finalmente provado: a eficiência de capturar as vespas asiáticas fundadoras

Entre a comunidade científica francesa, apicultores e restantes cidadãos tem havido um debate, com longos anos, acerca da eficiência no controle da proliferação da vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), em territórios em que ela se encontra já estabelecida, por meio das armadilhas de captura das fundadoras após a sua saída de hibernação.

Num artigo de divulgação científica, publicado em abril deste ano, surgem finalmente dados científicos que dão suporte à tese de que uma rede adequada de armadilhas devidamente selectivas para a captura de fundadoras desta espécie exótica diminui de forma significativa a proliferação de seus ninhos. Em baixo traduzo alguns excertos do artigo.

Ninho de vespas asiáticas (Vespa velutina nigrithorax).

“Embora utilizado no campo por algumas redes locais de controle, esse método de controle nunca foi oficialmente recomendado porque os estudos científicos existentes sobre o assunto não mostraram, até então, qualquer efetividade real. Além disso, destacaram um impacto sobre os insetos não visados ​​por esse método, devido à baixa seletividade das armadilhas e iscas disponíveis. O Ministério da Agricultura mandatou o ITSAP-Institut de l’Abeille e o Museu Nacional de História Natural (MNHN) completar esses dados e permitir que os efeitos deste método de controle sejam medidos, numa escala sem precedentes.

Para a realização deste estudo, contámos com dados da ciência cidadã, combinados com os obtidos por meio de um protocolo rigoroso. Esses dados incluem a contagem e localização dos ninhos de vespas asiáticas, as armadilhas usadas e o número de fundadoras capturadas. Estes censos foram repetidos ao longo de quatro anos consecutivos (2016-2019) e realizados em três departamentos (Morbihan, Vendée e Pyrénées-Atlantiques).

As relações estatísticas entre a densidade de ninhos e o esforço de captura foram analisadas através de estudos espaço-temporais realizados pela unidade BioSP (BioStatistics and Spatial Processes) do INRAE ​​d’Avignon.

Eficaz, desde que as velutinas sejam o alvo
Como esperado, as análises revelaram a eficiência da instalação de armadilhas preferencialmente em locais onde houve ninhos no ano anterior. A análise da dinâmica espaço-temporal da captura mostrou que a presença de armadilhas é acompanhada por uma diminuição no número de ninhos ao longo do tempo. O principal fator para essa redução é a presença localizada de armadilhas e não a quantidade de armadilhas ou fundadoras capturadas. O efeito desaparece quando se afasta as armadilhas para lá dos 400 m. O efeito sobre os ninhos é tanto mais importante quanto a captura é repetida em vários anos sucessivos. Por exemplo, aplicando as armadilhas ao longo de quatro anos em vez de três, pode multiplicar por cerca de 2 o seu efeito na redução do número de ninhos.

Em contraste, colocar várias armadilhas num mesmo lugar não tem um impacto significativo. Isso parece comprovar que a eficácia deste método depende do estabelecimento de uma malha densa e regular de armadilhas, centrada na área a ser protegida, respeitando um espaçamento de algumas centenas de metros entre dois dispositivos. Na ausência de armadilhas e iscas seletivas, a captura de primavera deve ser realizada em torno dos apiários que experimentaram uma mortalidade excessiva de colónias atribuída ao vespão asiático no inverno anterior.

Não se trata, portanto, da aplicação de armadilhas generalizadas em todos os territórios, mas sim de armadilhas direccionadas para proteger os apiários afectados. Os dados disponíveis sobre a seletividade das armadilhas indicam que deve ser proibido o uso de armadilhas com garrafas, iscas líquidas e favorecido o uso de armadilhas com cestos com cones de entrada do tipo “JabeProde”.

( fonte: http://blog-itsap.fr/efficacite-piegeage-fondatrices-frelon-asiatique/?fbclid=IwAR0RzYzEVsUsLkoraVQBJQsXSHNj-l7IHUJEeAnxbd-Xwuz8wJxnaXNVBJE )

Notas: Sobre o Jabeprode (julgo ter sido o primeiro a escrever em Portugal sobre este dispositivo) escrevi recentemente: “O JABEPRODE é um dispositivo que poderia facilmente ser produzido industrialmente, numa qualquer empresa de moldes, assim as entidades oficiais camarárias e outras patrocinassem o seu fabrico, promovessem o que de melhor se vai fazendo nesta área, e as entregassem gratuitamente aos apicultores. Estou certo que muitos de nós iriam aderir ao projecto. Uma vez mais os apicultores desejam ser referência na protecção da entomofauna e biodiversidade e contribuir para a diminuição da tremenda mortandade que as V. velutinas e as armadilhas não selectivas, colocadas um pouco por todo o lado e ao longo de todo o ano, causam em insectos polinizadores não-alvo.”

Sobre a planificação de uma rede de colocação de armadilhas, deve ser um trabalho coordenado pelos nossos representantes locais (câmaras e seus serviços de protecção civil). A sua execução poderá contar com munícipes que formarão uma rede de voluntários, apicultores e demais, para a realização de algumas das tarefas no terreno, mas sempre com a supervisão e responsabilidade das câmaras e seus serviços de protecção civil na indicação dos locais preferenciais para a instalação das armadilhas, assim como o fornecimento de armadilhas efectivamente selectivas. Está na altura de dar este passo em frente, com vista a uma luta planeada, coordenada, eficiente e selectiva.

3 comentários em “finalmente provado: a eficiência de capturar as vespas asiáticas fundadoras”

  1. A minha prática leva-me a concordar com “o principal fator para a redução é a presença localizada de armadilhas e não a quantidade de armadilhas”.
    No início coloquei seis armadilhas por apiário (de 30 a 40 colmeias cada um) nas proximidades dos apiários, durante os meses de janeiro a maio. Capturava em média 35 vespas fundadoras, cada 15 dias, em cada apiário, com redução de capturas a partir de meados de abril.
    Na época seguinte reduzi as armadilhas para três por apiário, colocadas no mesmo período e local, e a média de capturas de vespas manteve-se, praticamente invariável em cada apiário.
    Além do período de janeiro a maio, passei também a montar armadilhas no período pós acasalamento, e antes da hibernação das fundadoras, no período de finais de outubro a dezembro, com resultados de captura de fundadoras significativo, mas em menor quantidade do que no período de janeiro-maio.

  2. Agradeço muito que que partilhe os seus (grandes) conhecimentos sobre apicultura com outros apicultores. Como eu. Que estou a começar. Tão deslumbrado com estes maravilhosos insetos, como apreensivo e receoso de cometer erros e danos irreparáveis.
    Pelo que leio dos seus textos, não tenho dúvida que o Eduardo é um erudito da apicultura.
    Também estou na Beira Alta e muitos contextos são idênticos.
    Parabéns pelo seu trabalho
    Muito obrigado
    Bom fim de semana
    Com os melhores cumprimentos
    Carlos Figueiredo por

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