a introdução de rainhas de translarve: alguns detalhes

Na minha apicultura não recorro apenas a rainhas de emergência, muito longe disso. Utilizo variadas vezes rainhas criadas por translarve para iniciar novas colónias. Por exemplo, o ano passado utilizei 146 rainhas criadas por translarve.

Gosto da minha apicultura assim, uma apicultura com diversas opções no cinturão, opções que procuro utilizar de forma selectiva e pertinente de acordo com as condições de partida, condições estas determinadas sobremaneira pela imbrincagem entre a evolução mais lenta ou mais rápida das colónias, a maior ou menor disponibilidade para acompanhar de perto essa evolução, os equipamentos que tenho ou não disponíveis para fazer esse acompanhamento, e tudo isto temperado e envolto pela meteorologia que ora ajuda ora é um empecilho.

Conhecer os limites e utilizar as virtudes existentes tanto numa como noutra opção, rainhas de emergência ou rainhas de translarve, qualifica-me na minha profissão. Esta publicação aborda alguns detalhes em torno dos procedimentos a que dou preferência quando introduzo rainhas virgens.

Como referi nesta publicação, anteontem, a 19 de abril, preparei 5 colónias, confinando a rainha no ninho, deixando-as preparadas para serem desdobradas pela técnica Doolittle. Ontem entro no apiário com 10 rainhas virgens nos bolsos e 1o caixas-núcleo e pus mãos à obra. Deixo o foto-filme.

Comecei por colocar 2 núcleos junto de cada uma das cinco colónias a serem desdobradas.
Fui abrindo estas colónias para retirar estes quadros para os núcleos.
Fui retirando um ou dois quadros desta colónia, dois de outra, e um ou dois de outra ainda, até encher os núcleos com 5 quadros com abelhas provenientes de pelo menos três colónias distintas.
Depois de todos os 10 núcleos estarem preenchidos e no local, foi altura de os deixar repousar e ir ver as minhas pobres rainhas de emergência. E passados cerca de 10-15 minutos foi altura de iniciar a introdução destas ricas rainhas de translarve.
Estas rainhas vão ficar confinadas à gaiola cerca de 2 a 3 dias, a libertarem as suas sedutoras feromonas reais, para que as abelhas que lhe couberam em sorte as aceitem mais facilmente quando finalmente forem libertadas da sua gaiola.
Os núcleos foram estrategicamente colocados nas extremidade dos assentos e com o alvado virado no sentido contrário ao das colónias de produção, que ainda lá não estavam porque só hoje as coloquei no espaço entre os núcleos. Com estes cuidados pretendo diminuir o mais possível a deriva das rainhas no regresso do(s) seu(s) voo(s) de fecundação.

Para estas 10 rainhas foi assim. Para as outras 9 que introduzi ontem segui outro percurso, porque as condições de partida foram diferentes.

Ontem, as colónias doadoras submetidas à técnica ficaram com o sobreninho vazio.

Aspecto de um sobreninho ontem no final da generosa doação.

Hoje, entre várias outras tarefas, voltei a estas colónias para lhes terminar este vazio.

Todos estes sobreninhos foram fornecidos de quadros com cera clara puxada. A excluidora mantém-se para evitar o desastre que seria deixar as rainhas subirem ao sobreninho, aí assentarem acampamento, abandonarem o ninho às abelhas, que depressa o encheriam de pão de abelha em quantidades absurdas.

Hoje, a terminar o dia, foi altura de dizer adeus a várias colónias, que foram apanhar os ares de Lamego.

Uma das colónias que ganhou um novo dono.

pobres rainhas de emergência: à frente dos meus olhos

Quem me lê assiduamente já conhece a minha posição sobre as rainhas de emergência: criadas num ambiente com muitas abelhas e boas fontes de nutrição nada ficam a dever a rainhas de translarve.

Hoje decidi fotografar alguns detalhes numa das minhas colónias que ilustram alguns aspectos do processo de criação de rainhas de emergência, e que aparentam refutar a tese de que as rainhas de emergência são de qualidade inferior porque provêem de larvas demasiado velhas e deficientemente nutridas. A linha do tempo dos acontecimentos descrevo-a agora e as fotos ilustram os aspectos que me importa realçar.

No passado dia 2 de abril decidi orfanar algumas colónias como descrevi aqui.

Ontem, numa destas colónias vi duas rainhas virgens em vigorosas correrias sobre os quadros. Desde o dia da sua orfanação e até ao dia de ontem esta colónia não tinha sido inspeccionada. E até ao dia de hoje não foi sujeita a qualquer tipo de maneio. É inquestionável que o último ovo fertilizado foi posto no dia 2 de abril. E hoje, para satisfazer uma curiosidade, voltei a abrir esta colónia. A razão esteve no facto de ontem ter visto 4 mestreiros fechados. Como sabemos a literatura é consensual acerca do período de tempo médio que medeia desde o primeiro dia do ovo e a emergência da rainha: 16 dias.

Como já haviam passado 19 dias desde que o último ovo foi posto fiz questão de, com ajuda de um x-acto, abrir cuidadosamente os 4 mestreiros para verificar o seu conteúdo à frente dos meus olhos. Um deles estava vazio, num outro estava uma rainha atrofiada e morta. Nos outros dois, depois da pequena incisão que fiz na ponta dos mestreiros, emergiram duas rainhas vigorosas e com muito bom aspecto.

Um dos dois mestreiros do qual ajudei a emergir uma rainha viva e com muito bom aspecto. Este mestreiro foi criado numa condição de emergência.
Fiz uma pequena incisão para confirmar a presença de uma rainha viva. Entre a incisão, pegar no telemóvel e tirar a foto já a rainha andava em correria pela quadro…
… e focá-la melhor foi impossível.
O segundo mestreiro de onde ajudei a emergir uma rainha viva e com muito bom aspecto. Neste consegui fotografar a rainha prestes a sair do mestreiro. Também este mestreiro foi criado numa condição de emergência.

Com esta publicação reconfirmo o seguinte:

  • uma vez mais a primeira rainha a nascer não eliminou as irmãs ainda nos mestreiros — lembro que ontem vi duas rainhas virgens nesta mesma colónia (ver aqui);
  • aparentemente alguns mestreiros são defendidos e protegidos pelas abelhas das investidas das rainhas já emergidas;
  • as rainhas criadas numa condição de emergência não são necessariamente criadas a partir de larvas demasiado velhas — ver estudo aqui;
  • neste caso, que descrevi e ilustrei, o mais provável é que estas duas rainhas tenham tido origem em larvas que à data da orfanação ainda eram ovos;
  • sendo assim, acredito que desde o primeiro minuto estas larvas tiverem acesso à melhor alimentação que as abelhas podem dar a uma futura rainha;
  • aparentemente a emergência das rainhas não é um processo automático e independente da vontade e acção das abelhas;
  • parece que abelhas conseguem atrasar a emergência de rainhas por horas ou até por dias.
Isto tudo com as moitas de rosmaninho com as suas habituais inflorescências nesta época do ano.

dos 900m aos 600m: a mescla de técnicas para atingir objectivos vários

Ontem, após 150 km feitos e 100 € deixados na bomba de combustível, entrei no apiário a 900 m de altitude com três objectivos principais: (i) identificar colónias com boa população e rainha com bom padrão de postura para entregar a um cliente; (ii) identificar e preparar colónias para uma pequena transumância de 10 Km, descendo dos 900m para uma altitude de 600m onde um significativo fluxo de néctar se iniciou nos últimos dias; (iii) palmerizar alguns núcleos.

Uma das tarefas de ontem: palmerizar núcleos muito/excessivamente povoados, antes de os transferir para colmeia nos próximos dias.

Hoje, num dos apiários de 600m e depois de colocadas nos assentos as colónias transumadas, apliquei uma mescla de técnicas para atingir diversos objectivos: (i) prevenir a enxameação; (ii) controlar a enxameação; (iii) preparar núcleos para introduzir rainhas virgens em gaiola. Para optimizar da melhor forma o material que tinha disponível, caixas-núcleo e excluidoras de rainhas, e o tempo de que dispunha, tive de utilizar alguma capacidade inventiva e sair da minha zona de conforto.

Uma das colónias muito povoada onde decidi confinar a rainha ao ninho com recurso a excluidora de rainhas e submetê-la parcialmente à “cura radical da enxameação”. Uma mescla de técnicas com resultados a avaliar em inspecções futuras.

No segundo apiário a 600m de altitude, os objectivos eram sobretudo dois: (i) espreitar algumas colónias orfanadas faz hoje 17 dias; (ii) preparar 5 colónias para serem desdobradas pela técnica Doolittle.

Neste pedaço de quadro andam pelo menos duas rainhas virgens.
A cronologia dos principais eventos desta colónia. Não manipulei esta colónia desde a sua orfanação para verificar a minha tese: ainda que não tendo ocorrido a enxameação primária esta colónia irá formar enxames secundários/garfos — espero enganar-me!
Colónia muito povoada, com ninho e sobreninho desde 17 de março.
Quadro onde andava a rainha. Colocado no ninho, separei o ninho do sobreninho com grade excluidora.
A cronologia dos principais eventos desta colónia. Sempre que possível, só depois de um período de uma a duas semanas após a verificação de postura no sobreninho (05-04) tenho por hábito confinar a rainha no ninho por meio de exluidora (19-04). Os quadros que coloco/deixo no ninho devem ter pelo menos cerca de 80% da sua área desbloqueada de pólen e/ou néctar.
Este quadro em cima, como não cumpre os critérios foi retirado do ninho e colocado no sobreninho, sobre a grelha excluidora.
Primeiros sinais de armazenamento do excesso de néctar.

o trabalho num apiário e a sua dimensão investigatória

Há cerca de um ano atrás fiz esta publicação que intitulei “o trabalho num apiário e a sua dimensão lúdica”. Ontem, no mesmo apiário, o meu trabalho teve uma orientação predominantemente investigatória — não deixando de ter a dimensão lúdica.

Dado que o trabalho previsto para um dos meus apiários a 900m foi adiado para o dia seguinte considerando as baixas temperaturas, voltei ao apiário onde no passado sábado utilizei uma solução de antecipação para prevenir e para controlar a enxameação em seis colónias como relatei aqui. Nesse sábado, das seis colónias orfanadas, uma apresentava mestreiros de enxameação. As outras cinco tinham 8 ou mais quadros com criação e não lhes vi mestreiros de enxameação.

Tendo este pequeno grupo de seis colónias orfanadas aproveitei para iniciar um teste muito informal sem cariz científico — sei o suficiente das exigências método científico para o reconhecer —, e me permitirá confirmar a título meramente indicativo e pessoal se algumas das minhas crenças e cepticismos têm ou não algum chão para se sustentarem. Entre outras:

  • uma colónia orfanada, desde que com muitas abelhas jovens e bem nutrida, tem todas as condições para criar rainhas de emergência com grande qualidade;
  • com boas condições iniciais, muitas abelhas e nutrição suficiente, os mestreiros de emergência são seleccionados pelas abelhas, isto é, aqueles iniciados com larvas mais velhas acabam por ser eliminados pelas abelhas (ver aqui);
  • uma colónia, ainda que artificialmente orfanada, se tiver muitas abelhas pode ainda assim enxamear com uma ou mais das rainhas virgens que emergirem;
  • uma colónia orfanada, com uma grande população e que crie várias rainhas virgens pode tardar em ficar resolvida, até ter uma só rainha fecundada e em postura;
  • uma colónia orfanada, com uma grande população, numa época de fluxo de néctar pode ficar parcialmente bloqueada no ninho no período que medeia a orfandade e o momento em que consegue que uma rainha inicie a postura.

Para testar informalmente estes aspectos decidi fazer o quer relato e ilustro em baixo. A questão do bloqueio não me interessa testar porque tem uma solução expedita e simples.

Caso de uma das colónias orfanadas, excepcionalmente povoada.
Decidi dividi-la por dois núcleos que ficaram a partilhar o local original…
… com as abelhas a encherem as duas caixas. Cada um deles tem as condições que considero necessárias, muitas abelhas, para criar excelentes rainhas de emergência.
Neste outro caso dividi esta colónia verticalmente com recurso ao velhinho tabuleiro divisor. Deixei mestreiros nas duas caixas, a de cima como ficou com a entrado orientada para o lado oposto ao da entrada original irá ficar muito menos povoada que a caixa inferior. Os mestreiros que ficaram nas duas caixas já estavam fechados. Viso verificar em qual deles se iniciárá primeiro a postura, se será no de cima que tem menos população como é minha hipótese.
Nesta colónia fiz a minha selecção de mestreiros. Esta selecção terá algum impacto na qualidade das rainhas? A minha hipótese é que pouco ou nada adianta esta selecção pelo apicultor. As abelhas quando em bom número criam as condições para construírem mestreiros de qualidade assim como seleccionarão os melhores. Ver um aspecto particular desta hipótese na foto em baixo.
Na minha opinião, uma condição inicial para que os mestreiros de emergência sejam de qualidade é serem construídos o mais possível na vertical. Esta condição permite que a larva se alimente facilmente da geleia real logo por cima no topo do mestreiro. O que tenho visto recorrentemente é que uma colónia órfã bem povoada rebaixa a cera no local de construção de alguns dos mestreiros por forma a permitir essa verticalidade.
Nesta colónia assim como numa outra não fiz qualquer manipulação. Assim seguirão sem qualquer manipulação até terem passado cerca e 30-35 dias. Irão criar rainhas de qualidade? Irão enxamear com as rainhas virgens que nascerão? Lançarão garfos sucessivos e a sua população ficará muito reduzida? Esta é a minha maior dúvida, tenho algum receio que sim, que lancem garfos. Assim acontece nos processos naturais de enxameação, a seguir ao enxame primário seguem-se os enxames secundários. Neste caso, o enxame primário foi artificialmente provocado com a orfanação e os mestreiros são de emergência, não de de enxameação. Estou muito curioso para verificar se estes enxames orfanados artificialmente irão mimetizar o processo de enxameação natural e lançar garfos.

sobre o ritmo de crescimento das colónias: uma realidade reconfirmada

Nesta época, no meu território, em condições regulares, as minhas colónias com 5 quadros de abelhas crescem a um ritmo de um a dois quadros por semana — reconfirmo uma vez mais o que li descrito pelo enorme apicultor Randy Oliver, como referi nesta publicação, publicação que foi um marco pessoal, quando há 5 anos atrás me permiti sumariar, estruturar e tornar inteligível num texto feliz um conjunto de observações que tinha vindo a fazer nos anos anteriores).

No passado dia 19 de março, nesta publicação, descrevi a transferência de alguns enxames para caixas-colmeia (modelo Langstroth).

O enxame no núcleo e a caixa-colmeia para onde foi transferido.
Como escrevi na publicação original “Devido às temperaturas relativamente baixas previstas para os próximos dias não me atrevi a desfazer este bloco denso intercalando quadros vazios.

Passados 16 dias e sem qualquer outro maneio neste intervalo de tempo, anteontem, dia 3 de abril, os enxames tinham passado dos iniciais 5 quadros com abelhas para os 9 quadros com abelhas e 7 quadros com criação. Deixo em baixo as fotos de uma destas colónias.

Anotação da data de transferência.
Os quadros levantados indicam a periferia da zona de criação: 7 quadros com criação.
Padrão de postura da rainha desta colónia, representativa da realidade da grande maioria das minhas colónias.
Como os adolescentes, estas colónias precisam de muito alimento para medrarem bem.

Nota: São enxames como estes que tenho a coragem de vender aos meus clientes. Nem menos nem mais, simplesmente e transparentemente como estes.

cura radical da enxameação: o ensaio

Em território de urgueiras, que começam a expressar-se também no interior das minhas colmeias por via do magnífico cheiro do seu néctar que começou a ser armazenado nos ninhos, dei início a uma nova etapa no meu maneio. Utilizei pela primeira vez esta técnica: cura radical da enxameação.

Em duas colónias encontrei sinais inequívocos de preparação de uma das últimas etapas do processo de enxameação: o surgimento de mestreiros de enxameação.

Um dos vários quadros com mestreiros de enxameação.
Confirmei a presença da rainha em cada uma destas duas colónias.

Apliquei a técnica como prescrito pelo seu autor com recurso a um garfo de desopercular, tipo “rasca la cria”.

Apliquei esta técnica como “último recurso”, uma vez que já tinha doado os quadros com criação às poucas colónias um pouco mais atrasadas do apiário e, aqui chegado, ou criava duas novas colónias, ou aplicava a técnica Demaree, ou avançava para esta cura radical. Nenhuma das duas primeiras me são oportunas por constrangimentos que nada têm a ver com a apicultura. A eficácia desta solução será avaliada na próxima visita e caso se confirmem as garantias que o autor deu há mais de 100 anos, esta passará a ser uma técnica a juntar-se a outras que utilizo nesta época de prevenção e de controlo da enxameação. Esta não será privilegiada em relação a outras e muito menos as excluirá. Haverá um tempo e um momento próprio para cada uma delas.

das verdades que comunguei e dos desmentidos das minhas abelhas

Como todos, houve uma altura em que fui um iniciante de apicultor. Como bom iniciante apetrechei o meu pensamento com as proclamações de verdades absolutas que alguns dos meus companheiros debitavam nos fóruns e redes sociais de grupos de apicultores. Como todo o iniciante foi-me reconfortante ouvir estas certezas absolutas numa actividade que estava a iniciar! E assim, com o pensamento conformado por essas proclamações, me iniciei no maneio das minhas colónias em 2009-2010. E logo em 2010, as minhas abelhas desmentiram algumas dessas proclamações. De lá para cá continuam a desmentir umas e outras, quase todas.

Chegado ao dia de hoje, confirmo uma vez mais que as verdades proclamadas são desmentidas pelas minhas abelhas à frente dos meus olhos. Tive hoje oportunidade e vontade de fotografar para partilhar com os meus leitores dois exemplos desses desmentidos acerca das seguintes proclamações:

  • 1) é errado aproveitar mestreiros de enxameação porque perpetua a genética de enxameação — na verdade o que é isso de genética de enxameação? é determinada por um gene herdado da mãe? por um conjunto de genes herdados da mãe e dos vários genes dos pais presentes nas várias sub-famílias da colónia? o comportamento de enxameação da rainha é determinado por ela só ou também e sobretudo é determinado pelas suas filhas, filhas de vários pais? é determinado sobretudo por factores hereditários ou predominantemente por factores ambientais/contextuais?;
  • 2) se quero encontrar a rainha numa colónia devo-a procurar nos quadros com ovos porque de certeza é ali que ela anda, porque como todas as boas mães anda junto da sua prole — na verdade quem é a mãe das abelhas? a rainha que só as pariu ou as abelhas operárias que as amamentam e criam? se por acaso anda longe do quadro com ovos, isso faz dela uma má mãe? quando todos os quadros de uma colónia já foram utilizados para dois ou três ciclos de criação ainda se encontrará um quadro só com ovos? todos os quadros da colónia não terão neste caso uma mistura de ovos, criação aberta e criação fechada? se sim, em qual deles andará a rainha que tanto me interessa encontrar para realizar aquele maneio específico que me obriga a descobri-la?

Como estas muitas outras proclamações me passam pela cabeça. Um terceiro exemplo: os apiários não devem ter mais que 20-30 colónias por encabeçamento — interrogo-me se em todos os locais? só em alguns, e como saber quais? não há condições para ter 100 colónias num apiário rodeado sobretudo por giestas? e quando essas 100 colónias num apiário rodeado sobretudo por giestas produz uma média de 20 kgs por colónia, ano após ano, caso tivesse apenas 30 colónias produziria as mesmas 2 toneladas de mel?

Sobre esta terceira proclamação deixo uma foto de um apiário meu com capacidade para assentar 100 colónias, onde já estiveram 100 colónias e me deram vários anos seguidos 1600 kgs de mel.

Vista privilegiada de um apiário inverosímil.

Sobre a segunda proclamação deixo esta foto de hoje onde encontrei uma rainha não a cuidar dos ovos, mas num quadro com uma imensa mancha de criação fechada.

Sobre a primeira proclamação deixo este conjunto de fotos de uma rainha emergida de um mestreiro de enxameação que enxertei o ano passado (ver aqui). Hoje o núcleo cheio como um ovo, nem sinais de cálices reais lhe vi quanto mais mestreiros de enxameação.

Foto de hoje do núcleo e do mestreiro de enxameção de onde saiu a rainha.
O que mais me surpreendeu nos quadros deste núcleo de uma rainha com a dita genética de enxameação foi não ver um único cálice real.
Ali anda a rainha, bem misturada no meio de suas filhas. Quando fará justiça à fama que tem e enxameará?

Desde que me conheço, que sempre procurei a opinião dos mais experimentados, mas também me lembro de sempre o fazer sem desligar o cérebro. Procurei e procuro cada vez mais intensamente ter a humildade e a capacidade de me manter um observador o mais possível neutro dos fenómenos naturais. Sempre que o consigo, a natureza amiúde encarrega-se de me dizer que não se move pelas linhas rectas que em determinada altura, no início do meu processo de aprendizagem, me cheguei a convencer existirem por ouvir tantas proclamaçãos cheias de certezas.

uma solução de antecipação

Hoje, no apiário das Lusitanas a 600m de altitude, o rosmaninho está a desabrolhar. Como no ano passado, assim como nos anteriores, antes de 15 de abril as abelhas pouco ou nada tirarão dele.

No entanto as colónias, como habitualmente, estão à frente do rosmaninho. Nunca foi do pólen e do néctar do rosmaninho que elas dependeram para crescer. Sim de diversas flores subsidiárias presentes no campo já em fevereiro. À entrada de abril as colónias, formadas por 20 mil ou um pouco mais de indivíduos , estão a atingir a maturidade. Algumas iniciam os últimos preparativos para se reproduzirem, enxameando. Ora como este ano vou ter menos disponibilidade para fazer a prevenção da enxameação nos moldes em que a tenho feito em anos anteriores, decidi queimar algumas etapas e antecipar-me. Em termos práticos isto significa que estou a isolar desde já rainhas de colónias que têm 8 quadros com criação e 10 quadros com abelhas. Isolo a rainha-mãe com 2 a 3 quadros e abelhas retiradas da colónia-mãe. Coloco-os em núcleo. Os núcleos são deixados num outro local do mesmo apiário, e por esta razão sacudo mais um ou dois quadros de abelhas, contando que uma parte delas regressará à colónia-mãe.

Para lá da identificação de boas colónias para entregar a um outro cliente, da verificação do estádio sanitários de todas as colónias, da alimentação de algumas e colocação de sobreninhos sobre umas poucas, foi o maneio de isolamento de rainhas o que mais tempo me levou e, simultaneamente, o mais prazeroso. Encontrar uma rainha entre 20 mil indivíduos e em menos de 5 minutos é um jogo que gosto de jogar comigo mesmo. Evitar que estas rainhas e abelhas, nas quais despendi tempo e recursos nos meses de outono-inverno, enxameiem e vão para um canto qualquer nesta altura do ano e que, ao contrário, as mantenho nas minhas caixas é uma recompensa que muito me agrada. Hoje neste apiário procurei seis rainhas, encontrei 6 rainhas e vi muitas dezenas de milhar de abelhas a passarem-me diante dos olhos e… não me cansei. No final da tarde entreguei os enxames ao meu cliente. Trabalho feito por hoje.

1ª rainha.
No núcleo.
Juntei mais 2 quadros com abelhas suas filhas e sacudi umas quantas mais.
Deixei alimento.
Anotei.
5 dos 6 núcleos onde isolei as rainhas-mãe.
A 2ª rainha.
A 3ª rainha.
A 4ª rainha.
A 5ª rainha.
A 6ª rainha.

As 6 colónias orfanadas vão levar a cabo a criação de novas rainhas. Esta realidade não precisa de mim.

Uma das colónias orfanadas.
Com tanta mão de obra o que falta fazer será bem feito… assim estou convicto.

primeira inspecção depois do equinócio da primavera

Hoje, a 900 m de altitude, entrei no apiário por volta das 13h30. A temperatura rondava os 11ºC, o vento era fraco e o sol ía aparecendo por detrás de algumas nuvens ocasionais. As colónias estão saudáveis e a crescer.

A 900 m de altitude, o meu apiário mais lindo e mais antigo, com 13 anos.

Os objectivos centrais desta inspecção eram dois: (i) alimentar as colónias com pasta de açúcar; (ii) identificar colónias fortes, com pelo menos 7 quadros com criação e 9 quadros bem cobertos de abelhas, para entregar amanhã a um dos meus clientes. Como habitualmente tirei umas fotos.

Uma das colónias seleccionadas para entregar ao meu cliente. Pronta para receber meia-alça ou um sobreninho.
Uma colónia representativa da maior parte das minhas colónias no que respeita ao comportamento. Abelhas agarradas ao quadro que quase não levantam voo quando as trabalho sem fumo e calmamente. A rainha saiu virgem da empresa apícola Vale do Rosmaninho. Foi fecundada em junho do ano passado num dos meus apiários.
Um pormenor a observar. Larvas bem alimentadas a nadar em geleia de operária.
Uma senhora rainha, esta criada e nascida nos meus apiários.

o maneio dos núcleos à saída do inverno: a palmerização

Trabalhei o apiário das urgueiras ontem. Alimentei, coloquei dois sobreninhos sobre duas colónias fortes e procedi à palmerização de um núcleo com vista a dar apoio a uma colónia zanganeira.

Apesar da floração vistosa as abelhas ainda pouco ou nada tiram destas urgueiras que cobrem o território nas redondezas. Ainda não aqueceu o suficiente para estes arbustos iniciarem a exsudação de néctar.
Uma das duas colónias fortes onde coloquei sobreninho (modelo Langstroth).
Quadro que retirei deste sobreninho colocado uns momentos antes. Este quadro irá ser utilizado na palmerização de um núcleo.

Voltando a exemplificar esta técnica que denominei de palmerização, em homenagem e tributo ao apicultor que primeiro ouvi falar da sua utilização, Michael Palmer.

Núcleo muito bem povoado que palmerizei.
Quadro com criação nos três estádios que retirei do núcleo no âmbito da sua palmerização.
Quadro que retirei do sobreninho e que foi colocado na posição 4 deste núcleo alvo da palmerização.

Porque retirei o quadro com criação do núcleo? Por duas razões: (i) como medida de prevenção da enxameação; (ii) porque este quadro me foi necessário para iniciar a reversão do estado zanganeiro de uma colónia ali ao lado.

Colónia zanganeira bem povoada. Estas colónias por regra são alvo de um processo de reversão do seu estado. Resulta frequentemente.
Quadro com criação nos três estados que retirei do núcleo em cima é colocado no coração desta colónia. Em especial as larvas e suas feromonas vão inibir o surgimento de mais abelhas poedeiras.
No dia de ontem (19-03) coloquei o primeiro de três a quatro quadros que inserirei nesta colónia para reverter o seu estádio. Na próxima visita, dentro de 8-10 dias, colocarei o segundo quadro com criação e que muito provavelmente retirarei de um outro núcleo que será palmerizado.