os mais visitados em 2019

Ultrapassada, com o contributo inestimável do meu filho, uma dificuldade técnica que me impedia de aceder às estatísticas anuais dos posts mais visitados, ao número de visitas anuais e à caixa de comentários, venho finalmente repor a tradição de elencar os posts mais visitados no último ano (ainda que neste caso os valores incluam também os meses decorridos neste ano de 2020). Nos últimos 12 meses (abril de 2019 a abril de 2020) estão registadas quase 200 mil visitas (198462 visitas em rigor). Este valor, que me surpreendeu, deixa-me com uma certa tremedeira nos joelhos. Com o crescer do número de visitas cresce também a responsabilidade de partilhar coisas tão apaixonantes mas tão incertas e locais como é próprio da natureza das abelhas e da actividade apícola. Agradeço aos leitores e comentadores (a estes últimos peço desculpa e compreensão, pois só hoje, depois de ultrapassada a dificuldade referida em cima, fui capaz de publicar os comentários dos últimos meses, sempre muito bem-vindos e muito estimulantes) que são parte desta realidade. Aqui ficam os posts que mais visitas receberam.

10º mais visitado;

9º mais visitado;

8º mais visitado;

7º mais visitado;

6º mais visitado;

5º mais visitado;

4º mais visitado;

3º mais visitado;

2º mais visitado;

1º mais visitado.

enxameação: sensores bio-orgânicos da predisposição para enxamear

Quem deseja indicadores, estratégias e procedimentos que resultam 99% das vezes não deve vir para a apicultura. Aceitando desde já que esta é a única verdade com um grau de confiança de 99% que conheço em apicultura, vou procurando aprender,… ouvindo outros companheiros, lendo, através da minha experiência, as três combinadas… o abelhês que as minhas abelhas falam.

Desejando que num futuro próximo surjam dispositivos/sensores artificiais/electrónicos que nos permitam compreender e antecipar o comportamento das abelhas, neste caso em particular o da enxameação, vou que ter que viver com o que sei e com o que posso fazer, como todos nós.

Neste caso da enxameação vou arriscar a apresentar uma hipótese, com base em algumas observações que tenho vindo a fazer nos últimos anos, e que ontem re-confirmei e aproveitei para documentar em fotografias.

Como já referi, para cumprir a regra que me auto-impus “não mais de seis” tiro um ou dois quadros com criação no período de pré-enxameação e de enxameação reprodutiva sempre que a colónia atinge 7 a 8 quadros com criação compacta e extensa. Este período vai sensivelmente de meados de março a meados de maio na minha zona, e obriga-me a fazer esta intervenção 3 a 4 vezes. No lugar destes quadros coloco um ou dois quadros com cera laminada ou semi-puxada na posição 2 e/ou 9.

Ninho que ficou na última revisão (há 10 dias atrás) com 6 quadros com criação de obreira mais um com criação de zângão (o que tem a mancha verde) e um quadro com cera laminada na posição 2 (o mais claro a contar da esquerda).
Foto de ontem (14.o4) de outro ninho onde fiz exactamente a mesma intervenção na visita anterior e em cima descrita.
Foto de ontem desta colónia e do quadro colocado na posição 2, há 10 dias.
Foto aproximada do mesmo quadro. Pode observar-se que a rainha iniciou há poucos dias a utilização deste quadro para fazer postura.

Nas 34 colónias deste apiário que tinham sido todas elas trabalhadas da mesma forma na visita de há 10 ou 18 dias atrás (conformação à regra e colocação de cera laminada ou semi-puxada na posição 2 e/ou 9) 28 tinham criação neste quadro. Nas restantes 6 não vi nem um ovo colocado neste quadro.

Quadro de uma das 6 colónias na qual a rainha não colocou um só ovo. Aproveitei para o colocar dentro da câmara de criação/no seio de quadros com postura.

E que tem isto a ver com os sensores bio-orgânicos para avaliar a predisposição da colónia para enxamear ou não num futuro próximo, de 10 a 15 dias?

Das 34 colmeias que vi neste apiário, todas elas com boa profundidada e atenção para despistar indícios de enxameação, nas 28 colmeias em que as rainhas tinham feito postura no quadro 2 e/ou 9 não vi sinais de pré-enxameação, isto é, não vi cúpulas reais com ovos e/ou backfilling, e mestreiros com larvas. Nas restantes 6 colmeias, em duas delas também não vi sinais de pré-enxameação e/ou enxameação, mas nas restantes 4 vi esses sinais. Em três delas vi cúpulas com ovos e numa vi mestreiros com larvas no interior.

Conclusão, a merecer mais confirmação e melhor quantificada:

no período de enxameação desconfiar que todas as colmeias podem enxamear, em especial aquelas em que as rainhas aparentemente abrandam o ritmo de postura, em particular aquelas que não aproveitam os quadros novos com cera laminada, que as abelhas puxam, para aí fazer postura de um travessão ao outro.

Os sensores electrónicos ou biológicos tem duas vantagens principais: (i) alertarem-nos para sinais que nos permitem prever e antecipar o “estado de ânimo” das abelhas e agir de acordo; (ii) poupar tempo e esforço no maneio, neste caso aceitar que se virmos postura recente neste quadros, não necessitamos de despender mais tempo a ver atentamente cada um dos 10 quadros do ninho para concluir que a colónia não se prepara para enxamear nos próximos 10 a 15 dias.

Quadro de uma outra colónia, que me levou a aceitar o princípio que não está com ânimo de enxamear nos próximos 10 a 15 dias, dispensando-me de mais esforço e tempo na sua inspecção. Com mais de 100 colónias em três apiários diferentes para alimentar e inspeccionar ontem, estes sensores biológicos valem bem o dinheiro que gastei neles.

prevenção da enxameação: a tarefa das últimas 3 semanas

A prevenção da enxameação descreve os passos dados para impedir uma colónia de “pensar” em enxamear, isto é, iniciar a construção de mestreiros de enxameação. (ver mais aqui o que podemos fazer ).

Ao contrário do que alguns possam pensar, a prevenção da enxameação é uma das principais tarefas a que muitos apicultores por esse mundo fora se dedicam no início da primavera (época com forte entrada de pólen nas colónias). Tenho para mim que a enxameação não é tanto uma questão genética, é mais uma questão de condições ambientais cruzadas com aspectos demográficos da colónia. Leio referências abundantes a estas medidas de prevenção de enxameação em apicultores que têm abelhas da Austrália a França, passando pelos EUA e Reino Unido. Estes apicultores que lidam com diversas linhagens de abelhas, referem frequentemente e detalhadamente os métodos e técnicas que utilizam para prevenir e, se necessário for, controlar a enxameação.

No meu caso, privilegio como regra de acção regular o grau de expansão da criação no ninho. Para o conseguir reduzo sempre que necessário o número de quadros com criação a 6 e em simultâneo inicio a criação de colmeias armazém de quadros com criação (modelos Langstroth e Lusitana), colmeias com ninho e sobreninho que recebem, desde que apresentem força para isso, os quadros retirados de colónias com mais de 6 ou 7 quadros com criação. Em baixo apresento um pequeno fotofilme que ilustra estes procedimentos e o seu gradualismo ao longo destas três últimas semanas.

Identificação de uma colónia forte o suficiente para “aguentar” o sobreninho. Colónia em regra com 7 a 8 quadros de criação e 9 a 10 quadros bem ocupados por abelhas.
Colónia armazém que recebeu os primeiros quadros com criação de uma outra colónia (1 ou 2 quadros no máximo) no dia 10 de março.
Colocação do 1º quadro com criação no sobreninho. Se colocar demasiados quadros com criação no sobreninho, e nesta época do ano (março), arrisco-me a que as abelhas não sejam suficientes para aquecer este número suplementar de criação, em especial nas noites com temperaturas abaixo do 5ºC.
Hoje (02.04.2020), os sobreninhos estão em geral com este aspecto. Entre a situação acima ilustrada (10.03.2020) e esta actual, estes sobreninhos foram reforçados com mais dois ou mesmo três quadros com criação no passado dia 21 de março.
Colónia, inicialmente com 7 quadros com criação, que ficou conformada à regra não mais que 6.
Tiro um quadro com criação neste tipo de colónias, escolhendo um quadro com criação operculada e prestes a emergir…
… e coloco um quadro com cera laminada de qualidade na periferia da zona de criação.
O quadro com criação é colocado na colónia armazém (acção realizada hoje dia 02.04.2020).

Ao dia de hoje, e neste apiário com 48 colónias do modelo Langstroth, estão 14 colónias armazém, e 34 colónias só com ninho. Em nenhuma delas, após inspecção atenta aos ninhos, vi sinais de enxameação.

Bom trabalho, protejam-se e muita saúde!

método de Pagdens de controlo da enxameação

Controle da enxameação e prevenção da enxameação são coisas diferentes

Controle e prevenção de enxameação são duas coisas diferentes. A última descreve os passos dados para impedir uma colónia de “pensar” em enxamear, por ex. rainhas jovens e colmeias espaçosas e desbloqueadas (ver mais aqui). Em contraste, o controle da enxameação é o que é necessário fazer, desde que surgem os sinais de que a enxameação está iminente. O sinal mais comum e inequívoco é encontrar vários mestreiros durante uma inspeção (atenção que nem sempre os mestreiros são de enxameação). A prevenção da enxameação visa evitar, ou pelo menos atrasar, a necessidade de controlar a enxameação. Sendo necessário o controle da enxameação, a enxameação artificial de Pagdens é uma excelente opção para quem não tem mais que um apiário ou não deseja transferir a colónia desdobrada para outro apiário. O método Demaree de controlo de enxameação é muito utilizado pelos apicultores que não desejam comprometer a produção da colónia e/ou não desejam aumentar o número de colónias.

O princípio do método

Como habitualmente o princípio é separar a rainha e as abelhas forrageadoras da criação e das abelhas amas. Isso é conseguido com algumas manipulações simples aproveitando a tendência das abelhas voarem de volta ao local da colmeia em que foram criadas, ou mais precisamente, ao local da colmeia da qual eles fizeram seus voos de orientação.

Neste pequeno vídeo vemos a esquematização e sequência das operações do método.

O método em detalhe

  • Mova a colmeia que está para enxamear (colmeia antiga) alguns metros do local original.
  • Coloque uma colmeia nova no local original, com a entrada voltada no mesmo sentido.
  • Remova dois quadros do centro da nova caixa.
  • Delicadamente inspecione com cuidado a colmeia que está para enxamear com objectivo de encontrar a rainha, e coloque o quadro com a rainha no centro da nova caixa. Não deve haver mestreiros neste quadro. Empurre os quadros adjacentes e adicione um dos quadros retirados para que a colmeia fique cheia.
  • Se houver meias-alças a colocar, coloque-os na nova colmeia. Se não houve um fluxo intenso, alimentar esta colónia com um xarope 1:1 para incentivar as abelhas a puxar cera.
  • Coloque a prancheta e o tecto na nova colmeia.
  • Junte os quadros na colmeia original, adicione um quadros na zona lateral coloque a prancheta e o tecto deixe o as abelhas a fazerem a “sua coisa”.

Qual o objectivo desta primeira manipulação?

No final desta primeira manipulação, separamos artificialmente a rainha de quase toda a criação e abelhas amas. A rainha está no local original na nova colmeia. Todas as abelhas campeiras retornam ao local original — porque é para onde elas se orientaram — nas horas e dia seguinte. Esta nova colmeia é viável, pois contém a rainha original, abelhas para apoiá-la e muito espaço vazio para ela fazer postura.

A antiga colmeia também é viável, mas somente se as abelhas criarem uma nova rainha. Como existem mestreiros abertos, eles devem ser operculados para permitir a pupação e a metamorfose, que leva 7 dias.

Dia 7

Mova a colmeia antiga para o lado oposto da nova colmeia a alguns metros de distância. As abelhas forragearas que amadureceram na colmeia antiga durante a semana anterior não encontrarão a sua colmeia quando retornarem do campo. Nesta condição entrarão na colmeia mais próxima da colmeia de onde sairam, que é aquela com a rainha original, ou seja, a nova colmeia. Isto aumenta a força da colónia com a rainha original. Mais importante, drena a antiga colmeia de abelhas, tornando menos provável que venham a formar enxames secundários se mais de uma rainha virgem emergir.

É importante que a colmeia antiga não seja aberta nestes primeiros sete dias. Haverá uma nova rainha virgem presente que sairá em breve para fazer o seu vôo de fecundação. Deixe esta colmeia pelo menos mais duas semanas sem lhe mexer. A criação irá emergindo, gerando uma população de muitas abelhas jovens que irão cuidar da rainha recém-fecundada e amplo espaço para ela fazer postura nos dias seguintes.

Dia 21+

A antiga colmeia deve agora conter uma rainha recém-fecundadas e em postura. As inspeções nesta colónia podem começar de novo. A nova colónia, com a rainha original, deve estar em pleno desenvolvimento e o impulso de enxameação muito provavelmente ultrapassado.

Nota: Se deseja aumentar o número de colónias, este método é bastante eficiente. Se não for esse o objectivo, as duas colónias podem ser unidas utilizando jornais. Remova a rainha antiga primeiro, seja para a eliminar (!) ou oferecendo-a a outro apicultor.

Fonte: The Apiarist

o método Demaree de controlo da enxameação

George Demaree (1832–1915) ficou na história da apicultura com o artigo que publicou em 1892 no American Bee Journal, onde descreveu o seu método de controlo da enxameação.

O princípio do método é muito simples.

Quando encontramos mestreiros durante uma inspeção, fazemos uma divisão vertical, separando a rainha mãe e as abelhas forrageadoras das abelhas amas e da criação operculada. Colocamos por cima de uma grelha excluidora de rainhas a criação operculada e abelhas amas.

Alguns dias depois ( 7 dias é o período desejável), retornamos à colónia e destruímos quaisquer novos mestreiros na caixa superior, impedindo assim a maturação e emergência de novas rainhas. Finalmente, deixamos toda a criação emergir na caixa superior.

A aplicação prática do método

O processo é exemplificado pelo diagrama em baixo. O único equipamento adicional necessário é uma caixa de ninho com 10 quadros de cera puxada ou cera laminada e duas grelhas excluidoras de rainhas.

Legenda da esquerda para a direita: colmeia com ninho e duas meias-alças com rainha mãe (Q) e mestreiros de enxameação (qc); ao centro colocação das grelha excluidoras (pontos vermelhos por debaixo e por cima das meias-alças) ; passados 7 dias destruímos os eventuais mestreiros que possam ter surgido na caixa do topo da colmeia.

O método descrito mais detalhadamente:

  • Se encontrar mestreiros durante uma inspeção, remova cuidadosamente o ninho e coloque-o sobre um telhado virado ao contrário.
  • Coloque uma nova caixa de ninho sobre o estrado original. Insira 9 quadros com cera puxada ou laminada, deixando um espaço no meio da caixa.
  • Vá à caixa original e encontre a rainha.
  • Coloque o quadro com a rainha no meio da nova caixa de criação. Esse quadro não deve conter mestreiros.
  • Na caixa onde ficaram os restantes quadros de criação junte os quadros e adicione o décimo quadro na lateral.
  • Adicione uma grelha excluidora de rainha.
  • Coloque as meia-alças por cima da 1ª excluidora de rainhas. Se não houver meias-alças na configuração original, vale a pena adicioná-las agora. Proporcionará uma melhor separação da caixa de criação nova e antiga e incentivará as abelhas a armazenar néctar nas meias-alças, e não na caixa de criação superior (caso o fluxo seja intenso).
  • Adicione uma segunda grelha excluidora de rainhas por cima das meias-alças.
  • Coloque a caixa com a criação original em cima desta 2ª excluidora de rainhas.
  • Inspeccione atentamente esta nova caixa de criação no topo da colónia e remova todos os mestreiros. Sacuda as abelhas dos quadros para fazer isso. Coloque estes quadros juntos e adicione um quadro adicional. Coloque a prancheta a e o tecto.

Deixe a colónia tranquila por uma semana. Na próxima inspeção, só precisará ver a caixa de criação do topo (ou seja, a original).

  • Inspeccione cuidadosamente todos os quadros e remova todos os mestreiros. Novamente, deve sacudir as abelhas dos quadros para fazer isso. Se deixar escapar algum mestreiro, há uma boa chance de a colónia enxamear.
  • Feche a colmeia e deixe a criação na caixa superior a emergir nas próximas duas semanas.
  • Cerca de 21-25 dias após a realização da primeira inspeção (onde encontrou os mestreiros), você pode remover a caixa de criação superior da qual todas a criação terá já emergido.

Fonte principal: The Apiarist

Nota: no meu caso utilizei este método um número de vezes baixo, que se pode contar pelos dedos de uma mão. Sempre que o utilizei consegui controlar a enxameação, sem ter de proceder à divisão da colónia. Apesar de trabalhoso, este método parece-me muito eficaz e adequado para quem deseja controlar a enxameação e não deseja aumentar o número de colónias.

pobres rainha de emergência revisitado

Por feitio e defeito procuro conhecer o mais e melhor possível o que a perspectiva científica me pode dar acerca das minhas opções no domínio da minha profissão de apicultor. Assim o faço em relação à sanidade dos enxames, em particular a varroose, à criação de rainhas de qualidade sem recurso ao translarve, entre mais uns poucos de assuntos. Relativamente à criação de rainhas de qualidade sem recurso ao translarve coloca-se frequentemente a questão da idade das larvas que as abelhas seleccionam para criar as suas rainhas. Existe em muitos apicultores uma arreigada convicção que numa condição de orfanação súbita do enxame promovida pelo apicultor através, por exemplo, da divisão/desdobramento do enxame as abelhas escolhem larvas com 6 ou mais dias de idade, contados a partir da oviposição. Serão estas rainhas de má qualidade, que nascerão antes de todas as outras, matarão as suas irmãs ainda dentro dos mestreiros, que serão as rainhas entronadas. Apicultores de renome como por exemplo Jay Smith, C.C. Miller, Michael Bush, com base nos seus muitos anos de experiência e observações feitas nos seus apiários, não alinham com esta ideia-feita. Segundo eles, as abelhas escolhem e seleccionam os melhores mestreiros e as melhores rainhas de emergência disponíveis naquele enxame em concreto. Bem, pode sempre dizer-se que apesar dos atributos destes perspicazes apicultores, faltou-lhes condições mais controladas e verificáveis para dar outra confiabilidade às suas conclusões. Certo e pertinente.

E esses estudos controlados e verificáveis têm vindo a surgir… e, saliento, a confirmar as ideias destes ilustres apicultores. Por exemplo este estudo, publicado em 1999, deixa bem claro que as abelhas numa condição de emergência criaram apenas rainhas a partir de ovos/larvas que, no momento da orfanação, tinham 1 a 5 dias de idade. Com mais detalhe, a maioria das rainhas foram criadas a partir de indivíduos que eram ovos  no dia da orfanação (69,2%), e cerca de metade destes eram ovos de 48-72 horas de idade (34,1 %).

Este outro estudo, que conheço há uns anos (http://www.cyfronet.krakow.pl/~rotofils/Tofilski_Czekonska2004.pdf), publicado em 2004 na prestigiada revista Apidologie, tornou-se uma referência nesta linha de investigação pelo rigor e a elegância metodológica. Em boa medida confirma os dados recolhidos do estudo anterior: a idade média dos indivíduos a partir da qual os mestreiros foram construídas foi de 3,0 dias. A idade da criação que deu origem a rainhas nascidas/emergidas foi de 3,4 dias (a idade é contada a partir do dia em que se deu a oviposição). Apenas um número residual de mestreiros foram construídos a partir de larvas com 6 dias, a contar da oviposição, e acabaram por ser destruídos mais adiante pelas abelhas.

Duas notas muito interessantes e importantes que expressam bem o comportamento selectivo das abelhas para garantir as melhores rainhas possíveis em situação de emergência:

  • A maioria dos mestreiros (60,3%) foi destruída pelas abelhas, 17,6% antes da sua operculação e 42,7% após a sua operculação;
  • Enquanto as rainhas abrem um pequeno buraco na parede lateral do mestreiro para picar a sua irmã concorrente antes desta emergir, as obreiras abrem um buraco muito maior na parede lateral e, em vez de picarem a rainha, removem-na do mestreiro. Noutras circunstâncias as abelhas não permitem que rainhas recém-emergidas andem livremente pelo ninho e destruam as suas irmãs concorrentes por emergir.

Tenho para mim que a eventual falta de qualidade das rainhas de emergência se deve em grande medida à incompetente acção do apicultor (e tantas vezes já cometi acções incompetentes com as minhas abelhas) ao deixar um número insuficiente de abelhas, com a idade inadequada e numa caixa com poucas reservas/alimento a criar essas rainhas.

colónias conformadas à regra “não mais de 6” produzem mel?

Dado o interesse que a “regra não mais de 6” suscitou em vários apicultores que me contactaram, questionando e procurando mais alguma informação, surgiu algumas vezes nestas conversas a questão: e estas colmeias assim trabalhadas produzem mel? Da minha experiência, que trabalho com os modelos Langstroth e Lusitana, a resposta sumária é sim (com as reversíveis em teoria poderá ser diferente, mas não tenho experiência directa que o confirme porque não trabalho com este modelo de colmeia). Mas vamos a alguns números para todos entendermos melhor a minha observação reiterada e a minha resposta sumária (apesar de a apicultura não ser uma ciência, é uma arte que se fundamenta por ex. nos números/matemática).

Lembro o que escrevi em 2017: Em quase todas as colmeias com 8 quadros de criação estou a retirar 2 quadros com criação e a colocar um quadro com cera laminada na posição 2 e um outro de meia-alça na posição 9.

Uma colónia com 8 quadros de criação à saída do inverno apresenta os 10 quadros do ninho bem cobertos de abelhas. Grosso modo temos 20 mil abelhas no ninho (2 mil por quadro).

Colónia com 9 a 10 quadros bem cobertos de abelhas (foto tirada a 18 de março do ano passado num apiário a 900 m de altitude, no início do fluxo da urgueira).

Tiro dois quadros deixando 6 quadros com áreas substanciais preenchidas por criação (operculada e não operculada). Destes 6 quadros vão nascer/emergir cerca de 30 mil abelhas, nos próximos 20 dias.

Um quadro langstroth ou lusitano tem cerca de 7 mil alvéolos, retirando dois mil para o arco de mel e pólen, nestas condições cada quadro, como o da foto em cima, vai dar cerca de 5 mil novas abelhas à colónia.

Segundo a lei de Farrar os quilogramas de mel produzidos são uma função quadrática do número de abelhas da colónia e duração e quantidade do fluxo de néctar. Trocando por miúdos, quer dizer o seguinte:

  • 20 mil abelhas produzem 4 kgs de mel para o apicultor (2 ao quadrado);
  • 30 mil abelhas produzem 9 kgs de mel para o apicultor (3 ao quadrado);
  • 40 mil abelhas produzem 16 kgs de mel para o apicultor (4 ao quadrado);
  • 50 mil abelhas produzem 25 kgs de mel para o apicultor (5 ao quadrado);
  • 60 mil abelhas produzem 36 kgs de mel para o apicultor (6 ao quadrado).

No caso da utilização da “regra não mais de 6” teremos uma média de 50 mil abelhas na colónia (as 20 mil do ninho e as 30 mil novas abelhas que se lhes juntarão). Por cada geração de abelhas (que medeia os 35 a 45 dias), e assim a duração e a quantidade do fluxo de néctar o permitam, estas colónias poderão produzir em média 25 kgs de mel.

Nota: Deu-me muito prazer ter lido há poucos dias atrás que Mark L. Winston, investigador canadiano que está entre os mais referenciados na literatura apícola, concluiu através dos seus trabalhos de campo que as abelhas tendem naturalmente a enxamear quando ocupam cerca de 90% da área disponível dos favos na cavidade/colmeia que habitam. Não andei muito longe da conclusão de Winston quando escrevi em 2017 “A análise do histórico das minhas colmeias tem-me mostrado que trabalhando com uma só caixa a ninho, existe uma correlação assinalável entre os 8 a 9 quadros de criação no ninho e o facto de as abelhas entrarem em modo de enxameação.”

recuperação de uma colónia orfã/zanganeira

No dia de hoje, entre a selecção e preparação de 12 colmeias langstroth para entregar a um cliente nos próximos dias, alimentação de algumas colónias, reajustamento das tiras de apivar em 67 delas, preparação das colónias com sobreninho para a colocação da grelha excluidora de rainhas nos próximos dias, expansão do ninhos, ainda sobrou um pouco de tempo para iniciar a acção de recuperação de uma colónia que ficou orfã/zanganeira durante o inverno. Entre diversas formas de proceder para concretizar esta recuperação ganhei um gosto especial por esta que descrevo em baixo, pela sua simplicidade e eficiência, não por ser a melhor. Também nesta situação, como em quase todas as outras que me vão surgindo no dia-a-dia da apicultura, tenho a convicção que dificilmente encontrarei uma forma de agir que eu possa designar “a melhor…”, … fico até arrepiado quando ouço um apicultor dizer que esta ou aquela forma de fazer é “a melhor forma de…”.

Colónia que foi identificada como estando orfã/zanganeira há cerca de dois meses atrás. Merece o meu esforço de a apoiar a ultrapassar esta disfunção pelo elevado número de abelhas que apresenta.
Quadro com criação predominantemente operculada que esta colónia orfã recebeu. Este quadro oferece a esta colónia abelhas jovens e ajuda a equilibrar etariamente a sua população. Este procedimento será repetido uma vez mais esta semana, dentro de 3 a 4 dias. Na próxima semana o procedimento será repetido uma a duas vezes mais. Posteriormente será introduzida uma rainha virgem ou será permitido que a colónia crie a sua rainha.
Colónia doadora que tinha sete quadros com criação e que ficou conformada à regra “não mais que 6“.

para que não morram na praia

Com a menor taxa de mortalidade de inverno desde que me dediquei em exclusividade à apicultura (2,7% de colónias mortas ou disfuncionais até à data), não posso esquecer que os perigos do final de inverno estão mais do que nunca presentes nos meus apiários neste final de fevereiro—entrada de março, e de um momento para o outro podem fazer subir a taxa de mortalidade para percentagens acima dos 30%. A descrição do principal perigo nestas datas é fácil de compreender e felizmente a solução está ao meu alcance, como ao alcance de todos julgo eu.

Como já referi a entrada generosa de pólen, assim como a varroose devidamente controlada, são os gatilhos indispensáveis para que o turnover de abelhas de inverno para abelhas de verão se faça a um bom ritmo nos meses de fevereiro e março, nos meus apiários.
Nesta altura uma parte importante das minhas colónias apresenta quadros com criação operculada semelhantes aos que vemos em cima. Da criação operculada às abelhas emergidas (nascidas) vai pouco mais que uma semana e meia. As abelhas emergidas de cada um destes quadros serão as suficientes para cobrirem um novo quadro (são necessárias cerca de 2 mil abelhas para cobrirem um quadro langstroth).
O consumo energético das colónias neste período de intensa expansão aumenta de forma muito significativa quando comparado com o período anterior de dormência (entre novembro e janeiro nas minha zona). Há apicultores que afirmam que por cada quadro com criação é gasto um quadro com mel.
Na semana passada esta colónia tinha 4 quadros com criação operculada (reparar na posição das tiras acaricidas).
A mesma colmeia, esta semana apresenta 5 quadros com criação operculada (ver ajustamento que fiz das tiras acaricidas).
As reservas de mel vão sendo consumidas a bom ritmo…
… assim como o alimento suplementar fornecido em forma de pasta/fondant.
Sabendo por experiência que 1 Kg de fondant pode ser consumido em menos que meia-dúzia de dias numa colónia em franca expansão, e havendo previsões de tempo muito chuvoso na próxima semana para esta zona, a minha decisão foi jogar pelo seguro, suplementando com 2,5 kgs de fondant. Não me perguntem como o aprendi, mas há uns anos atrás concluí que entre finais de fevereiro e meados de abril, e no que diz respeito a suplementação de hidratos de carbono, mais vale “pecar” por excesso que por defeito.

Fica explicitado o perigo e apresentada a solução que encontrei para evitar sentir o sabor amargo de ver uma bela colónia de abelhas a morrer na praia. Que enorme desperdício quando tal acontece! E tão evitável!

um método favorável à biodiversidade para mitigar o impacto das vespas asiáticas invasoras nas abelhas europeias

Este estudo, recentemente publicado (2019), avaliou o efeito das redes de protecção de entradas de colmeias sobre dois comportamentos das abelhas melíferas quando pressionadas pela presença intensa de vespões asiáticos: o retorno das abelhas forrageiras à colmeia e a intensidade do comportamento de forrageamento. Tenho uma ideia que estas redes são ainda pouco utilizada pelos apicultores portugueses, contudo também esta como outras ferramentas não deve ser desprezada, mais ainda quando os resultados de um estudo controlado são positivos.

“O vespão asiático é um predador de abelhas na Europa Ocidental. O risco associado ao vespão asiático na mortalidade de colónias de abelhas motivou o desenvolvimento de métodos de controle biológico e físico nos últimos anos. Embora a relação custo-benefício tenha sido estabelecida para a maioria desses métodos de controle, ainda não está claro se esses métodos podem reduzir os efeitos prejudiciais do vespão asiático nas abelhas europeias. Neste estudo, investigámos os benefícios potenciais de um método de controle favorável à biodiversidade, a “protecção da entrada da colmeia” (beehive muzzle) . Observámos a atividade de voo das abelhas e o comportamento de predação das vespas asiáticas à entrada da colmeia em 22 pares de colónias de abelhas, cada uma com uma colónia equipada com “protecção da entrada da colmeia” e uma colónia controle sem “protecção da entrada da colmeia”, em França. Medimos a FR (falha no retorno das abelhas devido à predação de vespas por abelhas) e PF (paralisia de forrageamento: paragem da atividade de voo em colmeias devido às vespas pairando em frente da entrada) e estimámos a probabilidade de mortalidade das colónias usando uma abordagem de modelagem mecanicista. A “protecção da entrada da colmeia” não reduziu a FR associada à vespa, mas reduziu drasticamente a PF. Além disso, a “protecção da entrada da colmeia” aumentou a probabilidade de sobrevivência de colónias stressadas por vespas até 51% em contexto de alta abundância de vespas asiáticas com base em simulações teóricas. Esses resultados sugerem que a instalação de “protecção da entrada da colmeia” pode atenuar o efeito prejudicial do vespão asiático nas abelhas europeias. Esta técnica de baixo custo não leva a nenhum impacto ambiental e, portanto, pode ser recomendada aos apicultores como um método eficaz de controle da vespa asiática, favorável à biodiversidade.”

Locais onde se realizaram as medições/comparações e tipo de “protecção da entrada da colmeia” utilizado no estudo (a malha da rede utilizada é de 6×6 mm).

fonte: https://www.researchgate.net/publication/335490838_A_biodiversity-friendly_method_to_mitigate_the_invasive_Asian_hornet’s_impact_on_European_honey_bees