as lições retiradas dos relatórios apícolas dos EUA

Sou um leitor ávido e habitual de relatórios anuais publicados por algumas associações/institutos de apicultura, tendo já publicado um ou outro pelo interesse que encontro nos seus dados (ver por ex. aqui). Acho os relatórios extremamente didácticos pela visão macroscópica que me permitem elaborar, pelo sentido que dão às observações mais fragmentares que vou fazendo nos meus apiários e pelo reforço que dão a algumas das acções basilares no maneio das minhas colónias.

As observações demasiado fragmentares, sem a devida integração e comparação com dados de natureza mais global, são semelhantes ao “olhar de um boi para um palácio”!

Nas duas últimas newsletter (28/12/2020 e 05/01/2021) que recebi do Bee Informed (EUA) é apresentada, na primeira, a análise de vários especialistas regionais acerca das tendências encontradas nas operações apícolas “comerciais” (operações com mais de 500 colónias) e os resultados do Sentinel Apiary Program, na segunda.

Relativamente à primeira newsletter (28/12/2020) chamou-me a atenção a organização e a quantidade de trabalho realizado pelos diversos especialistas que acompanham as operações comerciais e transumância de colónias entre várias regiões, da qual podemos ver um vislumbre no esquema em baixo.

Mapa das regiões das equipes de transferência de tecnologia BIP. Os pontos amarelos representam a base de cada especialista de campo e os pontos laranja identificam os estados onde eles fornecem serviços de supervisão de colónias. As setas indicam os movimentos dos especialistas de campo à medida que seguem as migrações de colónias de abelhas dos apicultores “comerciais” dos EUA durante a temporada de apicultura.

Na Região Noroeste, Ben Sallmann, o especialista de campo dessa região apresenta o seguinte sumário, no qual revejo boa parte dos eventos meteorológicos no território dos meus apiários em 2020: “Em fevereiro passado (2020), as condições climáticas da Califórnia foram ideais para a produção de amêndoas, e as abelhas também tiveram acesso a uma quantidade maior de pastagem este ano em comparação com o anterior. Portanto, as colónias cresceram muito rapidamente e os apicultores constaram muita enxameação. Durante este período, o clima da região noroeste foi chuvoso e muitos destes enxames fracassaram na fecundação das novas rainhas [não tive esta experiência, julgo que em boa medida porque consegui adiar a enxameação para “fora” da época das chuvas, para lá de meados de maio para ser mais concreto]. Não surpreendentemente, os níveis de infestação pelo ácaro Varroa também aumentaram mais cedo este ano. A loque europeia foi menos prevalente em 2020 em comparação com 2019, mas foi observada em algumas das colónias utilizadas para polinizar mirtilos [não sei o que é loque europeia, felizmente] . O mesmo padrão também se verificou nas taxas de infecção por ascosferiose (cria de giz) [doença muito esporádica e rara nas minhas colónias]. Embora os dados do Nosema sejam difíceis de avaliar devido à redução nos testes do Nosema este ano, em geral, as amostras que foram analisadas mostraram contagens de esporos mais baixas em comparação com os dados de 2019 [ao longo dos anos não tenho notado colónias com problemas críticos de nosemose, felizmente]. Neste outono, os níveis regionais de Varroa aumentaram consideravelmente depois que as rainhas começaram a diminuir a sua postura e muitas dessas colónias continuaram a enfraquecer, mesmo após a aplicação de tratamentos de controle de Varroa [sim, este ano constatei o mesmo em cerca de 20% das colónias tratadas]. Por outro lado, observamos menos sintomas visíveis de infecções virais do que anteciparíamos com cargas de Varroa tão altas [vi sinais evidentes e intensos das infecções virais nos 20% das colónias referidas em cima]. No geral, os apicultores que realizaram um tratamento de Varroa no início do verão se saíram muito bem.” fonte: https://beeinformed.org/2020/12/28/the-bee-informed-partnership-field-specialists-report-on-2020-commercial-beekeeping-trends/

Da segunda newsletter (05/01/2021) com os resultados do Sentinel Apiary Program

Em 2020, apicultores com 76 apiários representando 394 colónias participaram no Programa Sentinela. O laboratório da Universidade de Maryland processou quase 2.000 amostras do programa durante a temporada para monitorar Varroa e Nosema! 

… quero enfatizar uma vez mais a importância crítica do mês de agosto para iniciar o segundo tratamento contra o ácaro varroa (ver mais aqui). Também nos EUA este mês adquire, em muitas regiões, a mesma importância para quem deseja controlar efectivamente e a tempo e horas o ácaro. No gráfico em baixo verifica-se que o limiar de 3% de infestação de abelhas adultas (demarcado pela linha tracejada) é ultrapassado no mês de agosto para a média nacional. Estes dados não me surpreendem; já há alguns anos leio relatos no Beesource, por parte dos apicultores mais experimentados, para a necessidade de controlar a varroa nos meses de julho e agosto.

No relatório detalhado podemos ler: “Detectámos Varroa em mais de 70% das amostras do Sentinel recebidas em 2020. A percentagem de amostras contendo Varroa aumentou ao longo da temporada. A partir dessas amostras positivas, a fração das que atingiram o valor limite de 3 ácaros por 100 abelhas também aumentou ao longo dos meses (linha tracejada).

fonte: https://beeinformed.org/2021/01/05/sentinel-apiary-program-2020-wrap-up-and-2021-sign-up/

perspectivando o novo ano apícola

Terminado 2020, um ano inesperado do ponto de vista da saúde pública, contudo relativamente normal no que respeita à minha actividade apícola — os diversos constrangimentos surgidos não alteraram de forma importante o trabalho que fui realizando ao longo do ano nos apiários — proponho-me nesta publicação elencar algumas linhas-de-força do que pretendo para o novo ano, enunciando o que pretendo modificar e aquilo que pretendo manter e até intensificar no maneio das colónias.

Em 2020 fui confrontado com uma taxa de insucesso no segundo tratamento anual contra a varroose, aqui relatada, que me impele a fazer algumas modificações na abordagem que pretendo fazer neste novo ano. O plano está gizado, escreverei sobre ele após a sua concretização e depois de avaliados os primeiros resultados.

Pretendo manter o maneio de prevenção e controlo da enxameação.

Finalmente, pretendo intensificar esta técnica de desdobramento.

Um novo ano com muita saúde para todos!

o que observo nas minhas abelhas, nos meus apiários, nos respectivos territórios…

Esta publicação vem a propósito das “verdades” apícolas que todos, sem excepção, transportamos dentro de nós, aplicamos no nosso maneio e, algumas vezes, desejamos convencer outros apicultores a aplicá-las, defendendo convicta e teimosamente que são o único e melhor caminho para uma prática apícola bem sustentada. Entre outros aspectos, esta atitude imperativa e impositiva, assumida por alguns apicultores, ainda que cheios de boa vontade na divulgação da sua “verdade universal” que lhes parece tão óbvia, esquece dois aspectos fundamentais:

  1. toda a apicultura é local. Para mim, isto quer dizer que apesar dos diferentes enxames de abelhas apresentarem uma vasta gama de comportamentos e necessidades bastante universal e semelhante, os momentos, épocas do ano, em que os apresentam pode diferir de local para local semanas ou até meses. Na minha opinião, um exemplo bastante elucidativo deste caso é o ciclo anual de desenvolvimento e declínio da população de uma colónia de abelhas, um aspecto básico para um maneio pertinente das colónias.
  1. sem um grupo de controlo que permita testar devidamente hipóteses explícitas e/ou implícitas — acerca das vantagens deste ou daquele tipo de maneio, desta ou daquela peça de equipamento, desta ou daquela opção para alimentar e nutrir as colónias, desta ou daquela… — as conclusões retiradas destas experiências “ingénuas” em rigor pouca ou nenhuma validade têm.

A este propósito chamo, uma vez mais, a atenção para as lacunas formativas no nosso país, ultrapassáveis com centros apícolas devidamente sustentados e orientados, onde as conclusões retiradas de experiências devidamente controladas com a nossa abelha autóctone e em territórios representativos da diversidade edafo-climática do todo continental e insular, serviriam de referência para as opções que os apicultores tomariam.

Será esta lacuna e ambição para a superar exclusiva do nosso tempo e do nosso país? O texto em baixo, com mais de um século, de um apicultor de nome Flint, do Michigan (EUA), recentemente trazido à luz por P.B. no fórum Bee-L, e respectivo comentário de Randy Oliver, ScientificBeekeeping.com, mostram que nem a lacuna é recente nem local, e a ambição de a superar não é exclusiva deste humilde escriba — que vai referindo com frequência que o que observa é nas suas abelhas, nos seus apiários, nos respectivos territórios — e que teme todos os dias que as suas opções de maneio sejam vistas como receitas universais e devidamente testadas. Que fique claro, uma vez mais, que não são nem uma coisa nem a outra. Quem deseje e procure “o receituário” este não é o local indicado para o encontrar.

Nem todo apicultor é “talhado” para ser um experimentador. É necessário uma pessoa com espírito judicioso, que esteja perfeitamente disposta, por assim dizer, a que uma experiência prove a verdade. Muitos de nós temos a tendência de primeiro tomar uma decisão e depois trabalhar e tentar provar aquilo em que já acreditamos. Esta atitude não vai responder ao necessário.

Um experimentador deve estar totalmente desinteressado nos resultados, isto é, estar disposto a que uma experiência teste ambos os lados da questão. Custa dinheiro, tempo e abelhas para experimentar. O apicultor médio não pode dar-se ao luxo de dispensar muitos destes recursos sem uma suposição razoável de que haverá um retorno em dinheiro. Se ele deseja experimentar, será confrontado com a pergunta, será que vale a pena? A menos que haja boas perspectivas de retorno em dinheiro, a motivação para experimentar será abandonada. Estes não são os únicos motivos pelos quais seria aconselhável ter apicultores competentes contratados pelo governo para se encarregarem dos apiários experimentais. A REVISÃO DOS APICULTORES. FLINT, MICHIGAN, 10 DE JULHO DE 1893.

fonte: Bee-L, P.B., 5 dezembro, 2020

Comentário/reposta de Randy Oliver:

Pouco mudou desde 1893:) É tão frustrante ouvir apicultor após apicultor dizer-me “testei esta e aquela coisa”, mas que não se preocupou em fazer um grupo de controle. Você não pode aprender sem um grupo de controle.” 

fonte: Bee-L, Randy Oliver, 5 dezembro, 2020, ScientificBeekeeping.com

o que conta mais para sobreviver ao frio

Vista panorâmica do território
das minhas colónias nos
últimos dias.

Nestes dias frios que as minhas colónias estão a passar no distrito da Guarda estou confiante que a mortalidade será uma vez mais inferior a 5%. Esta confiança advém, basicamente, de dois aspectos: na generalidade têm reservas suficientes para este período (10-12 kgs de mel no ninho) e um número de abelhas (mínimo de 4 quadros de abelhas) que lhes permite uma eficiente termorregulação do cacho invernal. Na preparação da invernagem a última intervenção de fundo que tenho por hábito fazer é transferir os enxames mais pequenos para caixas núcleo, de modo a aumentar a sua densidade, e alimentá-los com quadros com mel ou com pasta açucarada (fondant).

Enxame que sofreu o impacto do PMS e foi transferido em meados de setembro para uma caixa núcleo. Na última inspecção, a 20 de novembro, retirei um quadro com poucas reservas e substitui-o por um com boas reservas de mel claro sem melezitose (à direita).

Para sobreviver ao inverno as abelhas comportam-se como os pinguins imperadores na Antártida. Os pinguins não tentam aquecer todo o continente congelado, eles aquecem-se formando um aglomerado compacto, com os indivíduos externos formando uma camada isolante para os pinguins no interior. As abelhas agem de forma semelhante.

As abelhas aglomeram-se, formando um manto exterior (mantle) que minimiza a perda de calor gerado no núcleo do aglomerado de abelhas (core). Se a colónia tiver criação a temperatura no interior do núcleo de abelhas (cacho) estabiliza entre os 32-35ºC. Se a colónia não tiver criação para aquecer (broodless) as abelhas estabilizam a temperatura em redor dos 18ºC. Por este facto as colónias sem criação consomem poucas reserva neste período quando comparadas com colónias com criação nos dias mais frios. As rainhas apis iberiensis respondem bem neste período, parando a postura, ao contrário por exemplo da apis ligustica (abelha italiana) e/ou algumas linhas híbridas mal-adaptadas, que não param a postura nesta época do ano.

Na imagem térmica de um aglomerado de abelhas numa colmeia horizontal do tipo “top-bar”, é observável como muito pouco calor escapa do aglomerado, deixando a temperatura no espaço restante da colmeia aproximadamente igual à temperatura externa. Muitos estudos mostraram que o aglomerado é eficiente em reter o calor, e muito pouco escapa para a cavidade da colmeia.

Por estas razões não me preocupo em adicionar protecções térmicas, deste ou aquele tipo, às colmeias que albergam os meus enxames, num dos territórios do nosso país mais fustigado pelo frio. Como dizia, há 80 anos atrás, o grande apicultor e investigador Clayton Farrar “Se uma colónia sobrevive ao inverno em boas condições tal é mais determinado pelo grau do seu desenvolvimento nos meses antecedentes do que pelo tipo ou quantidade de proteção da colmeia. ”. Mesmo que vários apicultores adorem discutir a proteção das colmeias no inverno, e sintam que estão a fazer a diferença ao proteger a colmeia com esta ou aquela placa de poliestireno, a minha atenção centra-se na produção de enxames novos numa época do ano que lhes dá o tempo suficiente para se desenvolverem antes do inverno chegar, e centra-se também no tratamento eficaz e a tempo e horas do varroa. Como outros, defendo que a sobrevivência das colónias ao inverno depende muito pouco do que fizermos/adicionarmos à própria estrutura, e muito dependerá da saúde e dimensão da colónia, constituída por abelhas preciosas de inverno maravilhosamente adaptadas ao frio.

bob binnie: a equalização e a regra “não mais de 6” como ferramenta para a prevenção da enxameação

Neste vídeo, o apicultor norte-americano Bob Binnie refere “depois do trabalho de equalização terminado todas as colónias ficam com uma média de 6 quadros com criação” (aos 9’42”). Binnie publicou o vídeo em março de 2020.

Em abril de 2017, na publicação intitulada a regra “não mais de 6, já o humilde escriba deste blog pisava o mesmo terreno.

expandindo o apiário: o cruzamento da experiência de Bob Binnie com a minha

Há cerca de um ano atrás conheci Bob Binnie através das suas palestras virtuais e do seu canal no YouTube. Como alguém diz num comentário “Existem muitos especialistas com 2 ou 3 anos de apicultura ensinando no YouTube como lidar com as abelhas. Este não é um deles. É uma das poucas apresentações que assisti até ao fim e aproveitei cada minuto.”. Também para mim as palestras de Bob Binnie estão noutro patamar.

Bob Binnie e colaborador num dos seus apiários.

Neste vídeo do seu canal Bob Binnie apresenta a sua experiência de cerca de 40 anos no que respeita a alguns pontos da caminhada feita para expandir os seus apiários. Eu, com apenas 11 anos de experiência apícola, revejo-me e identifico-me com muito do que ali é descrito e aconselhado. Acho, de uma forma difícil de qualificar, que o meu percurso seguiu muitas das directrizes e cruzou-se inúmeras vezes com as experiências deste apicultor norte-americano, ainda que não as conhecesse na altura. Há coisas assim!

A palestra de Bob Binnie de março de 2019

Bob inicia a sua palestra sobre a justificação da expansão do(s) apiário(s) subordinando-a ao objectivo que queremos atingir. No meu caso em setembro e outubro de 2009 adquiri 50 colónias com o objectivo de passar a viver em exclusividade da apicultura. Larguei por completo a minha actividade profissional anterior e desde essa data passei a ocupar-me a tempo inteiro com as minhas abelhas.

De seguida pergunta quantas colónias os presentes desejam ter. No meu caso desejava atingir as 1000 colónias em cerca de 5 a 7 anos. Atingi as 700 passados 8 anos, mas teria chegado às mil e até ultrapassado este número caso não tivesse vendido inúmeras colónias ao longo dos anos.

Bob refere que tem 2500 colónias e que deseja baixar este número. De há dois anos para cá tenho reduzido significativamente o número das minhas colónias.

Refere que de há dois anos para cá “perdeu” 6 a 7 colaboradores experimentados e que ficou apenas ele e um colaborador experimentado para gerirem 2500 colónias. E, em razão desta situação, está a chegar atrasado às colónias para as tratar contra os ácaros varroa. A minha realidade difere neste aspecto, primeiro reduzi o número de colónias e só depois terminei a minha relação contratual com o meu empregado. Contudo, algumas vezes, também cheguei atrasado a algumas colónias para as tratar. Quem me segue com mais assiduidade e atenção sabe bem a importância que desde há anos dou à necessidade de fazer os tratamentos atempadamente. Parece-me que esta ideia começa a fazer o seu caminho na nossa comunidade apícola.

Bob alerta a sua audiência que não funciona passar de 5 a 10 colónias para 500 com um “estalar de dedos”. Infelizmente em Portugal e num passado recente as vozes e os estímulos iam num sentido contrário, e vários “jovens apicultores” sentiram o sabor amargo do fracasso, resultado de um projecto megalómano que tinha tudo para fracassar.

Aconselha a “crescer com as abelhas” e de forma gradual. Nos primeiros anos triplicou o número de colónias de ano para ano… de 8 para 25, de 25 para 75,… em 5 anos tinha 500 colónias. No meu caso das primeiras 50 passei para as 90, e no ano seguinte tinha 170,… e passados 5 anos tinha cerca de 450. Crescemos ambos com um saber acumulado de ano para ano que nos permitiu gerir eficazmente o número crescente de colónias de um ano para o outro.

Voltarei a esta palestra e, por agora, termino com esta afirmação de Bob Binnie: “As competências que são adquiridas com a experiência são a “arte” da apicultura. A apicultura é 50% ciência e 50% arte. A arte é o desconhecido, a arte é a forma de fazermos as coisas, arte é como trabalhamos as abelhas, a arte vai crescer durante o percurso, caso contrário falhamos.

tabuleiro divisor: fase final do maneio

Hoje, entre outras tarefas, transferi alguns dos últimos enxames produzidos este ano com recurso ao tabuleiro divisor para caixas-núcleo ou caixas-colmeia. Procuro sempre colocar estes novos enxames em caixas completamente independentes ao longo da estação e antes da invernagem. Assim, evito as dificuldades na alimentação do enxame situado na caixa inferior e a eventual entrada de humidade excessiva por entre o tabuleiro divisor.

Configuração da colmeia: a colónia 1 habita o ninho inferior com entrada no sentido oposto ao visível; tabuleiro divisor com entrada no sentido visível a separar as duas colónias; e colónia 2 no ninho superior.
Vista interior da colónia 2 que ocupa cerca de 5 quadros.
Transferência dos 5 quadros para uma caixa-núcleo; a rainha foi transferida sobre este segundo quadro.
O tabuleiro divisor.
Vista interior da colónia 1 que habita a caixa inferior.
Vista do exterior logo após a transferência dos quadros para a caixa-núcleo, caixa que irá permanecer no local original durante uns dias, antes de ser transferida para outro apiário.
Vista exterior 15-20 minutos após a transferência.

Deixo um vídeo muito interessante do apicultor profissional Bob Binnie, que conjuntamente com sua esposa Suzette, possui e opera a Blue Ridge Honey Co. em Lakemont, Geórgia, uma operação apícola com 2.000 colónias. Bob Binnie também faz uso dos tabuleiros divisores e descreve aqui as vantagens que observa da sua utilização. Binnie foi eleito o “Apicultor do ano” pela Associação de Apicultores da Geórgia em 2003 e tem uma operação apícola com quase quatro décadas.

a invernagem de colónias de abelhas: maneio de preparação

Iniciei hoje a minha semana de trabalho no campo. Estive ocupado com a inspecção das colónias instaladas em dois dos quatro apiários activos. Nestes dias tenho no plano realizar um conjunto de tarefas que visam atingir dois objectivos principais:

  1. Preparar as colónias o melhor possível para o período de invernagem que se aproxima;
  2. avaliar o efeito das acções remediativas encetadas para o controlo da varroose.

Para alcançar o primeiro objectivo publico o foto-filme das acções empreendidas e observações realizadas:

Colocação das réguas de entrada da colmeia na posição de inverno.

Se no periodo do ano em que as temperaturas máximas ultrapassa os 25ºC deixo o óculo da prancheta semi-aberto para que elas decidam se querem ou não a ventilação superior…

… e algumas colónias aparentemente desejam esta ventilação superior porque não fecham com própolis este espaço aberto…
… outras aparentemente não desejam esta ventilação superior porque fecham com própolis o espaço aberto…

… nesta época em que as temperaturas máximas ficam de forma regular abaixo dos 25ºC fecho completamente o óculo da prancheta.

Outras das tarefas passou por avaliar as reservas de mel e reforçar as colónias que me pareceram escassas neste recurso. Tenho como referência a necessidade de ter 4 quadros bem preenchidos de mel por colónia. Estes 4 quadros garantem um total de 10 a 12 kgs de mel, o suficiente para que as minhas abelhas passem os próximos meses 3 meses com hidratos de carbono de qualidade e na quantidade indispensável para a manutenção dos mecanismos individuais e colectivos a uma eficiente termorregulação. Assim substituo os quadros leves com poucas reservas por quadros pesados bem fornecidos de reservas.

Quadros leves retirados e…
… substituídos por quadros pesados com boa quantidade de mel.

De que “cartola mágica” sairam estes quadros com mel?

… das inevitáveis “colmeia armazém“, e que vai receber os quadros leves.

Foi também a oportunidade para verificar/confirmar as novas reservas de pão-de-abelha fresco tão importante para a alimentação desta geração de abelhas de inverno que está agora a ser criada, assim como indispensável para a alimentação da futura primeira geração de abelhas do próximo ano, lá para meados de janeiro.

Criação larvar com aquela boa cor pérola e a “nadar” em papa larval.
Stong bees a serem criadas exclusivamente com os recursos naturais do território!

a solução de um caso concreto de uma colónia com pms

Hoje a chegada ao apiário, onde localizei ontem uma colónia com sinais inequívocos de PMS, foi anunciada novamente pelo levantar voo da comunidade de abelharucos que por ali está instalada. Já os começo a ver com alguma simpatia e até esperança de que possam estar a contribuir para as zero velutinas que vi este ano nos meus apiários.

O que me levou ao apiário não foi contudo a intenção de observar as acrobacias aéreas dos abelharucos. Fui solucionar, o mais rapidamente possível, o caso da colónia com PMS.

Desta colónia, retirei 8 quadros com reservas que não apresentavam criação absolutamente nenhuma e coloquei esses quadros valiosos numa colmeia armazém deste apiário depois de sacudidas todas as abelhas.

A colónia doente, que ficou apenas com os dois quadros que apresentavam criação e respectivas abelhas, foi fechada e retirada do apiário.

Foi transportada para minha casa e colocada num cantinho da horta. Para eliminar as abelhas decidi introduzir água com detergente pelo óculo da prancheta.

Esta foi a solução que achei ser a melhor para este caso concreto de uma colónia já demasiado fragilizada pelo PMS, com uma população de abelhas que não chega para cobrir as duas faces de um quadro e muitas delas doentes pelas viroses, em particular o VAD.

Caso esta colónia tivesse mais abelhas e caso o PMS não estivesse tão avançado, muito provavelmente teria sido tentado a retratar e fazer um esforço mais para a apoiar . Não sendo isso o que vi, decidi retirá-la com a máxima urgência do apiário e eliminar este super-organismo moribundo, como recomenda qualquer manual de boas práticas da pecuária.

Conto em breve, e com um pouco mais de tempo, voltar ao caso desta colónia, que por ser único nos meus apiários nos últimos anos, pretendo aprofundar um pouco mais, agora na perspectiva da formulação de 3 ou 4 hipóteses alternativas que possam explicar as causas deste conjunto infeliz de eventos.

das abelhas resistentes e das cabras sapadores

No passado dia 4 de agosto informaram-me que, num dos dois apiários que tenho a 600 m de altitude, as cabras de um pastor que partilham o mesmo território tinham derrubado uma colmeia. Ao final da tarde desloquei-me a esse apiário para recolocar no assento não uma mas duas colmeia que estavam tombadas pelo chão completamente viradas ao contrário. Não mereceria este episódio ser trazido aqui, outros semelhantes já me têm acontecido esporadicamente (nesses outros casos provocados não por cabras mas por vitelos e/ou vacas), não fossem dois aspectos do maneio que julgo poderão interessar outros companheiros de lide.

As duas colmeias que se cruzaram no caminho das cabras sapadores!

Hoje tive oportunidade de regressar ao apiário e analisar o estado do ninhos de todas as colónias deste apiário, nomeadamente as duas colónias que haviam sido tombadas.

Na colónia da esquerda verifiquei que estava zanganeira apresentando criação fechada de zângão em alvéolos de obreira. Fazendo alguns cálculos leva-me a supor que as colmeias foram tombadas por volta de 27 de Julho: a postura das obreiras poedeiras intensifica-se passados cerca de 28 dias após a postura do último ovo da rainha perdida, e as larvas de zângão são operculadas após 9 dias a contar do ovo de primeiro dia; sendo assim e recuando 37 dias a partir do dia de hoje encontramos a data provável do choque frontal entre as cabras e o assento das colmeias tombadas.

Este é um dos três quadros que a colónia apresentava com postura de poedeiras. Ainda que existam sempre abelhas poedeiras em todas as colónias o seu número aumenta, assim como a expressão da sua postura, numa situação de orfandade irresolúvel pelas abelhas.
Nesta altura do ano a minha solução passa por eliminar a colónia zanganeira e colocar estes quadros com a criação raspada numa colónia viável para que esta aproveite a proteína destas larvas de zângão.

Na colónia da direita verifico que este acidente não provocou um desfecho semelhante ao da colónia da esquerda. Tem rainha ao dia de hoje, com uma postura vibrante, mas… vi meia-dúzia de abelhas com as asas deformadas e vi “isto” num dos quadros…

… alguns alvéolos com pupas desoperculados pelas abelhas (na foto conto 7 que não me levantam dúvidas).

Este comportamento de desoperculação de alvéolos é a manifestação de um certo grau de comportamento higiénico por parte das abelhas, e surge habitualmente na presença de um grau de infestação pelo ácaro varroa relativamente elevado**. Se alguns apicultores acham que este comportamento é por si só sinónimo de abelhas resistentes ao varroa e/ou de linhas excepcionalmente higiénicas e com genética a explorar e desenvolver, eu e outros achamos que este comportamento é um comportamento banal e padrão presente em quase todas as colónias quando sujeitas a uma taxa de infestação que está a atingir valores elevados. Não há neste comportamento nada de excepcional nem superlativo! Pelo que vou vendo estas colónias irão sucumbir aos ácaros e aos vírus por eles transmitidos, não se fazendo nada para ajudar as abelhas. A natureza, intensidade e extensão deste comportamento nas minhas colónias revelou-se até agora insuficiente para me permitir cruzar os braços e esperar que as colónias resolvam o problema. Como não acho correcto fazer marketing com afirmações despudoradas e mal fundamentadas sobre ter abelhas resistentes e, ao mesmo tempo, devo tirar as devidas implicações desta “filosofia céptica” sobre o que é ou não é um traço de resistência, apoiei esta colónia com os recursos disponíveis no momento: dupliquei a dosagem de Apivar.

Colmeia da direita com 4 tiras de Apivar.

E porque adicionei mais duas tiras de Apivar às duas que já lá estão há cerca de mês e meio? Lembro que esta colónia esteve tombada, de pernas para o ar, cerca de 8 a 10 dias, com as duas tiras de Apivar, que tinha colocado cerca de 15 dias antes, fora do sítio indicado. No dia em que as voltei a recolocar no assento não estive com grandes preocupações de colocar as tiras no sítio adequado dada a agitação das abelhas, e só hoje passados 37 dias da data que estimo ter ocorrido o acidente fiz uma inspecção mais atenta. Como só nesta colónia vi o fenómeno de “cria calva” (designação espanhola para o fenómeno que descrevi) atribuo a causa da falta de eficácia no controlo do ácaro à incorrecta localização das tiras. Como entretanto as tiras foram perdendo “potência” pela exposição ao ar (o amitraz degrada-se na presença do oxigénio) e a infestação foi ganhando “potência” entendi que colocar mais duas tiras iria equilibrar as premissas deste jogo de vida ou morte entre as abelhas e o ácaro.

** a traça da cera também provoca a desoperculação dos alvéolos das pupas. Neste caso surgem habitualmente meia-dúzia de alvéolos adjacentes desoperculados e em linha uns com os outros.