o comportamento defensivo das abelhas: a genética e avaliação do traço

Obreiras-guarda à entrada de uma colmeia.

O comportamento defensivo nas abelhas melíferas é um traço complexo e poligénico. Foram identificados 128 genes candidatos a influenciar o comportamento defensivo*. Não se considera nestas situações dominância nem recessividade de uns genes relativamente a outros. Para além dos factores de origem genética, as diferenças neste traço comportamental estão associadas a fatores ambientais e maturacionais que requerem a devida análise e ponderação**.

Por esta razão os cruzamentos de colónias individuais, assim como os cruzamentos entre linhagens e sub-espécies (raças) diferentes não dão resultados estáveis, pelo contrário, os resultados são muito variáveis ***.

Avaliação do comportamento defensivo de colónias, linhas, ou populações de abelhas deve, na minha opinião, basear-se em escalas que descrevam de forma clara e sucinta vários comportamentos de defesa das abelhas, que permitam a observadores diferentes fazerem avaliações mais distintivas, mais objectivas e comparáveis. Pouco ou nada servem a este propósito escalas do tipo “Muito defensivas”, “Medianamente defensivas” e “Pouco defensivas”. Facilmente a subjectividade do observador contamina a avaliação feita com uma escala tão vaga como esta. Apresento em baixo um exemplo de uma escala de cinco níveis **** para determinar a defensividade de colónias (com utilização de fumo) e que respeita os requisitos desejáveis enunciados em cima:

  • o valor 1 representa o nível mais defensivo e é considerado intolerável por apicultores experientes. As abelhas reagem mesmo quando o apicultor está vendo colmeias vizinhas e seu controle é muito difícil mesmo com bastante fumo. Isso faz com que sua agressividade e se espalhe para o meio, pelo que ataca as pessoas e animais que estão presentes nas proximidades.
  • no valor dois, o mecanismo de reação das abelhas é imediato e geram um forte zumbido, com o qual se inicia o ataque procurando picar. Elas procuram principalmente partes expostas do corpo do apicultor ou áreas escuras da roupa. Neste estado as abelhas podem ser controladas com o uso de muito fumo.
  • no valor três, as abelhas reagem com um zumbido forte e constante. Algumas abelhas voam agressivamente e colidem com o véu e a roupa de proteção do apicultor. Nesse estado, as abelhas são consideradas controláveis, mas requerem muito fumo.
  • no nível quatro, as abelhas reagem com um forte zumbido e, após alguns segundos, algumas abelhas limitam-se a voar para fora da colmeia. Em geral, podem ser bem manuseados e com pouco fumo.
  • o nível cinco é considerado o mais dócil. Ao abrir uma colmeia, as abelhas permanecem muito calmas, respondendo apenas com um zumbido suave e seu maneio é muito bom.
  • *https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0022191007000236
  • ** https://www.pnas.org/content/106/36/15400
  • *** https://www.ars.usda.gov/ARSUserFiles/60500500/PDFFiles/301-400/376-Collins–Genetics%20of%20Defensive.pdf
  • **** http://www.scielo.org.mx/scielo.php?pid=S2007-09342016000801867&script=sci_arttext&tlng=en

Nota: no meu caso particular como não costumo utilizar fumigador teria de fazer algumas adaptações a esta escala. Mais, de acordo com esta escala a generalidade das minhas colónias seriam avaliadas no nível 4 quando o maneio é feito por volta das 10h00 da manhã num dia ensolarado, com uma temperatura ente os 20-25ºC e com pouco vento. As mesmas colónias regridem para o nível 3, ou mesmo dois, da escala se o maneio é feito nesse mesmo dia a partir das 18h00 quando o sol já anda baixo no horizonte.

avanços e perspectivas na seleção de características de resistência ao ácaro parasita Varroa destructor em abelhas melíferas

As últimas publicações focaram-se, de forma genérica, em torno das reais dificuldades na selecção e melhoramento de abelhas em condições naturais e/ou em condições relativamente controladas (1, 2 e 3). Entre outra razões, as dificuldades advém da origem poligénica dos traços mais importantes e das dificuldades de quantificar de forma rigorosa a sua heretabilidade (h²) e estabelecer o grau de correlação com os comportamentos/fenótipos ambicionados pelos apicultores.

Há poucos dias atrás foi publicado na revista Genetics Selection Evolution um artigo de revisão da literatura bastante eloquente a este respeito. Neste artigo são identificados um conjunto de obstáculos e hipóteses explicativas para o insucesso dos programas de selecção e melhoramento para criarem uma abelha resistente ao ácaro varroa levados a cabo nos últimos 40 anos, um pouco por todo o mundo.

A fonte para o artigo: https://gsejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12711-020-00591-1

As dificuldades colocadas a estes programas de melhoramento são de natureza diversa de acordo com o artigo referido, entre outras, a saber:

Alvéolos desoperculados pela presença da larva da
traça da cera.

Dificuldade em medir de forma rigorosa a presença e estabilidade de um traço comportamental desejado que permita avaliar o valor genético de uma determinada colónia matriarca/patriarca: a repetibilidade dos traços de resistência é frequentemente baixa varia entre 0 e 0,4 para MNR [acrónimo de Mite Non Reproduction] e entre 0,21 e 0,33** para comportamento higiénico em relação à cria morta. Os valores encontrados para o VSH [acrónimo de Varroa Sensitive Hygiene] situam-se entre 0,35 e 0,48, respectivamente. São necessárias até cinco medições repetidas para avaliar com bom rigor o nível de VSH de uma colónia. O fato de nos estudos publicados a repetitibilidade ser baixa lança dúvidas sobre a confiabilidade dos valores identificados e levanta a questão de como agregar vários valores quando as medições são repetidas. A média dos valores não fornece uma medição confiável do verdadeiro nível de resistência da colónia. A variação na expressão de um traço de resistência ao longo do tempo indica que fatores ainda não identificados influenciam essa expressão. Por exemplo, outras pragas e patógenos que afetam a colónia de abelhas melíferas, e especialmente sua criação, também podem afetar a avaliação da expressão de características de resistência. Por ex., a existência de larvas da mariposa da cera pode levar à sobreestimação dos comportamentos de desoperculação-reoperculação e limpeza (expressão típica do traço VSH) dado que as abelhas amas no seu afã higiénico também desoperculam os alvéolos atingidos pela larva da traça da cera;

Imagem de pupas alvo de canibalismo.

Dificuldade em isolar e quantificar o peso relativo dos factores genéticos relativamente ao factores ambientais, estes últimos obviamente não transmissíveis ainda que possam influenciar expressões epigenéticas desejáveis: o resultado do programa de seleção pode ser o resultado não apenas do acúmulo de efeitos genéticos aditivos por meio da seleção de características hereditárias, mas também dos efeitos ambientais e das interações genótipo—ambiente. Esses efeitos podem criar a ilusão de que colónias selecionadas são resistentes, enquanto a sobrevivência é parcial ou totalmente originada por fatores ambientais. Por exemplo, em tempos de escassez de pólen, a desoperculação e remoção da criação pode ocorrer devido ao canibalismo, resultante da deficiência de proteína. Este comportamento pode ser confundido com o traço VSH e distorcer o rigor da avaliação;

Mesmo traços que possam vir a ser estimados com precisão têm de ser suficientemente herdáveis (elevada heritabilidade) para que sua frequência aumente por seleção. É importante notar que a heritabilidade pode ser confundida com processos epigenéticos ou aprendizagem social. Uma característica herdada geneticamente é indistinguível de uma característica adquirida por meio da aprendizagem social, fenómenos que ocorre quando as obreiras têm a capacidade de transmitir o conhecimento adquirido às gerações seguintes. Estes comportamentos podem ser expressos pelas obreiras de uma colónia sem uma causalidade genética. Por exemplo, o comportamento de grooming foi realizado mais intensamente por obreiras de colónias de A. m. intermissa quando estiveram em contato com operárias mais velhas. Amas mais jovens podem ter aprendido este comportamento com as companheiras de ninho mais velhas (aprendizagem social);

Larva multi-infestada por várias varroas
fundadoras.

A selecção para um traço resistente pode não estar devidamente correlacionado com a sobrevivência da colónia. Por ex. a seleção para o comportamento higiénico de limpeza de criação morta não aumentou de forma consistente a resistência contra o V. destructor. Vários fenómenos podem explicar esta variância. Algumas linhagens de abelhas selecionadas pelo seu comportamento higiénico expressam uma resposta de baixa remoção de pupas infestadas por V. destructor. Correlações positivas entre a remoção da criação morta por congelamento e a remoção de células de cria infestada com V. destructor foram encontradas ocasionalmente, mas apenas quando a pupa estava infestada por dois ácaros fundadores (alvéolo multi-infestado, que surge habitualmente em contexto de elevada infestação) e não quando a criação é infestada por uma só varroa fundadora. Isso pode ser devido à necessidade de uma grande quantidade de estímulos químicos para desencadear a remoção de crias mortas, doentes ou infestadas. Assim, o comportamento higiénico poderá ser desencadeado apenas em casos de alta infestação, o que pode ser tarde demais para permitir a sobrevivência da colónia. Esses resultados sugerem que a seleção do comportamento higiénico em relação à criação morta pode não ser adequada para selecionar a resistência contra V. destructor. Atualmente, é recomendado que esta característica possa ser usada para pré-selecionar colónias, mas que mais características específicas contra o V. destructor também precisam ser analisadas para determinar o potencial de resistência de uma determinado população/linha.

** o indicador de heritabilidade restrita varia numa escala entre o zero (ausência de heritabilidade) e o valor 1 (heritabilidade total).

Nota: outros comportamentos desejáveis como a produção elevada, baixa enxameação, baixa defensividade são também de natureza poligénica.

a seleção é uma solução longínqua, o maneio é uma solução próxima

A obra de Mendel tem valor histórico na compreensão dos mecanismos genéticos, mas não pode ser aplicada de forma generalizada.

Ilustração sumária do modelo determinista simples
de Mendel.

O determinismo genético das características é, na grande maioria dos casos, mais complexo do que um modelo com dois genes e quatro alelos. Modelos semelhantes de determinismo genético simples foram historicamente propostos para características complexas, como comportamento higiénico (Rothenbühler 1964), mas na realidade não são aplicáveis.

É, portanto, extremamente arriscado querer estabelecer um programa de seleção com base nestes princípios. Da mesma forma, uma simplificação extrema de certos mecanismos (por exemplo, o VSH), ligada à confusão entre caracteres com determinismo simples e caracteres quantitativos, pode levar à falsa impressão de progresso genético generalizável e rápido.

Principais abordagens aos problemas
de melhoramento genético.

Está bem estabelecido, na esmagadora maioria dos casos, que os traços produção de mel, comportamento defensivo, comportamento de calma no quadro, enxameação, comportamento higiénico e comportamento de resistência ao varroa são poligénicos e requerem a aplicação dos conceitos da genética quantitativa ao melhoramento no seio de uma determinada população.

Os resultados obtidos (heritabilidades, progresso genético) são específicos das populações estudadas e não podem ser generalizados para outras populações. Apenas uma avaliação cuidadosa dos dados obtidos localmente pode identificar para quais características o progresso genético é alcançável numa determinada população. Uma das limitações ao melhoramento genético é a fraca heritabilidade de alguns traços, como aparenta ser o caso da produção de mel, resistência ao varroa, e enxameação.

A seleção é um processo complexo e não oferece uma solução imediata para todos os problemas. Por exemplo, para atingir um objetivo de produção melhorada numa exploração, é preferível priorizar outras abordagens zootécnicas, que correspondem ao maneio das colónias através de um plano apícola tecnicamente bem sustentado (verificação do estado das colónias, prevenção e controlo da enxameação, transumância, tratamentos da varroose …). Um aumento na produção de mel na exploração é mais facilmente alcançado, por ex., pelo aumento do número de colónias ou pela mudança para áreas com mais recursos nectaríferos do que pela seleção (difícil, demorada e falível) de colónias que produzem mais.

Por outro lado, uma vez que a condução da exploração apícola esteja bem adequada ao objetivo de produção, o progresso genético pode ser obtido a longo prazo, por meio da acumulação dos ganhos genéticos obtidos ano a ano: a seleção constitui então uma solução duradoura para a operação e uma alavanca para melhorar o desempenho. No entanto, para ser eficaz, é necessária uma supervisão rigorosa: é essencial documentar o trabalho realizado (recolha de dados de desempenho, etc.) e promover parcerias apicultor-investigação para a gestão destes procedimentos (integração do cálculo de heretabilidades, valores genéticos, estimativa do progresso genético). Este tipo de abordagem deve permitir que a selecção desempenhe um papel preponderante na obtenção de populações de abelhas adaptados às condições locais e às expectativas dos apicultores.

fonte: para quem lê francês, um texto essencial em pdf: Agroscope Transfer | No 333 / 2020 Concepts de sélection appliqués à l’abeille

abelhas rainhas têm muito mais sexo do que pensávamos

Já há alguns anos atrás, em 2015, li pela primeira vez sobre as “famílias reais raras” presentes nas colónias de abelhas melíferas. Fui resistindo ao impulso de publicar esta informação por várias razões, sendo a principal que eu próprio, à época, não tinha segurança na qualidade desta informação divergente do conhecimento convencionalmente aceite. Contudo, de lá para cá, encontrei mais dois estudos que replicam a descoberta, o que me deixa mais confortável relativamente a este aspecto. Esta informação divergente, em particular no que respeita aos critérios de escolha de ovos/larvas de futuras rainhas numa situação natural assim como o número médio de zângãos com que as rainhas acasalam, merecem o espaço desta publicação.

Zona de congregação de zângãos. Estes eventos
podem envolver vários milhares de zângãos,
todos reunidos em áreas a cerca de 5 a 40 metros
acima do solo.

As abelhas rainhas acasalam com dezenas de machos a mais do que se pensava (o conhecimento convencional refere uma média de 13 zângãos).

Ao colher mais amostras de larvas, os pesquisadores descobriram recentemente que, numa colmeia, as abelhas podem ter até 50 pais diferentes.

Uma vez madura, uma jovem abelha rainha poderá visitar várias “áreas de congregação de zângãos” em dias diferentes, acasalando com cerca de 50 zângãos.

“Pode ser algo como: quando eles acasalam, a rainha armazena apenas uma pequena quantidade do esperma de cada zangão, […] gerando um número baixo de descendentes.” Segundo Withrow, um dos autores do estudo, esta baixa frequência de descendentes desta genética, explica em boa medida a razão porque amostragens clássicas de indivíduos da colónia não os “apanhou na rede”. Os espermatozoides destes zângãos geram ovos e larvas de futuras rainhas mais atraentes para as abelhas. A descoberta destas linhas de famílias reais com genética críptica, até agora oculta, será assunto para uma publicação próxima.

Estes dados, na minha opinião, junto com outros, revelam bem o excessivo optimismo (não vou dizer ignorância) presentes na concepção da pretensa eficácia de saturar as zonas de congregação com os “nossos” zângãos, e da ilusão de melhorar abelhas ou manter traços desejados em condições de acasalamento em campo aberto e em Portugal continental.

fonte: https://www.abc.net.au/news/science/2018-07-12/queen-bees-mate-with-many-more-drones-than-previously-thought/9981786

Nota: as minhas rainhas, todas elas fecundadas em condições naturais, são, em regra, suficientemente responsivas ao que eu desejo delas. Quem, por estar insatisfeito com as abelhas que tem, deseja melhorar substancial e rapidamente as suas linhas, e depois mantê-las, deve ter bem consciente que muitos dos atalhos propostos para o alcançar, mais do que realidades no terreno, são muitas vezes ilusórios argumentos de marketing.

a temperatura no interior de uma colmeia com sobreninho quando faz frio cá fora

Durante o inverno algumas das minhas colónias passam o outono e inverno com um sobreninho (são as minhas colmeias armazém de outono/inverno). Neste sobreninho estão guardados/armazenados quadros com muito mel que vou distribuindo pelas colónias que deles necessitem ao longo deste período do ano. As colónias dedicadas a esta função são colónias fortes que entram no outono com 8 a 10 quadros bem preenchidos com abelhas. A pergunta que importa é: serão prejudicadas por terem de aquecer o dobro do espaço durante o inverno? A minha resposta é não, e alguns concordarão e outros discordarão. Tenho verificado que muitas das minhas colónias mais fortes à saída do inverno são precisamente estas colónias que passaram o inverno com uma alça com quadros cheios de reservas num dos distritos mais frios do pais. Passo a explicar, socorrendo-me de Rusty Burlew, que generosamente me autorizou a traduzir os excelentes conteúdos do seu blog Honeybeesuite, porque acho e observo que em colónias fortes este espaço a dobrar não as prejudica mesmo quando faz frio cá fora.

Rusty Burlew

Os sistemas naturais não desperdiçam energia e as abelhas não são exceção. Para sobreviver ao inverno, a aglomeração das abelhas permite-lhes manterem-se aquecidas. Embora façam isso com eficiência, elas não fazem esforço nenhum para aquecer todo o espaço dentro da colmeia.

O lugar mais quente dentro de uma colmeia está no centro da aglomeração/cacho invernal. A temperatura no cacho diminui em direção ao exterior do mesmo. As abelhas do lado de fora deste cacho ficam tão frias que precisam girar para dentro do mesmo. Se o interior da colmeia estivesse uniformemente aquecido, essa rotação seria desnecessária.

Claro, há algum calor perdido deste aglomerado para o ar circundante e, como o calor é perdido, as abelhas devem gerar continuamente mais. Se colocar a mão perto de um ferro aquecido, por exemplo, poderá sentir o calor. A perda de calor do ferro é semelhante à perda de calor do cacho de abelhas. Não precisamos de mudar a mão para longe para deixar de sentir o calor. O mesmo é verdade dentro da colmeia: a temperatura cai rapidamente à medida que você se afasta do cacho invernal.

No entanto, o ar dentro da colmeia é ligeiramente mais quente do que o ar externo do ambiente. Isso ocorre porque a própria caixa colmeia fornece uma pequena quantidade de isolamento. Mas o valor R (resistência térmica) de uma tábua de pinho não é elevado, o que significa que a diferença de temperatura entre o ar interno e o ar externo não é grande.

Existe um lugar na colmeia que é mais quente do que os outros, e esse lugar é imediatamente acima do cacho invernal. Isso ocorre porque o ar quente sobe. Um apicultor na França mediu as temperaturas nas suas colmeias quando a temperatura do ar externo era de 6,7 ° C. Ele mediu 35 °C no centro do cacho, 21,6 ° C imediatamente acima do cacho e 11,1 ° C nas outras partes vazias da colmeia. Outros apicultores encontraram gradientes de temperatura semelhantes.

Costumo ouvir as pessoas dizerem que não deixam alças com mel nas suas colmeias porque é muito espaço para as abelhas aquecerem. Além do fato de que as abelhas não vão tentar aquecê-lo, uma alça de mel é muito diferente de uma alça vazia. Um alça vazia fornece mais espaço para o calor crescente se escoar sem benefícios adicionais, por isso não é uma boa ideia.

Mas um alça de mel tem muitas vantagens. Além de ser um suprimento de comida, uma alça de mel é um bom isolante térmico no topo. Além disso, por ser muito denso, tem alta capacidade calorífica. Isso significa que pequenas ou rápidas flutuações na temperatura externa não mudam prontamente a temperatura do mel. Em outras palavras, um grande suprimento de mel estabiliza a temperatura interna da colmeia.

Além disso, uma alça com mel desacelera o fluxo de ar de baixo para cima na colmeia. Isso ocorre porque o ar que passa pelos espaços estreitos entre os quadros sofre atrito nas superfícies irregulares do favo, de modo que o fluxo de ar é consideravelmente perturbado. Isto é uma coisa boa: queremos que exista algum de fluxo de ar pela colmeia para remover a humidade, mas não queremos um túnel de vento. Um alça de mel, então, fornece alimento, isolamento, estabilidade de temperatura e reduz a velocidade do fluxo de ar quente no interior da colmeia.


“Se as abelhas não podem comer xarope frio, por que podem comer mel frio?” Na verdade, o mel não está frio quando as abelhas o comem.

Quando trazemos mantimentos da loja para casa, nós armazenamo-los num forno quente? Claro que não. E as abelhas também não precisam armazenar mel num local quente. Lembre-se, o calor sobe do cacho, então o mel acima do cacho é bastante quente. Mesmo o mel próximo às laterais do cacho estará quente o suficiente.

À medida que o mel quente é consumido, o cacho move-se lentamente em direção a mais mel e, à medida que se aproximam, esse mel aquece mais ainda. As abelhas aquecem a comida conforme a necessidade, assim como nós. Como mencionei no início, os sistemas naturais não desperdiçam energia. Seria um desperdício total manter todo o mel aquecido o tempo todo.

Além disso, o mel em armazenamento refrigerado tem muito menos probabilidade de ser destruído por outros insetos porque eles também não gostam de comida fria. Se as abelhas mantivessem seus estoques de mel muito quentes, a predação aumentaria.

fonte: https://www.honeybeesuite.com/physics-for-beekeepers-temperature-in-the-hive/

Dito isto, enxames fracos à saída de setembro, nos quais as abelhas cobrem apenas 2 a 4 quadros procuro cada vez mais transferi-los para caixas-núcleo. Estes enxames precisam na minha opinião de uma caixa mais pequena, ou de quadros-falsos (follower boards, segundo a designação inglesa), que aumentem a densidade do enxame. Tenho notado regularmente que estes casos sobrevivem melhor ao inverno e arrancam melhor à saída do inverno quando invernam num espaço interior mais reduzido. Tenho impressão que esta condição lhes permite:

  • atingir uma densidade optimizada;
  • beneficiar mais rapidamente do aquecimento proporcionado pelos dias ensolarados que vamos tendo durante o inverno;
  • diminuir as áreas frias no topo do cacho e assim evitar as zonas de condensação do vapor em água.

a dinâmica populacional das colónias durante o inverno

Nos meus primeiros 2 anos de apicultura fiquei diversas vezes assustado com o reduzido número de quadros ocupados pelas abelhas durante a invernagem. Depois fui observando que mesmo colónias com 2 a 3 quadros Langstroth ou Lusitana cobertos de abelhas se “aguentavam” relativamente bem durante a invernagem, e destas uma boa parte evoluía bem a partir de meados de fevereiro no território que ocupam.

Quantas abelhas são necessárias para cobrir cada uma das faces de um quadro langstroth, quadros por norma com 8 dm2 de área? Tenho referido várias vezes neste blogue o número de mil. Segundo A. Imdorf (2010) são cerca de 1100 (cerca de 130 abelhas por dm2). Partindo desta referência e fazendo contas simples, um quadro langstroth coberto de abelhas aloja 2200 abelhas (2 faces vezes 1100 abelhas), isto é uma colónia com dois quadros cobertos de abelhas tem uma população à volta de 4400 abelhas, e uma colónia com três quadros cobertos de abelhas tem uma população de um pouco mais de 6500 abelhas. Estes valores podem aplicar-se também aos quadros das colmeias do modelo Lusitana sabendo que têm áreas idênticas.

Se fizerem esta avaliação num dia particularmente frio (o que desaconselho, mas não é letal se o fizerem com alguma rapidez) com as abelhas dispostas em “cacho invernal”, verificarão que uma parte das abelhas estão enfiadas de cabeça para baixo nos alvéolos, comportamento adoptado pelas abelhas para optimizarem a termorregulação e, nesta circunstância, o número de abelhas pode chegar às 400 por dm2 (uma abelha enfiada num alvéolo ocupa 1/3 da área que ocupa quando faz a suas tarefas fora do alvéolo) e, portanto, essa diferença deve ser levada em consideração na avaliação da população.

Resumindo os números da dinâmica populacional durante o inverno em territórios com baixas temperaturas e ausência de floração nectarífera (Imdorf, A., 2010):

  • população à entrada do inverno (Dezembro): 8000-15000 abelhas (4 a 7 quadros cobertos de abelhas);
  • perda normal de inverno: 2000-3000 abelhas;
  • população no final do inverno: 5000-13000 abelhas (2 a 6 quadros cobertos de abelhas).

Conhecesse eu estes valores nos dois primeiros anos da minha aventura com as abelhas e teria dormido algumas noites de inverno mais sossegado, sem temer as piores desgraças, sabendo que aquela população era normal para aquela época do ano num território frio e sem florações nectaríferas.

Nota: No início de 2017 apresentei a minha proposta para a dinâmica populacional nos meses de primavera e verão que, confirmo agora, se aproxima muito dos valores propostos por Anton Imdorf (2010), investigador senior do Centre Suisse de Recherches Apicoles, referenciando um pico de população de 40 mil abelhas no mês de junho.

o que faz a qualidade de uma rainha?

Mais um dia de trabalho a começar com o sol a nascer por detrás de um céu muito nublado, e debaixo de uma chuva miudinha que parecia ter passado por um coador de malha fina ao cair.

Com vários objectivos para cumprir, nomeadamente “palmerizar” alguns núcleos, retorno a este em concreto:

Núcleo que em 24.03 não apresentava postura e que em 02.04 classifico a rainha como fraca de acordo com o padrão de postura que observo. Nestas situações costumo dar mais 15 a 20 dias para ver se o padrão de postura da rainha evolui e me faz alterar a ideia que se trata de uma rainha a eliminar. E muitas das vezes altero! Este foi mais um desses casos.
De lá para cá este núcleo já doou vários quadros com criação e hoje voltou a fazê-lo, este quadro que vemos na foto. O que provocou a reviravolta na qualidade da postura? Há muito me convenci que são as abelhas, isto é, a qualidade e a quantidade de abelhas que compõem a colónia, que fazem, na grande maioria dos casos que observo nos meus apiários, a qualidade das rainhas.

A este propósito, deixo a tradução do sumário de um estudo muito interessante, publicado há pouco mais de um ano na revista Insects.

Título: O padrão de postura numa colónia de abelhas é um indicador confiável de qualidade da rainha?

Sumário: “A falta de qualidade da rainha é frequentemente identificada como uma das principais causas de mortalidade das colónias de abelhas. No entanto, os fatores que podem contribuir para a “falta de qualidade da rainha” estão mal definidos e geralmente estão mal compreendidos. Estudámos um aspecto específico associado à falta de qualidade da rainha: padrão de postura fraco. Em 2016 e 2017, identificámos pares de colónias com padrões de criação “bom” e “fraco” em apiários de profissionais de apicultura e usamos métricas padrão para avaliar a saúde das rainhas e colónias. Não encontrámos dados da qualidade das rainhas associadas de maneira confiável a colónias com padrão de postura fraco. No segundo ano (2017), trocámos rainhas entre pares de colónias (n = 21): rainhas de colónias com padrão de postura fraco foram introduzidas em colónias com padrão de postura bom e vice-versa. Observámos que os padrões de criação de rainhas originárias de colónias com padrão de postura fraco melhoraram significativamente após a colocação em colónias com padrão de postura bom após 21 dias, sugerindo outros fatores que não a rainha contribuíram para a alteração do padrão de postura. Nosso estudo desafia a noção de que o padrão de postura é suficiente para julgar a qualidade da rainha. Nossos resultados enfatizam os desafios que se colocam na determinação da raiz dos problemas associados à rainha ao avaliar a saúde das colónias de abelhas.

Fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30626029/

buckfast bees: a experiência de André Silva

Um grande agradecimento ao André Silva por ter aceite o meu desafio para escrever umas linhas a testemunhar a sua experiência com abelhas de linhas exóticas, neste caso em particular, com abelhas da linha buckfast. Para quem não conheça o André, posso dizer que para além de uma excelente pessoa, do seu dinamismo empreendedor, da sua coragem comercial, da sua abertura à experimentação, é um apicultor muito experimentado, que se tem dedicado à criação e comercialização de abelhas rainha entre outros produtos da colmeia. Tem a sede da sua operação apícola na bela Madeira. Deixo-vos o testemunho do André:

“Como Apicultor e apaixonado por abelhas, tenho um apiário que fica mais isolado no qual vou fazendo as minhas experiências com algumas raças de abelhas e cruzamentos, dai vejo o que funciona ou não e tiro as minhas conclusões.

Vemos aqui o André trabalhando num dos seus apiários da ilha da Madeira.

 A experiência que hoje vou partilhar é sobre as abelhas buckfast. A famosa abelha selecionada pelo Irmão Adam e durante algum tempo considerada por muitos a melhor abelha do mundo. 

Comprei e ofereceram-me algumas F0 a partir das quais fiz algumas F1. Uma abelha muito bonita e fácil de trabalhar pela sua mansidão, mas que me tem desiludido noutros aspectos, em particular na produção e capacidade de fazer reservas no inverno. 
Por tudo o que já li sobre esta abelha estava com expectativas muito altas. Realmente é uma abelha calma que fascina qualquer amante de abelhas quando levanta uma prancheta de uma colmeia buck, contudo apresenta pouca capacidade de produção em F0. Esta abelha tem um periodo de invernagem longo sendo quase impossível fazer recolha das florações de inicio do ano, como é o caso da floração do eucalipto. Enquanto as negras fazem algumas alças de mel de eucalipto esta abelha continua a «dormir» despertando só na primavera. Quando «acorda» tem um desenvolvimento rápido e exponencial, e se estiver numa zona de floração longa até armazena algum mel. Noto também que desde que o clima e temperaturas sejam favoráveis não fazem o abrandamento de postura de acordo com os fluxos e florações, obrigando o apicultor a estar atento e preparado para, no inverno, alimentar as colónias frequente e massivamente para as ajudar fazer face à escassez de reservas para tanta abelha criada em assincronia com o meio envolvente. 
Talvez seja uma boa abelha para países com grandes florações e com períodos meteorológicos bem definidos, que obrigue a rainha a parar a postura cedo para entrar ajustadamente no período de invernagem. 


Muitos dos testemunhos que se ouvem acerca da produção de abelhas buckfast em Portugal penso que se referem já a rainhas F1, ou seja um híbrido de bucksfast. 
Os melhores resultados que tive desta abelha foi mesmo com híbridas F1, cruzadas com machos caucasianos, onde constatei que aumentavam as suas reservas e mantinham a sua mansidão. 

É uma abelha que cada vez mais vou descobrindo e tem sido uma desilusão. Penso que não foi esta abelha que o Irmão Adam deixou. A buckfast neste momento caminha a passos largos para uma abelha de «carne», não para uma abelha de produção. Não sei o que os criadores desta raça têm feito para a conservação das características originais das abelhas herdadas do Irmão Adam, mas arrisco-me a dizer que o foco tem sido em mantê-las apenas calmas para ser uma abelha de reprodução no estado híbrido. 

Neste momento sinto-me cada vez mais confiante na selecção e trabalho com a abelha negra. Vou-me agarrar à linha que reproduzi em 2018 que chamava de M3. 

Quanto às pessoas que gostam de trabalhar com híbridos é preciso ter consciência que para funcionarem,  e ter bons resultados no que diz respeito à produção, tem de ter um criador de rainhas que lhes forneça rainhas fecundadas em F1 … e que tudo o que passar dai é «lixo», não vai funcionar, com a agravante de que até essas linhas voltarem a estabilizar é preciso muito tempo. 
Boas apis a todos.”  André Silva

Altura de cresta num dos apiários do André.

Em boa parte julgo que a decepção que o André teve com as actuais buckfast (que alguns ingleses já apelidam jocosamente de “fastbuck”, isto é, “dinheiro rápido”) está ou na falta de competência dos actuais criadores, ou na sua falta de seriedade, ou na falta de condições, ou tudo isto junto. Acerca das condições dos apiários de acasalamento o Irmão Adam é mutíssimo claro acerca da sua importância quando escreveu: “Tudo isso [referindo-se ao programa de melhoramento da abelha buckfast que liderou ao longo de muitas décadas, num apiário isolado em Dartmoor] seria impossível sem um apiário devidamente isolado. Os apicultores suíços deram ao mundo um exemplo valioso na sua criação científica de abelhas pela introdução de estações de acasalamento. A inseminação artificial é de grande valor científico, mas o uso de apiários de acasalamento ainda é o único meio pelo qual podemos produzir rainhas confiáveis de super qualidade.”

Nota: em Portugal há uns quantos criadores de abelhas de linhas exóticas. Não estão a infringir nenhuma lei do país que eu conheça. Esta publicação não é para eles, por isso dispenso os seus comentários, porque nem eu os convencerei a mudar de linha de acção nem eles me convencerão que estou errado, ou que o André não observou o que observou. Acredito que estamos bem conscientes das vantagens, limitações e desvantagens das linhas exóticas. Este publicação é para os apicultores mais “verdes”, que podem estar a ponderar introduzir linhas exóticas nos seus apiários para experimentar. Como refere o André, a poluição genética depois de introduzida demora a limpar. Se mesmo assim desejarem avançar com a compra não deixem de perguntar ao fornecedor/criador dessas linhas se tem uma estação de acasalamento devidamente isolada que garanta uma fecundação livre na ausência de zângãos ibéricos, condição necessária à boa qualidade das rainhas que pretendem adquirir.

3 condições para a puxada de cera

  • As abelhas puxam cera quando precisam: as abelhas não são preguiçosas; mas também não são desperdiçadoras. Puxar um favo requer muito esforço e energia para produzir a cera e moldar os alvéolos. Se elas não precisarem do espaço, teremos dificuldade em fazê-las puxar cera.

  • As abelhas precisam de temperaturas relativamente quentes para puxarem cera: 35ºC no interior da colmeia/ninho é a temperatura ideal para as abelhas moldarem as pequenas escamas de cera que produzem Se as temperaturas externas forem muito baixas ou muito elevadas, será muito mais difícil para as abelhas trabalharem a cera.

  • As abelhas precisam de muito néctar: as abelhas precisam consumir grandes quantidades de néctar/mel para estimular as glândulas de cera. O néctar/mel é metabolizado e transformado nas glândulas cerígenas que lhes permite produzir cera. As operárias consomem pólen nos primeiros dias de vida para promover o desenvolvimento destas glândulas.

como saber se as abelhas foram envenenadas

Uma pilha de abelhas mortas fora da colmeia indica claramente um evento diferente do CCD (Colony Colapse Disorder) ou deserção. Os ácaros podem causar a perda de uma colónia, mas essas abelhas normalmente são encontradas dentro da colmeia no estrado. Uma grande pilha de abelhas fora da colmeia aumenta a probabilidade de envenenamento, mas como ter mais certezas no diagnóstico?

As abelhas reagem de forma diferente a diferentes pesticidas, e a maioria dos herbicidas e fungicidas são menos tóxicos para as abelhas do que os inseticidas. Para o apicultor, o sinal mais óbvio de intoxicação por pesticidas é a presença de um número excepcional de abelhas mortas à frente das colmeias. Os seguintes números foram estabelecidos como diretrizes para avaliar a extensão do envenenamento por pesticidas: 100 abelhas mortas por dia são a taxa de mortalidade normal da colónia; 200-400 abelhas mortas indicam um baixo nível de envenenamento por pesticidas; 500-1000 abelhas mortas indicam um nível médio de envenenamento por pesticidas; mais de 1000 abelhas mortas indicam um alto nível de envenenamento por pesticidas.

Fig.1: Abelhas mortas em grande número à frente da colmeia.

Se tiver ido ao apiário nos últimos dois dias e tiver certeza de que a pilha de abelhas mortas são uma ocorrência recente, provavelmente alguém pulverizou um pesticida nas proximidades e a colónia foi apanhada na pulverização. Numa situação em que se conhece o dia da pulverização com antecedência, feche as colmeias à noite e cubra-as com um lençol ou cobertor molhado para mantê-las frescas em dias quentes. Esta medida contém as abelhas na colmeia durante o tempo de pulverização e fornece uma medida de proteção contra a mesma.

Uma maneira de saber se as abelhas foram envenenadas é examinar algumas das abelhas mortas e ver se a probóscide (língua) está estirada fora das mandíbulas . As abelhas envenenadas geralmente exibem esse sintoma.

Fig.2: Abelha morta por envenenamento com a língua estirada.

A próxima coisa a observar é se o dano está a ocorrer ao nível individual ou ao nível da colmeia. Uma grande pilha de abelhas mortas indica que ocorreu ao nível da colónia num evento único. Alguns insecticidas com efeitos sub-letais matam as abelhas de forma mais gradual dificultando o diagnóstico. Nestes casos as abelhas envenenadas exibem no quadro sinais como tremores, correria desorientada e um comportamento errático irregular.

Existem muitos produtos químicos altamente tóxicos para as abelhas usados nos quintais e hortas. Em baixo está uma pequena lista:

Organofosfatos – acefato, diazinona, malathion e clorpirifos
Piretróides – deltametrina, ciflutrina e lambda-cialotrina
Neonicotinóides – clotianidina, imidaclopride e tiametoxam

Pontos a lembrar
Um único evento pode envenenar e eliminar um grande número de forrageiras, mas uma exposição a longo prazo sub-letal pode ser mais prejudicial para a colónia.
As abelhas envenenadas exibem sinais como tremores, correria desorientada e exibem comportamento errático e irregular.
As abelhas envenenadas normalmente morrem com suas línguas estiradas para fora da mandíbula.
Para evitar envenenamento das abelhas, verifique se utiliza algum dos produtos químicos listados acima.