Neste artigo, publicado recentemente em maio de 2017 no prestigiado The New Zealand Beekeeper, o cientista Pablo German descreve o estado-da-arte em torno do funcionamento de vários tratamentos contra a varroa e a probabilidade destes ácaros se tornarem resistentes a cada um deles.
Como tenho tratado com frequência com Apivar as minhas colónias de abelhas, fazendo um ciclo de 3 tratamentos consecutivos ao longo de um ano meio com esta marca, fazendo depois um tratamento com um princípio activo de uma família química diferente, importa-me entender melhor a forma como actua o amitraz e sobretudo qual a probabilidade de surgirem varroas resistentes a este químico, por ex. no âmbito de um programa que como o meu o utiliza três vezes consecutivas antes de fazer a rotação com um tratamento diferente.
Lendo o que escreve Pablo German acerca do Apivar, confirma a minha convicção construída sobre a minha experiência desde 2009: as probabilidades de surgirem varroas resistentes ao amitraz num programa de tratamentos como o meu são muito baixas. Caso venham a surgir a solução é simples: aumentar marginalmente a dose do acaricida e/ou fazer rotações dos ingredientes activos mais frequentemente.
Traduzo estes dois excertos do artigo que me parecem os mais relevantes para a análise desta questão:
- O amitraz parece agir ligando-se ao(s) receptor(es) de octopamina, o que leva a uma resposta de stresse agudo com diferentes efeitos em insetos e ácaros. A maioria dos apicultores já percebeu que o amitraz é mais lento na matança de ácaros que a flumetrina, por exemplo. A razão para isso parece ser que, causando essa resposta stresse, o ácaro não morre imediatamente, mas seu comportamento é completamente alterado, o que leva à sua morte mais tarde. Diz-se que amitraz age por efeitos sub-letais e não por efeitos letais. Os seres humanos, e de fato todos os vertebrados, não possuem receptores de octopamina, razão pela qual o amitraz é relativamente seguro para os seres humanos.
- O percurso lento e baixo da resistência do ácaro varroa ao amitraz – quando comparado à resistência à flumetrina por exemplo – parece indicar que o amitraz atua em mais alvos do que apenas um tipo de receptor de octopamina. De fato, a resistência ao amitraz foi relatada em menos casos do que a relativa aos dois acaricidas anteriores (fluvalinato e flumetrina), e estudos mostraram que o nível de resistência também é menor (a dose de amitraz necessária para matar os ácaros resistentes ao amitraz não é muito maior). De fato, o amitraz ainda é o acaricida mais eficaz usado nos EUA, apesar de resistências terem sido relatadas há duas décadas. Isso parece apontar para o fato de que uma única mutação em um gene não é suficiente para proporcionar resistência.
Esq.: Molécula de amitraz
Na Alsácia francesa continua a ser o acaricida mais eficaz e isto ao longo dos sete anos avaliados (ver mais aqui).