É este o castanheiro que me serve de farol para ter a certeza que os castanheiros da minha terra estão para começar a floração. Ano após ano é dos primeiros a florir. Aprendi com a boa gente da minha terra que o tempo da floração varia um pouco de acordo com as castas dos castanheiros: se a casta é longal mais cedo um pouco, se é martainha mais tarde um pouco.
Vieram pois na altura certa, espero eu, as colónias com as novas rainhas formadas nos apiários a 600 m, para os dois apiários que neste momento estão activos no território dos soutos. E se nas novas colónias langstroth tive oportunidade e os recursos para “palmerizar” com relativa frequência, os recursos para efectuar esse maneio no apiário das lusitanas foram mais escassos. Como consequência, para além de ter transumado colónias que pesavam mais que um burro, estive hoje a desbloquear os ninhos destas lusitanas que apresentavam quadros a mais de mel no ninho e, portanto, quadros a menos com espaço para a oviposição das novas rainhas.
O maneio é simples, que já não tenho idade nem talento para coisas muito complicadas. Crio uma colmeia armazém, colocando nesta altura e desde logo uma excluidora de rainhas sobre o ninho e um sobreninho no topo. Este sobreninho vai doando quadros com cera laminada aos ninhos parcialmente bloqueados das colónias nas proximidades e recebendo quadros bloqueados com mel ou néctar, de preferência quadros claros para serem posteriormente crestados.
Ah, e será a grade excluidora uma merda? como opinou recentemente e publicamente um conhecido apicultor da nossa praça. O que posso dizer é que as minhas abelhas não ligam nenhuma ao que este companheiro diz das excluidoras. Hoje em várias das minhas colónias (friso, das minhas, das de cada um, cada um saberá melhor), com exluidoras colocadas em 17 de maio entre o ninho e sobreninho, constato uma vez mais que o resultado em nada confirma três pré-juízos: não impede/dificulta a armazenagem de mel nas caixas que lhe estão sobrepostas; as excluidoras não aumentaram a taxa de enxameação; não limitaram o potencial de oviposição das minhas rainhas. Se assim não fosse como seria eu capaz de explicar que todas as minhas colónias com ninho e sobreninho, e com grelhas excluidoras colocadas a 17 de maio, tenham neste momento armazenado entre 30 e 50 kgs de mel/néctar?
Nas minhas colónias o grande factor limitante à expressão do potencial de oviposição de rainha é um ninho parcialmente bloqueado… com mel ou pólen, ou os dois em conjunto. Não se verificando este bloqueio, os mais de 3500 alvéolos por face de lâmina de cera (langstroth ou lusitana) são suficientes para as minhas jovens rainhas, expressarem devidamente o seu vigor. A utilização do “ninho infinito”, como já o utilizei inúmeras vezes, mostraram-me vezes e vezes, que as minhas rainhas, assim como as rainhas de criadores profissionais, não precisavam mais que 7 a 8 quadros bastante desbloqueados para completarem um ciclo de 21 dias de postura.
Falta fazer este disclaimer: qualquer semelhança das minhas observações, nas minhas colmeias, com as observações nas colmeias de qualquer companheiro de lide, é mera coincidência. Digo isto porque não me recordo de ouvir algum apicultor no nosso país referir que o ninho das suas langstroth ou lusitana é suficiente para albergar o ritmo/quantidade de oviposição das suas rainhas. Mais uma vez me encontro a ver coisas que mais ninguém vê!!! Como hoje quando parei para almoçar eram 14, 15h, e já tinha 8h de trabalho no pêlo, tudo isto pode muito bem ser fruto de uma alucinação por exaustão! Por isso vou fazendo um registo fotográfico porque, tanto quanto é do meu conhecimento, os “smartphones” não sofrem de alucinações. Ficava mais um pouco, mas tenho de ir a um outro apiário ainda hoje. Bom trabalho para todos… e não bloqueiem com os disparates que vou vendo!
Parabéns pelo artigo Eduardo, está ótimo, sentido, ao correr da pena…. e com um registo fotográfico bem elucidativo do conteúdo.
Os castanheiros floridos na região da serra da estrela estão magníficos, alguns quase parecem cerejeiras vestidas de amarelo clarinho, já dava conta que uns florescem mais cedo que outros mas ainda não tinha associado o facto às variedades “longal” e “martaínha” ou outras, das castanhas. Além das variedades de castanheiros “enxertados” perto da Guarda há também muitos castanheiros bravos, plantados com o objetivo de corte da madeira e que me parecem também serem muito interessantes do ponto de vista melífero.
Num outro ponto do artigo, o conceito de “colmeia-armazém” parece-me ser uma ideia excelente que eu estou a pensar adotar no maneio das minhas colmeias. Se bem percebi, é colocada uma grelha excluidora de rainha entre o ninho e o sobreninho, funcionando este como um “armazém” de quadros de mel. Vai-se desbloqueando o ninho dando condições à prolificidade da rainha e vai-se acumulando os quadros de mel no sobreninho para mais tarde serem crestados ou utilizados em desdobramentos ou em reforço de reservas em vez de se utilizar alimentação artificial.
O colocar da grelha excluidora aqui é primordial para não vermos as rainhas subirem ao primeiro, segundo ou terceiro andar (meias-alças) porque os quadros do ninho estão bloqueados (e quando pensamos que temos uma boa colheita de mel temos é criação e pólen nas alças). Assim com o maneio feito pelo Eduardo isso não acontece e como resultado temos colónias que armazenam 50 a 60 Kilos de mel quando a flora ainda tem muito potencial para dar. É o que dá “bem trabalhar”!
Intuis bem Fernando, este foi ao correr da pena ;). Sim as colmeias armazém nesta altura têm a finalidade que referes. Os quadros mais claros e sem pólen serão crestados, os mais escuros e com mel e pólen serão mantidos em colmeias armazém durante o outono e inverno para reforço de reservas nas colónias que necessitarem. A grelha excluidora utilizo-a quase só nestas colmeias com esta configuração de ninho e sobreninho porque, caso contrário, as rainhas sobem ao sobreninho e frequentemente por lá ficam em postura o resto da primavera/verão. No passado verifiquei repetidas vezes que o “abandono” do ninho pela rainha promove o armazenamento de pão-de-abelha na grande maioria dos quadros do ninho, sem qualquer benefício que eu observe para a colónia, e que me obriga a derreter esses quadros no final do verão para não abolerecerem num ninho abandonado pelas abelhas durante a invernagem. Assim, com a grade excluidora, o ninho não é abandonado, com estas vantagens que mencionamos e mais algumas outras, que espero vir a confirmar com mais algumas observações, antes de me atravessar numa publicação. Sei que estou a caminhar em cima de gelo fino, e quero assegurar-me que algumas impressões que venho colhendo ao longo de dois anos a utilizar as grelhas excluidoras nestas condições, são de alguma robustez e mais que um mero fenómeno passageiro, circunstancial, completamente anedótico. Daqui a duas semanas vou iniciar a cresta e conto contigo um dia ou dois. Depois logo combino contigo. Um abraço amigo!
Boa Tarde sr. Eduardo, desde já queria elogiar a forma como escreve e descreve o que faz na apicultura e também, o estar sempre disponível para passar conhecimentos.
Sou um pequeno apicultor já a cerca de 4 anos com cerca de 25 colmeias, para já é um hobby, mas a intenção é ir crescendo devagar, com os pés bem assentes no chão e talvez um dia chegar a profissional.
As “colmeias armazém” parecem me uma excelente ideia, do que eu percebi vai desbloqueando o ninho colocando os quadros só com mel no sobreninho, colocando a excluidora entre eles.
Agora a pergunta: Também coloca quadros de mel de outras colmeias, nessa colmeia armazém? E para ser uma ” colmeia armazém” essa colmeia tem que ter alguns pré-requisitos?
Obrigado e continuação de uma boa apicultura.
Boa tarde, Carlos!
Vou aproveitar a sua questão para fazer uma publicação dedicada ao meu maneio das colmeias-armazém ao longo da época. Faz bem em querer o chão e não as nuvens para assentar a sua evolução como apicultor. Agradeço e retribuo as suas palavras, que são um incentivo para continuar nesta linha. Um abraço!