Desde muito cedo, logo no meu primeiro ano como apicultor profissional, me dei conta que tendo a colónia uma rainha que não faz postura de ovos de obreira nem sempre as abelhas a substituem. Este aspecto dificulta ou impede mesmo a criação de nova rainha e/ou a aceitação de nova rainha introduzida por meio de uma gaiola. Parece, nestes casos, que as abelhas rainhas emitem sinais “desonestos” às obreiras que com ela co-habitam nos enxames, conduzindo os enxames para uma situação de irremediável morte, caso nada seja feito pelo apicultor. Não vejo como este fenómeno se enquadra no leque de comportamentos altruístas que todos nós, apicultores, investigadores e amigos das abelhas atribuímos aos enxames de abelhas.
Sobre este fenómeno existe alguma investigação, nomeadamente a que aqui foi publicada: The role of the queen mandibular gland pheromone in honeybees (Apis mellifera): honest signal or suppressive agent? Os investigadores concluíram que as feromonas reais libertadas pela glândula mandibular das rainhas não-fecundadas e/ou com postura só de zângão, não atua como um sinal “honesto” para as operárias, não dão uma indicação confiável do valor reprodutivo da rainha. Contudo, são um agente supressor, inibindo a postura das operárias independente da capacidade reprodutiva da rainha. Dito por outras palavras, uma rainha que que por alguma razão não é fecundada e/ou apresenta apenas postura de machos, continua a funcionar como agente inibidor da postura de obreiras, apresenta postura de ovos não fecundados que darão origem a zângãos, e emite todos os componentes semioquímicos presentes nas feromonas mandibulares de uma rainha fecundada, iludindo as obreiras que nada fazem para a substituir.
Este ano, uma vez mais, deparei-me com alguns destes casos. Resolvi-os eliminando prontamente estas rainhas “desonestas” e com posterior introdução de mestreiros.