rastrear vespas asiáticas no retorno aos seus ninhos: a técnica de radiotelemetria

Um dos meios para controlar as populações de Vespa velutina consiste na localização e eliminação dos seus ninhos. Estas operações devem acontecer tão cedo quanto possível, antes da criação das futuras fundadoras. A maior limitação desta estratégia consiste na localização dos ninhos. Para ultrapassar este enorme obstáculo algumas equipas de investigação estão a testar e aperfeiçoar dois tipos de técnicas: i) recurso ao radar harmónico; ii) recurso à radiotelemetria.

Se numa publicação recente sobre a utilização do radar harmónico para a localização de ninhos, enunciei as suas virtualidades e limitações, chega agora a hora de fazer o mesmo acerca da utilização de equipamentos de radiotelemetria. Para isso, recorro à tradução de um texto de divulgação científica.

“A vespa asiática Vespa velutina é uma espécie invasora que chegou a França em 2004 e desde então tem causado grandes danos à apicultura. O desafio atual é tentar controlar seus níveis populacionais e, assim, reduzir a pressão que exercem sobre as colónias de abelhas. A medida mais eficiente no momento é a destruição o mais precoce possível de seus ninhos, mas o problema é como localizá-los. Cientistas do INRA [França] e seus colegas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, desenvolveram uma técnica original de radiotelemetria que, rastreando estes insetos no seu voo de retorno ao ninho (homing), permite uma rápida detecção de seus ninhos. Este trabalho acaba de ser publicado [2018] e oferece um método promissor para o controle de vespas asiáticas.

Vespa velutina nigrithorax em voo.

O vespão asiático é um perigoso predador das abelhas. Desde sua chegada a França em 2004, sua frente de invasão estendeu-se gradualmente a Espanha, Portugal, Itália, Reino Unido, Bélgica e Luxemburgo. Os possíveis fatores que podem restringir sua propagação são a ausência de água que esses insetos precisam para construir seus ninhos e a altitude. Os recursos alimentares não são limitantes, porque além de predar os insetos, as vespas podem alimentar suas larvas usando outras fontes de proteína (carne ou peixe de barracas de mercado, resíduos de pesca, carcaças de gado). A única possibilidade crível de controlar essa praga invasora é limitar suas populações, e duas técnicas são usadas no momento: i) a instalação de armadilhas com isca para capturar e eliminar as fundadoras, e ii) destruir os ninhos o mais cedo possível.

Cientistas do INRA e seus colegas britânicos, especialistas no uso de radiotelemetria em insetos, desenvolveram uma técnica original que envolve equipar vespas asiáticas com tags/transponders de rádio para que possam ser rastreadas de volta aos seus ninhos.

Vespa na qual foi colocado um tag/transponder na zona ventral com um peso de 0, 28gr.

Os cientistas do INRA capturaram vespas que buscavam alimentos perto de colmeias. Em seguida, equiparam-nos com um tag/transponder suspenso ventralmente, amarrado com um fio de algodão. Após longos testes, os cientistas selecionaram vespas com um peso mínimo de 0,35 g para carregar uma tag/transponder de 0,28 g com alcance de 800 m. Na verdade, tinham observado anteriormente que 80% destas vespas podiam carregar até 80% de seu peso corporal.

As vespas marcadas foram treinadas para voar com o tag/tranponder numa gaiola antes de serem soltas e os cientistas puderam segui-los à distância até ao seu ninho. Assim, foi possível detectar ninhos até 1,33 km do ponto de partida da operária.”

fonte: https://www.inrae.fr/en/news/tracking-asian-hornets-they-return-their-nests-method-control-these-dangerous-honeybee-predators

Notas: 1) O equipamento de radiotelemetria tem um custo (valores de 2018) para o receptor e antena de £ 2.000 (libras inglesas) e cerca de £ 140 por tag/transponder. (fonte: https://www.nature.com/articles/s42003-018-0092-9);

2) como fica claro das duas publicações sobre o rastreamento das velutinas “tagar” ou “chipar” as velutinas não é nem barato nem simples. Não é exactamente como ir ao veterinário chipar o cãozinho ou o gatinho. “Chipar” velutinas que mal pesam 0,35 gr. com micro-chips que pesam… 8 gr. (como já li nas redes sociais) é demasiada carga para a mula!

vespas velutinas: chegaram e agora?

Vi pela primeira vez, na semana que passou, colónias de um apiário meu a serem predadas com alguma pressão pelas Vespas velutinas. O que fiz de imediato foi tirar as rampas de voo e colocar as grelhas de alvado na posição invernal, apanhar algumas com uma raquete eléctrica e, finalmente, esmagá-las contra a parede frontal do corpo do ninho.

A primeira!!!
Esmagada contra a parede frontal da colmeia.

Chegaram! E agora?

Desde 2016 que escrevo sobre este animal exótico neste blog (e antes de terem entrado em Portugal, já em 2011 escrevia sobre elas no fórum “As Abelhas”). Tenho alguma informação sobre o que poderá resultar, tendo em conta vários factores, sendo estes os que mais considero neste momento:

  • a eficácia e eficiência das minhas acções, enquadradas num conceito de minimização dos impactos na entomofauna e outros animais não-alvo;
  • o tempo que pretendo passar a controlar este invasor;
  • a factura (€€€) que estou disposto a pagar por dispositivos que seja necessário adquirir;
  • a disposição espacial das colónias em cada apiário.

Por tudo o que tenho lido e considerando os factores atrás referidos vou privilegiar estas duas armas no próximo ano:

O JabeProde, apresentado por D. Jaffré, o seu inventor.
O desinsectizador, ou harpa activa.

Serão as melhores soluções? Como referi vou dar-lhes prioridade, que não significa exclusividade, tendo em conta as minhas circunstâncias e os meus conhecimentos actuais. Não irei deitar a toalha ao chão, depois de tantos de nós, com uma enorme resiliência e de forma exemplar, terem mostrado que é possível manter as colónias vivas e produtivas. Acredito que serei capaz de pertencer a este grupo de excelentes cuidadores.

vespa velutina: o comportamento das novas fundadoras nos meses de outubro a dezembro e medidas a tomar

Depois do pico de pressão das velutinas obreiras sobre as colónias (em geral de início de agosto a meados de outubro), a ameaça não termina. Há que adaptar a estratégia de luta, assim como os equipamentos, à presença de uma nova casta de velutinas: as novas fundadoras. Deixo em baixo a tradução de um boletim informativo, da empresa espanhola Sanve, acerca desta invasão silenciosa.

No outono e no inverno, quando as velutinas fundadoras deixam seus ninhos, tornam-se verdadeiros predadores das reservas de mel de nossas abelhas.

No outono, observamos que as vespas se desinteressam pelas abelhas e vemos que tentam entrar nos alvados das colmeias, em alguns casos vemo-las entrar e depois de algum um tempo saem e pensamos que as abelhas as expulsaram. Nada está mais longe da realidade.

As velutinas procuram as colmeias mais frágeis, assim que a encontram fazem repetidas viagens transportando o mel da colmeia para os seus ninhos. O mais seguro é que a velutina que observamos a sair não é a que acaba de entrar mas uma outra que sai já carregada para o ninho.

As abelhas nas colónias, à medida que o frio se aproxima, formam um cacho para se manterem aquecidas e acabam por expor parte das reservas de mel. Mesmo colónias fortes quando aglomeradas em cacho expõem parte das reservas essenciais para um bom início da colónia na primavera. Sem percebermos, as velutinas saem das colmeias com o mel, causando uma dificuldade acrescida à sobrevivência da colónia.

O que se preconiza é uma redução do alvado com uma dupla função:

Exemplo de um redutor de alvado.
  • Por um lado, evitamos que as velutinas entrem nas colmeias;
  • Nas colmeias mais fracas, que serão preferidas pelos velutinas devido à pouca resistência que as abelhas oferecerão, deve ser colocada uma armadilha que permitirá a entrada das velutinas mas só poderão sair da colmeia para a armadilha que a espere cá fora. Assim evitamos que sejam saqueados e ao mesmo tempo eliminamos parte das velutinas que hibernam nas proximidades dos nossos apiários.”
Armadilha de alvado para velutinas.

fonte: https://sanve.weebly.com/trampa-de-piquera.html

Notas: 1) mesmo tendo a opinião que esta empresa espanhola está a desenvolver um muito bom trabalho, não tenho experiência com os seus produtos. Esta publicação não tem um intuito comercial ou de marketing, apenas tem uma intenção informativa;

2) Para levar para casa: no combate as nossas estratégias e equipamentos devem ir-se ajustando à evolução do ciclo de vida das colónias, tanto o das velutinas como o das nossas abelhas. Que tenhamos uma luta bem sucedida, porque informada, adaptada e afinada aos momentos e locais.

finalmente provado: a eficiência de capturar as vespas asiáticas fundadoras

Entre a comunidade científica francesa, apicultores e restantes cidadãos tem havido um debate, com longos anos, acerca da eficiência no controle da proliferação da vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), em territórios em que ela se encontra já estabelecida, por meio das armadilhas de captura das fundadoras após a sua saída de hibernação.

Num artigo de divulgação científica, publicado em abril deste ano, surgem finalmente dados científicos que dão suporte à tese de que uma rede adequada de armadilhas devidamente selectivas para a captura de fundadoras desta espécie exótica diminui de forma significativa a proliferação de seus ninhos. Em baixo traduzo alguns excertos do artigo.

Ninho de vespas asiáticas (Vespa velutina nigrithorax).

“Embora utilizado no campo por algumas redes locais de controle, esse método de controle nunca foi oficialmente recomendado porque os estudos científicos existentes sobre o assunto não mostraram, até então, qualquer efetividade real. Além disso, destacaram um impacto sobre os insetos não visados ​​por esse método, devido à baixa seletividade das armadilhas e iscas disponíveis. O Ministério da Agricultura mandatou o ITSAP-Institut de l’Abeille e o Museu Nacional de História Natural (MNHN) completar esses dados e permitir que os efeitos deste método de controle sejam medidos, numa escala sem precedentes.

Para a realização deste estudo, contámos com dados da ciência cidadã, combinados com os obtidos por meio de um protocolo rigoroso. Esses dados incluem a contagem e localização dos ninhos de vespas asiáticas, as armadilhas usadas e o número de fundadoras capturadas. Estes censos foram repetidos ao longo de quatro anos consecutivos (2016-2019) e realizados em três departamentos (Morbihan, Vendée e Pyrénées-Atlantiques).

As relações estatísticas entre a densidade de ninhos e o esforço de captura foram analisadas através de estudos espaço-temporais realizados pela unidade BioSP (BioStatistics and Spatial Processes) do INRAE ​​d’Avignon.

Eficaz, desde que as velutinas sejam o alvo
Como esperado, as análises revelaram a eficiência da instalação de armadilhas preferencialmente em locais onde houve ninhos no ano anterior. A análise da dinâmica espaço-temporal da captura mostrou que a presença de armadilhas é acompanhada por uma diminuição no número de ninhos ao longo do tempo. O principal fator para essa redução é a presença localizada de armadilhas e não a quantidade de armadilhas ou fundadoras capturadas. O efeito desaparece quando se afasta as armadilhas para lá dos 400 m. O efeito sobre os ninhos é tanto mais importante quanto a captura é repetida em vários anos sucessivos. Por exemplo, aplicando as armadilhas ao longo de quatro anos em vez de três, pode multiplicar por cerca de 2 o seu efeito na redução do número de ninhos.

Em contraste, colocar várias armadilhas num mesmo lugar não tem um impacto significativo. Isso parece comprovar que a eficácia deste método depende do estabelecimento de uma malha densa e regular de armadilhas, centrada na área a ser protegida, respeitando um espaçamento de algumas centenas de metros entre dois dispositivos. Na ausência de armadilhas e iscas seletivas, a captura de primavera deve ser realizada em torno dos apiários que experimentaram uma mortalidade excessiva de colónias atribuída ao vespão asiático no inverno anterior.

Não se trata, portanto, da aplicação de armadilhas generalizadas em todos os territórios, mas sim de armadilhas direccionadas para proteger os apiários afectados. Os dados disponíveis sobre a seletividade das armadilhas indicam que deve ser proibido o uso de armadilhas com garrafas, iscas líquidas e favorecido o uso de armadilhas com cestos com cones de entrada do tipo “JabeProde”.

( fonte: http://blog-itsap.fr/efficacite-piegeage-fondatrices-frelon-asiatique/?fbclid=IwAR0RzYzEVsUsLkoraVQBJQsXSHNj-l7IHUJEeAnxbd-Xwuz8wJxnaXNVBJE )

Notas: Sobre o Jabeprode (julgo ter sido o primeiro a escrever em Portugal sobre este dispositivo) escrevi recentemente: “O JABEPRODE é um dispositivo que poderia facilmente ser produzido industrialmente, numa qualquer empresa de moldes, assim as entidades oficiais camarárias e outras patrocinassem o seu fabrico, promovessem o que de melhor se vai fazendo nesta área, e as entregassem gratuitamente aos apicultores. Estou certo que muitos de nós iriam aderir ao projecto. Uma vez mais os apicultores desejam ser referência na protecção da entomofauna e biodiversidade e contribuir para a diminuição da tremenda mortandade que as V. velutinas e as armadilhas não selectivas, colocadas um pouco por todo o lado e ao longo de todo o ano, causam em insectos polinizadores não-alvo.”

Sobre a planificação de uma rede de colocação de armadilhas, deve ser um trabalho coordenado pelos nossos representantes locais (câmaras e seus serviços de protecção civil). A sua execução poderá contar com munícipes que formarão uma rede de voluntários, apicultores e demais, para a realização de algumas das tarefas no terreno, mas sempre com a supervisão e responsabilidade das câmaras e seus serviços de protecção civil na indicação dos locais preferenciais para a instalação das armadilhas, assim como o fornecimento de armadilhas efectivamente selectivas. Está na altura de dar este passo em frente, com vista a uma luta planeada, coordenada, eficiente e selectiva.

probióticos: ensaio de campo por Randy Oliver

Nos EUA, começa a tornar-se moda alimentar as colónias de abelhas com probióticos. Será que esta prática é custo-efectiva? As colónias ficarão mais fortes e produzirão mais? Como não sou apicultor-investigador de campo, leio boas fontes para saber onde vale de facto a pena gastar o dinheiro que tanto custa a amealhar. E Randy Oliver é uma fonte inesgotável de informação pertinente, informada e devidamente controlada para as minhas questões mais práticas. Assim, deixo em baixo a tradução de excertos de uma sua publicação muito recente acerca dos efeitos dos probióticos na força e desempenho nas colónias que testou.

Nos últimos anos, aprendemos que o intestino da abelha hospeda um microbioma que consiste em vários grupos principais de bactérias (Figura em baixo), que, se modificado/perturbardo, pode ter efeitos prejudiciais sobre a saúde das abelhas. Muitos apicultores, na esperança de melhorar a saúde da colónia, especialmente quando são alimentadas com dietas artificiais ou após a aplicação de antibióticos, perguntaram-me se há algum benefício em dar um suplemento de probióticos. Então, fiz dois testes de campo para descobrir.

Principais bactérias intestinais da abelha melífera.

Perguntas práticas: Já que as abelhas operárias obtêm facilmente as suas principais bactérias intestinais dos favos, precisarão ser alimentadas com um produto probiótico? Isso faz alguma diferença?

Este teste de campo foi projetado para determinar se a alimentação mensal de qualquer uma das duas formulações probióticas comerciais especificamente comercializadas para abelhas melíferas proporcionaria um benefício para a força da colónia (medida pelo tamanho do cacho de abelhas) ou desempenho (medida pelo ganho de peso).

Gosto de usar estas duas métricas por dois motivos:

  • Ambos refletem o cálculo final de cada aspecto da saúde da colónia e da sobrevivência adulta, e
  • São as duas únicas métricas que colocam dinheiro no bolso do apicultor.

Fiz dois testes simples, combinando medições de campo com biologia molecular de alta tecnologia (sequenciamento de “próxima geração”), para primeiro ver se o probiótico afetava a força da colónia ou o ganho de peso, e (a ser publicado mais tarde) para saber se o a alimentação dos probióticos resultou em quaisquer outros benefícios biológicos.

Duas formulações probióticas comerciais utilizadas no ensaio.

Discussão
Os dados coletados, infelizmente, não apoiam a alegação de que a alimentação mensal de qualquer um dos probióticos testados resultou num benefício mensurável na força da colónia ou no ganho de peso, em comparação com a aplicação mensal do controle de açúcar em pó.

Aplicação prática: Os dados deste ensaio, infelizmente, não suportam a alegação de que a alimentação de qualquer um dos probióticos resultou em colónias mais fortes.

fonte: https://scientificbeekeeping.com/a-field-trial-of-probiotics/

Nota: sobre os probióticos ver mais aqui.

localização de ninhos de V. velutina: comparação de técnicas de rastreamento

Em baixo deixo a tradução de excertos de um artigo recente, publicado por uma equipa de investigadores italianos, em torno das vantagens e limites na utilização do radar harmónico para rastreamento do voo de V. velutinas no seu trajecto de e para o seu ninho, e comparação desta técnica com duas outras técnicas de rastreamento: a) rastreamento visual com triangulação; b) rastreamento tecnológico com utilização de radio-telemetria.

No cenário da invasão de Maiorca pela V. velutina, os investigadores foram capazes de detectar e remover 30 ninhos de V. velutina nos anos 2015–2017 por rastreamento visual e triangulação de direções de voo; esta atividade exigia uma média de 19,2 ± 18,9 dias de trabalho por ninho (mín = 0 dias, máx = 63 dias). Com o rastreamento por radar harmónico, fomos capazes de localizar ninhos na Itália com uma média de 2,5 ± 1,0 dias úteis (min = 2 dias, máx = 5 dias) e 11 ± 4 h de uso efetivo do radar. Com a técnica de rádio- telemetria os investigadores conseguiram detectar ninhos de V. velutina em 92 ± 37 min. Porém, um aspecto que deve ser levado em consideração para a utilização desta última técnica: o peso das etiquetas/tags, que pode variar de 150 a 312 mg (10–21 vezes mais pesado do que a etiqueta/tag usada para a técnica de radar harmónico) ou mais. Este peso maior pode afetar a capacidade de voo das vespas [só os indivíduos mais fortes conseguem voar com estes tags], principalmente na primavera ou início do verão, quando o peso das operárias de V. velutina é menor.

Vespas marcadas com tags executando seu comportamento predatório usual. V. velutinas marcadas pairando em frente de colónias de abelhas para atacar abelhas forrageiras (a, b). Uma vespa marcada que está despedaçando uma abelha para recolher o tórax (parte mais energética de sua presa), que será trazida de volta ao ninho para alimentar a ninhada (c). Duas vespas marcadas à entrada do ninho (d).

Outro aspecto que deve ser considerado na comparação das técnicas de rastreamento são os custos associados (pessoal e equipamentos). Todas as técnicas acima mencionadas poderiam ser facilmente realizadas por uma equipe de duas pessoas treinadas, embora a técnica de rastreamento visual exija, em geral, um maior número de dias de trabalho e, portanto, maiores custos de pessoal. No que diz respeito às técnicas tecnológicas, os custos do equipamento inicial são mais elevados para o rastreio por radar harmónico (cerca de 100 mil euros por unidade). Por outro lado, o rastreamento por rádio-telemetria tem custos iniciais de equipamento mais baixos do que o rastreamento por radar harmónico, mas um custo mais alto associado às etiquetas/tags para rastreamento de insetos.

Portanto, a seleção de uma técnica de rastreamento para localização de ninhos de V. velutina requer uma análise das vantagens e limites em relação aos recursos disponíveis, as características das paisagens e a urgência de encontrar os ninhos em relação ao cenário invasor. O uso de câmaras de imagem térmica, em associação com a técnica de rastreamento selecionada, também pode facilitar a localização do ninho uma vez que a área de presença tenha sido definida.

Nota suplementar: Os ninhos de V. velutina detectados com o rastreamento por radar harmónico foram localizados a uma distância média de 395 ± 208 m (M ± SD, n = 10) dos apiários onde as vespas atacavam as abelhas (min = 72 m, max = 786 m). Estes dados são consistentes com informações anteriores sobre a possível faixa de forrageamento de V. velutina, que está provavelmente num raio ao redor do ninho de 500-700 m (ver esta publicação, de outubro de 2018).

fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-021-91541-4#Tab1

como fazer uma armadilha mais selectiva para apanhar vespas velutinas fundadoras

Sabendo que a grande maioria das armadilhas utilizadas para captura de vespas velutinas fundadoras não são suficientemente selectivas, há que fazer melhor. Nesta publicação, de março de 2019, apresentei uma armadilha muito selectiva. O JABEPRODE é um dispositivo que poderia facilmente ser produzido industrialmente, numa qualquer empresa de moldes, assim as entidades oficiais camarárias e outras patrocinassem o seu fabrico, promovessem o que de melhor se vai fazendo nesta área, e as entregassem gratuitamente aos apicultores. Estou certo que muitos de nós iriam aderir ao projecto. Uma vez mais os apicultores desejam ser referência na protecção da entomofauna e biodiversidade e contribuir para a diminuição da tremenda mortandade que as V. velutinas e as armadilhas não selectivas, colocadas um pouco por todo o lado e ao longo de todo o ano, causam em insectos polinizadores não-alvo. Enquanto tal não acontece, surgem propostas de há uns anos a esta parte com modelos para a construção de armadilhas mais selectivas.

Com esta visão em mente apresento nesta publicação um modelo de armadilha mais selectiva, que poderá ser feita por cada um de nós com os instrumentos e equipamentos habituais.

O esquema em baixo dá-nos uma visão geral da armadilha que podemos fazer para apanhar mais selectivamente as velutinas fundadoras.

Material necessário:

  • 2 garrafas de plástico;
  • 2 paus de gelado;
  • 1 pedaço de esponja redondo;
  • Faca ou broca, régua;
  • Cerveja, mel, xarope fermentado, … .

Passos para construção:
1 – Corte o topo das 2 garrafas de forma a criar dois funis.
2 – Molhe a esponja com o isco (cerveja, mel e xarope fermentado, misturados) e insira-a numa das garrafas.
3 – Retire a tampa de um dos funis e coloque-a na garrafa.
4 – Fure os orifícios de entrada (no topo A Ø 9mm) e na saída para os insetos menores (fundo B Ø 5,5mm) e coloque os dois paus de gelado (atuam como ‘pista’ de pouso ou descolagem).
5 – Fure o segundo funil (C Ø 10mm) e coloque-o na garrafa, ele servirá de tampa. Certifique-se de que o orifício (C) está alinhado com o orifício de entrada (A). Girando a tampa, você pode abrir ou fechar a entrada (A).
6 – A armadilha está pronta!

Para eliminar as rainhas fundadoras aprisionadas, coloque a armadilha fechada durante cerca de 1 hora num congelador para que elas entrem no estado dormente. Abra depois a armadilha e mate as rainhas com uma tesoura, cortando-as ou esmagando-as.

Dicas e conselhos de uso:

  • Instale a armadilha assim que as temperaturas atingirem + de 13 ° Celsius
  • Coloque a armadilha perto de um monte de lenha, um ponto de água e/ou áreas de floração (flores com alto teor de néctar onde as abelhas recolhem néctar e pólen como, por exemplo, as camélias de inverno ricas em néctar).
  • Verifique regularmente as armadilhas para as recarregar.
  • Remova todas as armadilhas até 1 de maio. Mais ou menos depois desta data as rainhas ficam no ninho a partir do nascimento da primeira nova geração de vespas obreiras e nunca mais saem dele. Limpe a armadilha e a esponja e guarde até fevereiro próximo.

Notas sobre os aspectos selectivos destas armadilhas:

  • permite atrair e capturar as velutinas fundadoras, mas impede a entrada de outros grandes insetos e permite que insetos menores saiam delas;
    a armadilha está equipada com um dispositivo de limitação de tamanho na sua entrada (A Ø9mm) para que abelhões, vespões nativos e borboletas não possam entrar na armadilha.
  • existe um dispositivo de limitação de tamanho na saída (B Ø5,5mm) para impedir que as rainhas velutina saiam, e deixam os insetos menores saírem;
  • um pedaço de esponja circular colocado no fundo da garrafa, embebido até à saturação com um isco habitual (cerveja+ mel ou cidra + xarope fermentado ou líquido de cera derretida) permite maior evaporação e maior alcance dos aromas atractivos assim que o primeiros raios de sol aparecem. Essa esponja também evita que insetos menores se afoguem, caso tenham entrado na armadilha;
  • manter as rainhas vivas no interior contribui para atrair mais vespas por via das feromonas que libertam enquanto aprisionadas;
  • uma tampa giratória com abertura (C Ø10mm) permitirá fechar a entrada superior, prendendo as rainhas enquanto se aguarda para a eliminar.

Enquanto apicultores devemos fazer tudo o que nos for possível para evitar que outros insectos não-alvo sejam eliminados em quantidades massivas pela utilização de armadilhas não selectivas. Eliminemos apenas as velutinas fundadoras e a Mãe Natureza agradecerá por isso!

fonte: https://www.planfor.co.uk/garden-advice,selective-trap-for-asian-hornet.html

porque se foram embora as abelhas da colmeia

Aproxima-se a época do ano em que surge, nos grupos de apicultores na net, insistentemente este tipo de pergunta: “porque se foram embora as abelhas da colmeia?… na última visita tinha muitas abelhas!!!”.

Há três coisas básicas que é necessário saber para iniciar a análise deste tipo de observação: 1) o comportamento colectivo de abandono das abelhas do seu ninho é conhecido por deserção (absconding é o termo utilizado em língua inglesa); 2) as abelhas melíferas europeias, que evoluíram ao longo de milhares de anos em climas temperados, raramente apresentam este comportamento; 3) este comportamento é mais frequente nas sub-espécies que evoluíram em climas tropicais.

Em resumo, na Europa assim como noutras zonas do globo, caracterizadas por climas temperados, as abelhas não desertam ou fazem-no muito raramente. Como explicar então o “súbito” desaparecimento das abelhas da colmeia, tão frequentemente relatado em fóruns de apicultores? Por um erro de avaliação dos factos e por uma perspectiva inadequada.

As abelhas foram embora!?

Quando se deparam com uma colmeia sem abelhas os apicultores menos experientes atribuem a causa a um comportamento de deserção/fuga, um evento em que toda a colónia faz as malas e sai em busca de pastagens mais verdes. Na verdade na maioria dos casos, senão até em todos, o “desaparecimento súbito” das abelhas deve-se ao colapso e à morte da colónia. Este infeliz fenómeno tem, geralmente, na sua origem doenças virais associadas aos ácaros Varroa. Este colapso catastrófico pode acontecer rapidamente e mais notavelmente nas colónias mais fortes — aquelas com mais ácaros se o tratamento foi negligenciado, tardio ou ineficaz. Nestes casos não encontraremos pilhas de abelhas mortas deixadas para trás, como no caso de morte por fome. Encontramos apenas uma colmeia vazia. É no final de julho, em agosto e setembro quando surgem mais relatos destas pretensas fugas de enxames das colmeias.

Alguns números podem elucidar o fenómeno do “desaparecimento súbito” de abelhas. Nesta altura do ano, entre julho e setembro, morrem de velhice cerca de 1000-2000 abelhas/dia. Em dez dias, morrem entre 10 000 e 20 000 abelhas por colónia. Se as novas gerações de abelhas não chegam a emergir dos alvéolos ou estão seriamente comprometidas e sobrevivem poucos dias, não é surpreendente que um apicultor encontre uma colónia vazia duas a três semanas depois da última visita. Quando a natural renovação de gerações não se dá, uma colmeia a bordejar de abelhas na visita realizada 3 semanas antes surge-nos agora “subitamente” vazia.

nem tudo que brilha é ouro: os outros insetos que caem nas armadilhas “específicas” da vespa velutina

Neste artigo, All That Glitters Is Not Gold: The Other Insects That Fall into the Asian Yellow-Legged Hornet Vespa velutina ‘Specific’ Traps, os autores espanhóis confirmam o que tenho lido de há uns anos a esta parte noutros artigos publicados por investigadores franceses: as armadilhas para captura de vespas velutinas não são específicas o suficiente e capturam uma grande quantidade de outros polinizadores importantes nos serviços do ecossistema.

Surpreendentemente, para mim pelo menos, foram encontrados 5 ácaros do género Varroa em cinco dos 286 espécimes Vespa velutina examinados (um ácaro por espécime de V. velutina). A taxa de prevalência do parasita Varroa em V. velutina foi de 0,017 (1,75%). Em todos os casos, os ácaros foram encontrados agarrados à parte ventral lateral do abdómen de cada V. velutina.

Em baixo fica o gráfico que os autores construíram sobre a percentagem de mortalidade causada em insectos benéficos (a azul) e insectos prejudiciais (a vermelho) aos serviços do ecossistema que nos são indispensáveis, em resultado das armadilhas utilizadas para apanhar vespas velutinas, na amostra estudada.

Nota: naturalmente sei que os meus leitores terão a inteligência e o bom senso de não crucificarem o mensageiro em razão das notícias não serem confortáveis. Decidi publicar por duas razões: 1) pela primeira vez vejo uma equipa de investigadores não-franceses a confirmarem o que há anos vem sendo dito por equipas francesas; 2) o facto de se ter encontrado varroas alojadas no corpo de umas poucas V. velutinas. Numa publicação que se seguirá trarei melhores notícias.

sobre as falhas de honestidade das abelhas rainhas

Desde muito cedo, logo no meu primeiro ano como apicultor profissional, me dei conta que tendo a colónia uma rainha que não faz postura de ovos de obreira nem sempre as abelhas a substituem. Este aspecto dificulta ou impede mesmo a criação de nova rainha e/ou a aceitação de nova rainha introduzida por meio de uma gaiola. Parece, nestes casos, que as abelhas rainhas emitem sinais “desonestos” às obreiras que com ela co-habitam nos enxames, conduzindo os enxames para uma situação de irremediável morte, caso nada seja feito pelo apicultor. Não vejo como este fenómeno se enquadra no leque de comportamentos altruístas que todos nós, apicultores, investigadores e amigos das abelhas atribuímos aos enxames de abelhas.

Imagem de uma rainha nada altruísta, com corpo de fecundada, que sobrevive fazendo postura apenas de zângãos. Foto tirada de uma colónia minha em maio deste ano.

Sobre este fenómeno existe alguma investigação, nomeadamente a que aqui foi publicada: The role of the queen mandibular gland pheromone in honeybees (Apis mellifera): honest signal or suppressive agent? Os investigadores concluíram que as feromonas reais libertadas pela glândula mandibular das rainhas não-fecundadas e/ou com postura só de zângão, não atua como um sinal “honesto” para as operárias, não dão uma indicação confiável do valor reprodutivo da rainha. Contudo, são um agente supressor, inibindo a postura das operárias independente da capacidade reprodutiva da rainha. Dito por outras palavras, uma rainha que que por alguma razão não é fecundada e/ou apresenta apenas postura de machos, continua a funcionar como agente inibidor da postura de obreiras, apresenta postura de ovos não fecundados que darão origem a zângãos, e emite todos os componentes semioquímicos presentes nas feromonas mandibulares de uma rainha fecundada, iludindo as obreiras que nada fazem para a substituir.

Este ano, uma vez mais, deparei-me com alguns destes casos. Resolvi-os eliminando prontamente estas rainhas “desonestas” e com posterior introdução de mestreiros.

Rainha infecunda prontamente eliminada (foto de maio de 2021).