buckfast bees: a experiência de André Silva

Um grande agradecimento ao André Silva por ter aceite o meu desafio para escrever umas linhas a testemunhar a sua experiência com abelhas de linhas exóticas, neste caso em particular, com abelhas da linha buckfast. Para quem não conheça o André, posso dizer que para além de uma excelente pessoa, do seu dinamismo empreendedor, da sua coragem comercial, da sua abertura à experimentação, é um apicultor muito experimentado, que se tem dedicado à criação e comercialização de abelhas rainha entre outros produtos da colmeia. Tem a sede da sua operação apícola na bela Madeira. Deixo-vos o testemunho do André:

“Como Apicultor e apaixonado por abelhas, tenho um apiário que fica mais isolado no qual vou fazendo as minhas experiências com algumas raças de abelhas e cruzamentos, dai vejo o que funciona ou não e tiro as minhas conclusões.

Vemos aqui o André trabalhando num dos seus apiários da ilha da Madeira.

 A experiência que hoje vou partilhar é sobre as abelhas buckfast. A famosa abelha selecionada pelo Irmão Adam e durante algum tempo considerada por muitos a melhor abelha do mundo. 

Comprei e ofereceram-me algumas F0 a partir das quais fiz algumas F1. Uma abelha muito bonita e fácil de trabalhar pela sua mansidão, mas que me tem desiludido noutros aspectos, em particular na produção e capacidade de fazer reservas no inverno. 
Por tudo o que já li sobre esta abelha estava com expectativas muito altas. Realmente é uma abelha calma que fascina qualquer amante de abelhas quando levanta uma prancheta de uma colmeia buck, contudo apresenta pouca capacidade de produção em F0. Esta abelha tem um periodo de invernagem longo sendo quase impossível fazer recolha das florações de inicio do ano, como é o caso da floração do eucalipto. Enquanto as negras fazem algumas alças de mel de eucalipto esta abelha continua a «dormir» despertando só na primavera. Quando «acorda» tem um desenvolvimento rápido e exponencial, e se estiver numa zona de floração longa até armazena algum mel. Noto também que desde que o clima e temperaturas sejam favoráveis não fazem o abrandamento de postura de acordo com os fluxos e florações, obrigando o apicultor a estar atento e preparado para, no inverno, alimentar as colónias frequente e massivamente para as ajudar fazer face à escassez de reservas para tanta abelha criada em assincronia com o meio envolvente. 
Talvez seja uma boa abelha para países com grandes florações e com períodos meteorológicos bem definidos, que obrigue a rainha a parar a postura cedo para entrar ajustadamente no período de invernagem. 


Muitos dos testemunhos que se ouvem acerca da produção de abelhas buckfast em Portugal penso que se referem já a rainhas F1, ou seja um híbrido de bucksfast. 
Os melhores resultados que tive desta abelha foi mesmo com híbridas F1, cruzadas com machos caucasianos, onde constatei que aumentavam as suas reservas e mantinham a sua mansidão. 

É uma abelha que cada vez mais vou descobrindo e tem sido uma desilusão. Penso que não foi esta abelha que o Irmão Adam deixou. A buckfast neste momento caminha a passos largos para uma abelha de «carne», não para uma abelha de produção. Não sei o que os criadores desta raça têm feito para a conservação das características originais das abelhas herdadas do Irmão Adam, mas arrisco-me a dizer que o foco tem sido em mantê-las apenas calmas para ser uma abelha de reprodução no estado híbrido. 

Neste momento sinto-me cada vez mais confiante na selecção e trabalho com a abelha negra. Vou-me agarrar à linha que reproduzi em 2018 que chamava de M3. 

Quanto às pessoas que gostam de trabalhar com híbridos é preciso ter consciência que para funcionarem,  e ter bons resultados no que diz respeito à produção, tem de ter um criador de rainhas que lhes forneça rainhas fecundadas em F1 … e que tudo o que passar dai é «lixo», não vai funcionar, com a agravante de que até essas linhas voltarem a estabilizar é preciso muito tempo. 
Boas apis a todos.”  André Silva

Altura de cresta num dos apiários do André.

Em boa parte julgo que a decepção que o André teve com as actuais buckfast (que alguns ingleses já apelidam jocosamente de “fastbuck”, isto é, “dinheiro rápido”) está ou na falta de competência dos actuais criadores, ou na sua falta de seriedade, ou na falta de condições, ou tudo isto junto. Acerca das condições dos apiários de acasalamento o Irmão Adam é mutíssimo claro acerca da sua importância quando escreveu: “Tudo isso [referindo-se ao programa de melhoramento da abelha buckfast que liderou ao longo de muitas décadas, num apiário isolado em Dartmoor] seria impossível sem um apiário devidamente isolado. Os apicultores suíços deram ao mundo um exemplo valioso na sua criação científica de abelhas pela introdução de estações de acasalamento. A inseminação artificial é de grande valor científico, mas o uso de apiários de acasalamento ainda é o único meio pelo qual podemos produzir rainhas confiáveis de super qualidade.”

Nota: em Portugal há uns quantos criadores de abelhas de linhas exóticas. Não estão a infringir nenhuma lei do país que eu conheça. Esta publicação não é para eles, por isso dispenso os seus comentários, porque nem eu os convencerei a mudar de linha de acção nem eles me convencerão que estou errado, ou que o André não observou o que observou. Acredito que estamos bem conscientes das vantagens, limitações e desvantagens das linhas exóticas. Este publicação é para os apicultores mais “verdes”, que podem estar a ponderar introduzir linhas exóticas nos seus apiários para experimentar. Como refere o André, a poluição genética depois de introduzida demora a limpar. Se mesmo assim desejarem avançar com a compra não deixem de perguntar ao fornecedor/criador dessas linhas se tem uma estação de acasalamento devidamente isolada que garanta uma fecundação livre na ausência de zângãos ibéricos, condição necessária à boa qualidade das rainhas que pretendem adquirir.

3 condições para a puxada de cera

  • As abelhas puxam cera quando precisam: as abelhas não são preguiçosas; mas também não são desperdiçadoras. Puxar um favo requer muito esforço e energia para produzir a cera e moldar os alvéolos. Se elas não precisarem do espaço, teremos dificuldade em fazê-las puxar cera.

  • As abelhas precisam de temperaturas relativamente quentes para puxarem cera: 35ºC no interior da colmeia/ninho é a temperatura ideal para as abelhas moldarem as pequenas escamas de cera que produzem Se as temperaturas externas forem muito baixas ou muito elevadas, será muito mais difícil para as abelhas trabalharem a cera.

  • As abelhas precisam de muito néctar: as abelhas precisam consumir grandes quantidades de néctar/mel para estimular as glândulas de cera. O néctar/mel é metabolizado e transformado nas glândulas cerígenas que lhes permite produzir cera. As operárias consomem pólen nos primeiros dias de vida para promover o desenvolvimento destas glândulas.

como saber se as abelhas foram envenenadas

Uma pilha de abelhas mortas fora da colmeia indica claramente um evento diferente do CCD (Colony Colapse Disorder) ou deserção. Os ácaros podem causar a perda de uma colónia, mas essas abelhas normalmente são encontradas dentro da colmeia no estrado. Uma grande pilha de abelhas fora da colmeia aumenta a probabilidade de envenenamento, mas como ter mais certezas no diagnóstico?

As abelhas reagem de forma diferente a diferentes pesticidas, e a maioria dos herbicidas e fungicidas são menos tóxicos para as abelhas do que os inseticidas. Para o apicultor, o sinal mais óbvio de intoxicação por pesticidas é a presença de um número excepcional de abelhas mortas à frente das colmeias. Os seguintes números foram estabelecidos como diretrizes para avaliar a extensão do envenenamento por pesticidas: 100 abelhas mortas por dia são a taxa de mortalidade normal da colónia; 200-400 abelhas mortas indicam um baixo nível de envenenamento por pesticidas; 500-1000 abelhas mortas indicam um nível médio de envenenamento por pesticidas; mais de 1000 abelhas mortas indicam um alto nível de envenenamento por pesticidas.

Fig.1: Abelhas mortas em grande número à frente da colmeia.

Se tiver ido ao apiário nos últimos dois dias e tiver certeza de que a pilha de abelhas mortas são uma ocorrência recente, provavelmente alguém pulverizou um pesticida nas proximidades e a colónia foi apanhada na pulverização. Numa situação em que se conhece o dia da pulverização com antecedência, feche as colmeias à noite e cubra-as com um lençol ou cobertor molhado para mantê-las frescas em dias quentes. Esta medida contém as abelhas na colmeia durante o tempo de pulverização e fornece uma medida de proteção contra a mesma.

Uma maneira de saber se as abelhas foram envenenadas é examinar algumas das abelhas mortas e ver se a probóscide (língua) está estirada fora das mandíbulas . As abelhas envenenadas geralmente exibem esse sintoma.

Fig.2: Abelha morta por envenenamento com a língua estirada.

A próxima coisa a observar é se o dano está a ocorrer ao nível individual ou ao nível da colmeia. Uma grande pilha de abelhas mortas indica que ocorreu ao nível da colónia num evento único. Alguns insecticidas com efeitos sub-letais matam as abelhas de forma mais gradual dificultando o diagnóstico. Nestes casos as abelhas envenenadas exibem no quadro sinais como tremores, correria desorientada e um comportamento errático irregular.

Existem muitos produtos químicos altamente tóxicos para as abelhas usados nos quintais e hortas. Em baixo está uma pequena lista:

Organofosfatos – acefato, diazinona, malathion e clorpirifos
Piretróides – deltametrina, ciflutrina e lambda-cialotrina
Neonicotinóides – clotianidina, imidaclopride e tiametoxam

Pontos a lembrar
Um único evento pode envenenar e eliminar um grande número de forrageiras, mas uma exposição a longo prazo sub-letal pode ser mais prejudicial para a colónia.
As abelhas envenenadas exibem sinais como tremores, correria desorientada e exibem comportamento errático e irregular.
As abelhas envenenadas normalmente morrem com suas línguas estiradas para fora da mandíbula.
Para evitar envenenamento das abelhas, verifique se utiliza algum dos produtos químicos listados acima.

VSH (Varroa Sensitive Hygiene): abelhas resistentes e seus comportamentos (2)

Neste post descrevo alguns aspectos mais específicos apresentados pelas abelhas com características VSH.

As abelhas VSH não respondem a todas as pupas infestadas de ácaros com igual intensidade (ver Fig. 1). Elas são mais propensas a remover pupas infestadas com ácaros nas fases 2 a 4 do desenvolvimento pupal e menos na fase 1 ou nas fases 5 a 8. Além disso, são muito menos higiénicas nas larvas de zangão infestadas. As razões para estas tendências não são claras.

Fig. 1: Alguns fatores que influenciam o grau do comportamento higiénico de abelhas sensíveis ao varroa: idade e genética das abelhas, idade e tipo da criação e nível de infestação pelos ácaros na criação operculada.

Tem sido observado que as abelhas VSH reagem mais vigorosamente a colónias altamente infestados (ex. 15-25 ácaros por 100 alvéolos operculados). Respondem com muito menos intensidade na criação com baixa infestação (1-5 ácaros por 100 alvéolos operculados), provavelmente porque os sinais químicos odoríficos emitidos pelas pupas infestadas e  que activam o comportamento de remoção são menos concentrados e mais difíceis de detectar.

Fig.2: Comparação de dois quadros com criação infestada por ácaros. À esquerda quadro de uma colónia com baixo comportamento VSH; à direita quadro que foi exposto a abelhas VSH durante 24 horas: as pupas infestadas e desoperculadas aparecem como pontos brancos nesta foto.

fonte: http://articles.extension.org/pages/30361/varroa-sensitive-hygiene-and-mite-reproduction

VSH (Varroa Sensitive Hygiene): abelhas resistentes e seus comportamentos

Com o objectivo de seleccionar abelhas resistentes ao ácaro varroa, várias linhas de investigação e várias propostas têm sido apresentadas nas duas últimas décadas.

O laboratório apícola da USDA-ARS em Baton Rouge (EUA) tem-se destacado na selecção e melhoramento de abelhas que apresentem um comportamento que é designado por VSH (acrónimo de Varroa Sensitive Hygiene).  De forma simples estas abelhas removem/limpam as pupas infestadas pelos ácaros (ver vídeo aqui).

Este comportamento VSH tem-se revelado um importante mecanismo de resistência ao ácaro varroa. O maior nível de resistência surge nas abelhas de linhagem pura (mães e pais VSH). No entanto, as abelhas VSH híbridas (ex. rainhas VSH fecundadas ao ar livre com zangãos não-resistentes) também têm apresentado uma considerável resistência aos ácaros varroa.

O VSH é muito semelhante ao comportamento higiénico que as abelhas usam para combater a loque americana, ascosferiose, os ovos e larvas de traças da cera e os pequenos escaravelhos da colmeia (Aethina tumida). Todas as colónias têm provavelmente indivíduos que executam VSH e, assim sendo, a selecção e melhoramento por criadores de rainhas de linhas resistentes pode ser levado a cabo através de criteriosos mecanismo de avaliação e selecção para esta característica com as abelhas de qualquer parte do mundo. Sabe-se que este comportamento VSH é realizada predominantemente por abelhas com idades entre 15-18 dias de idade. A remoção dos ácaros das pupas infestadas começa quando uma abelha “desoperculadora” cheira as pupas infestadas e perfura  os opérculos. Posteriormente outras abelhas, as “removedoras”, alargam o furo dos opérculos e removem as pupas infestadas

Fig. 1: Remoção da pupa infestada pelo ácaro da varroa.  A remoção envolve várias abelhas e resulta na morte da prole do ácaro. A varroa-mãe geralmente sobrevive.

fonte: http://articles.extension.org/pages/30361/varroa-sensitive-hygiene-and-mite-reproduction

apiários de fecundação isolados: condições para o seu estabelecimento

Serão os apiários de fecundação isolados uma ilusão como opina Michael Bush quando escreveu no BeeSource “Apiário isolado é um pensamento ilusório por parte dos criadores de rainhas … ou um mito definitivo …”. Não é sempre assim, mas é a mais pura verdade na enorme maioria dos casos: uma ilusão dos criadores de rainhas.

Vejamos o que nos diz alguém dos apiários Russel (http://www.russellapiaries.webs.com/), apicultor de uma 3ª geração de apicultores e entomologistas com mais de 125 anos de actividade apícola, acerca de técnicas sérias utilizadas na identificação de apiários isolados.

Eu tenho discutido esta prática várias vezes antes. Os apiários isolados, embora nunca 100% certos,  são um método que é usado principalmente por alguns dos criadores mais sérios, e têm sido utilizados na indústria à muito tempo… essas áreas são testadas pelos criadores de forma rigorosa para avaliar a presença de outras colónias na área… Eles são testados usando vários métodos: inspeções de campo, testes de rainhas virgens, radar e armadilhas com 9-ODA [feromona mandibular da rainha].

Para o criador sério, os ensaios para identificar áreas isoladas é muito caro (em média são investidos US $ 43 000 por localização) e pode levar anos e anos antes de o criador ser capaz de começar a utilizar o apiário para a produção.

Uma vez que uma área mostra resultados promissores a partir desses testes, é preenchido pela linhagem de abelhas  escolhida para a saturação de área… por exemplo após 4 anos de testes num raio de 28 milhas [45 Km] decidimos aceitar um local… mudámos 500 colónias de uma certa linhagem para esse local… A área será testado novamente nesta temporada e, em seguida, colocaremos os 5.000 núcleos de fecundação neste local para criação de rainhas unicamente da linhagem colocada na temporada anterior… através de pesquisa do genoma nós (assim como outros) testamos a filiação de zangões capturados de forma aleatória em vôo perto das zonas de congregação de zangãos, com a finalidade de identificar a contaminação por outras colónia na área… Outra forma de isolamento de apiários que é usado nas regiões montanhosas é um “Snow cap yard” de alta altitude que  pode fornecer excelentes locais onde as abelhas podem ser isoladas devido aos topos de montanha congelada em torno de uma área onde as abelhas são mantidos… enquanto o vale aquece se enche de culturas durante a primavera e o verão, os topos das montanhas circundantes ao vale permanecem congeladas devido à alta altitude.

Espero que isso ajude.” rrussell6870, post no BeeSource em Janeiro de 2011.

Julgo que para os que entendem que em Portugal e no momento actual se está a efectuar hibridação controlada vem a propósito a afirmação de Randy Oliver: “A pessoa que enganamos mais facilmente somos nós próprios.”

abelhas resistentes: um longo caminho espera randy oliver?

Randy Oliver escreveu no BeeL (fórum de apicultores reputados) recentemente acerca dos dados recolhidos na sua experiência para criar abelhas resistentes ao ácaro varroa. Em concreto escreve ele:

Uma coisa que vem à mente de alguns apicultores é que as abelhas sobrevivem sem tratamento. Muitas pessoas afirmam tê-las, mas muitas vezes não produzem evidências, ou então são casos pontuais e apenas histórias bem contadas. Posso oferecer algumas provas “duras”/quantificadas? Eu monitorei os níveis de ácaros numa população inicial de pouco mais de 1000 colónias no ano passado, para ver qual proporção realmente sobreviveria sem tratamento. As rainhas de todas as colónias eram filhas de aproximadamente 15 rainhas, cujas colónias anteriormente pareceram exibir resistência ao acúmulo de ácaros. Em cada evento de monitorização, tirei da experiência toda e qualquer colmeia em que a contagem de ácaros estava  numa trajetória para a eventual morte da colónia pela infestação pelo varroa (tratava-as, de modo que nem uma única colónia morreu pela acção de ácaros durante a experiência). À medida que nos aproximamos da marca de 1 ano, das mais de 1000 colmeias, parece que talvez 16 tenham mantido contagens de ácaros abaixo de 4 ácaros por 100 abelhas – menos de 2% de “sobreviventes” (eu estimo 16 colónia dado que eu já amostrei metade até agora). Se eu não tivesse tratado o resto ao longo do ano, acho que seus colapsos inevitáveis ​​teriam superado mesmo aqueles 2% com os ácaros que derivariam das colónias colapsadas. Isso não quer dizer que outros não possam começar com uma linhagem de abelhas que exiba um maior grau de resistência ao ácaro (VSH, russas ou outras confirmadas ), mas certamente se aplicará a qualquer pessoa que comece com linhas de abelhas comuns (que apresentam muito menos resistência do que as linhagens com que comecei). Eu estou tão entusiasmado quanto qualquer um sobre a criação de abelhas que exibem a resistência aos ácaros, mas a mensagem para levar para casa é que, de fato, devemos ser extremamente céptico sobre as reivindicações relativas à sobrevivência a longo prazo de qualquer linha de abelhas sem dados “duros”/quantificados que o suportem .

Destas linhas que caracterizam o estilo frontal, sólido e fundamentado próprio de Randy Oliver destaco:

  • a eventual existência de colónias de abelhas resistentes são pontuais/locais;
  • numa população de cerca de 1000 colónias apenas 16 (menos de 2% da amostra) mantiveram a infestação abaixo dos 4%;
  • a linhagem destas 1000 colónias provinham de 15 rainhas que na época anterior tinham aparentado alguma resistência ao varroa;
  • um cepticismo face a reivindicações de criadores de rainhas alegadamente resistentes que não apresentam dados “duros”/quantificados que as suportem.

Para nós, em Portugal, estes dados devem-nos fazer reflectir que das aparências às evidências a distância pode ser grande. Fazer rainhas a partir de uma matriarca que aparentemente tem alguma resistência ao varroa é, seguramente, uma actividade louvável. Muitíssimo questionável é promover as filhas destas como mais resistentes em qualquer grau ao varroa.

feromona mandibular da rainha e comportamento defensivo

O comportamento defensivo é uma das características mais conhecidas de uma colónia de abelhas e consiste no reconhecimento de predadores, no alertar as companheiras e adotar comportamentos anti-predador (desde posturas de ameaças, até zumbidos e, finalmente, picadas). O comportamento defensivo está intimamente ligado à feromona de alarme, mas também à feromona mandibular da rainha (FMR).

A presença da rainha parece ser importante na regulação do comportamento defensivo de uma colónia, uma vez que foi observado que as colónias sem rainha exibem um comportamento defensivo maior em comparação com o que é exibido pelas colónias com rainha. Estes dados são reforçados por estudos que demonstraram que a FMR sintética diminuiu a resposta de picadas de abelhas colocadas em gaiolas (Kolmes e Njehu, 1990). O efeito da FMR sobre o comportamento defensivo da colónia foi recentemente confirmado por Gervan et al. (2005), que mostraram que a administração de FMR sintético reduz significativamente o comportamento defensivo em colónias com rainha e que no caso de colónias sem rainha se verifica uma diminuição no número de abelhas guardiãs e uma ligeira redução da reação de picada. Vergoz et al. (2007), descobriram que a FMR bloqueia a aprendizagem de comportamentos aversivos em jovens obreiras.

Destes dados tirei duas aplicações práticas:

  1. durante o período de enxameação explico a alguns proprietários de terrenos vizinhos aos meus apiários que alguma agressividade das abelhas é temporária e recomendo que se protejam e/ou procurem trabalhar esses terrenos em horários mais matinais;
  2. no meu maneio permite-me verificar de uma forma rápida e não intrusiva se colónias anteriormente orfanizadas já têm rainha em postura: se ao levantar a prancheta do ninho ou ao passar a mão calçada com a luva de apicultor numa passagem rasante ao topo dos quadros um bom número abelhas ficarem irritadas muito provavelmente ainda não têm rainha em postura; se pelo contrário manifestarem uma relativa indiferença a estes gestos muito provavelmente já têm rainha em postura.

Nota: A FMR sintética já é comercializada por algumas casas especializadas. Em baixo estão dois links que apresentam este produto:

  • http://pheromonehelper.ca/en/honey-bee-pheromones/tempqueen.html
  • https://www.etnamiele.it/attrezzature-apistiche/1508-pseudoqueen-feromoni-artificiali-regine.asp

Fontes:

  • Kolmes S.A, Njehu N. Effect of queen mandibular pheromones on Apis mellifera worker stinging behavior (Hymenoptera: Apidae) J New York Entomol S. 1990;98(4):495–98;
  • Gervan N, Winston M, Higo H, Hoover S. The effects of honey bee (Apis mellifera) queen mandibular pheromone on colony defensive behaviour. J Apicult Res. 2005;44:175–79.
  • Beggs K.T, Glendining K.A, Marechal N.M, Vergoz V, Nakamura I, Slessor K.N, Mercer A.R. Queen pheromone modulates brain dopamine function in worker honey bees. Proc Natl Acad Sci U S A. 2007;104:2460–64.

fundamentos de uma apicultura produtiva segundo C. L. Farrar

Clarence L. Farrar, foi um entomólogo norte-americano, que fez muitas e relevantes análises e reflexões em torno dos factores determinantes da produtividade em colmeias. Deixo em baixo alguns dos dados por ele observados e algumas das linhas do seu pensamento.

As boas rainhas raramente colocam mais de 1.600 ovos por dia. São necessários vinte dias para que a criação amadureça. As abelhas adultas vivem de 4 a 6 semanas durante a estação ativa, e a sua longevidade é grandemente influenciada pela intensidade da criação existente no ninho. As abelhas de pequenas colónias, que criam uma quantidade proporcionalmente grande de abelhas novas, têm vidas mais curtas do que as abelhas de colónias mais populosas. A quantidade de novas abelhas a nascer é influenciada pela capacidade de colocação de ovos da rainha, pela população adulta da colónia, pelo fornecimento de pólen e mel, e pelo espaço disponível no ninho para a postura da rainha.

Uma colónia populosa produz mais criação do que uma colónia pequena, contudo apresenta uma proporção mais elevada de abelhas disponíveis para recolher o pólen e o néctar. A produção por abelha  é consideravelmente maior em colónias mais fortes do que em colónias menores, uma vez que proporcionalmente menos abelhas estão envolvidas nos cuidados a prestar à criação. Durante uma melada de 2 semanas, uma colónia com 60.000 abelhas produzirá 50% mais mel do que quatro pequenas colónias, cada uma com 15.000 abelhas (ver aqui a célebre regra de Farrar bem explicada) . Sob um fluxo mais longo, as quatro pequenas colónias aumentarão em população, reduzindo assim a diferença de rendimento entre uma colónia forte e as quatro pequenas colónias. Não há nenhuma vantagem, contudo, em manter colónias pequenas apenas porque sua eficiência de armazenamento aumenta. É melhor gerir o apiário para ter todas as colónias direccionadas à produção na eficiência máxima durante todo o fluxo.

No meu caso particular encontro na equalização uma ferramenta muito útil para fazer a gestão do apiário no sentido que Farrar preconiza.

um inverno quente é bom para as abelhas?

As abelhas, em geral, invernam melhor quando a temperatura exterior mantém o cacho invernal tranquilo e a consumir muito pouco mel. Muitos consideram que a temperatura ideal se situa entre -1ºC e  +5ºC. Os apicultores canadianos, sabendo isto, mantêm as temperaturas nos armazéns onde albergam as suas colmeias em torno dos 5ºC.  Embora as abelhas não hibernem como os ursos, elas aglomeram-se em camadas, produzem calor, comem e esperam por dias mais quentes. Acima dos 5ºC as abelhas consomem mais. Estranhamente ou não, com temperaturas abaixo de -1ºC as abelhas necessitam de gerar mais calor, acabando também por consumir mais.

Outro aspecto a considerar, neste equilíbrio entre temperaturas externas e consumo, é o número de abelhas que a colónia tem. Uma colónia mais densamente povoada está apta a gerar e fornecer o calor necessário durante os picos mais extremos de frio. Uma grande colónia pode gerar mais calor com menos consumo de mel. As colónias mais fortes também mudam o local do cacho e expandem-no mais vezes do que as colónias mais fracas. Todos já encontrámos colónias pequenas que morreram durante inverno e com abundância de mel logo ali ao lado. Isto acontece porque estas colónias não conseguem manter a temperatura no cacho que lhes permita deslocarem-se para o quadro ao lado cheio de mel. Neste caso, o inverno não matou a colónia, mas porventura um verão demasiado seco, ou acaricidas colocados demasiado tarde, portanto uma deficiente gestão do apicultor que durante o fim do verão e outono não lhes deu o suporte que elas necessitavam, por exemplo alimentando-as. A minha opção pelo tipo de alimento a colocar, tem nos últimos dois anos ido para o fondant, também conhecido por pasta de açúcar, que começo a aplicar no final do verão (Setembro) até ao início da primavera seguinte em todas as colmeias mais leves.

Fig. 1: O fondant colocado no local do óculo da prancheta permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão acima dos 10-12ºC.

Fig. 2: O fondant colocado directamente sobre os quadros permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão abaixo dos 10ºC.