abelhas rainhas têm muito mais sexo do que pensávamos

Já há alguns anos atrás, em 2015, li pela primeira vez sobre as “famílias reais raras” presentes nas colónias de abelhas melíferas. Fui resistindo ao impulso de publicar esta informação por várias razões, sendo a principal que eu próprio, à época, não tinha segurança na qualidade desta informação divergente do conhecimento convencionalmente aceite. Contudo, de lá para cá, encontrei mais dois estudos que replicam a descoberta, o que me deixa mais confortável relativamente a este aspecto. Esta informação divergente, em particular no que respeita aos critérios de escolha de ovos/larvas de futuras rainhas numa situação natural assim como o número médio de zângãos com que as rainhas acasalam, merecem o espaço desta publicação.

Zona de congregação de zângãos. Estes eventos
podem envolver vários milhares de zângãos,
todos reunidos em áreas a cerca de 5 a 40 metros
acima do solo.

As abelhas rainhas acasalam com dezenas de machos a mais do que se pensava (o conhecimento convencional refere uma média de 13 zângãos).

Ao colher mais amostras de larvas, os pesquisadores descobriram recentemente que, numa colmeia, as abelhas podem ter até 50 pais diferentes.

Uma vez madura, uma jovem abelha rainha poderá visitar várias “áreas de congregação de zângãos” em dias diferentes, acasalando com cerca de 50 zângãos.

“Pode ser algo como: quando eles acasalam, a rainha armazena apenas uma pequena quantidade do esperma de cada zangão, […] gerando um número baixo de descendentes.” Segundo Withrow, um dos autores do estudo, esta baixa frequência de descendentes desta genética, explica em boa medida a razão porque amostragens clássicas de indivíduos da colónia não os “apanhou na rede”. Os espermatozoides destes zângãos geram ovos e larvas de futuras rainhas mais atraentes para as abelhas. A descoberta destas linhas de famílias reais com genética críptica, até agora oculta, será assunto para uma publicação próxima.

Estes dados, na minha opinião, junto com outros, revelam bem o excessivo optimismo (não vou dizer ignorância) presentes na concepção da pretensa eficácia de saturar as zonas de congregação com os “nossos” zângãos, e da ilusão de melhorar abelhas ou manter traços desejados em condições de acasalamento em campo aberto e em Portugal continental.

fonte: https://www.abc.net.au/news/science/2018-07-12/queen-bees-mate-with-many-more-drones-than-previously-thought/9981786

Nota: as minhas rainhas, todas elas fecundadas em condições naturais, são, em regra, suficientemente responsivas ao que eu desejo delas. Quem, por estar insatisfeito com as abelhas que tem, deseja melhorar substancial e rapidamente as suas linhas, e depois mantê-las, deve ter bem consciente que muitos dos atalhos propostos para o alcançar, mais do que realidades no terreno, são muitas vezes ilusórios argumentos de marketing.

bob binnie: a equalização e a regra “não mais de 6” como ferramenta para a prevenção da enxameação

Neste vídeo, o apicultor norte-americano Bob Binnie refere “depois do trabalho de equalização terminado todas as colónias ficam com uma média de 6 quadros com criação” (aos 9’42”). Binnie publicou o vídeo em março de 2020.

Em abril de 2017, na publicação intitulada a regra “não mais de 6, já o humilde escriba deste blog pisava o mesmo terreno.

por que não temos abelhas melhores?

Vamos supor que existe um criador muitíssimo competente e que lhe compramos abelhas rainhas com excelentes características. São pouco defensivas, invernam bem, são abelhas muito produtivas e, a cereja no topo do bolo, são abelhas que resistem ao ácaro Varroa. Para o criador de rainhas a manutenção destas características não é um problema, possui um local de acasalamento bastante isolado e realiza, sempre que necessário, inseminação instrumental. 

Acasalamento em voo, em campo aberto.

Contudo as dificuldades com a preservação destas abelhas são muitas e ocorrem sobretudo depois das rainhas terem saido das mãos do criador. Numa geração ou duas, os descendentes dessas “superabelhas” estão de volta à estaca zero. Os traços criados em rainhas por via de programas de reprodução cuidadosamente controlados desaparecem rapidamente quando as filhas dessas rainhas acasalam em campo aberto, nos nossos apiários. Por que razão acontece isto?

No mundo 1 quase real, adquirimos uma rainha cuidadosamente criada e inseminada para um comportamento supressor da fertilidade/fecundidade do ácaro varroa, a sua prole provavelmente mostrará a característica desejada, e os ácaros varroa serão mantidos em números bastante baixos. Mas num determinado momento, a colónia perde esta rainha seleccionada (por substituição ou por enxameação). Deixando a natureza seguir o seu curso sem intervir, uma de suas filhas tornar-se-á a nova rainha. Ela carrega o traço desejado de sua mãe e pai, mas quando ela acasala, ela acasala com o conjunto de zângãos locais. Talvez alguns desses zângãos tenham o gene resistente ao ácaro, especialmente se alguns outros apicultores locais compraram rainhas ao mesmo criador. Mas a maioria dos zângãos não tem essa característica. Portanto, se a nova geração de abelhas mostrará resistência ou não, é um caso de probabilidade. Quase todos os genes resistentes ao varroa são recessivos, se a nova rainha acasalar 16 vezes, e apenas um ou dois desses acasalamentos ocorrerem com um zangão com genes resistentes ao varroa, teremos, no máximo, apenas duas subfamílias na colónia exibindo o traço comportamental desejado. Supondo que todas as subfamílias estejam igualmente representadas, seria cerca de 1/8 das abelhas ou 12,5% – percentagem muito baixa para manter o varroa debaixo de controlo.

A chave para manter um traço
recessivo num ambiente local é
a saturação das zonas de
congregação do território com
zângãos com os genes desejados.

No mundo 2 menos real, imaginemos que com muito esforço e persistência conseguimos saturar a zona com os nossos zângãos resistentes. Mas um novo apicultor instala nas proximidades 250 colónias sem o traço resistente. Temos 250 rainhas, cada uma pondo 1.000 ovos por dia nos meses de abril, maio e junho. Se 15% dessa postura são zângãos, então temos (250 x 1000 x 90) x 15%, contas feitas, 3 milhões e 375 mil zângãos na nossa área durante aquele período de três meses. E estes são apenas os zângãos dos novos enxames ali instalados, não são considerados outras colónias domésticas ou ferais ali instaladas. E cada um destes zângãos não resistentes está ansioso para acasalar com as rainhas da nossa linha resistente. Estes são números aproximados, obviamente.

A mensagem é clara. Se levarmos uma rainha resistente ao varroa para uma área onde há muitas abelhas, mas pouca resistência ao varroa, a característica rapidamente desaparecerá. Em resumo, um apicultor persistente com muitas colónias pode alterar significativamente o pool genético a seu favor. Mas se uma área é constantemente bombardeada com abelhas vindas de outros lugares, é extremamente difícil desenvolver e manter uma linha resistente. Isso exigirá tempo, esforço e planeamento. Não digo que não devemos tentar criar abelhas melhores. Mas precisamos entender que é uma uma longa leira para cavar à enxada, que pode ser difícil imitar o sucesso de outros e que as características resistentes são difíceis de manter. Por causa da biologia única das abelhas, pode demorar muito para vermos uma mudança substancial.

Nota 1: decidi elaborar a partir de um traço, comportamento resistente ao varroa, porque, tanto quanto sei, não há criadores de rainhas em Portugal a referirem explicitamente que estão a seleccionar para este traço. O que menos desejo é ferir susceptibilidades de natureza comercial. Ainda assim espero que a mensagem para os apicultores mais inexperientes e menos conhecedores tenha sido clara o suficiente para que compreendam melhor dois aspectos:

  • comprando rainhas seleccionadas, a baixa probabilidade de manterem esses traços desejados nas suas abelhas ao longo das sucessivas gerações através de fecundações naturais;
  • as exigentes condições que os criadores de rainhas têm de garantir para poderem reclamar que estão a selecionar para este ou aquele traço e fornecer o mercado com rainhas rigorosamente seleccionadas.

Nota 2: Publicação inspirada em leituras antigas do blog HoneyBeeSuite.

as abelhas estão lutando contra sua própria pandemia

Os pontos comuns são muitos entre as abelhas e nós: somos seres sociais que vivemos em comunidades densas; colonizamos ubiquamente vastos territórios; apesar de uma boa memória imunitária somos sujeitos a patógenos exóticos para os quais não possuímos resistência ou tolerância; vivemos num planeta globalizado que faz circular entre continentes e à velocidade de barco ou de avião essas ameaças. Não é, por estas razões, surpreendente que tanto as abelhas como nós estejamos sujeitos a pandemias e soframos os seus efeitos cada vez mais frequentemente. A propósito deste fado comum traduzo excertos de um artigo que apreciei, escrito por Alison McAfee, entomologista norte-americano, e publicado há poucos meses no blogs.scientificamerican.com..

“Como a pandemia COVID-19 deixa claro, as cidades são indiscutivelmente a maior invenção da humanidade, mas metrópoles densamente povoadas também nos tornam vulneráveis à rápida propagação de doenças. No entanto, os humanos não são a única espécie que enfrenta este problema. As abelhas têm levado uma vida social durante dezenas de milhões de anos, o que as torna algumas das mais velhas veteranas na batalha contra o contágio. E, com o tempo, a seleção natural deu-lhes um conjunto impressionante de estratégias para mitigar a transmissão dentro das colónias. Sofisticadas como são, no entanto, essas estratégias não são suficientes para afastar todas as ameaças. As abelhas estão lutando contra sua própria pandemia global, para a qual estavam totalmente despreparadas. Um ácaro parasita, apropriadamente denominado Varroa destructor, originalmente infestava apenas colónias de abelhas melíferas asiáticas, Apis cerana, mas saltou de espécie para infectar as abelhas melíferas ocidentais, Apis mellifera, a espécie que domina a polinização comercial moderna em todo o mundo.

Varroa destructor: vista ao microscópio electrónico

O ácaro provavelmente saltou das abelhas asiáticas para as ocidentais algures na década de 1950, com os primeiros relatos surgidos em 1957 no Japão, depois em 1963 em Hong Kong. Os humanos facilitaram o salto entre os hospedeiros mantendo A. cerana e A. mellifera em proximidade artificial dentro dos apiários, transportando depois colónias recém-infestadas dentro e entre os países. E o V. destructor está fazendo jus ao seu nome. Hoje, espalhou-se para todas as regiões onde as abelhas são mantidas, exceto Austrália e um conjunto de ilhas remotas, rapidamente se tornando uma pandemia global e a maior ameaça patológica à saúde das abelhas. […] Os apicultores [nos EUA] conseguiram aumentar lentamente o número de colónias que mantêm, em média, mas a um custo substancialmente maior. E este aumento de colónias está sendo superados pela crescente demanda de polinização. As abelhas melíferas ocidentais não coevoluíram com o V. destructor, e as abelhas ocidentais não possuem os traços comportamentais que as abelhas asiáticas têm, como sepultar permanentemente criação infestada pelos ácaros e, talvez a estratégia mais extrema, apoptose social**, onde a criação é tão sensível à parasitização que morre imediatamente após a infestação, sacrificando-se para evitar que o ácaro se reproduza. As características de combate a ácaros também existem em populações de abelhas ocidentais, mas não são suficientes para conferir resistência adequada sem reprodução seletiva intensa. […]

Tropilaelaps à esquerda e V. destructor à direita.

Até agora, as aplicações rotineiras de acaricidas são suficientes para mitigar esse problema. Mas, como acontece com o uso sustentado de qualquer biocida, os ácaros estão tornando-se resistentes aos tratamentos dos apicultores. E se isso não bastasse, outro género de ácaro parasita, chamado Tropilaelaps, está prestes a iniciar outra pandemia. Ele também saltou recentemente de outra espécie de abelha melífera, a abelha gigante asiática [Apis dorsata], para a abelha ocidental. Identificado pela primeira vez em ratos perto de colónias de abelhas nas Filipinas, tem-se expandido para regiões mais frias da Ásia continental, onde os climas são muito semelhantes aos dos EUA. Onde o Varroa e o Tropilaelaps coexistem em colónias, o Tropilaelaps supera Varroa, causando danos e deformidades ainda maiores.

Larvas de apis melífera a serem
parasitadas por ácaros Tropilaelaps e
uma pupa deformada pela doença
tropilaelapsose

Até agora, os ácaros Tropilaelaps não se espalharam para outros continentes, mas sua dispersão global é provavelmente apenas uma questão de tempo. Não é tão incomum colónias inteiras de abelhas apanharem boleia no exterior fazendo ninhos em cargas ou em navios, carregando patógenos e parasitas com elas. Outras pragas invasivas provavelmente também alcançaram a América do Norte por esta rota: a vespa gigante asiática, Vespa mandarinia, foi recentemente avistada na Colúmbia Britânica e em Washington, com pelo menos um ninho estabelecido sendo identificado e erradicado. O Canadá importa dezenas de milhares de pacotes de abelhas (colónias iniciais) de países como Austrália, Nova Zelândia e Chile, então o Tropilaelaps também pode entrar na América do Norte por qualquer um desses países. Uma economia globalizada e nossa destruição sistemática do mundo natural criam as condições perfeitas para patógenos e parasitas estabelecerem novos hospedeiros e se espalharem rapidamente no exterior. Devemos estar mais bem preparados para que as doenças emergentes sejam o principal risco no mundo moderno. Eles são uma ameaça persistente para a nossa própria saúde, a saúde do nosso gado e da vida selvagem, podendo espalhar-se inadvertidamente. Como testemunhamos tragicamente com COVID-19, doenças emergentes estão nos matando e estão matando nossas abelhas também.”

fonte: https://blogs.scientificamerican.com/observations/honey-bees-are-struggling-with-their-own-pandemic/

** Para os investigadores, entre os vários mecanismos de resistência e ou tolerância da A. cerana relativamente ao V. destructor, a apoptose social tem vindo a adquirir relevância.

própolis e seu potencial contra mecanismos de infecção por SARS-CoV-2 e doença COVID-19

Desde há muito que são popularmente referidos os benefícios da própolis para a prevenção e recuperação de alguns estádios doentios. Gradualmente têm vindo a ser realizados estudos controlados que vão confirmando alguns desses benefícios (ver aqui). Dentro desta linha de investigação foi publicado, há poucos dias atrás, este estudo que fundamentadamente alimenta a esperança de a própolis ter efeitos positivos na luta contra o vírus SARS-CoV-2 e na redução da resposta inflamatória em pacientes com a doença COVID-19. Agradeço ao Paulo Matos ter-me chamado a atenção para este artigo científico.

Título: Própolis e seu potencial contra mecanismos de infecção por SARS-CoV-2 e doença COVID-19

Aspectos principais

  • A própolis, produzida por abelhas a partir de resinas vegetais bioativas, tem atividade antiviral. 
  • A própolis pode potencialmente interferir na invasão da célula hospedeira pelo SARS-CoV-2. 
  • A própolis bloqueia a PAK1 pró-inflamatória, uma quinase altamente expressa em pacientes com COVID19. 
  • A própolis padronizada tem propriedades consistentes para pesquisas clínicas e laboratoriais. 
  • A própolis é um alimento funcional seguro, amplamente consumido, com propriedades medicinais.

Conclusões: Considerando o grande número de mortes e outros tipos de danos que a pandemia de COVID-19 está causando, há uma necessidade urgente de encontrar terapias que possam ajudar a evitar ou reduzir a infecção por SARS-CoV-2 e suas consequências. A própolis tem efeitos antiinflamatórios e imunorreguladores comprovados, incluindo a inibição da PAK-1. Além disso, a ligação à ACE2, um dos principais alvos do vírus SARS-CoV-2 para a invasão da célula hospedeira, é inibida pela própolis. Componentes da própolis, incluindo CAPE, rutina, quercetina, kaempferol e miricetina têm demonstrado in silico uma forte interação com a ECA2. Kaempferol reduziu a expressão de TMPRSS2. Além destas atividades, a própolis não interage com as principais enzimas hepáticas ou com outras enzimas essenciais de acordo com os critérios adotados pela Organização Mundial de Saúde, portanto, a própolis pode ser usada concomitantemente aos principais medicamentos sem risco de potencialização ou inativação. Para determinar se a própolis afeta especificamente a SARS-CoV-2, serão necessárias mais pesquisas. Mas como a própolis é um produto isento de riscos, exceto para aqueles que podem desenvolver alergia a ela, as conhecidas atividades biológicas desse produto natural apícola levam-nos a sugerir seu uso para reduzir o risco e o impacto da infecção e como coadjuvante do tratamento.

fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0753332220308155?fbclid=IwAR3jpAkwjS8s2eL-U0CYmYYbGxGUx5ZzWb0ySftKCGrR207xj_kKhcza_Bk

apicultor em modo robin dos bosques

Hoje saí por volta da 14h00 para o apiário e andei por lá até às 16h00 em modo robin dos bosques.

Por aqui a máxima de 12ºC aconteceu por volta das 15h00.

Andei a tirar das mais ricas para dar às mais pobres.

Colónia rica (que eu costumo chamar de colmeia armazém) do modelo lusitana com ninho e sobreninho. O território é frio (900m de altitude) e relativamente seco.
O território é frio mas estas colónias ricas/armazém têm o suficiente para se aquecerem, isto é, um número apreciável de abelhas e reservas.
Colónia rica, solidária, que dá um bom quadro com mel e recebe um quadro vazio. Sim é verdade, tive que dar uma ajudita para que a solidariedade se materializasse.
Colónia pobre, que recebeu agradecida o quadro. Suponho que ficaram agradecidas, apesar de nem sempre o demonstrarem de forma inequívoca.

Andei também a tirar da carteira do patrão, que é rico e generoso, o necessário para comprar esta deliciosa pasta, que consomem em três tempos (neste caso em cerca de 3 semanas).

Núcleo de uma colónia que sofreu PMS e está a recuperar bem. Comem bem e respiram melhor. O vapor de água condensado no interior do saco tem origem na respiração das pequenitas.
Comam e mantenham-se saudáveis nestes dias com um sol frio… até daqui a 3 semanas!

inventário da susceptibilidade do Varroa destructor ao amitraz e tau-fluvalinato em França

Depois de cerca de 4 anos a tratar as minhas colónias de abelhas com Apivar e de acordo com um calendário afinado e ajustado ao território que ocupam, este ano verifiquei que o tratamento de verão não foi suficientemente eficaz em cerca de 30% das colónias tratadas. Entre as várias hipóteses susceptíveis de explicar o sucedido surge a de uma possível resistência ao amitraz em algumas das populações de ácaros que parasitavam estas abelhas. Até à data tinha conhecimento de dados fidedignos de resistência ao amitraz na Argentina e EUA. Este estudo francês, publicado recentemente (agosto deste ano), identifica uma percentagem elevada de ácaros (71% dos ácaros da amostra) não susceptíveis à dose letal habitual de amitraz para um LC90 (0.4 µg/mL).

A imagem da direita representa a dimensão de um ácaro varroa num corpo humano respeitando a regra da proporcionalidade.

O Varroa destructor é uma das maiores ameaças para a abelha europeia Apis mellifera. Os acaricidas são necessários para controlar a infestação de ácaros. Três substâncias químicas acaricidas convencionais são usadas na França: tau-fluvalinato, flumetrina e amitraz. O tau-fluvalinato foi usado durante mais de 10 anos antes de apresentar perda de eficácia. Em 1995, os testes através de bioensaios mostraram a resistência do primeiro ácaro ao tau-fluvalinato. Em alguns países, o amitraz foi amplamente utilizado, também levando à resistência do V. destructor ao amitraz. Em França, alguns testes de campo de eficiência mostraram uma perda de eficácia do tratamento com amitraz. Adaptámos o bioensaio de Maggi e colaboradores para determinar a susceptibilidade do ácaro ao tau-fluvalinato e amitraz em França em 2018 e 2019. A concentração letal (LC) que mata 90% das estirpes de ácaros suscetíveis (LC90) é 0,4 e 12 µg / mL para amitraz e tau-fluvalinato, respectivamente. Estas concentrações foram escolhidas como fatores determinantes para avaliar a susceptibilidade dos ácaros. Alguns ácaros, coletados em diferentes apiários, apresentam resistência ao amitraz e ao tau-fluvalinato (71% das amostras de ácaros apresentam resistência ao amitraz e 57% ao tau-fluvalinato). Como há poucas substâncias ativas disponíveis em França e se a resistência dos ácaros aos acaricidas continuar a aumentar, a eficácia dos tratamentos diminuirá e, portanto, serão necessários mais tratamentos por ano. Para evitar essa situação, uma nova estratégia precisa ser implementada e incluir a gestão da resistência dos ácaros. Sugerimos que o bioensaio será uma boa ferramenta para aconselhar os fazedores de políticas.

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s10493-020-00535-w

da sacarose ao HMF nos xaropes

Representação da molécula da sacarose (C12H22O11)

Na sequência da publicação anterior pretendo aqui descrever, de uma forma simples, que espero não simplista demais, como o processo de produção de xaropes com o vulgar açúcar granulado e a adição de ácidos conduz inevitavelmente à produção de quantidades maiores ou menores de hidroximetilfurfural (HMF).

A sacarose (vulgar açúcar) pode ser sujeita a um processo de inversão e decompor-se em dois açucares mais simples, a frutose e a glicose. Os catalisadores/aceleradores da inversão podem ser variados. Por exemplo, as abelhas colectam o néctar das plantas, que é composto predominantemente por sacarose/sucrose, e decompôem-no em glicose e frutose por via da adição da enzima natural invertase, convertendo o néctar em mel.

Estando estes dois monossacarídeos presentes, glicose e/ou frutose, a produção de HMF é inevitável em condições normais. É esta razão para o aumento gradual da quantidade de HMF no mel em condições normais de armazenamento. A transformação em moléculas de HMF ocorre por um processo de desidratação das moléculas de frutose e glicose.

Esquema de produção de uma molécula de HMF por desidratação de uma molécula de frutose por perda de 3 moléculas de água.

Este mecanismo de desidratação da frutose e glicose e produção de HMF é acelerado pelo aquecimento num ambiente de baixo pH ou após a adição de ácidos orgânicos ou inorgânicos durante o processamento.

Existe um consenso na comunidade científica que o HMF é tóxico para as abelhas. Contudo os efeitos do HMF nas abelhas e na colónia depende das quantidades presentes e do tempo de exposição ao mesmo. Por outro lado, a toxicidade do HMF traduz-se geralmente em efeitos sub-letais como a redução de tempo de vida das abelhas adultas, alguma mortalidade larval, feridas no intestino das abelhas,… . Como estes impactos negativos são dificilmente observáveis no âmbito de um trabalho normal de inspecção das colónias passam na maioria das vezes desapercebidos ao apicultor.

sumo de limão no xarope: um benefício ou um prejuízo?

Muitos apicultores misturam o sumo de limão nos xaropes de açúcar que fornecem às abelhas para evitar a sua fermentação e/ou promover a inversão dos açucares. O sumo de limão, para além de ser um acaricida ineficiente, pode ser prejudicial quando adicionado aos xaropes açucarados, de acordo com o estudo em baixo, publicado já este ano. Fica a tradução do resumo.

“A escassez de alimentos, juntamente com os stressores bióticos, contribui para as perdas de colónias de abelhas melíferas no inverno. No outono, para apoiar as colónias de abelhas e prepará-las para o inverno, os apicultores podem fornecer xaropes caseiros que podem conter compostos com possíveis efeitos colaterais negativos. Neste estudo, investigamos a toxicidade de um desses compostos (por exemplo, hidroximetilfurfural, HMF) em doses consistentes com dados da literatura tanto para abelhas saudáveis ​​quanto para abelhas debilitadas pelo seu parasita mais importante (ou seja, Varroa destructor). Para reforçar os dados disponíveis sobre a concentração de HMF em xaropes de açúcar, também investigámos a formação de HMF em xarope de açúcar invertido 2: 1 caseiro, considerando, em particular, a influência da temperatura ou do tempo de ebulição em diferentes xaropes de açúcar caseiros de acordo com sua acidez. Finalmente, estudamos os efeitos da acidez dos xaropes de açúcar na sobrevivência das abelhas e testamos se a inversão da sacarose por meio da acidificação é realmente necessária. Concluímos que doses de HMF semelhantes àquelas relatadas como subletais na literatura parecem não ser tóxicas mesmo para abelhas infestadas com ácaros. No entanto, a quantidade de HMF que pode ser encontrada em xaropes caseiros, que aumenta com a temperatura e a acidez, pode ser muito maior e pode causar mortalidade significativa de abelhas. Além disso, destacamos o efeito prejudicial da acidez dos xaropes na sobrevivência das abelhas, sugerindo que a adição de limão ou qualquer outra substância acidificante para inverter a sacarose pode ser prejudicial e desnecessária. Nossos resultados sugerem uma abordagem responsável para a nutrição caseira da colónia.”

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs13592-020-00745-6

Nota: Quando fazia os meus xaropes caseiros utilizava o vinagre (solução aquosa de ácido acético) para evitar a fermentação. Quero deixar claro que não conheço dados experimentais acerca dos efeitos da adição de vinagre ao xarope.

a humidade no interior de uma colmeia quando faz frio cá fora

Na sequência desta publicação, com uma das mensagens centrais a frisar que as abelhas, quando aglomeradas/em cacho nos dias mais frios, se aquecem entre si e nada fazem/conseguem para aquecer o espaço vazio da colmeia, vejamos agora com algum detalhe o que se sabe acerca da produção de humidade/água e da condensação do vapor de água no interior de uma colmeia nos dias frios de outono/inverno.

No inverno, as abelhas geram calor “queimando” o mel que armazenaram, ou seja, digerindo-o e usando a energia resultante para flectir os seus músculos de voo, para produzir e emitir calor. Nos dias frios, elas formam um aglomerado compacto (cacho invernal de abelhas) para manter o calor dentro do mesmo; elas não aquecem a colmeia, apenas o seu cacho.

Para muitos apicultores, é uma prática comum colocar uma camada espessa de algo* no topo da colmeia, no interior, para “absorver a humidade” que é produzida pela respiração das abelhas durante o inverno. O objetivo dessa camada absorvente é evitar que a água se condense no topo da colmeia, pingando e molhando as abelhas, resfriando-as e destruindo a colónia por congelamento.

A água vem da ‘combustão’ do mel; os produtos da combustão são dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). A água é exalada como vapor e condensa-se nas paredes frias e no topo da colmeia.

Na opinião de vários apicultores com experiência a água produzida pelo processo digestivo das abelhas durante o inverno é tanta que nenhuma quantidade razoável de material absorvente poderá absorvê-la. Em vez disso, o que acontece é que a camada espessa de “algo” actua como isolamento, evitando a condensação no topo da colmeia, de modo que o condensado se forma apenas nas paredes da colmeia, onde congela ou escorre pelas paredes, sem prejuízo neste caso. […]

As abelhas ao consumir cerca de 18 kgs de mel geram cerca de 12 litros/Kgs de água. As abelhas metabolizam os açúcares, de acordo com o seguinte equação: C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O.

Quando fazemos as contas, o metabolismo do açúcarpor cada quilograma de mel produz 6/10 de Kgs de água. Adicionemos a isso 17% de água líquida já presente no mel, e acabamos com aquele quilograma de mel transformando-se em 2/3 de Kgs de água (inicialmente mantida no interior do corpo das abelhas). As abelhas no cacho não podem conviver com este excesso de água por um longo período de tempo sem prejuízo para a sua saúde — está associado a desinteria e nosemose — e têm de lidar com ele de alguma maneira.
Sabemos que as abelhas reciclam cerca de ¾ deste excesso de água
na saliva para diluir o próximo quilo de mel para seu consumo, mas isso
não resolve completamente o excesso ganho a cada semana e que ainda precisa para ser tratado de alguma forma.


Lembremo-nos que que esta água é produzida na forma de vapor, ao longo de vários meses de inverno. Presumivelmente, grande parte dele é removido da colmeia com a saída do ar, pois é substituído por ar fresco. No entanto, se o vapor de água entrar em contato com uma superfície interna fria antes de sair da colmeia, ele se condensará, se liquefará e talvez congele.

A superfície interna da colmeia é fria no inverno; não há como evitar isso, e o vapor de água se condensará em superfícies frias. Se essa condensação fria pingar sobre o cacho invernal formado pelas abelhas, será bastante prejudicial. Podemos evitar isto tendo um pequeno orifício de ventilação próximo do topo da colmeia para permitir que o ar carregado de humidade se escape e isolando fortemente o topo da colmeia para que a humidade se condense nas paredes da colmeia, não no seu topo.

fontes:

  • https://www.beeculture.com/wait-much-water/
  • Randy Oliver (Bee-L (11-10-2020))

* Alguns apicultores utilizam como absorventes da humidade, por exemplo, cobertores, ou jornais, ou serradura colocados em tabuleiros dedicados no lugar das pranchetas convencionais.