alguns remédios “orgânicos” para controle de ervas daninhas não são tão seguros quanto parecem

“Você pode aprender muito na Internet. Aqui está um pouco da sabedoria em jardinagem que aprendi ultimamente sobre como controlar ervas daninhas com soluções supostamente orgânicas:

• Para matar ervas daninhas, use uma mistura de sabão, sal e vinagre […]

Temos a tendência de nos sentirmos confortáveis com os produtos caseiros. Mas é bom ser cauteloso mesmo com remédios caseiros supostamente seguros.

O sabão aparece constantemente como uma cura milagrosa nas páginas do Facebook dedicadas à jardinagem. Existe alguma lógica por trás da mistura. O sabão ajuda a mistura a espalhar-se nas folhas. O sal pode ser tóxico para as plantas. E o vinagre tem sido usado para combater ervas daninhas, embora geralmente o vinagre para horticultura tenha cerca de quatro vezes o ácido acético do vinagre que usamos na cozinha. Com 20% de ácido acético, o vinagre para horticultura é perigoso o suficiente para que os utilizadores devam usar mangas compridas, luvas e óculos para se protegerem de queimaduras e respingos.

Esta mistura é um herbicida de contacto que funciona secando as folhas da planta. Como o Roundup, a mistura não faz distinção entre plantas boas e ruins, então, se você decidir usá-lo, observe bem onde o pulveriza.

Como a água quente, esta mistura geralmente mata apenas pequenas ervas daninhas. Embora os resultados com ervas daninhas maiores pareçam boas no início, as ervas daninhas perenes e grandes ervas daninhas provavelmente se recuperarão. […]

Também não há nada orgânico na mistura. Todos os três ingredientes principais são produtos químicos, e um cientista que escreveu sobre o assunto argumenta que os níveis de toxicidade no vinagre e no sal podem ser altos (pode ler sua análise aqui: weedcontrol-freaks.com/2014/06/salt-vinegar-and-glyphosate/). […]

Então, o que é que um jardineiro que procura soluções orgânicas deve fazer? Sempre há o bom poder muscular, aplicado a cada duas semanas, auxiliado por sacholas e colheres de jardinagem e um ancinho rígido que podem remover muitas ervas daninhas.

As soluções mágicas geralmente não são tão boas quanto parecem e, às vezes, podem causar danos consideráveis. Faça sua pesquisa antes de usar qualquer produto químico – caseiro ou não – no jardim.

Mary Jane Smetanka é escritora freelancer mestre de jardinagem em Minneapolis.”

fonte: http://www.startribune.com/some-organic-weed-control-remedies-aren-t-as-safe-as-they-sound/323254201/

o ddt e a batata ou a revisão do que julgamos saber

“O DDT e outros pesticidas iniciais similares foram alvo de grande preocupação devido à sua lipofilia e persistência incomuns, embora não haja evidência epidemiológica convincente de perigo carcinogénico para os seres humanos (Key e Reeves, 1994) e embora os pesticidas naturais também possam bioacumular. Num estudo recente, no qual o DDT foi ministrado na alimentação de macacos rhesus e cynomolgus ao longo de 11 anos, o DDT não foi avaliado como carcinogénico (Takayama et al., 1999; Thorgeirsson et al., 1994) […]

O DDT é muitas vezes visto como o pesticida sintético tipicamente perigoso porque se concentra no tecido adiposo e persiste durante anos. O DDT foi o primeiro pesticida sintético; erradicou a malária em muitas partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos, e foi eficaz contra muitos vetores de doenças, como mosquitos, moscas tsé-tsé, piolhos, carrapatos e pulgas. O DDT também foi letal para muitas pragas e aumentou significativamente a oferta e reduziu o custo de alimentos frescos e nutritivos, tornando-os acessíveis a mais pessoas. Um relatório de 1970 da Academia Nacional de Ciências concluiu: “Em pouco mais de duas décadas, o DDT evitou 500 milhões de mortes devido à malária, que de outro modo teriam sido inevitáveis” (National Academy of Sciences, 1970).

O DDT é incomum em relação à bioconcentração e, por causa de seus constituintes de cloro, leva mais tempo para se degradar na natureza do que a maioria dos produtos químicos; no entanto, estas são propriedades de relativamente poucas substâncias químicas sintéticas. Além disso, milhares de produtos químicos clorados são produzidos na natureza (Gribble, 1996). Os pesticidas naturais também podem se bioconcentrar se forem lipossolúveis. As batatas, por exemplo, contêm naturalmente as neurotoxinas solanina e chaconina lipossolúveis (Ames et al., 1990a; Gold et al., 1997a), que podem ser detectadas na corrente sanguínea de todos os comedores de batata. Níveis elevados dessas neurotoxinas de batata mostraram causar defeitos congénitos em roedores (Ames et al., 1990b).”

fonte: https://toxnet.nlm.nih.gov/cpdb/pdfs/handbook.pesticide.toxicology.pdf

os enxames secundários: os mistérios da enxameação segundo Doolittle

“Todos os enxames que possuem uma rainha jovem ou virgem podem ser adequadamente classificados como enxames secundários. Quando um enxame principal/primário sai, geralmente deixa realeiras maduras na velha colmeia mãe, das quais emergirão jovem rainhas que liderarão todos os enxames posteriores.

Como regra, cerca de seis a oito dias após o enxame principal ter saído a primeira jovem rainha emerge do casulo real, e se uma nova enxameação é aceite pelas abelhas como a melhor solução para a colónia, as outras jovens rainhas são mantidas nas suas células reais por um pequeno grupo de abelhas que se aglomeram sobre elas constantemente, de modo que a tampa/extremidade da célula não possa ser removida para deixar a jovem rainha sair. Se uma enxameação adicional não for considerada uma boa solução pelas abelhas, então todas as restantes realeiras serão destruídas depois da eliminação das jovens rainhas, de modo que a primeira rainha que emergiu será a única da colmeia.

Se as células são protegidas como acima se descreve, a primeira rainha emergida parece entrar em fúria, e profere notas estridentes em intervalos, soando algo como tee-tee, tee-te, t, t, t, soaria proferido neste maneira, e designou-se “encanamento/piping da rainha”, que é mantido por cerca de dois dias, durante a formação do segundo enxame, ou o primeiro dos enxames secundários. Este “piping” da rainha é sempre ouvido no caso de existir uma pluralidade de rainhas numa colónia que pretenda enviar mais enxames secundários. As rainhas retidas nas suas realeiras pelas abelhas estão crescendo em idade e força e, durante a pressa e a agitação da segunda enxameação, uma ou duas dessas rainhas terminam apressadamente roendo a tampa da realeira e saem com este novo enxame, dando-se o caso de duas ou mais rainhas serem encontrado neste primeiro enxame. secundário.

Se um terceiro enxame for lançado, as abelhas agrupam-se sobre as células reais remanescentes tendo rainhas nelas, e acontece o mesmo que anteriormente e o terceiro enxame sai. Como há menos abelhas em número nesta altura do que aquando da saída do segundo enxame e rainhas mais maduras mantidas como prisioneiras, as realeiras são geralmente menos vigiadas pelas abelhas-guarda. Nesta altura as rainhas, abelhas correm para fora, e nesses casos eu tenho contado muitas vezes de 8 a 15 rainhas com um desses enxames, embora de um a cinco seja o número usual.

Ocasionalmente, uma colónia enviará um quarto e, às vezes, um quinto enxame, embora este seja de ocorrência muito rara; e às vezes todas as jovens rainhas deixam suas realeiras e saem com o último enxame, neste caso a colónia mãe fica irremediavelmente sem rainha, e morre pela sua incapacidade de produzir uma rainha. Assim que as abelhas se vão, as larvas da traça da cera destroem os quadros, e o dono/apicultor declara que as traças foram quem destruiu as suas colmeias.

Acima, tentei dar uma pequena visão dos mistérios da enxameação de abelhas, muitos dos quais parecem não ser totalmente compreendidos, mesmo por aqueles que mantiveram as abelhas por vários anos”

“Duas rainhas num enxame – mistérios da enxameação”, G. M. DOOLITTLE, ABJ, agosto de 1902.

vespa velutina: impacto das armadilhas de primavera num concelho da Galiza

Apresento em baixo extractos de uma notícia acerca dos resultados muito positivos alcançados em 2018 num concelho da vizinha Galiza na luta contra a velutina. A estratégia passou pela colocação de inúmeras armadilhas para capturar o maior número possível de fundadoras, com a participação alargada dos munícipes/fregueses, e com a intervenção/assessoria técnica de uma empresa especializada. Neste ano de 2019 a estratégia vai ser melhorada com a colocação de armadilhas mais selectivas (com entradas de 8 mm) para evitar o mais possível os impactos negativos desta prática na restante entomofauna.

Estes dados aparentemente divergem dos dados apresentados pelos especialistas e autoridades francesas acerca do impacto das medidas de colocação massiva de armadilhas para capturar fundadoras à saída da invernagem. Este tipo de divergência aparente é muito frequente quando as realidades observadas não são exactamente iguais (por ex. se as populações avaliadas já atingiram o seu ponto de equilíbrio), os períodos de recolha de dados não são os mesmos, a extensão geográfica das áreas avaliadas não é equivalente, quando os protocolos de acção e de observação/quantificação são diferentes e/ou por um conjunto de outras variáveis ainda desconhecidas. Nesta área falta conhecimento sólido porque em grande medida falta também investimento na criação de equipas de especialistas com as ferramentas e pré-requisitos necessários à produção desse conhecimento.

No imediato, quem desejar contribuir para a captura das vespas fundadoras deve, na minha opinião, ter em consideração um dado que é consensual: as armadilhas devem ser o mais selectivas possível por forma a minimizar os impactos negativos sobre os insectos não-alvo que uma utilização massiva implica.

“No ano 2017 retiramos máis de 400 niños e houbo unha afectación moi importante sobre a produción de mel no municipio. Por iso o ano pasado decidimos actuar desde o Concello. Puxemos case 300 trampas. Fixémolo directamente, con persoal de Protección Civil, pero asesorados tecnicamente pola empresa Serpa. Era o primeiro ano que trampeabamos, foi como unha experiencia piloto, e os resultados foron moi positivos. Pasamos de retirar máis de 400 niños en 2017 a só 73 no 2018. É certo que foi un peor ano para elas polas condicións climatolóxicas que se deron, pero aquí ao lado, no concello de Viveiro non trampearon e, coa mesma superficie que O Valadouro, uns 110 quilómetros cadrados, retiraron 529 niños[…].

Un dos efectos negativos do trampeo masivo é a captura doutras especies de insectos que, a diferenza da vespa asiática, son positivos. Para tratar de minimizar estas consecuencias sobre a biodiversidade reduciron ao máximo o tamaño dos orificios de entrada. “O importante no trampeo é facelo o máis selectivo posible. Cun oco de 8 milímetros de diámetro evitas que entren mariposas ou outros insectos beneficiosos[…].

Para activar de novo este ano o programa de captura de raíñas, o Concello celebra este sábado unha xuntanza formativa á que está convidada toda a veciñanza. Da parte técnica encargarase José María Vázquez, xerente da empresa Serpa, especializada na loita contra a velutina.”

fonte: http://www.campogalego.com/apicultura/o-valadouro-un-concello-que-logrou-reducir-un-83-a-presenza-da-vespa-velutina/?fbclid=IwAR0tWiQKCPh-QToWTSvjAvueV6CDDQEWkeNCJzQwdLRo1KDONcG5rlD5eJU

vespa velutina: impacto das armadilhas de primavera

Em algumas regiões de França, a monitorização do impacto no número de ninhos resultante da utilização de armadilhas para a captura das primeiras velutinas fundadoras e obreiras não são animadores. A minha esperança é que estes dados estejam errados. Caso estejam correctos, parecem apontar para uma estabilização do número de ninhos ao longo dos anos independentemente de uma maior ou menor intensidade nas acções de captura de fundadoras à saída da invernagem.

Rede de monitorização e controlo montada na região de Pays-de-la-Loire
Outono de 2008: 1 vespão identificado no sul de Vendée.
Início de 2009: montagem de uma rede de monitorização e controle (organização e treino, supervisão de caçadores, perícia, coleta de informações confiáveis).
Primavera de 2009: captura de fundadoras com um número limitado de “armadilhas seletivas de cerveja” num raio de 30 km em torno da área onde foi identificado o primeiro adulto em 2008.
Balanço 2009 => Nenhuma fundadora capturada, 12 ninhos descobertos
2010: distribuição de 400 armadilhas “seletivas” entre caçadores treinados e apicultores voluntários. Armadilhas colocadas perto de apiários. Ampla informação pública.
Avaliação 2010 => 6 fundadoras capturadas, 195 ninhos identificados.
2011: renovação do plano de vigilância e luta de 2010.
Balanço de 2011 => aprox. 10 fundadoras capturadas, 485 ninhos identificados.

Operação de armadilhagem intensiva na cidade de Bordeaux
(Rome et al., 2013)
Desde 2007: Implantação de uma alta densidade de armadilhas de fevereiro a abril (exemplo: 15.000 armadilhas / 550 km2 em 2009)
Balanço final => Vários milhares de fundadoras capturadas em cada ano, mas o número de ninhos encontrados permanece estável: 300 / ano

2007 a 2011: muitas experiências semelhantes foram realizadas a uma escala comunal ou departamental (Dordogne, Gironde, Morbihan, etc.)
Balanço => densidade de ninhos encontrados estável.

2007 a 2009: nenhuma campanha de captura maciça em Lot-et-Garonne
Balanço => número de ninhos detectados é metade em 2007/2008 (609 para 267). Ligeira recuperação do número de ninhos em 2009.

Conclusão: Nenhuma campanha de armadilhagem na primavera parece eficaz na redução da densidade de colónias de vespas asiáticas.
As diminuições são devidas ao clima (inverno) e à estabilização natural das populações.

Feedback sobre outras vespas invasoras
Vespa germânica (Vespula germanica) introduzida na Nova Zelândia.

Única forma de diminuir a densidade = destruição quase total de todos os ninhos.
Armadilhas de captura de fundadoras (outono ou primavera) = ineficaz
Cálculo da taxa de mortalidade dos diferentes estágios de desenvolvimento das colónias de vespas (Vespula germanica e V. vulgaris):
1% das fundadoras poderão fundar uma colónia no ano seguinte
95% de mortalidade no inverno + 4% de mortalidade na primavera (competição).
Usurpação de ninhos primários muito comuns em vespas (30% das colónias com ninhos usurpados).
Em média, 12 mudanças de fundadoras por ninho.
Frequência de usurpação aumenta com a densidade das fundadoras no local.”

fonte: https://www.concarneau-cornouaille.fr/files/ACTUALITES-2018/04-Avril/FrelonAsiatique_AChevallierV2018red.pdf

quantificando o valor dos serviços ecossistémicos: um estudo de caso sobre a polinização de abelhas no Reino Unido

O argumento mais forte para o apoio estatal ao sector apícola (como se faz por ex. em Espanha e França) já existe, é objectivo, consensual claro e estrutural: os polinizadores em geral, e as abelhas melíferas em particular, desempenham um papel crítico na sustentabilidade da produção de inúmeros produtos da nossa dieta alimentar diária. O declínio do número de colónias de abelhas melíferas na Europa, resultante da fraca sustentabilidade económica das operações apícolas, colocará em causa a qualidade e a acessibilidade dos consumidores a uma vasta gama de produtos alimentares que hoje estão nas suas mesas. O cerne da actuação dos decisores políticos/formuladores de políticas é gerir um orçamento e decidir quais as áreas a apoiar com dinheiros públicos. Muitas das vezes essas decisões são condicionadas pela percepção que estes decisores têm do acordo maior ou menor das populações votantes relativamente à canalização de parcelas de dinheiros públicos para as áreas “a”, “b”, “c” ou “d”. Na minha opinião, no caso do apoio a áreas críticas para o bem-estar das populações os argumentos científicos consensuais deveriam ser suficientes, como é o de manter e fazer crescer no futuro a população de polinizadores. Mas sabemos bem que as prioridades da agenda política são determinadas muitas das vezes pelas percepções dos ganhos de votantes e clientelas políticas, isto é, a percepção que têm da popularidade das medidas mais do que pela justeza e necessidade das mesmas. Na mente dos decisores políticos está frequentemente presente o cálculo de como se traduzirá em ganhos de votantes se e quando determinados montantes do erário público forem canalizados para áreas da economia que podem suscitar alguma estranheza em algumas camadas populacionais, como o caso vertente dos polinizadores. Para tranquilizar e serenar os decisores políticos que a aplicação de dinheiros públicos e/ou privados na protecção dos polinizadores era não só aceite como bem vista, foi feito no Reino Unido um inquérito que visava determinar a vontade e o montante que os súbditos de Sua Majestade estavam dispostos a aplicar na protecção dos polinizadores. Em baixo apresento o sumário:

Existe a preocupação de que os insetos polinizadores, como as abelhas, estejam atualmente diminuindo em grande número e que estão sob séria ameaça com as mudanças ambientais, como a perda de habitat e alterações climáticas; o uso de pesticidas na agricultura intensiva e doenças emergentes. Este artigo tem como objetivo avaliar quanto apoio público haveria na prevenção de declínios maiores e manter o atual número de colónias de abelhas no Reino Unido. O método de avaliação contingente (MAC) foi utilizado para obter a disposição de pagar (DDP) uma política eventual de proteção aos polinizadores. Os entrevistados foram questionados se eles teriam disposição de pagar e apoiar tal política e quanto eles se dispunham a pagar? Os resultados mostram que a média de DDP para apoiar a política de proteção de abelhas foi de £ 1,37 / semana / domicílio. Com base em 24,9 milhões de lares no Reino Unido, isso equivale a £ 1,77 bilhões por ano. Esse valor total pode mostrar a importância de manter o serviço global de polinização para os formuladores de políticas. Nós comparamos este total com estimativas obtidas usando uma avaliação simples de mercado da polinização para o Reino Unido.

fonte: https://www.researchgate.net/publication/228737531_QUANTIFYING_THE_VALUE_OF_ECOSYSTEM_SERVICES_A_CASE_STUDY_OF_HONEYBEE_POLLINATION_IN_THE_UK

Concluo reafirmando que certas áreas devem ser apoiadas, indpendentemente da opinião pública, da pressão mediática, da maior ou menor vitalidade do sector, da maior ou menor organização do mesmo, porque o conhecimento científico assim o obriga. A somar a isto, e neste caso em concreto, os dados obtidos dão sustento à ideia que os cidadãos do Reino Unido não vêm o apoio à actividade apícola como mal-aplicado, muito pelo contrário. Em resumo e para levar para casa, é uma medida não só necessária mas também popular.

a importância das abelhas: alguns números e reflexões

“84% das espécies vegetais e 75% da produção alimentar na Europa dependem da polinização das abelhas. O relatório adotado pela Comissão da Agricultura estima que elas produzem uma mais valia económica de 14 mil e 200 milhões de euros por ano.

Considerando que a Europa alberga aproximadamente 10% da diversidade mundial de abelhas; que, segundo o Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agropecuária, a mortalidade das abelhas custaria 150 biliões de euros, o equivalente a 10% do valor de mercado dos alimentos, demonstram a necessidade de proteger estes insetos polinizadores.

Considerando que, em 2014, a Comissão atribuiu aos programas apícolas nacionais, em benefício exclusivo da apicultura, 32 milhões de euros por ano, um número que, em 2016, aumentou para 36 milhões de euros, mas ainda está longe de ser suficiente (representa apenas 0,0003% do orçamento da PAC).”

fonte: http://www.europarl.europa.eu/doceo/document/TA-8-2018-0057_ES.html?redirect

A apicultura recebe anualmente 0,0003% do orçamento da PAC (36 milhões),… e as abelhas produzem uma mais valia de 14 mil e 200 milhões de euros por ano na produção europeia de alimentos.

Reflexão: sabendo tudo isto… o bom decisor político deverá querer proteger este activo (as abelhas e o sector apícola), independentemente das conjunturas do momento, independentemente de o número do efectivo estar a aumentar ou a diminuir, independentemente do mercado dos produtos apícolas estar em alta ou em baixa, independentemente do sector estar bem ou mal organizado … as abelhas e outros polinizadores são um bem em si mesmas independentemente das conjunturas. Um bom decisor político não esperará que um sector com esta importância entre em crise para lhe acorrer. Este sector deverá estar sempre protegido. Um bom decisor político deverá conhecer a informação técnico-científica, consensual, isenta e objectiva para decidir a distribuição dos dinheiros públicos, mesmo que a rua esteja silenciosa. Há coisas que o bom decisor político deve fazer mesmo sem barulho nas ruas, mesmo sem alarido mediático. Um bom decisor político deverá decidir num horizonte de médio e longo prazo tendo em vista a sustentabilidade e preservação dos factores basilares do ecossistema, dos quais as abelhas e outros polinizadores fazem parte. Deve ter a coragem de fazer opções que têm um âmbito e uma projecção muito para além dos ciclos eleitorais.

Se o sector apícola português está a passar por uma crise o mau decisor político virá provavelmente dizer que os dados de que dispunha não lhe permitia antecipar a crise. Dirá que o números de existências estavam a subir, que o sector aparentava estar saudável e a crescer. Dirá que os apoios directos por colmeia, os apoios às perdas invernais e o acesso a gasóleo verde por parte dos agentes profissionais do sector não se justificavam.

O que ouvi no último fórum nacional de apicultura, em Castelo Branco, foi um representante do GPP focado e satisfeito com o aumento do efectivo apícola nos últimos anos. Ouvi o mesmo representante utilizar estas estatísticas, tão satisfacientes para ele e outros, mas provavelmente erradas, para justificar a ausência de apoios directos aos apicultores.

Não ouvi os representantes da FNAP e da CAP presentes na mesa sublinhar que entre os 36 milhões que a UE atribui ao sector e os 14 mil e 200 milhões de mais valias que o sector apícola aporta aos restantes sectores económicos estão muitos zeros de diferença. Não ouvi aos representantes da FNAP e da CAP salientar que para além de justiça elementar se trata de uma medida de inteligência económica apoiar mais seriamente este sector.

primeiras alças meleiras: com cera puxada ou cera laminada?

Uma das muitas dúvidas dos apicultores menos experientes é se a primeira meia-alça/alça meleira, a colocar imediatamente sobre o ninho, deve ser com cera puxada ou com cera laminada. Não havendo uma resposta universal, porque as condições locais variam muito, vou descrever o que faço por norma e porque o faço na zona onde tenho os meus apiários.

Fig. 1: Alça meleira com quadros com cera puxada

Durante o fluxo principal da primavera (na minha zona estou a pensar na floração da urgueira ou do rosmaninho até finais de abril/meados de maio), o néctar chega rápido e em quantidade, mais rápido do que as abelhas conseguem puxar a cera. Não tendo meias-alças ou alças com cera puxada sobre os ninhos, isso faz com que elas comecem a armazenar o néctar (ou xarope estimulante, se for em demasia na época pré-fluxo) no ninho/câmara de criação. O ninho bloqueado é uma dos principais factores que desencadeia o impulso de enxameação prematuramente no início da época, como sabemos. Sabemos ainda que o enxame sai com um bom número de abelhas em idade de produzirem cera. A colónia enxameada vai estar cerca de 3 semanas sem uma rainha em postura. Uma vez que esta inicie a postura, levará mais 3 semanas até a cria começar a emergir, outra semana a 10 dias antes que as abelhas jovens estejam na idade para se tornarem produtoras de cera. Somando tudo, a colónia não puxará muita cera nas próximas 7 semanas após a enxameação. Por um lado não precisam, têm muitos alvéolos à disposição, onde a cria está a emergir ou emergiu, juntando ao facto que não têm uma população preparada para fazer cera. Cerca de 7 semanas após a enxameação, a população é “corrigida” e agora a colónia mudou totalmente os modos, mudaram do modo “queremos reproduzir-nos” para o modo “queremos armazenar para o inverno”. Os fluxos posteriores são mais lentos (meados de maio até inicio/meados de julho) que os fluxos iniciais de primavera, as abelhas podem puxar cera tão rápido quanto a entrada de néctar, e fazem exatamente isso se as temperaturas não forem excessivas e houver alguma humidade na atmosfera.

As colónias que recebem uma meia-alça/alça puxada no início da primavera têm espaço para armazenar esse fluxo forte e rápido, de modo que não bloqueiam o ninho logo no início, em vez disso armazenam o néctar nos quadros puxados colocados logo acima do ninho. As colónias que não possuem este “armazém acabado” de cera puxada, vão puxando as lâminas de cera, mas simultaneamente armazenam boa parte do néctar no ninho porque não encontam outro lugar para colocá-lo.

controlo da enxameação: uma abordagem

O controlo da enxameação, por definição, são todas as medidas empreendidas pelo apicultor para evitar a mesma a partir do momento em que encontra mestreiros de enxameação nas suas colónias. Mestreiros são todas as células reais onde já se encontra em desenvolvimento uma larva ou pupa. A prevenção da enxameação, por definição, são todas as medidas empreendidas pelo apicultor para evitar o surgimento dos ditos mestreiros, isto é, evitar que a colónia entre em modo de enxameação.

Ainda que o comportamento de enxameação tenha uma componente hereditária, há anos em que ele é mais elevado que noutros. Parece, portanto que o factor hereditário/genético não explica tudo e que factores ambientais, ou de contexto, devem ser considerados. Mais, o melhoramento perseguido pela selecção de linhas menos enxameadoras tem sido lento e com resultados menos consistentes. O comportamento de enxameação parece ser um traço com baixa heritabilidade. Para alguns especialistas anda na ordem dos 0,20-0,30, numa escala entre 0 e 1.

Uma das abordagens que utilizo com regularidade passa por assinalar, sempre que o observo, sinais da possível preparação da colónia para enxamear: backfilling, taças/cálices reais em grande número, cálices reais com ovos e presença de mestreiros. Este trabalho inspectivo decorre normalmente e integrado no trabalho mais abrangente de “abertura” dos ninhos, equalização, palmerização, avaliação da qualidade da postura da rainha, selecção de colónias para fornecer a clientes, avaliação da eficácia da luta contra a varroose, avaliação do estado de saúde da criação, e outros que realizo no período pré-enxameatório.

Encontrada uma colónia com sinais inequívocos de pretensão de enxamear, entre outras abordagens, a que utilizo mais frequentemente é a divisão da mesma.

No local, sempre que possível, fica uma divisão orfanada.

A rainha, depois de encontrada (tarefa que não deve ultrapassar os 4 a 6 min.) é colocada numa outra divisão com menos abelhas e levada para outro apiário.

O número de divisões/desdobramentos depende da força/população do enxame inicial e da população que desejamos fornecer a cada um dos desdobramentos.

as abelhas melíferas consideram o estado nutricional larval em vez da relação genética ao selecionar as larvas para a criação de rainhas de emergência

Muito interessante e provocador (no sentido de provocar questões e reflexões acerca de algumas ideias correntes) este estudo de 2018 e que aborda um tema por mim já tratado aqui, ainda que numa outra vertente, em fevereiro de 2016, já lá vão mais de três anos. Tempus fugit!

“Como o desenvolvimento de castas femininas [rainhas vs. obreiras] nas abelhas depende da dieta larval (ou seja, nutrição), levantamos a hipótese de que o estado nutricional das larvas é meticulosamente avaliado e usado pelas obreiras na seleção de larvas para a criação de rainhas. Para testar essa hipótese, realizamos uma série de experiências manipulando o estado nutricional de larvas de um dia, privando-as de alimento por um período de quatro horas e permitindo que as obreiras escolhessem entre as larvas com privação nutricional e larvas não privadas para criar as rainhas.[…] Nossos resultados demonstram que as abelhas percebem o estado nutricional das larvas e utilizam essas informações na seleção de larvas para criação de rainhas no processo natural de substituição da rainha.[…]

“Quando às colónias experimentais foi permitido selecionar larvas privadas ou não privadas para criação de rainhas sob o método natural de emergência, um número significativamente maior de rainhas foi criado a partir do grupo de tratamento não-privado do que do grupo de tratamento privado (χ2 = 8,8, df = 1, p <0,01, Fig. 3). Não houve diferença significativa entre o número de rainhas criadas para a pupação de larvas privadas e não privadas, quando as larvas foram enxertadas em cúpulas de plástico para criação de rainhas (método de enxertia/translarve/Doolittle ) (χ2 = 0,045, df = 1, p = 0,83).

A figura representa os efeitos do método de criação de rainhas na aceitação de larvas jovens privadas (cinza escuro) e não privadas (cinza claro) para a criação de rainhas. Um número significativamente maior de larvas foi selecionado para criação de rainhas (para pupação) do grupo não-privado em comparação com o grupo privado (p <0,01) quando as obreiras selecionaram larvas no método de seleção natural. Nenhuma diferença significativa entre os grupos foi observada no método de seleção artificial.

“Além dos efeitos transitórios da atenção das amas, períodos curtos de privação nutricional podem ter um impacto profundo na trajetória da vida de uma larva. Como previsto, os métodos naturais de emergência de rainhas e enxertos larvais produziram resultados significativamente diferentes. O método natural de criação de rainhas (emergência na criação de rainhas) mostrou um forte viés favorável a larvas não privadas para seleção de cria em rainha, enquanto não houve diferença significativa no número de rainhas criadas a partir de larvas privadas e não privadas no método de enxertia artificial. Como vários estudos anteriores, nossos resultados apoiam a noção de que larvas enxertadas artificialmente em cúpulas de rainhas não parecem ser alvo de um teste para seleção, mas sim um teste para a manutenção de rainhas de larvas pré-selecionadas. Os fatores que as abelhas usam para selecionar larvas para criação de rainhas e aquelas usadas para manter as larvas de rainha podem ser muito diferentes. […] No nosso estudo, o estado nutricional larval foi um fator significativo na seleção de larvas para a criação de rainhas de emergência em condições naturais, mas não para larvas enxertadas artificialmente, que foram colocadas dentro de cúpulas artificiais que lembram as células de rainhas naturais.”

fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-018-25976-7