on colony defensive behaviour. J Apicult Res. 2005;44:175–79.
  • Beggs K.T, Glendining K.A, Marechal N.M, Vergoz V, Nakamura I, Slessor K.N, Mercer A.R. Queen pheromone modulates brain dopamine function in worker honey bees. Proc Natl Acad Sci U S A. 2007;104:2460–64.

fundamentos de uma apicultura produtiva segundo C. L. Farrar

Clarence L. Farrar, foi um entomólogo norte-americano, que fez muitas e relevantes análises e reflexões em torno dos factores determinantes da produtividade em colmeias. Deixo em baixo alguns dos dados por ele observados e algumas das linhas do seu pensamento.

As boas rainhas raramente colocam mais de 1.600 ovos por dia. São necessários vinte dias para que a criação amadureça. As abelhas adultas vivem de 4 a 6 semanas durante a estação ativa, e a sua longevidade é grandemente influenciada pela intensidade da criação existente no ninho. As abelhas de pequenas colónias, que criam uma quantidade proporcionalmente grande de abelhas novas, têm vidas mais curtas do que as abelhas de colónias mais populosas. A quantidade de novas abelhas a nascer é influenciada pela capacidade de colocação de ovos da rainha, pela população adulta da colónia, pelo fornecimento de pólen e mel, e pelo espaço disponível no ninho para a postura da rainha.

Uma colónia populosa produz mais criação do que uma colónia pequena, contudo apresenta uma proporção mais elevada de abelhas disponíveis para recolher o pólen e o néctar. A produção por abelha  é consideravelmente maior em colónias mais fortes do que em colónias menores, uma vez que proporcionalmente menos abelhas estão envolvidas nos cuidados a prestar à criação. Durante uma melada de 2 semanas, uma colónia com 60.000 abelhas produzirá 50% mais mel do que quatro pequenas colónias, cada uma com 15.000 abelhas (ver aqui a célebre regra de Farrar bem explicada) . Sob um fluxo mais longo, as quatro pequenas colónias aumentarão em população, reduzindo assim a diferença de rendimento entre uma colónia forte e as quatro pequenas colónias. Não há nenhuma vantagem, contudo, em manter colónias pequenas apenas porque sua eficiência de armazenamento aumenta. É melhor gerir o apiário para ter todas as colónias direccionadas à produção na eficiência máxima durante todo o fluxo.

No meu caso particular encontro na equalização uma ferramenta muito útil para fazer a gestão do apiário no sentido que Farrar preconiza.

um inverno quente é bom para as abelhas?

As abelhas, em geral, invernam melhor quando a temperatura exterior mantém o cacho invernal tranquilo e a consumir muito pouco mel. Muitos consideram que a temperatura ideal se situa entre -1ºC e  +5ºC. Os apicultores canadianos, sabendo isto, mantêm as temperaturas nos armazéns onde albergam as suas colmeias em torno dos 5ºC.  Embora as abelhas não hibernem como os ursos, elas aglomeram-se em camadas, produzem calor, comem e esperam por dias mais quentes. Acima dos 5ºC as abelhas consomem mais. Estranhamente ou não, com temperaturas abaixo de -1ºC as abelhas necessitam de gerar mais calor, acabando também por consumir mais.

Outro aspecto a considerar, neste equilíbrio entre temperaturas externas e consumo, é o número de abelhas que a colónia tem. Uma colónia mais densamente povoada está apta a gerar e fornecer o calor necessário durante os picos mais extremos de frio. Uma grande colónia pode gerar mais calor com menos consumo de mel. As colónias mais fortes também mudam o local do cacho e expandem-no mais vezes do que as colónias mais fracas. Todos já encontrámos colónias pequenas que morreram durante inverno e com abundância de mel logo ali ao lado. Isto acontece porque estas colónias não conseguem manter a temperatura no cacho que lhes permita deslocarem-se para o quadro ao lado cheio de mel. Neste caso, o inverno não matou a colónia, mas porventura um verão demasiado seco, ou acaricidas colocados demasiado tarde, portanto uma deficiente gestão do apicultor que durante o fim do verão e outono não lhes deu o suporte que elas necessitavam, por exemplo alimentando-as. A minha opção pelo tipo de alimento a colocar, tem nos últimos dois anos ido para o fondant, também conhecido por pasta de açúcar, que começo a aplicar no final do verão (Setembro) até ao início da primavera seguinte em todas as colmeias mais leves.

Fig. 1: O fondant colocado no local do óculo da prancheta permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão acima dos 10-12ºC.

Fig. 2: O fondant colocado directamente sobre os quadros permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão abaixo dos 10ºC.

VSH (Varroa Sensitive Hygiene): o vídeo

Este pequeno vídeo capta abelhas com o traço VSH (Varroa Sensitive Hygiene), combatendo o ácaro varroa. Estas abelhas VSH conseguem detectar o ácaro varroa nos alvéolos ainda operculados. Estas abelhas localizam as pupas infestadas, removem o opérculo de cera, removem as pupas (que serão comidas). Esta atividade interrompe a reprodução do ácaro, mantendo o parasita num nível tolerável para a colónia. Fonte do vídeo: USDA ARS Baton Rouge Honey Bee Lab. Publicado a 13 de dezembro de 2016

alvéolos reais: como os interpretar

Para o apicultor que se está a iniciar na apicultura a correcta interpretação do que dizem os alvéolos reais, em especial na época de enxameação, é crucial para o seu entendimento do que se está a passar na colónia, o que o qualifica para uma intervenção mais adequada e ajustada à realidade da mesma.

Quando vir no fundo dos quadros vários alvéolos reais muito provavelmente a colónia está para enxamear ou já enxameou.fig-0611-600x450

No período da enxameação o apicultor deve verificar com uma frequência semanal se as abelhas estão a criar alvéolos reais no fundo dos quadros, em particular nas colónias que tenham atingido ou passado os 6 quadros com áreas extensas de criação. Inclinar num ângulo de 45º o corpo do ninho em relação ao estrado e dar uma espreitadela ao fundo dos quadros pode trazer um bom retorno ao apicultor.

Contudo nem sempre os alvéolos reais de enxameação surgem (só) no fundo dos quadros.

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Às vezes surgem nas zonas laterais dos quadros, especialmente se houver depressões ou irregularidades nas superfícies laterais destes. Contudo, em regra, quando as abelhas criam alvéolos reais nestas zonas dos quadros também os criam no fundo dos quadros. Portanto a inspecção ao fundo dos quadros continua a dar boas garantias, mesmo nestas circunstâncias, de uma boa interpretação.

Quando vir no seio de uma zona de criação um a quatro alvéolos reais, e não encontrar mais, muito provavelmente está numa situação de supersedure/substituição de rainha eminente.

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Nesta situação as abelhas irão substituir a velha rainha por uma nova. Estes alvéolos reais não devem ser destruídos para não pôr em causa a sucessão da velha rainha.

Quando encontrar alguns alvéolos reais construídos nas zonas periféricas da zona de criação e se eles se formam a partir dos alvéolos de obreira (alvéolos reais de emergência) muito provavelmente estará na presença de uma colónia que ficou subitamente orfã e que está a tentar criar a sua próxima rainha. Não deve destruir estes alvéolos reais se não tem planos ou possibilidades de fornecer alvéolos reais ou uma rainha a esta colónia.

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Em regra nos períodos de crescimento pujante das colónias, períodos de um bom fluxo de pólen e néctar, encontram-se com frequência vários cálices reais. Não indicam necessariamente que a colónia se prepara para enxamear nas próximas semanas, mas deve manter no radar estas colónias e inspecioná-las semanalmente.

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Se estes cálices se apresentarem com geleia real e com uma larva em cada um deles o processo de criação de novas rainhas foi iniciado.

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A terminar uma nota: um abelha ocupa uma área no quadro equivalente a cerca de 3 alvéolos. Sendo assim um quadro cheio de criação fechada fornecerá abelhas suficientes para cobrir  cerca de 3 quadros. Compreendemos melhor com estes números como uma colónia fica, num espaço de no máximo 12 dias, subitamente cheia de abelhas, às vezes demasiado cheia para o espaço que o apicultor lhes dá.

abelha buckfast ou nenhum homem é uma ilha

O irmão Adam (Karl Kehrle 1898-1996) para responder à designada “doença da ilha de Wight”criou uma abelha híbrida que ficou mundialmente conhecida pela designação abelha buckfast.

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Fig. 1: O irmão Adam e a abadia de Buckfast

Esta abelha tem qualidades muito apreciadas pelos apicultores: boa produtora, resistente a doenças, pouco enxameadora, pouco defensiva. Estas qualidades devem-se ao conhecido “vigor híbrido” característico do cruzamento na primeira geração (F1). Contudo não está garantido que estas características sejam passadas às gerações seguintes. Para o garantir é necessário proceder à inseminação instrumental/artificial ou garantir zonas de congregação de zângãos suficientemente isoladas. Tanto quanto sei os criadores alemães parecem reunir estas condições e têm credibilidade neste nicho de mercado. Quanto à credibilidade de vários fornecedores de linhas buckfast podem ler aqui as dúvidas que o conceituado apicultor britânico Roger Patterson tem.

Como consequência os utilizadores da abelha buckfast ficam dependentes dos criadores de linhas credíveis (alemães muito provavelmente) e necessitam de renovar as rainhas a intervalos regulares de 1 a 2 anos, antes que as abelhas decidam fazê-lo naturalmente (enxameação ou supersedure) . Se assim não o fizerem as suas linhas buckfast depressa degenerarão com os cruzamentos com as linhas nativas (no nosso caso a iberiensis), donde resultarão linhas de características misturadas e imprevisíveis e geralmente muito agressivas.

Entretanto os apiários vizinhos com linhagens nativas podem ter sido desarranjados pela introdução das linhas buckfast nas imediações. Estes são os primeiros a receber o impacto de ter um vizinho apicultor que inopinadamente, ou por estar deficientemente informado, decidiu experimentar a abelha buckfast.  Lembra-me a frase que alguns infelizmente vão esquecendo ou pior ignorando: nenhum homem é uma ilha!