primeiras alças meleiras: com cera puxada ou cera laminada?

Uma das muitas dúvidas dos apicultores menos experientes é se a primeira meia-alça/alça meleira, a colocar imediatamente sobre o ninho, deve ser com cera puxada ou com cera laminada. Não havendo uma resposta universal, porque as condições locais variam muito, vou descrever o que faço por norma e porque o faço na zona onde tenho os meus apiários.

Fig. 1: Alça meleira com quadros com cera puxada

Durante o fluxo principal da primavera (na minha zona estou a pensar na floração da urgueira ou do rosmaninho até finais de abril/meados de maio), o néctar chega rápido e em quantidade, mais rápido do que as abelhas conseguem puxar a cera. Não tendo meias-alças ou alças com cera puxada sobre os ninhos, isso faz com que elas comecem a armazenar o néctar (ou xarope estimulante, se for em demasia na época pré-fluxo) no ninho/câmara de criação. O ninho bloqueado é uma dos principais factores que desencadeia o impulso de enxameação prematuramente no início da época, como sabemos. Sabemos ainda que o enxame sai com um bom número de abelhas em idade de produzirem cera. A colónia enxameada vai estar cerca de 3 semanas sem uma rainha em postura. Uma vez que esta inicie a postura, levará mais 3 semanas até a cria começar a emergir, outra semana a 10 dias antes que as abelhas jovens estejam na idade para se tornarem produtoras de cera. Somando tudo, a colónia não puxará muita cera nas próximas 7 semanas após a enxameação. Por um lado não precisam, têm muitos alvéolos à disposição, onde a cria está a emergir ou emergiu, juntando ao facto que não têm uma população preparada para fazer cera. Cerca de 7 semanas após a enxameação, a população é “corrigida” e agora a colónia mudou totalmente os modos, mudaram do modo “queremos reproduzir-nos” para o modo “queremos armazenar para o inverno”. Os fluxos posteriores são mais lentos (meados de maio até inicio/meados de julho) que os fluxos iniciais de primavera, as abelhas podem puxar cera tão rápido quanto a entrada de néctar, e fazem exatamente isso se as temperaturas não forem excessivas e houver alguma humidade na atmosfera.

As colónias que recebem uma meia-alça/alça puxada no início da primavera têm espaço para armazenar esse fluxo forte e rápido, de modo que não bloqueiam o ninho logo no início, em vez disso armazenam o néctar nos quadros puxados colocados logo acima do ninho. As colónias que não possuem este “armazém acabado” de cera puxada, vão puxando as lâminas de cera, mas simultaneamente armazenam boa parte do néctar no ninho porque não encontam outro lugar para colocá-lo.

controlo da enxameação: uma abordagem

O controlo da enxameação, por definição, são todas as medidas empreendidas pelo apicultor para evitar a mesma a partir do momento em que encontra mestreiros de enxameação nas suas colónias. Mestreiros são todas as células reais onde já se encontra em desenvolvimento uma larva ou pupa. A prevenção da enxameação, por definição, são todas as medidas empreendidas pelo apicultor para evitar o surgimento dos ditos mestreiros, isto é, evitar que a colónia entre em modo de enxameação.

Ainda que o comportamento de enxameação tenha uma componente hereditária, há anos em que ele é mais elevado que noutros. Parece, portanto que o factor hereditário/genético não explica tudo e que factores ambientais, ou de contexto, devem ser considerados. Mais, o melhoramento perseguido pela selecção de linhas menos enxameadoras tem sido lento e com resultados menos consistentes. O comportamento de enxameação parece ser um traço com baixa heritabilidade. Para alguns especialistas anda na ordem dos 0,20-0,30, numa escala entre 0 e 1.

Uma das abordagens que utilizo com regularidade passa por assinalar, sempre que o observo, sinais da possível preparação da colónia para enxamear: backfilling, taças/cálices reais em grande número, cálices reais com ovos e presença de mestreiros. Este trabalho inspectivo decorre normalmente e integrado no trabalho mais abrangente de “abertura” dos ninhos, equalização, palmerização, avaliação da qualidade da postura da rainha, selecção de colónias para fornecer a clientes, avaliação da eficácia da luta contra a varroose, avaliação do estado de saúde da criação, e outros que realizo no período pré-enxameatório.

Encontrada uma colónia com sinais inequívocos de pretensão de enxamear, entre outras abordagens, a que utilizo mais frequentemente é a divisão da mesma.

No local, sempre que possível, fica uma divisão orfanada.

A rainha, depois de encontrada (tarefa que não deve ultrapassar os 4 a 6 min.) é colocada numa outra divisão com menos abelhas e levada para outro apiário.

O número de divisões/desdobramentos depende da força/população do enxame inicial e da população que desejamos fornecer a cada um dos desdobramentos.

as abelhas melíferas consideram o estado nutricional larval em vez da relação genética ao selecionar as larvas para a criação de rainhas de emergência

Muito interessante e provocador (no sentido de provocar questões e reflexões acerca de algumas ideias correntes) este estudo de 2018 e que aborda um tema por mim já tratado aqui, ainda que numa outra vertente, em fevereiro de 2016, já lá vão mais de três anos. Tempus fugit!

“Como o desenvolvimento de castas femininas [rainhas vs. obreiras] nas abelhas depende da dieta larval (ou seja, nutrição), levantamos a hipótese de que o estado nutricional das larvas é meticulosamente avaliado e usado pelas obreiras na seleção de larvas para a criação de rainhas. Para testar essa hipótese, realizamos uma série de experiências manipulando o estado nutricional de larvas de um dia, privando-as de alimento por um período de quatro horas e permitindo que as obreiras escolhessem entre as larvas com privação nutricional e larvas não privadas para criar as rainhas.[…] Nossos resultados demonstram que as abelhas percebem o estado nutricional das larvas e utilizam essas informações na seleção de larvas para criação de rainhas no processo natural de substituição da rainha.[…]

“Quando às colónias experimentais foi permitido selecionar larvas privadas ou não privadas para criação de rainhas sob o método natural de emergência, um número significativamente maior de rainhas foi criado a partir do grupo de tratamento não-privado do que do grupo de tratamento privado (χ2 = 8,8, df = 1, p <0,01, Fig. 3). Não houve diferença significativa entre o número de rainhas criadas para a pupação de larvas privadas e não privadas, quando as larvas foram enxertadas em cúpulas de plástico para criação de rainhas (método de enxertia/translarve/Doolittle ) (χ2 = 0,045, df = 1, p = 0,83).

A figura representa os efeitos do método de criação de rainhas na aceitação de larvas jovens privadas (cinza escuro) e não privadas (cinza claro) para a criação de rainhas. Um número significativamente maior de larvas foi selecionado para criação de rainhas (para pupação) do grupo não-privado em comparação com o grupo privado (p <0,01) quando as obreiras selecionaram larvas no método de seleção natural. Nenhuma diferença significativa entre os grupos foi observada no método de seleção artificial.

“Além dos efeitos transitórios da atenção das amas, períodos curtos de privação nutricional podem ter um impacto profundo na trajetória da vida de uma larva. Como previsto, os métodos naturais de emergência de rainhas e enxertos larvais produziram resultados significativamente diferentes. O método natural de criação de rainhas (emergência na criação de rainhas) mostrou um forte viés favorável a larvas não privadas para seleção de cria em rainha, enquanto não houve diferença significativa no número de rainhas criadas a partir de larvas privadas e não privadas no método de enxertia artificial. Como vários estudos anteriores, nossos resultados apoiam a noção de que larvas enxertadas artificialmente em cúpulas de rainhas não parecem ser alvo de um teste para seleção, mas sim um teste para a manutenção de rainhas de larvas pré-selecionadas. Os fatores que as abelhas usam para selecionar larvas para criação de rainhas e aquelas usadas para manter as larvas de rainha podem ser muito diferentes. […] No nosso estudo, o estado nutricional larval foi um fator significativo na seleção de larvas para a criação de rainhas de emergência em condições naturais, mas não para larvas enxertadas artificialmente, que foram colocadas dentro de cúpulas artificiais que lembram as células de rainhas naturais.”

fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-018-25976-7

a utilização dos núcleos para reforço das colónias dedicadas à produção de mel e/ou abelhas

Uma das leis mais sólidas em apicultura é a de que as colmeias mais populosas tendem, em condições normais, a serem as mais produtivas (ver lei de Farrar). Por outro lado há uma velha máxima em apicultura que diz que para produzir abelhas são precisas abelhas, isto é, colónias fortes.

Fig.1 : Exemplo de configuração de colmeia dedicada à produção de abelhas

Este objectivo de ter colónias muito fortes, colónias com 45 mil indivíduos ou mesmo algo mais, no início do fluxo, pode ser atingido se dedicarmos parte dos nossos enxames à doação de quadros com criação operculada às colónias que saíram fortes do inverno, colónias estas que ficam dedicadas à produção de mel e ou abelhas.

Os meios e os procedimentos para obtermos colónias tão populosas são variados. Este ano vou introduzir de forma mais sistemática uma forma de o fazer no meu cardápio de procedimentos e que até aqui só era utilizada pontualmente. Vou dedicar um conjunto de núcleos por apiário à tarefa de regularmente fornecerem quadros com abelhas prestes a emergir às colmeias de produção.

Estes núcleos não têm ainda a população para fazerem um excedente de mel para o apicultor no fluxo que na minha zona está à porta, mas estão à altura de darem uma preciosa ajuda às colmeias fortes para estas atingirem nas próximas duas semanas uma população de abelhas que só atingiriam em meados de maio, em condições normais. Serão núcleos “palmerizados” (neologismo originário do inglês palmerized) de forma regular e sistemática como nunca o tinha feito até aqui.

os primeiros desdobramentos de 2019

Tendo estado no passado dia 18 no apiário onde surge a primeira floração significativa da época, como aqui relatei, voltei lá hoje para iniciar os primeiros desdobramentos deste ano.

Descrevo de seguida as etapas realizadas para fazer o desdobramento de 7 colmeias. Entrei no apiário eram 11h13m. A minha intenção era desdobrar as 6 colmeias onde tinha colocado sobreninho no passado dia 18 e uma outra, com meia-alça em cima, e onde tinha visto cálices reais com ovos.

Desta feita a minha opção passou por encontrar as rainhas não marcadas nestas 7 colmeias e transferi-las para núcleos juntamente com dois ou três quadros com criação e um a dois quadros com reservas e respectivas abelhas e mais umas quantas sacudidas de outros quadros. E se assim se pensou assim se concretizou.

Encontradas as 7 rainhas, transferida cada uma para seu núcleo, com a preocupação de irem todos eles bem compostos de abelhas e reservas, a concretização do plano avançou a bom ritmo.

Em simultâneo, com a formação de cada um destes núcleos, procedeu-se à preparação nas 7 colmeias orfanadas das melhores condições para a futura construção de realeiras. O procedimento escolhido foi o OTS (on the spot). Os quadros onde realizei o OTS ficaram identificados para serem acompanhados e inspeccionados dentro de dias.

Estas colónias, bem povoadas, com uma população etariamente equilibrada, com 5 ou 6 quadros repletos de cria para nascer nos próximos 20 dias, ficaram no local original e foram assinaladas para uma fácil identificação, em visitas futuras.

Carregados os 7 núcleos na 4×4 e restante material saí do apiário eram 12h33m. Foi rumar à terrinha, comer uma bucha em 20 min., para as abelhitas não ficarem muito tempo fechadas, e levá-los para um outro apiário a cerca de 20 km de distância e a 600 m de altitude.

Neste novo apiário, em zona de rosmaninho, estes núcleos e mais alguns outros irão ser “palmerizados” para darem suporte às colónias de produção.

a primeira grande florada: urgueira roxa (erica australis)

Nos diversos apiários que possuo na Beira Alta este está situada na zona com a primeira grande florada da época, em peno coração do Parque Natural de Serra da Estrela, a 850 m de altitude.

Refiro-me à florada da popularmente conhecida por urgueira roxa (erica australis), que está a iniciar a floração por estes dias.


Um número considerável de colónias deste apiário (cerca de 70%) está em sintonia com o ritmo da natureza em redor, apresentando 5 a 6 quadros com cria e 7 a 9 quadros já bem cobertos com abelhas.

Dos restantes 30%, um terço das colónia está demasiado forte para o momento. São colmeias com os 10 quadros bem preenchidos de abelhas, e com 8 quadros com criação. Nestas estou a colocar sobreninhos com 5 quadros de cera puxada ao centro e 5 quadros com cera laminada distribuídos pelas duas zonas laterais do sobreninho.

Em duas destas colónias mais fortes/precoces fui encontrar alguns cálices reais com ovos. Nestas transferi 2 quadros com criação operculada para o sobreninho e mais dois quadros com algum mel e pólen, retirados de outras colónias, e acabei a colocar duas ceras laminadas em cada uma das extremidades da câmara de criação.

Estas colónias ficaram assinaladas para que na próxima inspecção, dentro de sete a oito dias, sejam sangradas de quadros com criação e/ou abelhas para iniciar os primeiros desdobramentos da época. Até porque daqui em diante tudo deverá evoluir a grande velocidade, e muita da urgueira roxa e branca que ainda está por florir, irá fomentar um desenvolvimento que levará à duplicação da população de abelhas nestas colónias nos próximos 15 dias.

o risco de um inseticida neonicotinóide no voo de retorno da abelha à colmeia depende das condições climáticas e da infestação pelo Varroa

Nota prévia: Porque estas coisas são sempre um bocado mais complexas, intrincadas, interligadas, multideterminadas do que as revistas de uma sala de espera de consultório de médico ou cabeleireira as pintam, os dados desta publicação científica, já de 2019, ajudam-nos a fazer uma apreciação mais fina.

  • “Destaques
  • A temperatura e saúde da colónia modulam o efeito de insecticidas nas falhas de regresso à colmeia [homing] nas abelhas .
  • Ácaros de varroa aumentam o número de falhas de regresso à colmeia [homing] induzido pelo inseticida thiamethoxam.
  • As baixas temperaturas agravam o número de falhas de regresso à colmeia [homing] induzido pelo inseticida.
  • A avaliação de risco de pesticidas deve incluir temperatura e ácaros Varroa como covariáveis.

Fig. 1: Sumário gráfico do artigo

“O paradigma para todos os bioensaios toxicológicos na avaliação de risco de pesticidas reflete o princípio de que as condições experimentais devem ser controladas para evitar quaisquer outros fatores que possam afetar as medições finais. Como as colónias de abelhas podem ser frequentemente expostas a bio-agressores em condições reais, muitas vezes concomitantemente com pesticidas, a coexposição a pesticidas / bio-agressores está se tornando uma preocupação para as autoridades reguladoras. Nós investigámos os efeitos do inseticida neonicotinóide thiamethoxam sobre o desempenho no comportamento de retorno à colmeia [homing] de forrageadoras de colónias diferenciadas pelo estado de saúde (infestação com ácaros Varroa, parasitação por microsporídeos Nosema spp. e Vírus das Asas Deformadas). […] Nossos resultados mostraram que o ácaro Varroa aumenta a falha de homing causada pelo inseticida, enquanto as altas temperaturas reduzem as falhas no homing induzidas pelo inseticida estudado. […] Nossos resultados sugerem que o estado de saúde das colónias de abelhas e o contexto climático deve ser considerados para uma avaliação completa dos riscos.”

fonte: https://www.researchgate.net/publication/331293266_Hazard_of_a_neonicotinoid_insecticide_on_the_homing_flight_of_the_honeybee_depends_on_climatic_conditions_and_Varroa_infestation

Nota final: Um dos principais riscos para as abelhas associado à utilização de alguns insecticidas neonicotinóides, e que tem sido referido por alguma literatura científica, é a indução de desorientação e falha no vôo de regresso das abelhas à colmeia (em inglês homing), que conduz paulatinamente a uma debilitação na população da colónia. Este estudo, recentemente publicado, conclui que a taxa de varoose e a temperatura ambiente são co-variáveis a considerar na avaliação dos efeitos do inseticida thiamethoxam sobre este comportamento das abelhas. Pessoalmente não me surpreende que assim seja, conhecendo o trabalho de Samuel Ramsey sobre o efeito mais deletério que se supunha provocado pela alimentação do varroa no corpo gordo das abelhas adultas. Os insecticidas neonicotinoides não devem deixar de ser vistos como parte da ameaça, mas este estudo ajuda-nos a colocar em perspectiva o grau de ameaça que eles podem representar, a compreender melhor a inconsistência nos resultados dos estudos até agora realizados a este propósito, e a enfatizar uma vez mais a necessidade imperiosa de ter sempre taxas de infestação pelo varroa muito baixas nas nossas colmeias.

vespa velutina : uma armadilha muito selectiva

Apresento em baixo uma outra solução [uma grande esperança entre alguns apicultores franceses] para capturar as rainhas das vespas velutinas após a saída do período de hibernação e que, segundo os seus proponentes (Denis Jaffré e outros), apresenta uma elevada selectividade, a caixa autónoma de captura preventiva e selectiva.

Fig. 1. Caixa autónoma de captura preventiva e selectiva

Os módulos de acesso selectivos ou JABEPRODE (acrónimo francês pelo qual são conhecidos) vão ser fixados na Caixa autónoma de captura preventiva e selectiva dos vespões asiáticos.

Fig. 2: Vista aproximada do JABEPRODE

A extremidade mais fina e seletiva da pirâmide de malha, no interior da caixa permite a fácil passagem fácil das rainhas velutinas e deve estar perfeitamente calibrados para a envergadura destas e, simultaneamente, impedir a passagem de rainhas crabro (vespão europeu). Para conseguir este objectivo a secção na passagem deve ser superior a 6 mm e inferior a 9 mm.

O JABEPRODE  tem a forma de um funil de forma piramidal e é fixo a uma base de cerca de 1 cm por meio de cola (cola de resina de poliuretano ou de neopreno de suporte de plástico) na caixa. A malha deste funil (com mais de 3mm e menos de 5mm) permite a passagem/fuga para o exterior de abelhas e outros insetos de menor tamanho que os vespões asiáticos.


Fig. 3. : Vista superior de uma caixa autónoma de captura preventiva e selectiva onde podemos ver dois JABEPRODE instalados

A profundidade da pirâmide e sua estrutura totalmente ventilada é longa o suficiente para impedir que o vespão asiático encontre a saída (princípio básico da armadilha). As experiências realizadas em 2017 constataram que nenhuma rainha que entrou entrou conseguiu sair.

A caixa autónoma de captura preventiva e selectiva independentemente da sua forma, natureza ou capacidade (caixa de vinho de madeira, caixa de plástico, colmeia …) é sempre composto de quatro elementos: o recipiente para o isco, o JABEPRODE com o maior comprimento possível para otimizar a circulação dos odores do isco, a gaiola de captura e o fundo que é coberto com uma malha fina (1 a 2 mm). A ampla abertura garante a atração, recepção e captura de todas as rainhas velutinas no ambiente envolvente a distâncias muito grandes (várias centenas de metros). A eficácia destas armadilhas será avaliadas em 2019.


Fig. 4. : Colmeia, sem enxame, que funciona como caixa autónoma de captura preventiva e selectiva.

Tipos de iscos: Aqueles que, até agora, mostraram a melhor eficiência e eficácia consistem em ceras de opérculos com mel e/ou quadros quebrados de mel que devem imperativamente ser protegidas por uma rede de arame fino (tipo rede de arame de aço inoxidável) ou redes de própolis que impeçam acesso das abelhas ao isco.

Figs. 5 e 6: Imagem da rede que impede o acesso das abelhas e outros insectos à zona/caixa onde é colocado o isco com ceras dos opérculos e/ou quadros com algum mel.

Três razões para a colocação da rede de malha fina:
1- A necessidade de uma saída rápida de insetos não-alvo (porque eles não podem chegar ao isco) é óbvia e para evitar que eles se tornem presas das velutinas já presentes na caixa.


2- Evitar o risco potencial de transmissão de patogenos pela contaminação de abelhas por via de esporos de loque americana que podem estar presentes em ceras (ou suco de cera) e/ou quadros com algum mel. No verão, é possível usar iscos de carne ou restos de peixe cru (que devem ser substituído a cada dois / três dias), ou o Nuöc Màn (suco de peixe fermentado) parece também dar bons resultados . Os restos de peixes gordos, crustáceos e moluscos são um isco muito apreciados pelas velutinas. Para aqueles que não têm ceras com mel, a mistura de xarope de frutas vermelhas, sidra artesanal saturada com açúcares à qual podemos adicionar as sobras de geléias ou potes de mel esquecidos no fundo do armário funcionam muito bem. Pedaços de esponja embebidos destes sucos são também bons difusores destas fragrâncias olfativas.

3- A necessidade de não alimentar as vespas cujo metabolismo diminuirá muito rapidamente como resultado. Sua temperatura diminuirá rapidamente e sua morte geralmente ocorre após as 36 h (segunda noite). Por outro lado, mesmo sendo uma praga estes insetos não devem sofrer desnecessariamente.

Fig. 7: Vista superior de uma caixa autónoma de captura preventiva e selectiva onde podemos ver dois JABEPRODE instalados, com o isco de restos de cera com mel devidamente protegidos por uma rede de malha fina.

fonte: https://www.labeilledefrance.com/lutte-preventive-contre-le-frelon-asiatique-jabeprode/

o maneio (in)adequado da abelha negra


Um vasto conjunto de técnicas modernas de apicultura foram desenvolvidas simultaneamente com a expansão das subespécies de abelhas mais populares: A. m. ligustica e A. m. carnica.

Fig. 1 : A. m. ligustica

A padronização do tamanho e estrutura das caixas de colmeias levou a técnicas universais de maneio em operações apícolas profissionais, primeiro no Novo Mundo e depois em muitos países europeus. Cursos, materiais didáticos, manuais e periódicos promoveram as novas técnicas. Toda a filosofia de maneio foi pensada e optimizada para as abelhas A. m. ligustica, A. m. carnica e A. m. caucasica.

Fig. 2: A. m. carnica

Estes são alguns exemplos desta filosofia de maneio: incluiu maneio brusco das colónias, evita o desdobramento/arrefecimento das colónias antes do fluxo do néctar principal, defende um grande espaço para a invernagem de colónias (ninho e sobreninho langstroth), exige baixa tendência de enxameação, recorre à remoção dos mestreiros para controle de enxameação e preconiza o uso intenso de fumo durante o maneio.

Muitos desses métodos são muito severos/inadequados para a abelha A. m. mellifera (abelha negra). Apicultores mantendo A. m. mellifera devem conhecer algumas técnicas mais antigas e desenvolver métodos e equipamentos mais ajustados ao maneio destas colónias [Manner, 1925]. A fisiologia, o comportamento e ciclo de vida anual de A. m. mellifera diferem de outras abelhas e devem ser consideradas nas técnicas de maneio. Surpreendentemente, isso não é comumente conhecido pelos apicultores [Ingvar Arvidsson, comunicação pessoal].

Fig. 3: A. m. mellifera

fonte: https://www.nordgen.org/wp-content/uploads/2017/03/BrownBeeReport2014NordGen.pdf

Nota: reescrever alguns capítulos do manual de maneio da nossa A. m. iberiensis pode e deve ser feito na minha opinião. Temos bons apicultores na península com conhecimentos para isso. Não tenho ideia da sua motivação para os partilharem.

Fig. 4: A. m. iberiensis

importação de linhas exóticas de abelhas: o ponto de vista de Randy Oliver

Fica em baixo bem claro o ponto de vista de Randy Oliver, provavelmente o mais prestigiado apicultor norte-americano da actualidade, no que respeita à introdução de linhas exóticas de abelhas em locais onde milenares forças e pressões selectivas foram moldando uma abelha nativa… como na Península Ibérica e/ou na Península Itálica (ver aqui os que os italianos estão a fazer para preservar a sua abelha nativa).


Fig. 1: Randy Oliver (scientificbeekeeping.com)

“[…] há muito que refiro que os genes de cada população local de abelhas continua na geração seguinte.

Isto significa que a qualquer ser humano, como os apicultores, não devia ser permitido estragar o que milhares de anos de seleção natural definiram. Os apicultores são tolos por pensar que a erva do vizinho é mais verde, e que tem o direito de sobrecarregar populações de abelhas extremamente valiosas e localmente adaptadas com versões McDonalds de abelhas que não conseguem sobreviver sozinhas. Eu apoio totalmente as restrições às importações de linhas exóticas se as raças nativas forem ameaçadas por hibridações descontroladas. Ao contrário de outros animais domesticados, não podemos cercar as abelhas importadas e impedi-las de se cruzarem com as populações nativas. As ações de um importador de abelhas exóticas não podem ser controladas e têm o potencial de estragar aspectos adaptativo que levaram milhares de anos a desenvolver-se.

Nos continentes em que as abelhas melíferas não são nativas, é uma história diferente, já que não existem raças nativas ameaçadas. Assim, nós cruzámos uma enorme variedade de subespécies neste país [EUA] e, em seguida, selecionámos certas estirpes para uma produção profissional/comercial. Mas foi claramente mostrado que estas estirpes são incapazes de persistir sem o apoio humano (dados de Magnus). No nosso continente pode-se argumentar que não é um problema, uma vez que não é uma espécie nativa.

Mas os apicultores que desejem criar abelhas nativas, que podem ser imunes/mais resistentes à toxicidade da flora local, ou a um parasita em particular, ou exibir melhor capacidade de invernar, não podem estar dependentes de um qualquer Tom, Dick ou Harry com vontade de despejar um monte de bonitas abelhas amarelas, incapazes de sobreviver por conta própria e colocá-las logo ali ao lado dos locais de acasalamento das abelhas nativas.

A arrogância humana tende a esquecer a pressão evolutiva e adaptação de longo prazo. Eu penso que falamos de “propriedade ilusória de direitos”, devemos lembrar-nos que a natureza ultrapassa em muito o curto tempo de nossa vida, e que os nossos descendentes podem depois criticar-nos pelos danos que fizemos devido à nossa miopia.”

fonte: Randy Oliver, Grass Valley, CA, [BEE-L em 16-02-2019]