porque se foram embora as abelhas da colmeia

Aproxima-se a época do ano em que surge, nos grupos de apicultores na net, insistentemente este tipo de pergunta: “porque se foram embora as abelhas da colmeia?… na última visita tinha muitas abelhas!!!”.

Há três coisas básicas que é necessário saber para iniciar a análise deste tipo de observação: 1) o comportamento colectivo de abandono das abelhas do seu ninho é conhecido por deserção (absconding é o termo utilizado em língua inglesa); 2) as abelhas melíferas europeias, que evoluíram ao longo de milhares de anos em climas temperados, raramente apresentam este comportamento; 3) este comportamento é mais frequente nas sub-espécies que evoluíram em climas tropicais.

Em resumo, na Europa assim como noutras zonas do globo, caracterizadas por climas temperados, as abelhas não desertam ou fazem-no muito raramente. Como explicar então o “súbito” desaparecimento das abelhas da colmeia, tão frequentemente relatado em fóruns de apicultores? Por um erro de avaliação dos factos e por uma perspectiva inadequada.

As abelhas foram embora!?

Quando se deparam com uma colmeia sem abelhas os apicultores menos experientes atribuem a causa a um comportamento de deserção/fuga, um evento em que toda a colónia faz as malas e sai em busca de pastagens mais verdes. Na verdade na maioria dos casos, senão até em todos, o “desaparecimento súbito” das abelhas deve-se ao colapso e à morte da colónia. Este infeliz fenómeno tem, geralmente, na sua origem doenças virais associadas aos ácaros Varroa. Este colapso catastrófico pode acontecer rapidamente e mais notavelmente nas colónias mais fortes — aquelas com mais ácaros se o tratamento foi negligenciado, tardio ou ineficaz. Nestes casos não encontraremos pilhas de abelhas mortas deixadas para trás, como no caso de morte por fome. Encontramos apenas uma colmeia vazia. É no final de julho, em agosto e setembro quando surgem mais relatos destas pretensas fugas de enxames das colmeias.

Alguns números podem elucidar o fenómeno do “desaparecimento súbito” de abelhas. Nesta altura do ano, entre julho e setembro, morrem de velhice cerca de 1000-2000 abelhas/dia. Em dez dias, morrem entre 10 000 e 20 000 abelhas por colónia. Se as novas gerações de abelhas não chegam a emergir dos alvéolos ou estão seriamente comprometidas e sobrevivem poucos dias, não é surpreendente que um apicultor encontre uma colónia vazia duas a três semanas depois da última visita. Quando a natural renovação de gerações não se dá, uma colmeia a bordejar de abelhas na visita realizada 3 semanas antes surge-nos agora “subitamente” vazia.

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