Um dos meios para controlar as populações de Vespa velutina consiste na localização e eliminação dos seus ninhos. Estas operações devem acontecer tão cedo quanto possível, antes da criação das futuras fundadoras. A maior limitação desta estratégia consiste na localização dos ninhos. Para ultrapassar este enorme obstáculo algumas equipas de investigação estão a testar e aperfeiçoar dois tipos de técnicas: i) recurso ao radar harmónico; ii) recurso à radiotelemetria.
Se numa publicação recente sobre a utilização do radar harmónico para a localização de ninhos, enunciei as suas virtualidades e limitações, chega agora a hora de fazer o mesmo acerca da utilização de equipamentos de radiotelemetria. Para isso, recorro à tradução de um texto de divulgação científica.
“A vespa asiática Vespa velutina é uma espécie invasora que chegou a França em 2004 e desde então tem causado grandes danos à apicultura. O desafio atual é tentar controlar seus níveis populacionais e, assim, reduzir a pressão que exercem sobre as colónias de abelhas. A medida mais eficiente no momento é a destruição o mais precoce possível de seus ninhos, mas o problema é como localizá-los. Cientistas do INRA [França] e seus colegas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, desenvolveram uma técnica original de radiotelemetria que, rastreando estes insetos no seu voo de retorno ao ninho (homing), permite uma rápida detecção de seus ninhos. Este trabalho acaba de ser publicado [2018] e oferece um método promissor para o controle de vespas asiáticas.
O vespão asiático é um perigoso predador das abelhas. Desde sua chegada a França em 2004, sua frente de invasão estendeu-se gradualmente a Espanha, Portugal, Itália, Reino Unido, Bélgica e Luxemburgo. Os possíveis fatores que podem restringir sua propagação são a ausência de água que esses insetos precisam para construir seus ninhos e a altitude. Os recursos alimentares não são limitantes, porque além de predar os insetos, as vespas podem alimentar suas larvas usando outras fontes de proteína (carne ou peixe de barracas de mercado, resíduos de pesca, carcaças de gado). A única possibilidade crível de controlar essa praga invasora é limitar suas populações, e duas técnicas são usadas no momento: i) a instalação de armadilhas com isca para capturar e eliminar as fundadoras, e ii) destruir os ninhos o mais cedo possível.
Cientistas do INRA e seus colegas britânicos, especialistas no uso de radiotelemetria em insetos, desenvolveram uma técnica original que envolve equipar vespas asiáticas com tags/transponders de rádio para que possam ser rastreadas de volta aos seus ninhos.
Os cientistas do INRA capturaram vespas que buscavam alimentos perto de colmeias. Em seguida, equiparam-nos com um tag/transponder suspenso ventralmente, amarrado com um fio de algodão. Após longos testes, os cientistas selecionaram vespas com um peso mínimo de 0,35 g para carregar uma tag/transponder de 0,28 g com alcance de 800 m. Na verdade, tinham observado anteriormente que 80% destas vespas podiam carregar até 80% de seu peso corporal.
As vespas marcadas foram treinadas para voar com o tag/tranponder numa gaiola antes de serem soltas e os cientistas puderam segui-los à distância até ao seu ninho. Assim, foi possível detectar ninhos até 1,33 km do ponto de partida da operária.”
fonte: https://www.inrae.fr/en/news/tracking-asian-hornets-they-return-their-nests-method-control-these-dangerous-honeybee-predators
Notas: 1) O equipamento de radiotelemetria tem um custo (valores de 2018) para o receptor e antena de £ 2.000 (libras inglesas) e cerca de £ 140 por tag/transponder. (fonte: https://www.nature.com/articles/s42003-018-0092-9);
2) como fica claro das duas publicações sobre o rastreamento das velutinas “tagar” ou “chipar” as velutinas não é nem barato nem simples. Não é exactamente como ir ao veterinário chipar o cãozinho ou o gatinho. “Chipar” velutinas que mal pesam 0,35 gr. com micro-chips que pesam… 8 gr. (como já li nas redes sociais) é demasiada carga para a mula!
Boa noite,
Quanto às redes socias, lêem-se muitas opiniões mas nem sempre as mesmas são fonte de conhecimento.
Quanto ao que refere, considero que essa tecnologia (conheço bem porque trabalho com tags) rapidamente se conseguirá por menos de metade do preço.
Ora, um receptor e antena é um investimento único o que significa um rápido retorno de investimento, as tags são o investimento recorrente para eliminação do ninho.
No entanto, para o apicultor são valores incomportáveis mas e para as associações, protecção civil, bombeiros, etc?
Porque é que as associações não juntam esforços para criar um estratégia de combate a esta praga e entregam ao Governo de forma pública?
Sim, porque neste momento a opinião publica é importante e este problema começa a ser do conhecimento do cidadão “comum” e não apenas do apicultor.
Nuno, boa noite!
Sem dúvida, estas são ferramentas para serem adquiridas pelos Serviços de Protecção Civil das Câmaras, entre outros serviços estatais. Depois de expor os montantes incomportáveis e a complexidade do rastreamento para os apicultores pretendo, brevemente, fazer uma publicação acerca da racionalidade de as entidades públicas fazerem o investimento nestes meios. Quanto mais os apicultores, em desespero, se ocuparem de fazer um combate pouco eficiente porque pouco informado, pouco coordenado e pouco dotado de meios adequados, mais os serviços de entidades estatais (pagas por todos) se deslaçarão da sua responsabilidade neste combate.